IV
Eu passei o braço de Maicon por cima do meu ombro e o ajudei a chegar nos sanitários.
- Eu sei que nem nós conhecemos...
É mais fácil estar ligado a outra pessoa quando você já passou pelas mesmas dificuldades que ela, e eu pesquei no olhar dele, todo o medo, a insegurança que passa pela cabeça de uma pessoa depois de dar o "brioco" pela primeira vez.
- Você quer que eu olhe?
Ele sorriu debochado e fez que sim com a cabeça e completou:
- Isso está parecendo de um conto da casa dos contos...
"Bingo mais um ponto em comum, esse cara vai ser meu amigo!", pensei feliz porque era um leitorzinho voraz de narrativas sexuais na internet.
Maicon se inclinou para a parede em frente ao vaso sanitário. Seus esfíncteres estavam bem judiados.
- Carai! - eu disse. - Os contos da casa na maioria não contam como uma primeira vez em geral é desastrosa. Ainda mais se o ativo for escroto.
- Nem me fale... - ele perguntava se virando. - Está sangrando né?
- Tá sim, está bem machucado - eu completei.
O cuzinho de Maicon era bem liso e estava muito cor de rosa como se estivesse assado e havia um filete de sangue "que situação bizarra!", pensei comigo mesmo.
- Eu estou com vergonha de ir a um posto de saúde...
- Não precisa, quer dizer a não ser que você esteja mesmo mal, - eu tinha alguma experiência... Era hora de pô-la em prática. - Toma um antinflamatório, lava com água morna e um sabonete íntimo fazendo massagens de leve... Acho que uma pomada pode ajudar também.
- Valeu Yuri, - as bochechas dele estavam vermelhas. - Você parece ter bastante experiência.
- Nem tanta quanto gostaria, - admiti - na verdade, aprendi a me cuidar depois que descobri que não posso misturar bebida e sexo...
Eu vi uma ruga de curiosidade nascer entre as sobrancelhas bem feitas dele. Contei a Maicon que estava chegando de uma cidade do interior para morar em uma república.
Ele me interrompeu quando ouviu o nome de Duval vacilar para fora da minha boca:
- Quem não conhece o Duval do movimento estudantil né?
Eu assenti.
- Pois é! Quando eu bebo, fico meio doido, e começo a fazer besteira...
- Você é novo demais Yuri tem que maneirar...
Eu e ele sorrimos disso porque quem estava com marcas no cu parecendo queimaduras de terceiro grau era ele e não eu. Maicon ficou me esperando na nos degraus enquanto eu subia para fazer a matrícula.
Quando voltei, ele estava com o celular pressionado contra a orelha falando com alguém.
- Me passa seu número - ele pediu.
- Tá legal...
Há dias estava com vontade de ir a praia e ninguém se animava a me acompanhar e Maicon pareceu a companhia ideal. Mas com aquelas feridas, talvez não fosse uma boa.
Uma viatura da polícia começou a nós seguir de perto. Maicon revirou os olhos e sussurrou de canto de boca:
- Finge que não está acontecendo nada.
Eu sorri e olhei para o lado voltando para ele, e dizendo:
- Mas não está acontecendo nada mesmo.
A viatura parou na nossa frente e eu dei um salto para trás pensando que o veículo estilo 4x4 fechada fosse me atropelar.
- Que inferno! - Maicon gritou.
O policial corpulento e de respiração pesada segurava uma arma quase do meu tamanho entrecruzada no peito, óculos escuros escondiam seus olhos e a boina sobre a cabeça fazia do seu rosto uma caricatura do militar tropa de elite.
A voz grossa e possante arrepiou os pelinhos da minha nuca:
- Por que veio sozinho?
- Me deixa em paz, - Maicon segurou minha mão. -Vem Yuri.
- Quem é esse?
Eu abaixei a cabeça na mesma hora tremendo inteiro de medo e constrangimento. A gente continuou andando e a viatura passou por nós em disparado. Meu coração batia mais que tudo.
- Você acabou de conhecer o brutamontes - ele sorriu de canto - esse homem é minha perdição.
Eu engoli em seco sem saber o que pensar ou dizer "eu quase morri!".
Mas chegando em casa eu mesmo sorri de toda a situação. Lulu Beicinho estava ouvindo uma música que parecia ser a trilha sonora daquele meu dia "a pior bicha é a dramática", dizia a letra da canção.
