Sessão 1 - Culpa
Atualmente me tornei um vigia de chinelo. O fato é que numa situação de extremo tesão baixei o aplicativo amarelinho e descobri que meu vizinho, que nunca tinha visto na vida, era gay. Diante dos “0 metros” não tive outra opção a não ser ir conhecer o gostoso, aliás um baita de um gostoso: alto, forte, 34 anos que parece estar na faixa dos 20 (confesso que tinha até um cheirinho de leite com talco, característico de bebê). Conversamos um pouco e na saída damos um beijo incrível. Tudo estaria ótimo… se eu não fosse comprometido. Isso mesmo, namoro e meu maravilhoso diz ainda não estar pronto para abrir o relacionamento.
Então, o gostosinho, no dia seguinte bate no meu apê e, depois de uma noite mal dormida pela culpa, falo pra ele que não ia rolar. Só que o moleque é um fofo, viramos amiguinhos e ele adora me abraçar, sendo que nesse meio tempo trocamos alguns selinhos. Ótimo né: tesão reprimido e namorado viajando a trabalho, ou seja, uma parede está pouco para a vontade. Bem, e de onde vem o chinelo? Simples, ele não coloca os calçados para dentro e agora que já sei quais são os seus, quando aparece um chinelo novo, sei que ele está fudendo. Hoje a tarde, além do dele, vi mais dois pares: suruba? Não sei, mas fiquei ontem de vigia pra ver se descobria algo a mais.
Acho que para elaborar alguma coisa, vale a pena resgatar o primeiro. Lembro dessa experiência não como a mais completa, mas como uma das mais interessantes. Menino que não aceitava a própria sexualidade estava na casa de 19 anos e pela primeira vez estava em um caso com uma menina, com chances de virar um namoro, fato que se fez no futuro, mas isso aqui não vem ao caso. Estava em uma viagem noturna para a cidade que meus pais moravam, pois estudando fora, o único recurso que eu tinha era pegar dois ônibus para conseguir chegar em minha cidade para executar uma ação que fui obrigado: votar no candidato a prefeito que meu irmão apoiava. Pois é, uma viagem cansativa de 6 horas para três cliques, simplesmente porque a contagem estava no voto a voto. Quem é de cidade pequena sabe o que significa isso, eleição de prefeitura é mais acirrada que copa do mundo, com alta chance de brigas, compra de votos e após as 18 horas muita cerveja e cachaça.
Então sábado à noite pego o segundo ônibus lotado, sento na janela e na sequência um homem senta do meu lado, me dando o formal boa noite. O cansaço me pega nos primeiros metros e devo ter dormido cerca de 1 hora. Aquele ônibus frio e eu só tinha uma jaqueta tampando meu corpo, agradeço mentalmente por ela e percebo que no ato de dormir meu joelho encostava no joelho do homem. Acho estranho, pois eu dormia, mas ele não e meio ainda inebriado pelo sono, tentava compreender qual razão fazia ele não afastar a perna. Aliás, sempre foi essa a condição que me ensinaram: homem não toca em homem. Talvez no futebol ou... bem, só me lembro no esporte mesmo onde se demonstra uma homoafetividade esplendorosa e sem amarras. Sigo meu lugar, meio que tentando demarcar meu espaço e o moço ali, compenetrado com sua perna. De repente, sinto uma mão fazendo um carinho por baixo da minha blusa de frio e tocando meu braço de forma a me causar bons arrepios e uma ereção rápida e guardada a 19 anos. Dali, nossas mãos se tocam no escuro da noite e quando vejo direciono sua mão para o meu pau que se encontrava todo melado.
Ele com uma firmeza nas mãos muito diferente da minha, acaricia da base a cabeça, forçando até chegar no saco. Era uma punheta, mais do que aguardada, uma punheta temida! Sempre me neguei viver isso, assistia pornografia homo e depois apagava o histórico. Seja para não ser pego, seja para eu mesmo não me pegar em um desejo que era mais forte que eu. Ali tinha um homem me masturbando por baixo de uma jaqueta em um ônibus lotado e sentindo a rigidez da minha rola jovem, nunca tocada. Em sua mão que subia e descia com muito gosto eu gozei pela primeira vez, rápido, não tinha como segurar e não lembro se fiz barulho. Ele de uma forma bem sedutora, pega o gozo e leva a boca. Vejo seus lábios sentirem o sabor que nunca ninguém até então tinha provado, ele parece gostar, pois ele lambe os lábios e depois volta para buscar mais. A sua surpresa é que o meu pau continua duro, muito duro.
Depois de uma gozada o pau nem amoleceu, estava como se nada tivesse acontecido, então ele pega novamente no meu pau e continua a massagem mais que desejada. Ali gozo mais uma, duas, três vezes! Nunca consegui fazer de novo o que fiz naquela noite. Era muita porra que sujou a mão dele e a jaqueta. Numa dessas tento tocar seu pau, mas seria difícil e por alguma razão que não consigo me lembrar direito, percebo que mexer em sua bunda, ou melhor em seu cu era muito mais fácil. Então toquei naquilo que por alguns anos seria no futuro o meu maior desejo: o cu masculino. Que delícia era aquela textura, o toque que ficou em meus dedos, o aroma... Bem, o sabor provaria só no futuro, mas ali os sentidos foram aguçados para aquela parte perfeita e feita para o toque.
Passado mais ou menos uma hora, de todo esse deleite de mãos, estávamos próximos de sua parada, uma cidade antes da minha. Ele então me explica ser policial e que estava em direção a cidade para ampliar o grupo de policiamento. Bem, hoje agradeço meu irmão por ter me feito votar. Falo hoje, porque ali aconteceu o mesmo que acontecia depois de uma gozada com pornô gay: o mais básico resultado do pecado original, a culpa. Ele diz que queria me encontrar de novo e pede meu telefone, passei um número que não usava mais e nunca mais encontrei com ele.
Durante alguns anos, em mim se fez a culpa, que ficava entre “por que dei o número errado?”/ “por que deixei aquele cara pegar no meu pau?”. Depois de uma gozada, chegava a conclusão feliz de ter feito o certo, pelo menos de não ter mantido o contato, mas antes da punheta me lembrava do toque daquela mão e da textura daquele cu.
E com isso, uma história liga a outra, culpa por ter dado um passo ou culpa por não ter continuado o passo. A conexão entre um par a mais de havaianas e um número errado está nas coisas que na maior parte do tempo observo, pois não tive condições de ampliar meu campo de rompimento da culpa.