Capítulo revisado. Esta é a versão definitiva.
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“O relato deste conto foi inspirado e derivado de fatos reais. Os nomes de todos os personagens são fictícios, inclusive do próprio narrador.”
Nota de conteúdo: Este capítulo contém temas e situações sensíveis para alguns leitores, incluindo referências a cocaína e seus efeitos. Recomenda-se sabedoria ao consumir esse conteúdo.
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“O chão do quarto estava completamente molhado. Do lado de fora, trovões retumbavam, mas eu só conseguia pensar em como tudo aquilo ia terminar. Será que eu realmente queria isso? A intensidade era tanta que parecia que eu nunca mais o veria. Essa situação me deixava nervoso. Havia algo em Léo que despertava minha curiosidade, e uma parte de mim queria seguir em frente.”
“Eu só conseguia lidar com aquilo porque estava um pouco embriagado, ou pelo menos era o que eu acreditava para enfrentar a realidade que havia criado. O que acontecesse naquele quarto poderia definir minha sexualidade, e eu queria que fosse uma lembrança boa, algo para lembrar quando a solidão chegasse.”
“Tanto Léo quanto eu tremíamos. O frio não estava tão intenso, mas havia algo que nos atraía um para o outro. Sem trocarmos muitas palavras, eu decidi tomar a iniciativa. Puxei Léo para perto de mim, e não havia surpresa em seu rosto. Era o que ambos desejávamos: sem influências, sem drogas. Não ia deixar que nada arruinasse esse momento.”
“Decidimos que, se fosse acontecer, seria sem cocaína. Só nós dois naquela casa. Era nosso momento. Então, nossas faces se encontraram. Não tínhamos pressa enquanto nossos lábios se aproximavam lentamente. O beijo aconteceu, e era mais forte e intenso do que toda a emoção que sentia dentro de mim.”
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"8 HORAS ANTES..."
DESPERTAR
- Filho! ... Meu filho! - Escutava uma voz distante que parecia vir de um sonho...
- Pedro, meu filho! - A voz se tornava cada vez mais próxima.
Senti um chacoalhar no meu ombro. Abri os olhos lentamente e lá estava meu pai, sentado à beira da minha cama, com uma expressão que misturava preocupação e carinho.
- Sono pesado, hein? Bebeu um pouquinho ontem? – Ele falava enquanto eu tentava acordar, ainda lutando contra o próprio cansaço.
- Que horas são, coroa? Parece que dormi o dia todo. - Falei entre bocejos, tentando me erguer na cama.
- Você já devia estar acordado. Cheguei faz pouco tempo. - Olhei para o relógio imaginando que devia ser meio-dia. - Levante-se, rapaz. Vamos sair para almoçar.
- Mas eu só quero dormir...
- Pedro, olha seu celular. Deve ter muitas chamadas perdidas do Marcelo.
Esfreguei os olhos e procurei meu celular, curioso e apreensivo. Quando a tela acendeu, fiquei aliviado, mas também intrigado: não havia mensagens, apenas chamadas perdidas.
- O que foi? O que ele quer, pai? Você sabe dizer?
- Marcelo nos chamou para ir à praia. - Enquanto falava, meu pai se levantou e caminhou em direção ao meu banheiro, como se estivesse procurando algo que havia esquecido. – Aproveitei e convidei ele para almoçar conosco por lá mesmo. Estou bastante cansado, mas vou! Só tenho plantão na terça-feira.
- Pai, na moral, estou todo quebrado.
- Por isso mesmo você precisa se levantar! Não vou deixar você trocar o dia pela noite. E, convenhamos, o Marcelo é quase da família. Não podemos negar esse direito a ele.
- Mas...
- “Mas” nada, Pedro! Vá logo tomar um banho. Seu rosto está horrível, rapaz! Cheio de olheiras. Depois quero conversar com você.
- Fala logo! – me levantei, com o rosto irritado. Não costumava ser assim, mas aquela manhã parecia ter drenado minhas energias.
Meu pai me encarou com um semblante de reprovação que eu não via há muito tempo.
- Desculpa aí, coroa! Dormi pouco.
Ele sempre teve um coração mole. Logo percebeu que eu não estava bem.
- Eu já percebi, Pedro. Seus olhos estão vermelhos. O que houve? Você não fumou maconha, né?
Olhei para ele com um olhar de negação e ele soltou uma risada, aliviando um pouco a tensão. Comecei a tirar a roupa e entrei no banheiro. A água quente do chuveiro caía sobre mim como um abraço reconfortante.
- E o que houve, rapaz? Você tomou o kit do armário?
- Tomei... Sei lá, pai. Acho que foi por ter ficado acordado a noite toda. – Respondi, enquanto ele, de braços cruzados, já na porta do banheiro, prestava atenção em cada palavra que eu dizia. Ele estava tentando me entender. Nunca tive vergonha dele; aliás, perdi a vergonha quando ele me flagrou uma vez, e isso já era assunto antigo. Ficar despido na sua frente estava normalizado entre nós.
- Filho, com quem você bebeu? - perguntou em tom sério, mas sem julgamento.
- Com o Léo, pai. O rapaz que está lá no quarto.
Meu pai fez um bico com a boca e balançou a cabeça lentamente, como se estivesse desaprovando.
- Não é aquele cabeludo, né? - Desde que viu Caio a primeira vez, sempre o chamou assim, Inclusive para o próprio. Lembrei que Caio sentia-se, às vezes, intimo de meu pai por isso.
- Não, coroa. Léo é o ... – quase deixei escapar o “amigo” – é o irmão dele.
- Pedro, aqueles meninos não são irmãos! – Quando ele disse isso, uma luz se acendeu na minha mente.
- Como assim? - Virei de costas no chuveiro pra ele não perceber minhas expressões mudando.
- Eles têm traços parecidos, mas a genética não bate. Também tive uma intuição quando conversei com o tio deles, ou seja lá o que for, antes da hospedagem.
- Ué, e por que iriam inventar isso? - Passava sabonete no meu corpo, tentando aparentar naturalidade.
- Não faço ideia. Aceitei a indicação do Marcelo, - Meu sangue gelou quando ouvi. Marcelo conhecia eles? Me perguntei assustado. - Mas fico mais tranquilo sabendo que você bebeu com esse Léo. Ele parece ser uma boa pessoa… conseguiu tomar três dessa vez? - meu pai ria com nossa piada interna.
- Ele é, pai. Gente boa…
- Tem algo naquele outro rapaz que não me desce! Tudo nele é forçado! Muito comunicativo... fala demais! - Continuei ouvindo seu desabafo. – Acredito que ele seja usuário.
- Usuário? Como assim? – perguntei, tentando mostrar ignorância e disfarçar a inquietação em meu rosto.
- Viciado, Pedro! Drogas! – Tive um movimento involuntário de nervoso. Meu pai não era bobo. Lidava com viciados passando mal no pronto socorro.
Desliguei o chuveiro e comecei a me secar.
- E o senhor vai assim mesmo? De jaleco? – falei brincando enquanto ele saia do quarto.
-Vou tomar um banho rapidinho. Fale aí com Marcelo diga que saímos em 20 minutos!
O FAVORITO
Não precisei nem pegar o celular. Assim que vesti a sunga, ouvi Marcelo chamar pelo meu pai na porta da garagem. Fui abrir a porta sem nem perceber que estava só de sunga.
Quando ele me viu, deu um sorriso que tentava disfarçar a olhada ao meu redor, especialmente para a minha sunga branca, mas não estranhei naquele momento. Nessa época, já tinha um volume considerável, e era normal que olhassem.
— Que é isso, rapaz! Isso é maneira de me receber? — Fiquei envergonhado e fui logo ao quarto pegar uma bermuda.
— Foi mal aí, cara. Ainda tô acordando — respondeu Marcelo, enquanto me seguia em direção ao quarto.
— Cadê o doutor? — perguntou ele.
— Ele tá no banho. A gente sai em 20 minutos, mais ou menos.
Marcelo começou a sussurrar, como se estivesse prestes a revelar um segredo.
— Mano, o que houve ontem? Caio me ligou tekado. Falou de você. Fiquei preocupado e deixei a patroa pra vir aqui. - eu escutava sem interromper e olhava pra ele franzindo a testa. Tentava entender porque ele cochichava. - disse que você e Léo estavam na maior curtição...
Uma onda de incredulidade me atingiu. Eu não podia acreditar que aquele FDP já havia contado tudo para Marcelo. Agora, eu estava ferrado.
— Qual é, Marcelo? A gente tomou umas, né? - Tentei mostrar naturalidade, sem motivo.
— Vem com essa não, Pedro. A gente é amigo. Não precisa me esconder as coisas. Você finalmente experimentou, né? - ele me olhou, esperando uma resposta. Desviei o olhar. - Eu sabia que ia acabar nisso. Toda vez que a gente jogava, eu sempre notava… tentei não usar mais na sua frente, mas não deu jeito né. Não precisa me esconder nada, não!
Dei uma olhada em Marcelo e percebi seu semblante preocupado. Ele parecia se sentir culpado, mas não entendia o porquê. Ele sempre soube que eu tinha esse desejo.
— Quem é você pra falar em segredos? Conhecia os caras e nem me avisou.- falei com ira.
— Calma aí! Eu só conhecia o Luiz. “Os boy” eu conheci essa semana, junto com vocês.
— E o que mais ele falou? - Perguntei arrogante.
— O suficiente, cara. - Falou coma voz baixa.
— Me fala, Marcelo! - Exigi.
— Chamei vocês dois pra ir à praia, achando que o doutor não ia. Justamente pra conversar com você sobre isso.
— Não muda de assunto... Se quer conversar, essa é a hora. Diz aí: o que mais ele falou?
— Fora a cocaína? Falou que você e Léo se divertiram juntos. — Nessa hora, meu olhar se inflamou de irritação.
— Aquele pau no cu falou que me mamou como uma puta também?
Marcelo soltou um sorriso involuntário.
— Não precisou, mano. - falava buscando um espelho pra conferir o penteado. Sua despreocupação me causava náuseas. - Na primeira noite aqui, ele também fez isso comigo... Não precisa ter vergonha. Isso é normal entre os caras quando usam pó juntos... Caio só é mais afoito. Ele dá valor.
— Oxe! Esse homem também curte essas paradas?
— Não, mais. Só deixei rolar nesse dia porque, você sabe, quando a lombra sobe... é difícil de controlar.
— É... aprendi na marra. - Falei como se não tivesse recebido sinais.
— Era pra eu ter tido essa conversa melhor com você... quando percebi sua curiosidade.
— Agora já foi... Me diz aí.
— O que, Pedro?
— De onde você conhece aquele pervertido manipulador?
— Você tá falando de quem? Do Luiz? - eu respondi com o silencio, me sentando na cama de pernas abertas. Percebi um ligeiro olhar de Marcelo pra minha sunga novamente, mas ignorei e ele continuou - Ah, eu já fiz parte do grupo, irmão.
— Grupo? Como assim?
— Grupo dos Tekados. -Marcelo ria enquanto folheava alguns quadrinhos, tentando não me olhar. - É assim que o Luiz chama os caras que gravam vídeos pra ele.
- Aquilo é um doido, mesmo! - Olhava pra o lado tentando imaginar quantos, além de Léo e Caio, estavam nesse grupo. Voltei os olhos pra Marcelo depois de ligar os pontos. — Então você já gravou?
— Sim! E bastante! Parei quando arrumei esse emprego. Era o favorito do Luiz. Ainda essa semana, ele me fez uma proposta boa pra eu gravar mais um vídeo só pra ele… Luiz é estranho. Gosta de buceta, mano, mas curte muito ver os caras se pegando.
- Você vai gravar?
- Não, Pedro. Ele que conseguiu esse emprego pra mim. Viu que eu estava precisava sair. O cara é de boa. Veio aqui só pra me apresentar as “crias” dele. - Marcelo ria sem, aparentemente, saber da prisão deles.
— E ele não tem nada pra te chantagear, não? - Falei sério.
— O quê? Como assim? - Marcelo parecia não saber realmente de nada. - Você tem Gel aqui?
— Deixa pra lá. Tô viajando. - Respondi apontando pra uma gaveta. - Olhe ai, mano. Deve ter algum.
Depois de se pentear novamente, Marcelo sentou-se ao meu lado e notei outra olhada ligeira. Eu já estava me encabulando, mas deveria ser alguma sequela que ele adquiriu da época desse “trabalho”. Ignorei novamente.
— Tô preocupado com você. Vou ter que sair daqui. - Sua voz estava séria dessa vez. - Procurar um lugar. Não sou uma boa influência mais pra você, meu irmão.
— Mano, eu experimentei, mas foi só dessa vez. Fique frio. Tô de boa. - Tentei tranquilizá-lo.
— Eu também falei isso a primeira vez que usei. Vou continuar preocupado....
— Meu irmão, relaxa! Já até despertei, quero curtir uma praia agora.
Marcelo olhou pela porta, como se quisesse verificar se meu pai estava por perto. Sorri e falei pra ele não se preocupar, que o quarto dele era bem distante dali e que dava pra ouvir quando ele estivesse vindo.
— Quanto às outras coisas... você se divertiu com eles, né? Gostou?
— Vou negar não, mano. Rolou umas “bruxarias” ontem, mas foi coisa da droga. - Falei tentando me enganar - Também tô fora! Sem droga, então sem putaria com mano.
— Tô ligado. Relaxa, que tá guardado! — pela expressão de Marcelo, ficou claro que ele temia que eu pudesse falar algo para meu pai e acabar prejudicando-o.
Mudamos de assunto rapidamente, por ora, e fomos para a cozinha esperar meu pai. Mas, a todo momento queria perguntar sobre Léo.
ENTRE GERAÇÕES
Meu pai logo apareceu e cumprimentou Marcelo. Perguntou se ele não iria levar a namorada. Marcelo disse que ela estava com a família e que à noite voltaria pra lá, já que viajaria no outro dia para a quinzena de trabalho. Tomamos juntos um suco de laranja antes de sairmos. No caminho para a garagem, meu pai perguntou pelo Luiz a Marcelo.
- Está sim, Douglas, mas está dormindo. Acho que ele só se levanta amanhã, quando for embora. - Marcelo tinha o costume de chamar meu pai pelo nome só na sua frente.
- E os rapazes? Vão almoçar onde? - Meu pai perguntou, demonstrando a empatia característica dele.
- Sinceramente... não faço ideia, mas acho que eles vão dar um jeito. - Marcelo respondeu enquanto eu suplicava por dentro pra o coroa falar algo que esperava dele.
- Não, Marcelo. Por favor, vá lá chamá-los para virem com a gente. Não vou deixar ninguém com fome aqui em minha casa.
Meu estomago flutuou, quando confirmei em sua fala meu pensamento. Eu sabia que ele não ia permitir isso. Marcelo pensou em argumentar, mas meu pai era bastante persuasivo.
- Vou colocar o carro para fora enquanto você os chama. Bora, Pedro! Obrigado, Marcelo. Estamos esperando vocês lá fora!
Marcelo entrou pela porta lateral e subiu; nós entramos no carro. Coloquei meus óculos, mas, quando saímos na rua, percebi que não havia muita necessidade deles. O clima estava nublado, apesar do sol ainda estar com vida.
- Parece que a praia vai dar ruim, coroa.
- Vai demorar um pouco ainda, filho. Por isso vamos de carro. Na volta certamente estará chovendo... Vai ser uma daquelas chuvas, meu filho. - Ele falava enquanto manobrava o carro - O festival hoje que vai pra o ralo... – Morávamos há poucas quadras da praia. Nossa casa é bem localizada. Caso o clima estivesse bom de sol, poderíamos ir a pé mesmo. Havia estranhado ele me chamar pra o carro, mas achei que fosse por causa de seu cansaço e por ter visto minha indisposição.
Esperamos longos minutos, um tempo que parecia se arrastar, até que meu pai olhou para o relógio inquieto. Finalmente, o portão se abriu, e vi os três se aproximando. Léo, apenas de bermuda e um sorriso sem graça, mas o rosto parecia ter descansado. Caio, de camiseta e bermuda, carregava uma expressão desfigurada; revelando cansaço e a falta de sono, apesar de seus óculos e seu coque bem feito. Marcelo, logo atrás deles, sem esboçar reação; a não ser por um breve toque no cabelo, previsível de seu comportamento.
Entraram no banco de trás do carro. Léo, sem saber que meu pai havia tomado conhecimento de nossa interação durante a madrugada, me cumprimentou friamente. Isso poderia pegar mal, pois a frieza no tom de sua voz poderia fazer meu pai deduzir que, ou brigamos ou ele estava tentando esconder a proximidade adquirida comigo. As duas hipóteses poderia levantar alguma suspeita no meu pai. Isso me causou um nó no estômago, pois não tinha certeza se ele estava realmente chateado comigo ou se tentava disfarçar nossa interação.
O breve trajeto até o restaurante à praia foi repleto de palavras tortuosas e agradecimentos exagerados de Caio a meu pai, suas bajulações crescendo a cada curva da estrada, deixando-me constrangido pela maneira forçada com que tentava compensar a tensão.
Marcelo sugeriu o “lugar de sempre”, que somente ele, o coroa e eu sabíamos. Assim seguimos até um pequeno restaurante na orla da praia, um lugar que meu pai frequentava desde a infância e ao qual eu me sentia em casa. Era um local modesto, mas envolvente, onde a brisa do mar permeava a atmosfera, trazendo um aroma salgado que apertava a alma.
Ao descermos do carro, a caminho da mesa, Léo, sempre atento, me perguntou se havia dormido bem. Retribui a preocupação, e ele sorriu, confessando que desmaiara assim que deixei o quarto, despertando somente com o ronco de Luiz ecoando pelo ambiente.
Foi então que Dona Lúcia nos acolheu. Ela era uma senhora baixinha, de cabelos curtos e grisalhos, seu rosto marcado por rugas de um sorriso caloroso, que se iluminava ao nos ver. Sua presença emanava uma combinação de ternura e firmeza, como se cada gesto seu fosse carregado de uma sabedoria adquirida com os anos. Ela nos encaminhou para uma mesa espaçosa, um capricho de meu pai que dona Lúcia conhecia.
Dona Lúcia cheira a cabeça do meu pai e perguntava se queria o de sempre. Léo e Caio pareciam se envolver com o contato dos dois. Meu pai animado falou pra ela que sim, e beijou sua mão em respeito. Ele, sempre o anfitrião, pediu uma cerveja, e Marcelo sugeriu trazer dois copos. Caio, sempre atento, corrigiu: “Traga três.” Mas o bom humor do meu pai não deixou por menos. Com um sorriso largo, virou-se para Dona Lúcia e pediu que trouxesse logo os cinco copos, prometendo que as garrafas não ficariam paradas na mesa. Léo ocupou o espaço ao meu lado, enquanto Caio e Marcelo se distribuíram do outro lado, meu pai na ponta da mesa, onde poderia ficar próximo a mim e à Marcelo simultaneamente, enquanto os “irmãos” poderiam ficar um de frente ao outro.
Pedi um refrigerante de inicio e Léo, para minha surpresa, se ofereceu para me acompanhar. Meu pai, com um sorriso de aprovação, logo iniciou uma conversa descontraída com Marcelo, deixando a mesa leve.
PONTO DISCREPANTE
Enquanto a conversa na mesa se desenrolava, Léo começou a me questionar histórias sobre a cidade e as festividades da época, injetando vida ao nosso encontro. Entre risadas e comentários divertidos, Caio tentava se enturmar no bate-papo, mas sua presença parecia ficar à margem das nossas conversas. Em momentos de silêncio, eu percebia uma mudança sutil na expressão dele. Notava também a atenção discreta de meu pai, que o observava de maneira cautelosa, como se pesasse o clima da situação.
A energia à mesa era alta até que, repentinamente, Caio se levantou e se afastou para o banheiro. Léo o encarou, mas foi ignorado. Nós já sabíamos, inclusive Marcelo, o que ele estava prestes a fazer. Marcelo, por sua vez, conservava uma naturalidade admirável, mergulhado na conversa com meu pai, alheio ao que se desenrolava à margem. Contudo, o clima descontraído começou a se desfazer à medida que Caio se levantava a cada cinco minutos, seu comportamento agravando a tensão que aos poucos surgia à mesa.
Quando o almoço finalmente chegou, Caio se serviu de alguns camarões. Meu pai, preocupado, insistia para que ele se alimentasse, mas ele apenas respondia, com um tom descontraído: "Estou de boa." ; enquanto nós, com a fome avassaladora, nos empoleirávamos nos pratos fartos. Descobri que a cocaína tinha um efeito rebote, aquele que faz a fome se dissipar inicialmente, mas retorna com força redobrada. Em uma das suas idas ao banheiro, percebi que seu nariz tinha vestígios de pó. Léo fez um sinal discreto, e Caio rapidamente se limpou. Para meu espanto, meu pai deve ter percebido também; seu posicionamento curvado em direção a Marcelo lhe conferia uma visão privilegiada de Caio.
Assim que todos terminaram de comer, pedi permissão ao meu pai para tomar alguns goles de cerveja. Ele não hesitou e, com um olhar compreensivo, apenas pediu que eu não exagerasse, lembrando que no dia seguinte teria aula e precisaria estar disposto. Léo me acompanhou.
Após um bom tempo de bebida e idas constates de Caio ao banheiro, Marcelo quebrou o gelo e perguntou se ninguém se aventuraria ao mar.
— Com essa chuva chegando? Não tem nem graça! — Caio retrucou, com desdém.
— Eu estou tranquilo aqui. E você, Marcelo? Vai? — indagou meu pai, com um sorriso despretensioso.
— Não, não. Fica pra outro dia. — Marcelo respondeu, como se já o tivesse decidido antes, mas para mim era só uma desculpa para não embaraçar o cabelo.
— Vá lá, Pedro, leve seu amigo. Ir só um é que não dá certo! — insistiu meu pai, com um brilho de incentivo nos olhos.
Foi como se tivéssemos recebido um convite irrecusável, a alegria me fazendo quase esquecer da tensão anterior. Concordamos quase instantaneamente, como se estivéssemos todos apenas esperando um pequeno empurrão. Léo começou a despir a bermuda, revelando suas pernas torneadas e um volume que, mesmo coberto pela sunga preta, não passava despercebido. Eu o segui, arrancando também a bermuda, e, sem nenhum comentário ou olhar condenatório dos outros (exceto o de julgamento de Caio), seguimos em direção ao mar, avançando a passos largos como se a água nos chamasse com a promessa de liberdade.
ÁGUAS RASAS
Nossa praia é daquelas com o mar bem distante e uma larga faixa de areia, então aproveitamos para caminhar bastante, porem em silencio. Quando molhamos os pés, Léo me confidenciou que quase não sairia conosco, pois pensava que eu estivesse chateado pelo que aconteceu na madrugada. Ele disse que, quando as pessoas se drogam, às vezes acabam se arrependendo e procuram se afastar, negando o que fizeram.
— Eu não! Pelo contrário. Na verdade, eu pensei que você estava chateado comigo por causa do que falou antes de eu descer. – Respondi.
— Não estava muito bem, não. Depois do que você fez com o Caio...
— Na verdade, ele que fez o trabalho. Eu só me deixei levar. - Minha resposta parecia um deboche, mas não era a intenção.
— Aquele cara é uma onda. Quando se droga, fica pior que eu.
— Pelo que me lembro, foi ele quem lhe aconselhou ao telefone a não curtir demais lá. Achei que ele fosse mais sensato que você. – Lembrei com um sorriso apenas facial.
Léo ficou pensativo, talvez recordando dos áudios que trocou com Caio enquanto eu estava trancado no quarto de Marcelo. Ele decidiu mergulhar e dobrando as pernas sustentadas pelos joelhos, ficou com a água até o pescoço, pois estávamos na parte rasa ainda do mar. Ali era suficiente pra gente.
— Ele tenta manter as aparências. Tem medo do que eu possa fazer, mas não pensa nas consequências do que faz. Você viu? Ele foi ao banheiro cheirar pó? Ele não dormiu nada desde ontem!
— O pó não estava acabando ontem?
— Só na sua cabeça que ele não ia trazer mais da festa. Com certeza, achou algum traficante por lá e se abasteceu… Sem falar que Luiz sempre tem reserva em algum lugar.
— E você? Não está afim de usar agora? — Perguntei.
— Tô, mano... ainda mais com essas geladas que a gente tá tomando.
— E por que não usa? — perguntei, me abaixando na água, copiando sua posição bem à sua frente.
— Por dois motivos — disse, aproximando-se de mim, mantendo os joelhos dobrados. — Respeito ao seu pai e a você.
— O que eu tenho a ver com isso? - Perguntei olhando constantemente a minha volta
— Já disse que isso não é vida pra você. Se eu usasse, você poderia ficar instigado.
— Agora ficou bom! Todo mundo quer ser papai comigo… - Falei sorrindo.
— Não é isso, Pedro! Eu só não quero que você acabe como eu estou hoje em dia, ou pior, como Caio.
— Eu já disse que não vou mais usar isso. Já matei minha curiosidade, pô.
— Sua sorte é que você tem escolha. Eu não tive. Precisei usar naquele dia para me soltar.
— Eu também, mano. Se não tivesse usado, não teria feito o que fizemos. Talvez não tive escolha também. -brinquei maliciosamente.
— Talvez sim! Só não teria sido tão intenso... ou nem tivesse acontecido
Fiquei sem resposta. Acreditava que ele estava certo. Me lembrei de como fiquei excitado ao ouvir Léo se masturbar e percebi que nunca tive contato sexual antes, o que só reforçava o que ele havia dito. As escolhas que temos diariamente podem nos conduzir pra varias direções.
Nos olhamos brevemente, tentando um interpretar ao outro.
ÁGUAS PROFUNDAS
- Está dizendo isso porque eu sou cabaço, né? - Tirei onda.
- E não é? - ele falava com um sorriso sacana. - Por falar nisso: agora que você conhece um pouco de sexo… Acho que esse homem não vai aguentar muito tempo com essa sua boyzinha...
- Eu também acho que não. - Estávamos conversando tão próximos um do outro, e o assunto já me deixando tenso. Senti meu pau começar a dar sinal de vida. – Ela é muito de casa, e a família dela só aceita que eu seja namorado dela por causa do meu pai...
- Deve ser interesse deles. - Léo respondeu sem hesitar.
- Pode ser... mas ainda vou ver isso. Se demorar nossa primeira vez, eu vou terminar, mano. Sério mesmo.
Leo ficou com uma expressão neutra. Notei que ele estava olhando para a barraca da dona Lúcia.
- O que você está olhando? – perguntei, mas não obtive resposta. Não verbalmente; a resposta veio com sua mão na minha sunga. - Eu tremia ao sentir sua mão arrochando minha pomba.
- Parece que o bichão aqui tá acordado, hein? - Léo falava com um sussurro acompanhado de olhos de desejo. Eu olhava com dúvida pra ele por ter tido aquela atitude inesperada. - Gosto de pegar no seu pau. Ele é massa. Seu corpo é todo massa. Você é massa, Pedro!
- Sério, mano? – eu perguntava já me excitando. Um sorriso de criança. Olhei para a barraca e fiquei receoso de que alguém pudesse ver o que estávamos fazendo.
- Olha a paranoia, cara! Seu pai não ia prestar tanta atenção, não. Mesmo que desse para nos ver... E qualquer coisa, o Marcelo o distrai. Relaxe e curta. - Ele apalpava com movimentos por fora da sunga.
Eu me inclinava com um movimento lento que me excitava mais ainda. Uma de minhas mãos subia vigorosamente a coxa de Léo e indo em direção a seu glúteo. Imaginava experiências novas. Quanto mais eu alisava seu glúteo, com minha mão subindo rapidamente em sua lombar e descendo, mais a maré discreta nos juntava e meu pau pulsava imaginando eu atrás dele dando uma sarrada. Meus pensamentos eram perversos e cada vez mais intensos quando via o olhar dele me desejando com os lábios se movendo entre os dentes.
- Hoje você está pegando em outro canto... - Léo sussurrava com a voz grave, emitindo gemidos breves. - tá gostando?
- Dessa vez tô mostrando o que eu quero de verdade. - Falava com firmeza, mas sem conseguir encarar seus olhos.
Leo se inclinou um pouco e levou sua boca próximo ao meu pescoço.
- Quando você tiver socando uma buceta vai lembrar desse rabo, vai? - Sua voz abafada soltava suspiros em meu pescoço que me arrepiava. Sua mão agora, agarrava meu membro com força e o soltava pra fora da sunga.
- Vou sim, mano. - Fixei meu olhar nele, sem mirar seus olhos. Estava confiante. Talvez por já ter tido uma primeira experiência.- Faz o "vai e vem" aí na minha pica, vai. - Eu suspirava de olhos fechados, sentindo o gozo se aproximando de tão excitado que estava...
- Vai perder esse cabaço lembrando de seu mano aqui, moleque? - Léo falava com o rosto mudado com tanto tesão.
- Vou pagar uma puta pra gozar na minha pomba e macetar a bucetinha dela pensando em tu, moral. - eu respondia suas provocações cada vez mais à vontade.
- Precisa pagar não , macho gostoso. Você é muito massa pra pagar uma putinha. - Léo aumentava seus movimentos em mim, fazendo meus suspiros se transformarem em gemidos. - Essa caceta aqui é minha. Quer enterrar ela no meu cuzinho quer? Eu deixo você me macetar. Curto não, meu mano, mas você é muito massa. Posso dar essa moral a você.
- Hmm... Hmm... - eu não conseguia mais falar. Só gemia quando me veio uma vontade inesperada de tocar o pau de Léo; ao senti-lo pulsar em uma de minhas pernas, que nessa hora se amarravam nas dele. Tirei aquela madeira pra fora e tocava ela lentamente, pois ainda sentia receio do que estava fazendo.
- Isso, Pedro. Bate uma no meu pau, vai. Imagina você me fudendo gostosinho vai... - Léo revirava os olhos enquanto iniciava uma frenética em mim.
- Tá gostando do cacete do seu macho, tá? - Eu alarmava minha voz ofegante.
Cada vez que nos contorcia com aquela mão amiga, mais gemíamos. Leo já perto do seu momento falou tão próximo a mim que nossos membros se beijaram:
-Quero que tu perca esse cabaco socando em mim… hmm… Quero essa leite batido no meu cu, meu mano. Quer socar essa cacetona no meu rabo? Mmm... Mmm... Quer?- Léo gemia me encarando e eu finalmente eu, olhando em seus olhos, conduzi minha própria punheta e ele com sua mão se masturbava antes mesmo de mim.
- Quero sim... Mnn.... Vou gozar... Vou GOZAR! - eu já não me importava se alguém estivesse nos vendo ou ouvindo. Anunciava minha energia sendo consumida naquele momento. - Goza também, vai, Leo! VOU GOZAR…UHH…
- Isso porra! Goza, mano. Dá essa leitada de macho, vai! Vou gozar também...OHH... OHHH! - Léo descarregou apertando minha cintura e os olhos fechando com a boca aberta com o uivo de tesão.
Nossos espermas sendo carregados pela fraca correnteza. Foram orgasmos quase simultâneos. Uma sensação única pra mim, pelo risco de ter sido visto por alguém de longe. Estávamos um ao lado outro, de joelhos, com o mar tocando nossos ombros. Enquanto nos encarávamos rindo um de frente ao outro.
Ofegantes subimos as sungas ligeiramente. Fechávamos os olhos com a cabeça apontada pra cima e o sorriso da endorfina impondo a satisfação de um momento íntimo mais intenso que nenhuma lombra de cocaína poderia potencializar.
GRITOS
Quando abri os olhos, meu olhar se direcionou instintivamente para a barraca. Algo estava muito errado. O ambiente era uma mistura de agitação e confusão; o pânico havia invadido o espaço.
— Já te disse que não dá pra ver nada daqui, Pedro. Calma, meu irmão.
— Não, Léo! Olha! — Apontei para a barraca enquanto me levantava. A água agora estava um pouco abaixo da minha cintura. Léo ergueu-se de repente, os olhos arregalados de horror.
— Porra, mano. Não pode ser o que eu tô pensando. Não é possível! — Ele começou a correr, pulando pela água. — Vamos, Pedro! CORRE!
Segui Léo, correndo atrás dele. À medida que nos aproximávamos, o caos se tornava mais claro. Antes de alcançar a barraca, vi meu pai carregando Caio nos braços, apressando-se em direção ao carro. Marcelo estava ao seu lado, tentando abrir a porta. Ele nos viu, mas antes de partir, trocou algumas palavras com meu pai pela janela do carro, que logo disparou na direção oposta.
Léo, com as mãos na cabeça, estava paralisado, os olhos arregalados e a boca entreaberta, rangendo os dentes de nervoso. Fiquei ao seu lado, imaginando o pior. Queria abraçá-lo, mas a timidez da minha idade tornava isso impossível naquele cenário tão público.
Enquanto as vozes ao nosso redor começavam a diminuir e os grupos de pessoas se dispersavam, Marcelo se aproximou, seu semblante sério transmitindo urgência. Ele pediu que nos afastássemos da multidão, o pânico em seu olhar era evidente, embora tentasse alisar o cabelo como se isso fosse uma apresentação para nós.
— Overdose, parece. Seu pai tentou ajudar, mas quando percebeu que não adiantava, decidiu ir para o hospital. — Marcelo virou-se para Léo. — Ele pediu para eu ficar com vocês. Disse que não se preocupassem, que ainda havia tempo, Léo.
— Não é a primeira vez que isso acontece — Léo disse, já com lágrimas nos olhos, movendo-se de um lado para o outro com impaciência. — Essa merda vai destruir a gente um dia.
— Pedro, leva Léo para longe daqui. Vocês podem conversar à vontade. — Marcelo falava, prevendo alguma atitude impulsiva de Léo. — Vou ficar aqui na mesa, esperando notícias do seu pai. Aviso vocês assim que ele ligar. Só fiquem em um lugar onde eu possa vê-los.
Ouvi Marcelo, mas olhei para Léo, perdido em suas inquietudes. Acreditei que a abstinência o havia atingido com força, agravada pela overdose de Caio.
Dona Lúcia se aproximou, segurando uma garrafinha de água, e se dirigiu a mim:
— Pegue, meu filho. Leve seu amigo para mais longe. Ele precisa de você. Vão! Não se importem com o que o povo vai dizer. — Ela nos encorajava a ir, enquanto Marcelo assentia, compartilhando da mesma convicção.
Eu olhava ao redor, buscando forças em meio aos olhares sorrateiros que nos atingiam. Dona Lúcia me observava com gentileza, percebendo minha insegurança. Marcelo me lançou um olhar encorajador.
Baixei a vista e peguei o braço de Léo. Senti sua carne se amolecer em meu contato. Embora soubesse que ele conseguiria se mover, após alguns passos em direção ao mar, o envolvi com meu braço pelos ombros e seguimos em busca de um lugar isolado.
LUGAR NENHUM
Caminhamos até um pequeno rochedo à beira-mar, de onde podíamos ter uma visão tranquila da barraca de Dona Lúcia. Ali, girei e o apoiei entre minhas pernas, proporcionando um pouco de conforto. Suas lágrimas agora escorriam pelo meu braço, pesadas e silenciosas.
Era a segunda vez que o via daquele jeito, vulnerável e quebrado. A sensação fria e úmida da tempestade iminente misturava-se ao calor de suas lágrimas, como se ambos fossem um aviso de que a tormenta emocional ainda estava longe de se dissipar.
Conforme os minutos passavam, percebi que o sol se escondia lentamente, seu brilho perdendo intensidade. Nuvens pesadas começaram a se agrupar no céu, sombras que pareciam responder à nossa tristeza, como se a natureza estivesse em sintonia com nosso desespero. Inclinei-me, o coração acelerando ao estudar seu semblante marcado pela dor.
Vi uma gota escorregando por seu rosto; em seguida, outra. E elas só aumentavam. Olhei para o céu instintivamente. “Não são lágrimas...” pensei, sorrindo brevemente. A chuva, naquele momento, anunciava sua chegada.
***
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