II
A casa era dividida pelo lado esquerdo e direito. Os três banheiros sem portas ficavam a esquerda e os quartos a direita esses tinham porta caindo aos pedaços como todo o resto.
A cozinha ficava no final do corredor e uma porta de madeira enegrecida como as madeiras visíveis do telhado sobre nossas cabeças dava para um quintal, onde erguiam-se mangueiras de todos os tamanhos.
A noite ouvíamos os baques das mangas caindo no cão e algumas até no telhado. Eu fiquei no quarto de frente para o terceiro banheiro próximo a cozinha. A cama vazia ficava ao lada da de Betão, meu novo colega de moradia.
Acordei cedo estava um silêncio de morte pela casa mas a claridade entrava por todos os cantos como lanternas lançando luz para todos os lados.
- Porra a água é gelada... - reclamei quando os jatos acertaram minha cabeça.
Eu fechei os olhos e virei um instante para limpar meu bumbum passando o sabonete entre minhas nádegas quando ouvi o som de um jato de liquido pesado contra o vaso sanitário ao lado do box de banho.
- Porra! - gritei para o negão ao meu lado.
Juarez tinha os olhos miúdos de sono ainda e com o pau e as bolas por cima do cós do short mijava ao meu lado apoiando o pau com uma mão e a outra na cintura.
- Adianta aí, - ele disse - tenho aula no primeiro horário hoje.
- Tá... - consegui responder gaguejando.
Ele balançou aquele troço que mole ainda parecia uma banana da prata na casaca de tão teso e rechonchudo, puxou o cós do short de volta e saiu do banheiro. Eu retirei a espuma do meu corpo e me enrolei na toalha.
- Cagaram e não deram descarga! - alguém gritou do banheiro perto da sala.
Eu passei correndo para meu quarto, sequei meu corpo com rapidez, mas eu tinha colocado minha cuecas no fundo da mala e por isso estava inclinado sobre minha cama enquanto procurava.
- Eita rabão! - disse Betão atrás de mim.
Eu estava com a toalha no ombro porque achei que tinha retirado minha calça jeans e uma camisa polo que usaria pela manhã para ir fazer a matrícula no dia seguinte a minha chegada ali.
- Que susto! - gritei de volta.
Encostada próximo a parede havia um corpo de mulher com os seios para fora e o próprio Betão estava peladão.
- Relaxa men, - ele disse - de privacidade aqui todo mundo é analfabeto.
Eu vesti a cueca numa velocidade The Flesch, vesti a calça, e com os sapatos na mão, saí para o corredor, o cheiro de café me atraiu para a cozinha. Mas a bunda linda do Betão me atraiu mais, ele mijava na pia e de costas para o corredor.
- Quê que isso... - eu suspirei.
Fabrício tinha um pano de prato em cima do ombro direito e coava um café naqueles coadores de pano.
- Bom dia, - eu disse.
- E aí cara, - ele respondeu - foi você que fez a merda lá na frente?
- Eu?
- É.
- Não!
- Cara isso não se faz.
- Não fui eu, juro...
Após um ressono forte de cavalo Pedro que era o cara mais bonito por ali de rosto e de corpo também, brincou alongando os braços por cima da cabeça:
- O investigador de bosta, - e avançou para o café.
- É preciso ter modos, - Fabrício gaguejou - o que o Yuri vai pensar de nós?
- Que somos um bando de machos vivendo debaixo do mesmo teto? - e sorriu engolindo o café. - Aliás tá de parabéns, que raba!
- O quê? - engasguei com o café.
- Eu ia cagar nesse banheiro, - ele disse - mas você estava banhando e é seu primeiro dia aqui seria literalmente uma merda.
- Ah foi você! - disse Fabrício enfurecido.
- Sempre, cê acha que mantenho essa máquina aqui como porra?
- Eu pensei que já tivéssemos conversado sobre isso Pedro, usa a porra da descarga.
Eu deixei a xícara em cima de uma mesa de madeira onde estava a garrafa térmica com o café e vesti minha camisa que ainda estava no meu ombro. Só lembrei do desodorante e do perfume quando já estava na porta da rua.