As regras do pôquer dos cornos eram bem simples. O vencedor podia escolher entre um prêmio de meio milhão ou passar uma hora na sala vermelha com a mulher de um dos perdedores. A mulher escolhida não era obrigada a nada, mas se o “corno” não a conseguisse convencer a ficar uma hora na sala com o vencedor, ele teria que pagar o dobro da premiação máxima ao ganhador.
Eu confiava nas minhas habilidades como jogador de pôquer. Eu confiava na matemática, já que mesmo se eu perdesse a chance de ser escolhido era de 1 em 7. E, acima de tudo, eu confiava na minha esposa, sabendo que mesmo se ela ficasse sozinho com alguém na sala vermelha, nunca me trairia.
Como é melhor prevenir do que remediar, eu menti para Amanda que o Flávio havia nos chamados para uma festa. Caso eu fosse o “corno”, já tinha uma desculpa pronta para explicar o porquê eu precisava que ela fosse num clube de pôquer, mesmo que eu não acreditasse que isso fosse acontecer.
Ao sentar na mesa, minha mão tremia. Quando eu tentei ser profissional, minha maior dificuldade era como enfrentar o tédio de ficar jogando horas a fio campeonatos onde a premiação máxima não passavam de 100 reais. Agora, eu sentia que vencer ou perder aquele torneio mudaria toda minha vida. Meu coração batia freneticamente e eu sentia o peso de cada decisão que eu tomava ali.
A única pessoa que reconheci na mesa foi Markus, o ganhador da última competição. Ele estava bêbado e falante naquela noite, como se fosse pago para comentar o jogo. Ele parecia particularmente interessado em mim, perguntando no que eu trabalhava, o que eu faria com o dinheiro e outras perguntas para puxar assunto. Parecia que ele estava tentando me desconcentrar, e embora aquilo estivesse me incomodando, eu tentava ao máximo ignorar.
Depois de uma hora na mesa, eu tinha certeza que não tinha nada com me preocupar. Nos meus sonhos, eu e minha esposa dançávamos a noite toda embalados pelo prêmio de meio milhão de reais. Eu era o líder de fichas e restavam só outros dois jogadores, sendo Markus um deles.
Me surpreendia Markus ter ido tão longe novamente. Honestamente, ele havia dado a maior sorte no campeonato anterior, e eu não conseguia ver nenhum sentido na forma como ele jogava. Ele apostava em todas as mãos, e mais de uma vez ele sobreviveu no torneio dando “all-in” e sendo o azarão quando as mãos foram reveladas.
Com mais uma cagada dessas, ele eliminou o terceiro colocado, ficando com uma pilha um pouco maior que a minha. Agora restavam apenas eu e ele, e antes de começar o um contra um, teve uma pausa de cinco minutos no torneio. Eu fui direto para o banheiro lavar o meu rosto e tentar controlar os meus nervos. Eu olhava para o espelho, e tentava me motivar. Faltava muito pouco para eu mudar minha vida.
Estava tão concentrado com meu ritual, que nem percebi quando Markus entrou no banheiro. Ele me observou por um tempo, sem falar nada comigo, apenas sorrindo. Depois foi em direção ao mictório.
Eu sempre preferi campeonatos via internet do que ao vivo por causa desse tipo de jogo sujo entre os participantes que eu não tolerava. Eu já estava meio pê da vida com Markus. O blá-blá-blá dele havia me tirado um pouco da minha zona de conforto, e tinha certeza que ele iria aproveitar aquele momento que estávamos sozinhos para me provocar.
Fingi que ele não existia, focando minha mente na água que tocava meu rosto, tentando me acalmar. Estava funcionando, até o momento que o barulho dá pia se combinou com o jato de urina que saía daquele velho. “O pau desse velho que está mijando agora vai entrar na sua mulher se você perder”, do nada esse pensamento veio na minha cabeça, me fazendo novamente entrar em desespero.
Minha ida ao banheiro só conseguiu me deixar mais tenso. Terminei meu ritual, e não sei como, ele ainda estava mijando. Quando eu estava saindo do banheiro, Markus terminou o que fazia no mictório e sem nem ao menos colocar o seu pênis de volta na cueca, veio falar comigo.
“Eu vi o Instagram da Amandinha. Que delicia, heim! Se fosse você nunca teria entrado no pôquer dos cornos, estaria em casa todo dia metendo.”
Minha vontade era meter um soco nele ali mesmo, mas tinha quase certeza que seria desclassificado do campeonato se agredisse outro participante.
“Sim, ela é maravilhosa, por isso casei com ela.” disse tentando manter a expressão neutra e respondendo mais laconicamente possível.
“Com certeza. E ela parece ter classe. Vai ser uma foda bem melhor que a favelada que comi no mês passado.” Aquele velho desgraçado ria, e ainda por cima, deu um tapa nas minhas costas, sem nem ao menos lavar a mão. Eu não podia perder para um filho da puta daqueles.
Eu sempre odiei a parte do um contra um em torneios, e de longe era aonde eu mais sofria em campeonatos. A sorte nesse tipo de situação era predominante, então você poderia jogar para o espaço os cálculos de valor esperado e a teoria do jogo, quando o torneio chegava naquela etapa era como se o vencedor fosse decidido em uma moeda. Normalmente isso não afetava tanto, já que a maioria dos torneios tinha um pagamento generoso para o segundo lugar, mas, no “pôquer dos cornos” o ganhador leva tudo.
Eu saí com uma mão excelente, ás e rei e decidi jogar de forma lenta, atraindo Markus para uma armadilha. Ele apostou pesado antes do “flop”, e eu apenas cobri. As cartas que viraram não poderiam ser mais favoráveis a mim, um ás, um rei e um três, todos de naipes diferentes. Ele apostou pesado, e novamente só cobri, atraindo ele para mais perto do abismo.
A gente continuou na mesma dinâmica de apostas no “turn” e no “river”, e as cartas que viraram foi um quatro e um dez. Eu tinha duas duplas, e não existia a possibilidade de Markus ter uma sequência ou um “flush” na mão. Na minha cabeça eu refiz todos os nossos movimentos que tinham acontecido até ali, tentando prever o que ele poderia ter na mão. Convencido que eu tinha ganho, eu empurrei todas as fichas para mesa.
“Você tem certeza que é mais inteligente que todas as pessoas aqui. Mas, se você realmente fosse, não teria que assistir sua mulher no quarto vermelho”, Markus disse antes de cobrir minha aposta.
Markus revelou um par de três, e eu não consegui acreditar. Eu havia perdido. Tudo que aconteceu depois disso é uma névoa na minha mente. Lembro vagamente dele falar para a crupiê que queria o prêmio alternativo. Eu fiquei sentado na mesa, enquanto pouco a pouco os espectadores saíam.
Flávio chegou perto de mim, tentando me acordar do meu transe e perguntar se estava tudo bem comigo. Depois de diversas tentativas de falar comigo sem resposta, ele disse: “Eu falei para você não jogar. Puta que pariu cara, o que você vai fazer?”
Bom, eu não tinha um milhão. Teria que confiar na minha esposa por uma hora na sala vermelha com aquele velho filha da puta.
<Continua>
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