CAPÍTULO ZERO: O REENCONTRO
No coração vibrante do Rio de Janeiro, em 2024, Arani caminhava pelas ruas movimentadas da cidade. Para ele, aquele ambiente urbano era um contraste vívido com as antigas florestas que um dia cobriam aquelas terras. Apesar da mudança de cenário, seu vínculo com a natureza permanecia forte, guiando seus passos pelo labirinto de concreto.
Numa tarde ensolarada, enquanto observava a agitação ao seu redor, Arani sentiu uma presença inexplicavelmente familiar entre os transeuntes apressados. Seus sentidos aguçados, refinados ao longo dos séculos, o levaram até Manuel, cujos olhos verdes capturavam a luz do sol carioca de uma maneira que ecoava uma lembrança distante.
Arani parou por um momento, observando Manuel de longe, como se tentasse desvendar um mistério antigo que pairava no ar. Ele não sabia explicar, mas sentia que aquele encontro não era apenas uma coincidência casual.
Manuel, enquanto caminhava pelas ruas movimentadas, sentiu uma inexplicável sensação de déjà vu ao cruzar com Arani. Seu coração pulsava com uma estranha familiaridade, como se tivesse reencontrado um amigo perdido há muito tempo.
Finalmente, os olhares de Arani e Manuel se encontraram. Houve um instante de silêncio tenso, como se o tempo diminuísse sua marcha para dar espaço à intensidade do momento. Arani viu em Manuel algo que não podia explicar completamente, mas que ressoava profundamente em sua alma imortal.
— Boa tarde, sabe me dizer se o teatro fica nessa direção? — disse Manuel, sua voz tranquila revelando um toque de curiosidade e reconhecimento.
Arani sentiu um calafrio percorrer sua espinha, uma sensação de que algo maior estava se desdobrando naquele encontro casual no meio da cidade movimentada.
— Você... me parece familiar. Como se já nos conhecêssemos de alguma forma — murmurou Arani, tentando captar a essência da conexão que sentia.
Manuel sorriu suavemente, seus olhos verdes brilhando com uma luz interior que parecia buscar algo perdido.
— Talvez em algum lugar além desta vida, ou talvez em histórias que ainda não lembramos. — respondeu Manuel, rindo da situação.
Arani assentiu lentamente, sentindo o peso das palavras de Manuel ecoando em sua mente imortal. Era como se o passado estivesse se desenrolando diante de seus olhos, trazendo à tona lembranças que ele guardava profundamente em seu ser.
— Fica nessa direção sim, é só seguir reto. — Arani apontou na direção correta.
— Obrigado, tenha um bom dia. — agradeceu Manuel.
Quando Manuel estava se afastando, Arani, num tom que somente Manuel pudesse ouvir, começou a recitar:
— "Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada."
Manuel arregalou os olhos. Afinal, esse era seu poema favorito, completando a frase:
— "Que mais deseja o corpo de alcançar?". Esse é meu poema favorito.
— O meu também. — disse Arani, sorrindo com um misto de alegria e lágrimas nos olhos.
— Quer ir comigo ao teatro? Está passando uma peça baseada em um dos meus autores favoritos, Arani Silva.
— Eu aceito. Afinal, eu escrevi. Prazer em conhecê-lo, Arani Silva — disse Arani, estendendo a mão. — Esta peça conta a minha vida. Parece incrível, dois estranhos indo ao teatro juntos, como se fosse obra do destino.
A peça era sobre Arani e Manuel, que na época atendia por Maria.