Essa nova série é uma ideia original da nossa querida Id@. Nós, do Ménage Literário, temos a alegria de ser co-autoras e esperamos que vocês se divirtam e se emocionem nessa nova jornada. Por força maior, que não cabe explicar agora, as séries inacabadas do perfil serão terminadas num momento oportuno. Desejamos a todos uma ótima leitura.
Parte 1: A amizade floresce onde menos se espera.
Naquele dia, Celo estava realmente saudoso, muito triste. Após largar tudo, mudar de vida completamente, já fazia três meses que ele se apresentava naquele barzinho. A primeira música estava pronta para ser tocada e ela o fazia se lembrar de Marilena, sua amada Mari, com quem estava casado nos últimos vinte e dois anos.
Celo saíra de casa sem olhar para trás, apenas querendo sumir, mas sabendo que não podia. Era impossível esquecer. Mais de vinte anos não se apagam de repente, como um passe de mágica. E as mágoas, dolorosas e incessantes, permaneciam latejando no seu peito. Assim como as alegrias também, tornando os sentimentos conflitantes, uma lembrança constante de que sua escolha pode não ter sido a melhor.
Ele afinou o violão uma última vez, saudou sua pequena, mas fiel plateia e começou a dedilhar a triste melodia nas cordas, cantando a bela letra com a voz um pouco embargada pela saudade e pela frustração:
“E por falar em saudade
Onde anda você?
Onde anda os seus olhos
Que a gente não vê
Onde anda esse corpo?
Que me deixou morto
De tanto prazer
E por falar em beleza
Onde anda a canção?
Que se ouvia na noite
Dos bares de então
Onde a gente ficava
Onde a gente se amava
Em total solidão
Hoje eu saio na noite vazia
Numa boemia
Sem razão de ser
Da rotina dos bares
Que apesar dos pesares
Me trazem você
E por falar em paixão
Em razão de viver
Você bem que podia
Me aparecer
Nesses mesmos lugares
Na noite, nos bares
Onde anda você?”
“Onde anda você”, letra e música de Toquinho e Vinícius de Moraes, representavam perfeitamente o sentimento amargo no peito de Celo.
Numa mesa de canto, protegidos pela pouca luz, Anna e Paul aplaudiam o amigo. Mari também estava ali. A sua Mari, sem conseguir conter as lágrimas. Aquela música era especial, a música que Celo tocou para ela no casamento deles. Sua serenata particular e especial.
{…}
Algum tempo antes:
Bastante aéreo, chateado, realmente magoado, Celo não sabia mais o que fazer. Estava cansado de discutir, de cobrar, sem nunca obter uma resposta ou chegar a uma solução. Depois da enésima discussão, acabou falando coisas das quais não se orgulhava e, nervoso, saiu batendo a porta.
Ele e Mari, sua esposa, na verdade Marilena, mas quase ninguém a chama assim, a não ser seus pacientes, estavam brigando muito. Celo e Mari estão casados há mais de vinte anos e ele começou a enxergar que toda a sua dedicação ao relacionamento pode não ter valido a pena. Era a segunda vez que o mesmo fato acontecia em sua vida e, cansado, frustrado mesmo, começava a pensar que deveria ter algo de muito errado na sua forma de amar, de se relacionar, de ser parceiro.
Mari, hoje com quarenta e quatro anos, tem 1,68m de altura, corpo um pouco acima do peso, cabelos negros e lisos, longos até a cintura – com algumas mechas de cabelos brancos que cultiva desde os trinta anos – olhos negros, pele clara, levemente bronzeada. Ela é psicanalista com consultório próprio.
Mari é uma pessoa naturalmente relaxada, e no pior sentido, que não liga para a própria aparência e muito menos para o que outros podem pensar dela. No começo, Celo achava que era apenas simplicidade e até se encantou com esta característica dela. Depois, com o passar dos anos, começou a pensar que era coisa da maternidade e do trabalho estressante. Só que, após a maioridade dos dois filhos, um casal de gêmeos, o desleixo da esposa piorou. Ela era muito diferente dele, que gostava sempre de estar bem apresentável e em forma.
Celo e Mari têm um ótimo grupo de amigos, sempre se reunindo ou se encontrando para um happy hour. Nesses eventos, Celo inveja as impecavelmente bem-vestidas esposas dos amigos. Enquanto Mari se parece com uma aposentada sem ambições, com seus conjuntos de uma cor só, sem corte e caimento, sua cara limpa, que ela acredita que apenas um batom seja suficiente.
Já as amigas, abusavam de vestidos e roupas de acordo com a moda atual, maquiagem sempre caprichada e corpo bem cuidado, todas elas sempre muito cheirosas. Até para passar um perfume, Mari criava uma desculpa: “Minha rinite está atacada”. Ou “Esse tem muito álcool, vai me dar alergia”.
Pode até não parecer, por conta do ressentimento do Celo, mas a Mari é uma mulher naturalmente sexy e bonita, mesmo um pouquinho acima do peso e ele é completamente apaixonado por ela, mesmo que esteja cansado da situação em que seu casamento se encontra.
Enfim, o Celo, na verdade, Marcelo, está com quarenta e oito anos, 1,76m de altura, corpo normal, em forma. Cabelos e olhos castanhos e a pele morena. Ele é engenheiro de computação, especialista em segurança digital, trabalhando por conta própria, a maior parte do tempo em home office. Ele é um consultor independente muito procurado por grandes empresas e está sempre envolvido na criação de novas e promissoras startups.
As discussões do casal eram sempre pelos mesmos motivos: a falta de libido e desejo sexual da Mari e a sua falta de cuidado com a própria aparência. Celo estava no limite, chateado e desiludido, pensando seriamente em mudar completamente a sua própria vida. Os filhos já eram adultos e cada um morava numa parte diferente do país, já nas próprias relações amorosas e cursando suas faculdades.
Sendo honesto, o maior problema entre Celo e Mari não era a falta de sexo, mas sim, a forma com que ela trata a questão, quase parecendo uma boneca sexual, apenas se deitando e abrindo as pernas, esperando que ele goze logo e suas “obrigações matrimoniais” estejam cumpridas.
Não foram raras as vezes em que Celo procurou inovar. Sempre fazendo, ou pelo menos tentando, algo diferente. Entretanto, essas tentativas sempre eram frustradas pela falta de cumplicidade da esposa. Até para ele fazer sexo oral nela, muitas vezes, ele tinha que negociar. Mari estava sempre na defensiva:
— Eu sou a sua esposa, não uma puta qualquer. Mulheres direitas não devem fazer tais coisas. Isso é indigno, desrespeitoso.
Celo até achava existir algum tipo de trauma, uma barreira, mas sendo Mari quem era, uma psicanalista renomada, era impossível para ele conseguir entender e ajudar. A especialista era ela.
No começo, ainda inexperientes, aquele sexo morno e sem entusiasmo pode até ter sido suficiente, mas nos últimos quinze anos, a atitude dela passou a irritá-lo profundamente, já que, para ele, aquilo era um claro sinal de desinteresse. Celo suportou tudo pela felicidade dos filhos, mas depois, a sós, ficava difícil entender e seguir em frente. Mari negava, sempre dizia que o ama, mas que como são pessoas diferentes, também se satisfazem de forma diferente. Como Mari mesmo dizia, sempre que as discussões ficavam acaloradas:
— Como você tem a ousadia de discutir com uma especialista na psiquê humana?
Perdido em seus pensamentos, naquela tarde, Celo caminhava pela avenida principal do bairro, tentando arejar a mente e bolar uma nova estratégia para uma conversa definitiva com a esposa. Ele não se lembrava muito bem de como tudo aconteceu. A maior parte das memórias eram fragmentos que ele tentava juntar.
Do nada, o surpreendendo, uma garotinha atravessou a rua correndo e ele se assustou. Se lembrando mais dos gritos da mãe do que propriamente da menina, ele percebeu que o sinal estava verde para os carros e num movimento rápido, instintivo, se lançou ao encontro dela, desviando seu corpinho frágil da colisão e se colocando na trajetória do veículo. Ele apenas apagou, sem sentir qualquer impacto ou dor causada pelo acidente …
{…}
– Doutor! Doutor! Ele abriu os olhos, parece estar acordando do coma …
Mari, quase gritando, tentava chamar a atenção do médico e, em poucos minutos, o mesmo fazia seus procedimentos para atestar a real condição do Celo. Enquanto o examinava, ele ia explicando o que aconteceu:
– Sr. Marcelo, esse desconforto que está sentindo é normal, e aos poucos, suas funções motoras começarão a se normalizar. Por enquanto, mesmo que seja difícil, eu preciso que o senhor mexa a cabeça o mínimo possível. A concussão foi forte, de nível três, e como já verificamos uma leve perda de coordenação na parte direita do corpo, queremos evitar uma possível síndrome do segundo impacto.
Mari estava ao seu lado, com olheiras profundas e os olhos vermelhos de tanto chorar. Celo sentia o lado direito do corpo formigando e os movimentos muito prejudicados, assim como o médico dissera. Ele tinha dificuldade para falar, ainda estava muito dopado, bastante grogue, mas Mari fez a pergunta que ele queria fazer:
– Doutor, essa síndrome, se eu não me engano, tem a ver com o risco de uma segunda pancada no mesmo local, estou correta?
O médico concordou, mas deu uma explicação mais completa:
– Essa perda de coordenação, a dificuldade de movimentos, é causada pela parte do cérebro que foi lesionada. Com o tempo, enquanto o edema diminui e a área se normaliza, os movimentos devem voltar naturalmente. Uma segunda pancada na cabeça, com a primeira ainda em recuperação, causada por descuido, poderia ser fatal. É isso que chamamos de síndrome do segundo impacto. A fisioterapia, após a melhora da lesão no cérebro, deve ajudar bastante também.
O médico, um amigo do casal, alternando o olhar entre o Celo e a Mari, falou de forma mais séria:
– Mas, o que realmente nos preocupa, é aquela parada cardiorrespiratória do sexto dia. Daquela vez conseguimos resolver, mas ainda estamos tentando entender o que aconteceu e evitar novas complicações. Eu preciso que vocês entendam que a situação ainda é muito delicada e que, em hipótese alguma, as etapas e tratamentos devam ser desrespeitados. Ainda existe risco e precisamos da sua total cooperação.
Finalmente, Celo conseguiu falar, mesmo com a voz fraca, um pouco falha:
– Quantos dias eu fiquei em coma?
Mari mesmo respondeu:
– Por oito dias, amor.
Se lembrando do motivo de estar ali, Celo perguntou assustado:
– E a garotinha? Ela está bem? Eu consegui ...
Mari, apertando levemente suas mãos para que ele olhasse para ela, apontou os vasos de flores, presentes e outras coisas mais na cômoda do quarto particular que seria a casa dele nas próximas semanas:
– Sim! Ela está bem. Ela e os pais vêm todos os dias saber notícias. E sempre trazem um novo presente ou um vaso com flores. Você é o herói daquela família.
Sentindo uma sonolência forte, incapaz de ser combatida e muito fraco, cedendo, Celo voltou a dormir, mas com um sorriso no rosto, sabendo que por seu ato de coragem, aquela linda garotinha ainda teria toda a vida pela frente.
Acordando no meio da madrugada, ainda bastante desorientado, Celo percebeu que Mari dormia numa pequena cama de acompanhantes ao seu lado. Depois do breu, do vazio instantâneo causado pelo acidente, que para ele pareceram segundos, mas que na verdade duraram oito dias, Celo, em pensamento, começou a fazer uma retrospectiva de sua vida e de tudo o que viveu até o momento em que acordou naquele quarto de hospital, incapaz e dolorido:
“A primeira vez que viu a Mari foi num barzinho, no aniversário de um amigo da faculdade. Ela tinha vindo a convite de uma amiga e depois de perguntar um pouco, buscar conhecê-la melhor antes de se apresentar, ele descobriu que mesmo novinha, aos dezenove anos, ela havia acabado de terminar um “quase” noivado e aquela amiga a arrastou para se divertir. Por quatro anos, desde a adolescência, ela esteve comprometida, mas tudo acabou de repente, sem ninguém entender o que havia acontecido.
Naquela época, vinte e poucos anos atrás, Celo era o centro das atenções do seu grupo social, pois além de extrovertido, um homem bonito, ele era o único que tocava violão. Todos diziam que ele deveria seguir a carreira musical. Naquele dia, inclusive, ele era o “artista da noite”, tocando uma seleção de músicas escolhidas pelo aniversariante.
O que ninguém sabia, era que, assim como Mari, ele também escondia uma tristeza profunda. Seu último relacionamento terminou da pior forma possível. A ex, que se dizia moça de família, recatada, e durante os dois anos da relação, o manteve em banho-maria, atiçando seu desejo e correndo na hora “H”. Por estar apaixonado, achando que ela era a mulher da sua vida, e por ser um homem de princípios e valores, ele respeitou os desejos dela de se guardar para a noite núpcias.
Enfim … o que passou, passou. Falar sobre o que aconteceu não trará de volta o tempo perdido.
Voltando à noite em que conheceu a Mari, ele acabou se aproximando, já que a amiga que a trouxe também era uma pessoa próxima e tinham um grande carinho um pelo outro. Mari e ele acabaram desenvolvendo uma boa amizade, onde ela sempre elogiava sua voz, engrossando o coro dos que diziam que ele estava perdendo tempo na faculdade e que tinha um dom verdadeiro e deveria seguir a carreira musical.
Celo descobriu que Mari era caloura, estudante de psicologia, mas que seu real desejo era uma futura especialização em psicanálise. Percebeu que ela era uma pessoa bastante tímida e até um pouco triste, fato que associou ao término do “quase” noivado. Após meses de amizade, ele finalmente conseguiu avançar algumas casas, mas após o primeiro encontro e posteriormente, o primeiro beijo, ela foi brutalmente honesta:
– Eu não sou uma pessoa “namorável”, convencional. Tem certeza de que quer perder seu tempo comigo? Eu vou te deixar irritado, triste, e, às vezes, até meio louco. Eu não acho que você precise de alguém como eu na sua vida.
Realmente, numa coisa ela estava certa: de convencional, Mari não tinha nada. Ela estava longe dos padrões de beleza considerados comuns. Ela não era uma loira peituda, ou uma morena voluptuosa. Muito menos, uma ruiva fatal. Mari era a Mari, simples e delicada, mas aos olhos dele, sensual e provocante. Ela não tinha o corpo escultural, mas era gostosa à sua própria maneira, pois, ao passar, olhares sempre acompanhavam e pretendentes não faltavam.
Celo resolveu apostar e pagar para ver:
– O que temos a perder? Se não tentarmos, como vamos saber?
Mari ainda lhe deu um último aviso:
– Você tem certeza? Não diga depois que não foi avisado.
Começaram então a namorar. No começo, um romance calmo, com um sexo meia boca, mais que ele, com pouco experiência, não conhecia melhor. Não era virgem, mas as profissionais que pagava, estavam longe de quererem lhe ensinar alguma coisa, apenas acelerando o processo antes do próximo cliente.
Acabou tendo em Mari uma parceira honesta e fiel, que com seu jeito calmo e despreocupado, sua simplicidade desinteressada de bens materiais, acabou o conquistando de vez, fazendo com que ele se apaixonasse e a pedisse em casamento já no segundo ano de namoro. Após um ano de noivado, foi preciso acelerar os planos por causa da gravidez inesperada. Os gêmeos do casal estavam a caminho.”
{…}
De volta ao presente:
Enquanto Celo terminava sua seleção de músicas, já ciente das presenças do casal de amigos e da esposa, Paul esperava o momento certo para ir até ele. Assim que Celo terminou, enquanto ele guardava seu violão no estojo, Paul se aproximou:
— Três meses, cara, é sério? Não podia ter avisado que estava bem? Mari estava angustiada …
Celo não estava a fim de ouvir mentiras. Não acreditava mais na esposa e muito menos no “amigo”:
— Eu imagino o quanto ela está angustiada … em qual momento ela fica pior? Talvez quando vocês desrespeitam o nosso acordo e ela chupa o seu pau escondido? Ou quando está dando o cu para você? Me explique em qual momento exatamente aquela mentirosa fica angustiada?
Celo colocou o violão nas costas e saiu sem esperar a resposta. Paul sabia que ele estava magoado, mas não conhecia a extensão dos problemas entre ele e Mari. Estava surpreso com o tamanho da mágoa do amigo.
Enquanto Paul voltava à mesa, Mari passou por ele chorando, andando rápido para tentar alcançar o marido. Celo estava parado na esquina, mexendo no celular. Ela caminhou decidida até ele:
— Por favor, amor, fala comigo. Eu sei que preciso te explicar muita coisa, ser honesta … por favor, vem comigo, vamos conversar.
Extremamente irritado, Celo foi direto:
— Ok! Então me explica: mais de vinte anos de frescura, me fazendo sentir um traste por tentar coisas novas, destruindo o meu psicológico, para, na primeira oportunidade, fazer tudo o que eu sempre pedi, mas com outro homem. Qual a sua explicação para isso, Marilena?
Mari se engasgou, não esperava aquela atitude tão direta do marido. Ela queria confessar, contar dos seus traumas, mas as palavras não saíam.
Assim que o carro de aplicativo chegou, após quase cinco minutos de espera, sem que Mari conseguisse juntar uma frase decente, Celo não teve mais forças para manter o sarcasmo:
— Você acabou comigo, Mari. Mais de vinte anos juntos, tentando, me esforçando, e o que eu recebi em troca? Mentiras e manipulação. Adeus, Mari.
Celo entrou no carro, deixando Mari aos prantos na calçada. Paul e Anna, alguns metros atrás, ouviram toda a conversa. A amiga correu até Mari, tentando confortá-la:
— Eu prometo, amiga. Acredite em mim. Eu vou trazer o Celo de volta para você. Mas você terá que ser honesta, contar a verdade. É a única forma de recuperar o seu marido.
{…}
Algum tempo antes:
Celo acordou suado, ofegante. A noite de sono foi péssima, induzida por medicação. Estranhou ao notar uma mulher que ele não conhecia, na porta de seu quarto, conversando com a esposa:
— Eu faço questão de pagar por todo o tratamento. É o mínimo a se fazer. Eu jamais ficaria em paz com a minha consciência se não o fizesse.
Celo reparou na bela mulher. Loira, olhos claros, traços europeus, postura impecável e corpo esbelto.
Mari respondeu:
— Foi um acidente, não foi sua culpa. Nós temos um excelente convênio. Por favor, Marianna, não se preocupe com isso. Tenho certeza de que meu marido, que é um homem muito sensato, jamais a culparia pelo que aconteceu.
— Apenas Anna, Marilena, por favor. Prefiro ser chamada assim. Espero poder falar com o Marcelo quando possível, me desculpar pessoalmente.
Mari retrucou:
— Eu também prefiro apenas Mari. Marilena é muito formal. Eu conversarei com o meu marido e lhe avi …
A conversa foi interrompida pela chegada do filho de Celo e Mari:
— Mãe, papai acordou? Vim assim que a senhora avisou. Minha irmã está a caminho também, deve chegar a qualquer momento.
Anna aproveitou a deixa e se despediu com um aceno de cabeça, tentando dar privacidade à família.
— Espero sua ligação. Melhoras para o Marcelo e se houver algo que eu possa fazer, não hesite em me chamar.
Enquanto Anna saía, o filho estava afoito, entrando no quarto do pai, sendo seguido pela mãe:
— Ele está acordado, mãe. Qual a gravidade?
Celo sorriu ao ver o filho:
— O pior já passou, relaxa.
Mari repreendeu o marido:
— Claro que não. O doutor foi bem claro. Você está em risco ainda.
Enquanto o filho lhe dava um abraço, tentando segurar o choro, Mari explicou tudo o que o médico disse. Celo se sentia abençoado por ainda estar na companhia dos entes queridos e apenas uma hora depois da chegada do filho, a filha também chegou, entrando como um furacão no quarto:
— Pai, mãe … o insuportável chegou antes de mim?
Ela não falava sério, apenas implicava com o irmão. Ele a abraçou:
— Também te amo, sua mala sem alça.
Ele abriu espaço para que ela ficasse bem próxima ao pai.
A família, agradecida por ainda estar completa, passou as próximas duas horas conversando, até serem expulsos pela equipe de enfermagem:
— O Sr. Marcelo precisa descansar. É hora da medicação. Infelizmente, só um acompanhante é permitido. Quem vai acompanhá-lo?
Seriam necessários mais de trinta dias de internação para que o Celo se recuperasse minimamente e pudesse ter alta, continuando a recuperação em casa.
Ainda no hospital, Celo finalmente conheceu Anna, a linda loira que falava com Mari no dia em que ele despertou do coma. Para a sua surpresa, era ela a motorista da SVU que o atropelou e, como Mari previra, Celo não a culpou por absolutamente nada. O acidente foi uma casualidade infeliz. Anna, além de estar abaixo do limite de velocidade permitido pela via, ainda prestou todo o socorro devido. Inclusive, fazendo questão de pagar por todo o tratamento do Celo.
— Eu sinto muito. Eu ainda sonho com aquele momento. Aquela criança … fico imaginando se …
Celo a confortou:
— Você não fez nada de errado. Por sorte, todos estamos vivos e bem …
Chorosa, Anna se lamentou:
— Olha o que eu fiz com você? Com sua família … me perdoa, eu realmente sinto muito.
Mari também entrou na conversa:
— Nós vimos a gravação das câmeras de segurança da via. Não tinha nada o que você pudesse ter feito, Anna. Na verdade, você reagiu rápido e conseguiu diminuir em muito o impacto. Se você não tivesse desviado, teria acertado o Celo em cheio e tudo poderia ter sido bem pior. Sua reação rápida salvou a vida do meu marido.
Anna e o marido, Paul, passaram a visitar o Celo com frequência no hospital e como os casais tinham muitas coisas em comum, o desabrochar de uma nova amizade acabou sendo inevitável. E estes laços de amizade, com o tempo, só se fortaleceram.
Após trinta e seis dias de internação, Celo recebeu alta e como os movimentos ainda estavam bastante comprometidos, sendo necessário fisioterapia e ajuda, Mari acabou se transformando na cuidadora do marido. Até no banho ele precisava da ajuda da esposa.
O acidente também ajudou o casal a esquecer das desavenças por um tempo. Tudo parecia tão distante, tão insignificante. Se amavam e só de pensar que tudo poderia acabar tão de repente, o coração apertava e o peito chegava a doer. Aquilo assustou os dois. A Mari principalmente.
Ao mesmo tempo que se sentia assustado, Celo também achou que deveria ser mais ousado e tentar quebrar a resistência da esposa com mais ação e menos conversa. Enquanto Mari o banhava, Celo se sentia cada vez mais excitado. Olhar para ela molhada, com as roupas quase transparentes, as aréolas dos seios marcadas no tecido encharcado, fazia seu pau endurecer em segundos.
Mari, sem entender aquela reação, mas orgulhosa do que ainda despertava no marido, brincou com ele:
— Fala sério … você ainda está todo estropiado, mas mesmo assim, não consegue parar de ser safado.
Celo foi totalmente honesto, aproveitando a oportunidade, enquanto bolinava um dos seios dela:
— Eu amo você, mais do que tudo nesse mundo. Eu quero fazer amor com você sempre, mas também, quero lhe foder, quero chupar você todinha, quero sentir que você também me deseja. Que se entrega a mim por opção e não somente por obrigação. Eu quero virar você do avesso e lhe fazer dormir com um sorriso bobo no rosto, satisfeita …
Mari, muito constrangida, se recriminando por não conseguir ser, para o marido, a mulher que ele tanto queria, entrou em modo defensivo novamente:
— Eu sei como isso termina. Você diz que quer, mas assim que eu me soltar, vai se assustar e me repreender. Mulheres direitas, honestas, precisam de certos limites … me desculpe, amor, mas eu não me sinto confortável com nada disso.
Celo passou das palavras à ação. Puxou Mari pra perto, levantou sua blusa e abocanhou o seio esquerdo. Puxou a mão dela e levou até o seu pau, estimulando para que ela o masturbasse. Mari sentiu um tesão absurdo, uma vontade louca de se entregar como uma devassa, como uma putinha sem limites. Mas, como sempre, a vozinha dentro dela a alertou: “Para! Você é esposa e mãe. Isso não é certo. Você se lembra do que já aconteceu? Tenha pudores e não seja uma vagabunda”.
Celo beijou a esposa, tentando se livrar do seu short. Mari tentava calar a voz interior que a impedia de seguir em frente, mas o trauma era mais forte e ela sucumbiu. Irritada, descontou no marido suas frustrações:
— Para amor! Vamos para a cama, eu prometo que cuidarei de você do jeito certo. Como uma esposa respeitável deve fazer.
Ciente do que Mari propunha, Celo ainda tentou, durante alguns dias, duas semanas para ser mais exato, quebrar sua resistência e fazer com que ela se entregasse. A reação da Mari foi a pior possível e, numa consulta de rotina, para avaliar o progresso do marido, ela perguntou ao médico:
— Esses remédios que ele vem tomando, têm algum efeito colateral?
O médico estranhou a pergunta:
— Talvez um pouquinho de azia, queimação, mas nada além disso. Por quê? Ele apresenta algum sintoma novo?
Celo também não estava entendendo, mas não interrompeu. Mari estava tensa, com vergonha de falar, mas como também era uma profissional da saúde, resolveu ser honesta:
— Digamos que o Celo tem demonstrado um vigor excessivo, além do normal. Ele está sempre … bom, você é homem, doutor, deve saber do que eu estou falando.
O médico entendeu e não conseguiu segurar o riso. Como eram conhecidos, foi honesto com a Mari:
— Esse remédio não deveria fazer isso. Talvez, você seja a pessoa certa para explicar esse tipo de coisa. Não é incomum pessoas que veem a morte de perto quererem aproveitar melhor uma nova chance, não é? Essa é a sua área. Clinicamente, apesar de ainda estar em recuperação, seu marido é um homem plenamente funcional.
Para o Celo, aquilo acabou sendo uma bofetada. Estava cansado de insistir e começava a achar que Mari se fazia de desentendida. Ele começava a avaliar seriamente o divórcio.
Mas, como disse John Lennon: “A vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos”. Uma situação nova, inusitada, estava prestes a acontecer, mudando completamente tudo o que Celo e Mari acreditavam ser o correto.
Com Celo distante nas semanas seguintes, introspectivo e calado, e cansada dos amigos sempre a criticarem, dando total razão aos lamentos do marido, Mari se aproximou ainda mais da Anna. Encontrou nela encorajamento e, como a nova amiga não tinha conhecimento de seus problemas conjugais, ouvir os conselhos de alguém “de fora” e que parecia estar em um casamento feliz, pudesse ajudá-la a lidar com as próprias dores.
O ditado é correto, pois “casa de ferreiro, espeto de pau”. Mari, que tanto ajudou pacientes com seus traumas, não conseguia aconselhar a si própria. Estava perdida e se afundando cada vez mais em suas próprias mazelas.
Já tinha ido à casa da Anna algumas vezes e naquele domingo, vendo que o marido mal lhe dirigia a palavra, triste e a ponto de surtar, resolveu procurar a nova amiga. Estava muito deprimida e nem se lembrou de avisar que estava a caminho. Até pensou em mandar uma mensagem, mas já estava próxima. Achou melhor apenas continuar dirigindo e, sem demora, estacionou em frente à casa.
Assim que desceu do carro, reparou na música alta. Tocou a campainha, mas não ninguém veio recebê-la. Talvez, a música alta impedisse que escutassem. Como o portão estava aberto, Mari acabou entrando. Não sabia se a música vinha dos fundos da casa ou de algum vizinho. Estava até um pouco preocupada, pois pensou: “Quem, em sã consciência, deixa o portão da frente aberto no Brasil?”. A casa, enorme, ficava em um bairro tradicional da cidade. A rua era pacata e bem deserta até. Um segurança de moto fazia a ronda e isso deixou Mari menos preocupada. “Será que eles estão dando uma festa? Será que eu devo voltar? Acho melhor não ser inconveniente”.
Quando pensava em dar meia volta, sair dali, não acreditou no que os seus olhos lhe mostravam: através da grande janela de vidro da sala, viu Paul, nu e com o pau ereto, parado. Em seguida, uma linda morena, com a idade parecida a dela, se ajoelhou aos seus pés e começou um boquete pra lá de caprichado.
Atônita, pensando que ele pudesse estar traindo a Anna, que talvez a amiga estivesse viajando ou algo assim, se surpreendeu ainda mais ao vê-la entrando no ambiente e indo diretamente beijar o marido. Anna também se ajoelhou, beijou a morena e começou a dividir com ela o pau do marido. De olhos fechados, Paul parecia estar no paraíso.
Mari estava petrificada, sentindo a xoxota comichar de prazer. Quando a viu, Anna imediatamente se levantou, tirou um roupão não se sabe de onde, o vestiu, fechou as cortinas da sala e veio correndo até ela.
Continua …
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