Capítulo revisado. Esta é a versão definitiva.
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“O relato deste conto foi inspirado e derivado de fatos reais. Os nomes de todos os personagens são fictícios, inclusive do próprio narrador.”
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Toda a narrativa dele era permeada por nossas pausas, intercaladas com idas à geladeira para pegar cervejas. Às vezes, olhávamos pela janela, vendo pessoas passando embriagadas, e ríamos de seus comportamentos peculiares. Assim, nossa conversa se tornava menos sugestiva, uma distração quase necessária da narrativa contínua e pesadona do passado dele. Nas pausas, eu olhava para o prato à minha frente e me perguntava como aquela substancia poderia trazer tanta dor. Era difícil associar a euforia que sentira naqueles poucos instantes com a cocaína a algo que pudesse causar tanto mal; eu me negava a aceitar essa realidade e continuava a usar enquanto ele falava.
Seu olhar, que antes brilhava com a luz da juventude e da esperança, agora estava carregado de tristeza e arrependimento. Léo falava de Caio, seu melhor amigo, daquela amizade que há tempos parecia inquebrantável, mas que se desfez, lentamente, por conta do uso de drogas. Ele estava perdido, como se tivesse sido sugado para longe de si mesmo. A lua, lá fora, parecia querer sumir, enquanto o vento, que antes me causava um leve tremor, agora passava quase despercebido.
Quando eu pensava que ele se aprofundaria nos detalhes, sempre havia uma hesitação da parte dele. O que ele me contava sobre o sexo, por algum motivo, me fazia tentar ser um dos dois. Havia um desejo em estar ali, mas eu lutava contra esses pensamentos ao vê-lo narrar os eventos de maneira superficial.
Tentava entender o que ocorreu após aquela noite. O que havia acontecido quando acordaram no dia seguinte? Como foi o encontro com Luiz, e por que ele teve tanta certeza da ruína da amizade deles?
Nada acontece da noite para o dia; ou será que eu estava enganado? É mesmo possível que as coisas passem da posição 9 para 90 em tão pouco tempo? No fundo, talvez fosse isso que eu acreditasse.
Subi aquelas escadas apenas para passar o tempo, e desde então deixei-me conduzir por aquele lugar, como se fosse por vontade própria. E, no fim das contas, qual era a verdade? Talvez eu não estivesse tão cheio de raiva ao pedir explicações a ele; talvez só quisesse mais um tempo. Estava tão claro, pra mim, que eu desceria logo para meu quarto após aquele banho, que talvez minha raiva tenha sido apenas um pretexto bobo pra continuar no ambiente. Será que eu não sabia como conduzir uma conversa? Ou talvez estivesse realmente chateado. Depois de tanto tempo, já não lembrava bem. Os acontecimentos de lá para cá foram tantos que já nem lembro mais. O fato é que as dúvidas iam surgindo, mas talvez já não tivessem tanta significância assim para mim.
- Acho que por hoje já deu... Tá satisfeito agora? Ou ainda precisa que eu fale mais? – Léo falou na intenção de finalizar.
Eu, nervoso, finalmente me lancei na pergunta mais idiota que poderia fazer naquele momento: "Então vocês são... tipo... namorados?". As palavras saíram como um tiro surdo, ecoando na sala que parecia estagnar em resposta. O que eu estava realmente insinuando era que Léo tinha compartilhado sua história não com alguém, mas com as simples paredes ao nosso redor. Era evidente que eu não tinha absorvido a profundidade do que ele sentia. Não me julguem.
Olhei para baixo, envergonhado, enquanto minha indagação soava estranha e destorcida na minha própria mente. Era apenas um vislumbre da minha ignorância sobre relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo. Tudo era incrivelmente novo pra mim, e a vida estava se apresentando como um labirinto de descobertas. Naquele momento, sob a influência da mistura de bebidas, minha inocência estava se esvaindo lentamente, e eu sentia isso como uma sombra pesada em meu coração. O efeito da combinação de álcool e cocaína alterava minha percepção, enquanto um sentimento de confusão e curiosidade se misturava em minha mente.
— Esse homem... haha... não, mano... haha... não acredito que você disse isso... - ele ria, enquanto se acomodava na cama, batendo leve e carinhosamente em meus ombros, como se tentasse me puxar para sua onda de alegria.
— Você fala tão...
— Tão o quê, Pedro? - a curiosidade dele era como uma resposta.
— Sei lá, mano... – murmurei com a cabeça baixa, o rosto quente de vergonha. A latinha vazia de cerveja entre minhas pernas era a única coisa que me dava um pouco de conforto. Ele me olhou de lado, a risada ainda dançando em seu olhar. Verifiquei a cerveja dele, que também estava quase vazia, e me levantei em direção à geladeira para pegar mais duas. Mas antes, não pude resistir e fui até o prato, onde duas finas listinhas de pó esperavam por mim.
Enquanto por fora eu tentava parecer indiferente, por dentro eu ria, me permitindo exibir um sorriso furtivo, longe dos olhos de Léo. Sua espontaneidade me divertia e, de certa forma, me acalmava; entendia que a possibilidade daquilo que eu perguntei era quase risível.
— A gente tá longe disso, mano. Depois daquele dia, só rolou mais uma vez, mas... - A voz de Léo mudou de tom.
— O quê? - perguntei, entregando sua latinha, com a ansiedade me consumindo como um fogo devorador.
— A gente deixou quieto. Ficamos só no profissional mesmo... – respondeu sendo contido por seu ego.
— Tô ligado... aí foi depois do sábado que vocês continuaram saindo com o Luiz até hoje, né? — perguntei, finalmente superando a curiosidade que havia me roído por dentro.
Ele encolheu os ombros, abrindo as mãos em um gesto de confirmação. Quando me sentei ao seu lado, a tensão começou a se dissipar um pouco. Ele disse:
— Saímos com ele muito pouco pra gravar, mano. Aquele sábado com nós três foi a primeira e ultima vez que vimos tanto dinheiro de uma vez só.
Léo se levantou e puxou um teko pra ir a janela novamente. A luz dos postes fazia seu rosto brilhar de maneira suave.
— E de onde vem a grana que Caio disse que vocês faziam? - perguntei, ainda impressionado com a revelação.
— São dos vídeos, mano. Você tava dormindo, era? - Seu rosto se destacava à luz enquanto ele esboçava um sorriso. — Mandamos para o Luiz e ele nos paga. É bom o dinheiro, mas... tipo, mano... dá maior trabalho pra gente, sabe? Mas pelo menos ele nunca deixa faltar nosso pó quando a gente quer curtir.
— Ele deve dar muito valor a essas paradas, né? Sem falar que o cara deve ganhar bem. - Léo deu um sorriso de canto de boca e respondeu:
— Gosta mais do dinheiro que ele faz vendendo esses vídeos para um amigo na Europa. – falava em desabafo. - O cara tem um site estrangeiro ou um grupo que lucra de algum jeito com os vídeos. Tipo OnlyFans, tá ligado?
— E você não se importa que algum conhecido ache esses vídeos? – perguntei enquanto Léo levantou-se pra janela.
— Não, mano. a gente usa as máscaras, que comentei... – encarou-me e fez um estalar de dedos em minha direção. - A ideia de Caio... Para variar, às vezes usamos camisas na cabeça. Não dá para perceber, não.
– E essa tatuagem aí? – ri. – Isso não é algo que todo mundo tem. Leo desanimou levemente, como se tivesse tocado em uma ferida. Em um primeiro momento achei que ele não soubesse que aquilo seria uma identidade para ele.
– Ah, fiz essa aqui há uns dois meses, no máximo.- falou batendo levemente na cintura. - Gravei só uns quatro vídeos depois disso.
– Eita PORRA! Isso tudo? – falei, dando um gole na cerveja. Percebi que quanto mais bebia, mais vontade tinha de usar o pó, pois logo me levantei pra usar mais.
– Tem uns truques que aprendi no YouTube com maquiagem. É só para cobrir o suficiente, porque a maioria dos vídeos, a gente grava no escuro.
-Ah sim! E ai? vai me contar não a história dela?
-Da tatoo? ah não... deixa pra outro dia... – Ele destrancou o celular e foi em minha direção. Ficou tão próximo a mim que sentia sua respiração. A presença perto de mim me causava um desconforto daquele tipo bom. Sentia minha pele eriçar, me sentindo nervoso. – Deixa eu te mostrar.
Léo me mostrou uma galeria de vídeos. Não abriu nenhum, mas notei que em alguns aparecia outras pessoas, sem que eu conseguisse ver os rostos. Pareciam bem amadores, supostamente a qualidade que o site busca. Finalmente, depois de um tempo, falei:
– Então, acho que o Caio pensou que eu poderia gravar vídeos assim também, né? – Ele acenou positivamente.
- Pedro... - silenciou - Luiz aprontou uma com a gente, sabe?. eu me sinto preso a ele com isso.
Léo falava em um ritmo lento, deixando transparecer a tristeza em sua voz. Embora a conversa tivesse um peso, a forma como ele se expressava, a intensidade em seu olhar, tudo isso me fascinava. Eu não sabia como interpretar aquele misto de admiração e compaixão que sentia por ele.
Todas aquelas horas consumindo pó pareciam diluídas pela cerveja, como se o álcool suavizasse as arestas daquelas experiências. O ambiente já não era mais o mesmo de antes; agora, estávamos imersos em um momento de amizade e conversa. Eu me via tentando entender se as minhas ações ali estavam conectadas a um desejo oculto dentro de mim. O que realmente significava essa atração por outros homens? Estaria eu me iludindo sobre minha própria sexualidade, assim como Léo e Caio? Essa inquietante reflexão sobre mim mesmo se entrelaçava com a crescente admiração que sentia por Léo, cuja coragem e autenticidade eram incontestáveis, embora ele ainda não estivesse ciente disso.
Minhas perguntas eram muitas. O temor de que meu pai descobrisse, de que Marcelo falasse algo, ou até mesmo de que Léo ou Caio deixassem escapar alguma informação me atormentava. Mas, naquele instante, ao observar Léo, percebi que ele se destacava das sombras. A confiança nele e em mim mesmo parecia uma incógnita. Minha mente oscilava entre escutar e refletir, mas eu absorvia cada palavra que Léo proferia.
— Pedro, você precisa saber que o Caio não é de confiança. Ele anda conversando muito com o Luiz ultimamente.
— Por que você desconfia disso?
Ele sorria para fora da janela, e o silêncio foi sua resposta. Estava tão absorvido observando as sutis variações em seu rosto que não ouvi um grupo passando pela rua. Léo acenou com a mão, convidando-me a me aproximar. Levantei-me lentamente e vi quatro amigos caminhando juntos. Um casal seguia um pouco mais atrás, enquanto dois rapazes, visivelmente embriagados, faziam brincadeiras e lançavam comentários joviais na direção deles. A sintonia entre os quatro era evidente, mesmo com apenas uma mulher no grupo. Parecia que se conheciam há anos, e não havia qualquer falta de respeito no ar. Os amigos estavam alegres, celebrando a festa que havia superado suas expectativas.
Se eu não estava em engano, conhecia um deles. Estudávamos na mesma sala, mas nossas interações eram esporádicas. Eles pareciam bem, enquanto Léo murmurava sobre como um dia já havia sido como aquele grupo. Ele também tivera a experiência de se embriagar, e a lembrança parecia ressoar dentro dele com um misto de nostalgia e reflexão.
Lembrei-me de que duas latas de cerveja já eram suficientes para me deixar tonto; e talvez meu pai permitisse que eu as consumisse, apenas de vez em quando, porque eu parava de beber muito rapidamente. Ele nunca impôs restrições quanto ao consumo de bebidas; havia um lado liberal nele que talvez tivesse vindo de meu avô. Pelo que Léo comentou, deduzi que a experiência de se embriagar havia sido extinta desde que ele começou a usar cocaína. Eu já tinha bebido o bastante para estar tombando, mas ainda assim permanecia alerta, como se nada estivesse acontecendo. Era uma experiência da qual eu nem notava as novidades que surgiam.
Léo ficou mergulhado em seus pensamentos por um longo tempo, envolvendo o quarto em um silêncio constrangedor. Aquela pausa, longe de me incomodar, só aumentava minha admiração por ele. Mesmo em meio à incerteza, havia uma força nele que era impossível ignorar.
— Vou acabar logo com essa enrolação — disse Léo, finalmente rompendo o silêncio.
— Fala, pode confiar em mim. Eu ia contar isso pra quem? Pro meu pai? — respondi, tentando transmitir confiança. Enquanto ele se decidia, escoramos-nos na janela, observando o grupo se dispersar ao fundo da rua. Foi nesse instante que ele me revelou o que faltava para eu entender sobre ele.
— Teve um dia em que saímos pra farra com umas meninas e tal. Foi em um sítio do Luiz. Era uma noite cheia de drogas e bebidas. Sexo? A vontade! -Ele falava sem interrupções, parecia que queria tirar isso logo dele. — quando amanheceu, Luiz comentou que estava cansado e perguntou se um de nós poderia levar a namorada dele pra casa, pois ela precisava ir embora por motivos pessoais. Caio se ofereceu, mas Luiz, já desconfiado, decidiu que eu deveria ir, pois sabia que Caio era muito mulherengo.
Eu prestava atenção a cada detalhe. Sabia que o que viria seria intenso.
— Quando cheguei, já estavam todos deitados. Fui para o quarto em que estava com o Caio. Ao abrir a porta, ele ainda estava cheirando pó e tinha um restinho de cerveja no cooler. Eu me juntei a ele. Tava a fim de ficar “tekado”. Ficamos assim até a cerveja acabar, só trocando bobagens. Mas quando a gente terminou, acabamos fazendo aquilo que fizemos hoje, sabe? - falou virando o rosto ligeiramente pra mim - Sem cerveja, o uso do pó fica mais forte.... O que fizemos foi num nível de loucura bem parecido com o dia em que transei com o Caio no quartinho do quintal dele.
— Mas o que teve demais? Nesse tempo, vocês já gravavam vídeo. Luiz não ia ligar pra isso, né? — respondi, ainda sem entender a gravidade da situação.
Léo hesitou um momento antes de continuar:
— O problema é que nesse dia... Eu fui descabaçado, mano. Primeira e última vez que dei minha bunda.
Ele me encarava, como se esperasse algum julgamento da minha parte. Mas naquele momento eu já tinha visto de tudo. Ele nunca entrou em detalhes antes, e eu nunca perguntei, pois sabia que era um assunto delicado. Eu não sabia o que dizer, mas acabei soltando:
— Então qual foi o problema, mesmo? O Caio deu a bunda pra você primeiro, ué.
O clima mudara. Ele respirou fundo antes de falar:
— O problema é que havia uma câmera no quarto. Luiz filmou tudo! E eu já te disse que Caio não se importa com isso, né? Pra ele, tanto faz, principalmente na posição de ativo.
Eu ainda não entendia completamente o que ele queria dizer com "ativo", mas, percebendo minha expressão confusa, Léo começou a me explicar alguns termos. Era como se estivéssemos diante de um labirinto de emoções, e eu precisava encontrar uma saída antes que tudo se tornasse ainda mais complicado.
— Luiz nunca fez uma ameaça direta, mas soltou uma que me fez tremer... Ele deu a entender que, caso decidíssemos sair daquele esquema, ele viralizaria o vídeo....
- Esse cara... - Tentei coletar pensamentos, mas antes que eu pudesse encontrar uma palavra que capturasse a minha repulsa, notei que Léo, antes tão vibrante, começou a chorar desesperadamente. O barulho da respiração dele ecoava no quarto, como se cada suspiro estivesse carregado de dor.
— Cara, você não tem noção de como é complicado ser dependente de cocaína — ele começou, a voz tremendo ligeiramente. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, refletindo noites mal dormidas e uma angústia profunda. — Quando tô chapado, faço umas paradas que nunca faria se estivesse de boa. Parece que perco o controle total. Minha personalidade vai de um extremo ao outro. Às vezes, me sinto o rei do mundo, tipo, nada pode me parar. — Ele fez uma pausa, e eu vi seus olhos brilharem com uma intensidade quase maníaca. — Mas aí, do nada, me afundo num buraco tão fundo que nem vejo a saída. É um ciclo sem fim de altos e baixos, e toda vez que acho que tô no controle, a cocaína me puxa de volta. Eu não quero viver assim, mas é como se uma parte de mim estivesse presa, sem conseguir se libertar. - calou-se depois de desprender palavras como uma máquina.
Eu ouvia atentamente, sentindo o peso das palavras de Léo. Dessa vez ele ficou totalmente despido de suas defesas habituais. O silêncio entre nós era carregado. Quando retomou a fala, sua voz parecia um sussurro desesperado.
— Eu só queria ser normal, sabe? Viver sem essa necessidade constante, sem essa luta interna. — Léo abaixou a cabeça, seus ombros caindo como se carregassem o peso do mundo. — Mas parece que cada vez que tento sair, algo me puxa de volta. É como se eu estivesse preso em um pesadelo que não consigo acordar.
Eu queria dizer algo, oferecer algum tipo de consolo, mas as palavras me faltavam. Tudo o que eu podia fazer era estar ali, presente, esperando que minha presença fosse suficiente para mostrar a ele que não estava sozinho.
Ele começou a se drogar de uma forma autodestrutiva, e suas palavras estavam impregnadas de desespero. Ele repetia incessantemente que não suportaria ver seus pais assistindo a tudo aquilo. Não era apenas pela exposição de um vídeo íntimo, mas pela certeza de que a sua vulnerabilidade se tornaria um espetáculo.
Eu não sabia o que dizer. Senti que estava diante de um abismo emocional, e antes que minhas palavras encontrassem um caminho, fui acometido pelo impulso de abraçá-lo. Para minha surpresa, ele retribuiu o abraço, e aquele momento se tornou um refúgio temporário em meio ao caos que nos cercava. Fomos dois náufragos em meio a tempestade, buscando abrigo um no outro. Os minutos passaram, e quando percebi, o canto do sol já começava a iluminar o horizonte pela janela, como um sinal de que o mundo continuava, indiferente ao nosso sofrimento.
— Vá deitar. Tente dormir. Seu pai não pode saber do que aconteceu. Desça, Pedro! Essa vida não é para você. Leve isso como se fosse uma aventura. Amanhã vamos embora. Tudo isso vai ficar para trás — suas palavras faziam eu querer ficar cada vez mais como um desejo agressivo de ver Léo feliz, longe daquela vida que o consumia.
Eu sabia que tudo o que havia acontecido naquela noite era uma confusão imensa, uma espiral de devassidão e impulsos incontroláveis. Mas, de alguma forma, havia uma nostalgia que começava a se instalar em mim, como uma música que tocava suavemente ao fundo. Não sabia se era pela experiência sexual, pelas drogas, ou pela combinação insana de ambos. Fiquei preso a esses pensamentos até ouvir a porta da suíte se abrindo, como um sinal de que a realidade estava prestes a nos engolir novamente.
Com um movimento rápido, Léo me pegou pelo peito e me encostou na parede, num ponto cego para o corredor. A adrenalina subiu; não era medo, mas uma excitação crua. Ele acendeu um cigarro, o fumo se espalhando como uma névoa ao nosso redor, e tentou aparentar naturalidade, como se estivéssemos apenas jogando um jogo clandestino. A voz da mulher que cumprimentava Léo chamando Caio para acompanhá-la até o térreo era vazia, longe da tensão que permeava nosso espaço.
Quando ouvi os passos descendo as escadas, gesticulei para Léo, explicando o porquê da minha necessidade de ficar escondido. Ele se aproximou, nossos corpos quase se fundindo, e a distância entre nós desapareceu. A respiração ofegante se misturava, e nossos peitos se encostavam, a eletricidade entre nós crescendo. Não havia malícia nesse momento, era como se cada movimento fosse um passo em direção a algo mais profundo. E em meio ao silêncio carregado, ele sussurrou:
— Não quero que ela possa te reconhecer. Seu pai deve ser conhecido na cidade.
Ele estava certo. A cidade é pequena, e eu sabia que qualquer movimento em falso poderia me marcar para sempre. Se alguém me visse com eles, inevitavelmente, minha imagem seria ligada às drogas, e isso poderia chegar aos ouvidos do meu pai. O som da porta da escada se fechando ecoou no silêncio do quarto, e os passos de Caio subiam, carregando uma aura de mistério que me deixava inquieto.
Léo se aproximou de mim, sua presença era tão intensa que a proximidade de nossos corpos se tornou um labirinto de emoções mal resolvidas. Sua cintura estava tão perto da minha que eu podia sentir a pulsação de um desejo contido, mas havia algo mais em seu olhar — uma mistura de confiança e medo. Estávamos frente a frente, nossos rostos quase se tocando. A luz fraca que filtrava pela janela desenhava a beleza de seu rosto, acentuando os traços fortes, mas também revelando a vulnerabilidade em suas pupilas dilatadas.
Ele segurou meu ombro com uma firmeza possessiva e, com uma voz grave, quase sussurrante, disse:
— Apenas diga “não” para o que ele pedir. Seja lá o que for!
As palavras ressoaram em mim como um aviso, mas por que tanta segurança? A curiosidade me consumia. Era difícil lidar com tudo aquilo quando se é tão jovem, tão desavisado sobre as profundezas da vida.
Então, Léo se afastou, e foi nesse momento que Caio entrou no quarto, seus olhos imediatamente se fixando em mim, como se eu fosse uma questão não resolvida. Era perturbador como ele parecia ter um sexto sentido, um radar para minhas inseguranças; Léo, por outro lado, estava se tornando previsível em seus atos.
— Pra que esse esconderijo, mané? — Caio comentou, a voz carregada de um tom brincalhão, mas havia uma lâmina por trás disso. Léo se apressou em responder:
— Eu que escondi ele aí. Essas putas não vão guardar segredo de nada.
Nesse instante, senti um frio na espinha. Havia algo na forma como Léo respondeu a Caio, um ladrilho de medo entrelaçado em suas palavras. Era como se, por trás da imagem descuidada que ele mostrava, havia uma tempestade de insegurança, e ao mesmo tempo, uma determinação ameaçadora que ele tentava esconder.
— Segredo? — Caio começou a rir, mas não havia diversão em seu riso. — Você realmente acha que o playboy vai parar por aqui? Lembra de nós?
A confusão sobre quem eram realmente aqueles dois e o que estava acontecendo me envolveu; eu estava enredado em um jogo perigoso, sem saber até onde isso poderia me levar.
Léo sentou-se a beira da cama e fez algumas carreiras, após pegar o prato pra perto de si. Na verdade, incontáveis no prato. Enquanto Caio veio onde eu estava e pegou no meu pau com um sorriso (após perceber que estava meia bomba).
Tirou um saquinho do bolso e com um canudo levou até o nariz três vezes quando subiu o canudo pela quarta vez foi a mim. Não neguei. Ele coletou novamente e colocou na minha outra narina. Começou a apalpar o meu pau e o dele aos poucos. Notei que Léo não olhava. Ele parecia querer fingir que não estava acontecendo alguma coisa ali. Eu não me movia. Estava gostando. Caio foi descendo com sua boca ao meu peito e logo desceu minha bermuda e sem enrolação engoliu meu pau. Eu estava anestesiado ali com a forma ligeira de Caio. Ele era definitivamente muito ardiloso. Eu fiquei em transe com o que estava acontecendo. Caio era um profissional na mamada. Ele lambia meu saco arregaçava minha pica na punheta, lambia a cabeça, me chamando de macho gostoso. Dizia que minha pica era massa. Que queria tomar meu leite pra ir dormir. Eu estava em tanto tesão ali com aquilo tudo que nem percebi que minhas mãos que estavam conduzindo-o pelas mechas de seu cabelo. Não demorou muito e eu gozei. Caio gozou logo em seguida melando meu pé. Nunca tinha recebido uma chupada na vida. Aquilo me deixou sem força e totalmente sem reação. Quando abri os olhos notei que Léo não estava mais no quarto.
Caio se levantou como se não tivesse acontecido nada. O cara era maluco, tinha engolido minha porra e foi direto ao prato. Tudo aquilo se passou em 5 minutos, no máximo. Caio saiu e pegou uma cerveja na geladeira. Quando voltou pra o quarto soltou um grito baixo como que pra debochar:
-Pronto, Leeeeo!
-Eu vou descer... – falei olhando pra ele sem jeito.
-Quer dar mais um tiro? Seu namorado já tá vindo... Espera ele...
Relaxa, Léo vez ou outra fica com essas viadagens.
- Qual é, cara. Tenho nada com Léo não.
Não sei o que havia em Caio que me deixava tão nervoso. Ele não parecia a pessoa que Léo me descrevera; havia algo em sua presença que não batia com a imagem que eu tinha. Era como se ele fosse uma sombra, uma versão distorcida e mais hostil do que eu esperava. Lembrei-me das palavras de Léo: “Caio não é mais o mesmo.” Aquelas palavras ecoavam na minha mente enquanto eu dava voltas inquietas pelo quarto, a ausência dele me deixando angustiado.
A ansiedade se arrastava em meu peito. Eu não queria descer sem falar com Léo, essa urgência pulsando dentro de mim. Ao olhar em direção ao banheiro, percebi que a luz estava apagada, e no quarto de Marcelo, o silêncio era ensurdecedor; ele não estava lá. A única coisa que vi foi Caio, mexendo no celular e tomando um gole da bebida. Ele parecia indiferente à minha presença, ocasionalmente lançando risadas abafadas, que me provocavam um arrepio na espinha. Cada risada era como uma provocação silenciosa, um aviso de que eu não pertencia àquele mundo.
Quando finalmente resolvi ir para a suíte, ele apenas disse, com um tom de deboche que me deixou ainda mais inquieto: “– aeeê,” seguido de palmas sarcásticas. As palavras soaram como um eco, aumentando minha insegurança. Sem bater, entrei abruptamente. Léo estava deitado, a expressão dele mostrava que ele tentava escapar de algo – ou de alguém, talvez dele mesmo. Chamei-o batendo suavemente em seus pés, e ele abriu os olhos, flashes de confusão e cansaço cruzando seu rosto.
— Você não conseguiu, né? — disse Léo, me encarando ainda sobre os lençóis amassados.
— O que? — respondi, a confusão se misturando à vergonha.
— Dizer não. — O sorriso de Léo era um misto de ironia e desapontamento, um reflexo de um passado recente que parecia pesar sobre nós.
— Ele não me pediu nada...
— O dia já tá nascendo. Era pra você ter descido naquela hora. Mas sei como é a primeira vez com isso... — Seus olhos brilharam com um entendimento que só ele poderia ter.
— Eu não vou mais usar. Só vim aqui pra me despedir. Talvez a gente não se veja mais. Venha no próximo ano. — Sugeri, minha voz cheia de uma inocência quase trágica, como se eu ainda acreditasse que tudo poderia voltar ao normal.
— Não mesmo. — Ele disse com um tom de arrogância afiado que conseguiu me ferir. - Melhor pra você.
Saí do quarto, sentindo o peso de seu desprezo se agarrar a mim como uma vestimenta que eu nunca escolhi. Desci as escadas em silêncio, evitando o olhar de Caio. Quando ele me viu, apenas disse: “Até amanhã, boyzin.” A forma como ele pronunciou aquelas palavras parecia um aviso, um prenúncio do que estava por vir.
Uma onda de vergonha me envolveu. Sabia que eles iriam embora na segunda pela manhã e que não pretendia subir novamente ao andar. Havia resolvido dormir aquele domingo todo. Nem sequer peguei o número de Léo, um fato que me atormentava, mas me consolei ao pensar que poderia conseguir isso com Marcelo.
Antes de me deitar, tomei um copo cheio de líquido e alguns comprimidos que meu pai costumava tomar antes de dormir, especialmente quando havia bebido. Aprendi com o velho algumas artimanhas para lidar com a noite. Após um banho rápido, me deitei, mas minha mente era uma tempestade incontrolável, insistindo em relembrar cada detalhe do que havia acontecido.
Quando finalmente olhei para o relógio, já estava perto das 7:00. O bocejo escapou de meus lábios, uma luta entre a necessidade de dormir e a urgência incompreensível de fazer um último esforço. E naquele limiar entre o sono e a vigília, um pressentimento sutil me fazia perceber que a linha entre a esperança e o horror se tornava cada vez mais tênue.
Antes de mergulhar no sono, pedi ao universo uma nova chance de conversar com Léo. Mal sabia eu que, o universo estava me observando e esperando pelo meu desejo, pois essa oportunidade estava a apenas algumas horas de distância, prestes a se desdobrar da maneira mais caótica possível.
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