A republica dos machos (3)

Um conto erótico de Yuri
Categoria: Homossexual
Contém 1207 palavras
Data: 16/07/2024 22:05:16
Última revisão: 17/07/2024 18:33:33

III

Da casa da frente saía a voz de Chico Buarque cantando "Jorge Maravilha", não estava alto o suficiente para incomodar mas abarcava a rua de casas velhas inteira. Eu fiquei preso naquela letra "você não gosta de mim mas sua filha gosta".

O mais engraçado de tudo foi ver o Duval abotoando a camisa enquanto descia os degraus dessa casa e vindo em minha direção.

- Quem é?

Eu perguntei indicando a casa de onde vinha o som e de onde ele havia acabado de sair.

- Lulu Beicinho, - ele sorriu - um velho amigo.

Duval passou por mim cheirando a murrinha de coito. Era um dos poucos cheiros que eu conhecia bem porque vivi durante muitos anos do lado de um motel na minha cidade.

Eu voltei para dentro e corri até o quarto para passar meu desodorante e o perfume. Encontrar a menina da noite passada no quarto, encheu meu rosto de vermelhões, me constrangendo um pouco.

- Oi... - murmurei.

A menina estava recostada na parede e acabava de vestir um vestidinho tomara que caia. Ela tinha olhos meio puxados e cabelos pretos bem lisos e negros.

- Oi, - ela respondeu e saiu.

Eu passei o rolom debaixo dos braços e o perfume na minha camisa e quando eu ia saindo, cheirando a gola da camisa para ter certeza que o perfume pegou, o Betão entrou cheirando a sabonete, pele arrepiada e molhada. Ele tinha uma tatuagem do tamanho de um polegar próximo a axila esquerda.

- É uma coruja, - Betão disse - uma merda que fiz na vida.

- É bonitinha, - eu respondi.

- Eu fiz dois semestres de pedagogia.

- E não terminou por quê?

- Não era pra mim, - ele sorriu safado coçando o queixo - minha área mesmo é a engenharia.

Minha mente poluída me levou a pensar na sala cheia de mulheres e a tentação que devia ser "isso é muito machista Yuri", eu sei que é, sei mas é um fato que esse é um dos cursos que mais forma mulheres, pelo menos é o que eu acho, e enfermagem também.

Ele terminou de vestir uma cueca box preta e soltou os elásticos que estalaram na pele, acionou o aerossol masculino nas axilas e no peito depois vestiu calças jeans e se sentou na cama para calçar os tênis.

- Valeu - eu disse boboca.

Eu fiquei com as bochechas queimando porque tinha ficado aquele tempo todo observando Betão se vestir. Meu estomago estava todo encolhido. Eu dei um tchauzinho para ele e saí do quarto.

Ainda com o pensamento no cheiro e no porte do meu colega de quarto, esperei que um carro que vinha se aproximando, passasse para que eu atravessasse mas ele parou.

- Quer carona?

Juarez dirigia um siena prata de quatro portas. Eu dei a volta e abri a porta do passageiro.

- Estou indo para a Puc.

Ele olhou pelo retrovisor de fora e se voltou para mim, inquerindo:

- Está com os documentos?

Eu bati a mão no bolso da calça.

Era lindo avançar pela cidade e avistar o mar do outro lado como se estivesse bem perto mas na verdade ficava na parte mais abaixo.

- Nossa essa cidade é linda - falei.

- É mas esse transito é uma merda.

Eu nem tinha me dado conta que estávamos espremidos entre um ônibus e uma caminhonete.

- Você cursa o quê? - perguntei.

Ele olhava para a frente enquanto buzinava com nervoso.

- Direito.

- Mora a quanto tempo na república?

Juarez sorriu de canto:

- Eu não moro lá não, tá doido, - suspirou - mas tô comendo uma gostosinha e levo pra lá.

O carro avançou e os prédios da cidade foram se avolumando cada vez mais numerosos escondendo o céu.

- Eu posso ficar aqui.

- Não, eu vou pegar a Larissa, minha namorada - ele disse - a gente passa na frente da católica, eu te deixo lá...

- Desculpe... mas essa Larissa é a menina que cê disse antes? Que leva para a republica?

Juarez sacodiu a cabeça puxando uma pelezinha do lábio inferior com os dentes:

- Você pergunta pra desgraça viu - e sorriu - não, essa é minha namorada, a outra é só o lanche.

Eu desci do carro com uma sensação de revolta remoendo por dentro de mim "esses machistas filhos da mãe!", eles falavam das meninas como se fossem objetos. Mas espera aí "sou um hipócrita machista também".

Era uma degradação.

Mas aquele tom debochado e largado de falarem de mulheres como se falassem do último prato de comida, excitava um pouco a minha imaginação apesar de recriminar-me por isso.

O fato era que eu estava em um ambiente mais masculino. Portanto mais machista. "Isso é um pouco precipitado", afinal eu estava na companhia deles havia o quê? Pouquíssimo tempo!

A área verde na entrada do campus passava a ideia de uma cidade arborizada, ledo engano.

Senti uma baforada de cigarro bater no meu rosto. "Que gato!", ele estava empunhando o cigarro entre os dedos e apoiado na parede.

- As massas no pensamento de Hegel... - dizia uma voz aveludada.

O sujeito vestia uma calça jeans comum e tênis e o seu interlocutor ouvia a tudo com o dedo médio pressionado contra os lábios.

Eu não parei para observar o cara mais bonito que falava de Hegel porque dei de testa com outro cara magro como eu, e o choque das nossas cabeças reverberou.

- Ai!

- Olha para onde anda!

- Foi mal! - eu disse.

Ele usava um brinco na orelha esquerda com um pingente de bailarina na ponta e cultivava os cabelos grandes, cheios.

- Tá, tá, tá, já não basta meu cu ardendo - ele soltou, espontâneo.

Ao perceber o que havia dito olhou para cima ainda sentado de bunda no chão passando a mão na marca vermelha onde nossas testas bateram.

O homem mais velho e o outro que falava sobre Hegel cessaram a conversa para olhar para nós.

- Perderam alguma coisa?! - o menino gritou.

Eu segurei a mão dele, estavam frias, e o levei para os degraus mais a frente.

- Você está meio pálido - eu disse.

Ele respirou fundo e olhou novamente para mim:

- Um troglodita me fodeu ontem! Literalmente! Aquele arrombado eu pedi, clama, vai com calma é minha primeira vez, animal!

Os homens que eu havia visto minutos antes ao chegar, ainda olhavam para nós, disfarçavam mas sempre que a voz do menino a minha frente aumentava os dois olhavam para nós.

- A única primeira vez de um cara gay, virgem e passivo que eu vi ser quase perfeita foi em uma série de tevê - eu disse - então relaxa.

Nós nos olhamos meio cúmplices e o menino sorriu de canto segurando-se nos punhos mas ainda com uma mancha pálida que cobria o olhos e a região aos lados do nariz.

- Posso apostar que foi Queer as folk - ele disse. - Acertei?

- Na mosca, - eu disse entusiasmado - nossa é raro conhecer gente da sua idade que tenha visto essa série.

- Da minha idade? Eu tenho vinte e dois querido, - ele disse - eu que deveria falar isso de você...

Nos dois sorrimos e eu estendi a mão para ele:

- Prazer, sou Yuri, - e completei - vou estudar aqui, vim fazer a matrícula.

Ele fez um gesto com a mão para que eu me aproximasse e sussurrou:

- Acho que estou sangrando - e respirou fundo - e a propósito, me chamo Maicon, eu acho, e estou no último semestre de jornalismo.

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Comentários

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Continua logo! Sou ávido por boas histórias como essa.

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Mais um contexto excitante! Essa história promete, hein?

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