Tem coisas que acontecem na nossa vida que fazem mudar todas as nossas crenças e tudo que sabemos sobre nós mesmos. Eu me chamo Lara, e na época que essa história, eu tinha 20 anos, e havia acabado de entrar na faculdade de história.
Tenho até vergonha de admitir hoje como eu era. Eu acreditava que sabia de tudo e tinha completa certeza que estava destinada a mudar o mundo. Onde havia uma causa, eu estava lá. Lutei contra o capitalismo, a exploração de classes, a mudança climática, mas acima de tudo, o que mais movia era a luta contra o patriarcado. Eu acreditava piamente que tudo que estava errado no mundo era graças a existência de homens.
Hoje, mais velha, e espero mais sábia, consigo entender o que me atraiu para essa luta. Modéstia a parte, eu sempre fui absurdamente bonita e estava exausta de ser notada somente pelo meu físico. Sofri demais na adolescência por meu peito ter crescido antes e ficado muito maior do que os das minhas amigas. Também herdei a marca registrada da minha mãe, a cintura finíssima com o bumbum grande. E para completar, eu nasci com o cabelo e pele bem claro, e diversas vezes já ouvi as pessoas falarem que eu tenho "carinha de burra", o que quer que isso significava. Meu físico me impedia de ser levada a sério, como se o mundo inteiro quisesse que eu fosse uma patricinha sem miolo só por nascer bonita.
Por isso, eu me esforçava ao máximo para que as pessoas me percebessem de uma forma diferente. Nessa época da faculdade, eu já tinha algumas tatuagens, a lateral da minha cabeça era raspada, e eu tinha um monte de piercings na orelha e um no nariz. Só que, tentar me distanciar da imagem de patricinha burra, teve um sério custo na minha vida, os rapazes simplesmente não chegavam em mim. Não sei se meu estilo dava medo neles ou eles achavam que eu jogava no mesmo time que eles, o fato era que com 20 anos todas as minhas experiências sexuais tinham sido “brincadeiras” que eu fazia com as minhas amigas.
Para mim, não ter um namorado era irrelevante, o que realmente importava era a minha luta contra o machismo. E naquele final de semana, eu teria uma dura batalha: uma visita a minha família. Meus pais eram do interior, então eles possuíam uma mentalidade bem retrógrada, e não aceitavam minhas escolhas de carreira e visual. Eles tinham certeza que eu estava me desviando do caminho certo, e eu tinha certeza que eles estavam errados, assim o diálogo entre nós era impossível. Quase todas as minhas visitas à casa deles terminavam em gritos, acusações e choros.
Antes deu pegar o ônibus para a cidade dos meus pais, recebi uma ligação da minha mãe. Desesperada, ela implorava para que eu não causasse confusão, porque alguns amigos do meu pai ficariam em casa, o final de semana inteiro, fazendo churrasco e curtindo a nossa piscina. Ela temia que eu, a ovelha negra, pudesse manchar a imagem de família tradicional que eles tanto cultivavam.
Minha relação com minha mãe não era das melhores, porque claramente eu não era a filha que ela sonhava. Se fosse, eu ficaria junto dela na cozinha, servindo cerveja e quitutes para os amigos do meu pai, enquanto eles discutiam como o Bolsa Família foi a pior coisa que aconteceu na história desse país. Era incompreensível para mim como minha mãe não percebia quanto ela era explorada pelo patriarcado.
E se minha relação com minha mãe não era das melhores, meu pai estava a um passo de renegar a minha existência. A gente não concordava com nada, e hoje eu percebo, que eu estava tão frustrada com as atitudes dele, que fazia tudo para irritá-lo.
Ainda assim, eu garanti para minha mãe que se dependesse de mim não haveria conflito naquele final de semana. Eu não tinha nenhum desejo de coexistir no mesmo ambiente que meu pai e os amigos dele, então não discutir com eles seria mamão com açúcar.
Cheguei na quinta-feira, só joguei minha mala no meu antigo quarto, e fui direto para o bar com minhas amigas. Cheguei em casa altas horas da madrugada, tudo perfeito e acontecendo conforme o planejado até então. No entanto, logo cedo, fui despertada pelas vozes vindas da churrasqueira, e só de ouvir aquele grupo de velhos babões, meu sangue fervia.
Eles compartilhavam fotos das estagiárias dos seus respectivos trabalhos, tecendo comentários do que fariam com elas, caso não fossem casados. Ou seja, eu fui acordada por um monte de marmanjo na casa dos cinquenta anos fantasiando coletivamente em abusar de meninas da minha idade.
Minha vontade era pegar uma espada e ir decapitando um por um na churrasqueira, a lá “Kill Bill”. Mas, eu decidi cumprir a promessa que fiz a minha mãe de evitar conflitos, e decidi que não falaria nada, até porque, aqueles velhos estavam tão dentro do Matrix, que eu nunca conseguiria que eles admitissem a hipocrisia do estilo de vida deles. Eu ia ficar calada, ainda assim, eu tinha um plano. Ele só era mais visual e performático do que um discurso.
Meu tio havia me dado de presente um biquíni fio dental vermelho minúsculo. Prefiro nem pensar no que passou na cabeça desse tio para me dar uma peça tão indecente de aniversário. Agora parecia a hora perfeita para estreá-lo. Aqueles velhos não eram capazes de respeitar as mulheres, já que não as viam como seres humanos. Achava difícil, mas queria que eles entendessem que todas aquelas meninas com quem eles fantasiavam eram filhas de alguém.
Foi impagável a cara do meu pai quando cheguei na piscina. Não é tão divertido quando é sua filhinha, né papai? Com toda paz do mundo, eu deitei de barriga para baixo na espreguiçadeira, deixando que eles olhassem o meu bumbum que era coberto por uma quantidade microscópica de tecido.
Não deu nem um minuto e meu pai saiu correndo para dentro de casa, buscando auxílio da minha mãe para me controlar. Eu aproveitei para continuar colocando meu plano em prática, perguntando se alguém poderia passar protetor nas minhas costas.
Um dos melhores amigos do meu pai, Jorge, logo se ofereceu. Eu o conhecia desde criancinha, e cada ano que passava gostava menos dele. Meu pai conheceu ele na faculdade, e nossas famílias sempre foram muito unidas, quando eu era menor eu brincava direto com os filhos dele, e a esposa sempre visitava nossa casa.
Jorge era um dos amigos mais machistas do meu pai, razão pela qual eu não gostava dele. Eu já o ouvi se vangloriar para meu pai de ter ficado com sua secretária, embora eu duvidasse dessa história, já que Jorge era um velho careca e barrigudo. Só mesmo se a mulher estivesse muito desesperada para ficar com ele.
Deitada na espreguiçadeira, eu deixava que Jorge passasse sua mão no meu corpo, com bastante asco da situação para ser honesta. Eu tentava me convencer que era para uma boa causa, aquilo estava mudando o mundo para melhor.
Minha mãe surgiu na piscina, pendido que eu desse uma ajuda para ela na cozinha. Eu sentia que já tinha punido meu pai o suficiente naquele dia, obrigando-o assistir o amigo dele passar a mão em sua filhinha. Mas, quando eu fui tentar levantar para ir até a cozinha, Jorge pressionou minhas costas de volta na espreguiçadeira e disse: “Calma, eu vou só terminar de passar protetor aqui e ela já vai.”
Velho filho de uma puta. Deveria ser a terceira camada que ele passava na minha virilha, meu corpo já nem absorvia mais o protetor. Meu pai parecia que iria explodir vendo seu amigo se aproveitar da situação, mas não disse nada para me proteger. Quando Jorge acabou, ele deu um leve tapinha no meu bumbum, como dizendo, agora você tem minha permissão para ir. Eu lancei para ele um olhar de puro ódio, mas não falei nada. Eu tinha me colocado naquela situação, e de certa forma tudo aquilo era minha culpa.
Fui para cozinha com a minha mãe, e ela nem conseguiu inventar uma desculpa decente para explicar o porquê precisava de mim. “Você não acha que esse biquíni está muito pequeno, filha? Acho que os homens podem pensar coisas erradas te vendo assim.”
“Ah, mãe, para com isso. São todos amigos do papai que me conhecem desde pequena. Todo mundo aqui é família, ninguém tem esse tipo de pensamento”, disse para minha mãe antes de voltar para minha espreguiçadeira, me sentindo vitoriosa por minar a autoridade dos meus pais.
O constrangimento do grupo do meu pai era evidente, apenas pela minha presença no mesmo ambiente que eles. Tão acostumados com suas práticas misóginas, eles agora tinham que lutar contra o desejo de encarar uma mulher para não ofender o meu pai. Todos estavam seguindo o protocolo de fingir que eu não existia, só olhando rapidamente para o meu corpo quando julgavam ser seguro. Exceto Jorge, que parecia um psicopata com os olhos fixos em mim. Mais de uma vez eu vi ele arrumando o calção, só faltava aquele velho gagá começar a se masturbar ali mesmo na frente de todos.
Queria provar para todos que eu tinha o direito de existir, não podendo ser acorrentada só por ser uma mulher bonita. Naquela piscina acontecia uma batalha da guerra diária de todas as mulheres do planeta contra o patriarcado. Eu precisava continuar ali, independente do que acontecesse, pela causa, porém eu fui ficando tão desconfortável com o jeito que o amigo do meu pai me olhava que não consegui. Sabia que sair da piscina seria admitir derrota, mas não aguentei, tive que recuar.
Perdia a batalha, mas a guerra continuaria. Existiriam outros momentos que nós dois voltaríamos a se enfrentar.
<Continua>
Quem quiser ler a parte 2 já está no meu blog. http://www.ouroerotico.com.br