Amor e Repulsa III - Força e Fraqueza

Um conto erótico de Geizer The Miserable
Categoria: Homossexual
Contém 4471 palavras
Data: 19/07/2024 11:30:49
Última revisão: 19/07/2024 20:34:27

Bia acordou. A dor de cabeça continuava, mais fraca. Ela se levantou da cama. Outro dia tinha de começar. Foi ao chuveiro, tomou banho, passou alguns produtos de skincare no rosto e se maquiou. Calçou um par de meias brancas, um shorts jeans na altura dos joelhos com bordados de estrelas e apertado com um cinto, óculos escuros, brincos de argola, um colar dourado, pulseiras e anéis prateados e um Adidas Samba marrom.

Antes de sair, Bia foi arrumar o material. A ecobag ainda tinha o cheiro das meias de Clara, embora muito mais sutil. De qualquer forma, Bia colocou o material em sua pequena mochila azul esverdeado e saiu.

Assim que o ônibus parou dentro da faculdade, Bia se recompôs e pôs um sorriso no rosto. O que aconteceu na noite passada ficou na noite passada, hoje é outro dia normal. A aula de Física Experimental estava prestes a começar e Bia encontrou três amigos: Vini, um jovem negro e gay que sempre vestia streetwear, e nesse dia usava uma camiseta do Maradona da Xapo Store; Sara, branca de cabelos pretos com mechas vermelhas, fã de animes e com estilo gótico, mas nada extravagante; e Fernanda, intelectual, feminista meio ativista, usava óculos redondos, tinha cabelos castanhos na altura dos ombros com franja e normalmente era vista de saia ou vestido. Bia acenou sorridente e se sentou com eles. Durante grande parte do dia, eles estiveram juntos.

Na hora do almoço, as discussões dos amigos eram as mais variadas:

- Eu tenho certeza que o atentado contra o Trump foi armado! Qual a chance de tirarem uma foto com a bandeira dos Estados Unidos convenientemente atrás dele? Dizia Fernanda.

- Como tem gente que dá mais de três estrelas pra esse filme no Letterboxd? Indagava Sara.

- Nossa gente, eu acho um absurdo que transformaram o Chico Moedas em ídolo - falava Vini.

- Imagina ficar fazendo vídeo falando que tal peça de roupa saturou né? Me poupe! Exclamava Bia.

E as horas iam embora com a conversa. Eles já estavam no ponto onde pegariam o ônibus que saía do campus e discutiam em qual barzinho iriam naquela noite, afinal, era sexta-feira. No entanto, a conversa foi interrompida quando os quatro escutaram um “Oi, gente!” ao longe: era Clara. Foi nesse momento que Bia percebeu que as coisas não são resolvidas jogando sujeira debaixo do tapete. Enquanto seus olhos observavam a linda garota de cabelos cacheados vestindo uma regata branca, calças pretas com listras brancas da Adidas e um par de Havaianas brancas se aproximando, sua mente não parava de repetir em sequência cenas da noite anterior. Apesar de Clara fazer parte daquele grupo de amigos, pela primeira vez os olhos de Bia se arregalaram por um momento e seu coração disparou.

- Ah, Clara, como cê tá? Perguntou Vini, abraçando a garota e beijando nas bochechas.

Os demais também a cumprimentaram, inclusive Bia, com quem Clara não demonstrou nenhum sinal de estranheza apesar do nervosismo da garota de pele parda.

- E aí, gente, o que cês querem fazer hoje? Indagou Clara.

- A gente tava pensando em ir em algum barzinho de noite, vai com a gente? Disse Sara.

- Sim! Depois manda mensagem quando vocês forem sair. No Itaim Bibi de novo?

- O quê? Nem fudendo. Eu quase fali da última vez de tão caro que é. Tava pensando num negócio mais afastado, mais povão sabe? Falou Fernanda.

- Ah, claro. Que tal lá perto da Sé, pra ficarem pedindo dinheiro toda hora? Haha! Riu Clara

Depois de propostas em cima de propostas que não eram aceitas, Sara percebeu que Bia não falava nada há um tempo e resolveu perguntar:

- Que que tu acha, Bia?

- Ah, sei lá. Bora pra Santa Cecília, que tal?

Todos concordaram, provavelmente mais pela impaciência de continuar discutindo do que pela aceitação da sugestão.

- Vocês já vão gente? Não vão ficar por aqui?

- A gente vai descansar. Sexta, né? Disse Vini.

Clara desviou rapidamente o olhar para Bia e sorriu.

- Ah, então tchau! Bia, quer ficar aqui pra estudar?.

Silêncio absoluto. Três rostos confusos, um sorridente e um apavorado. Elas não costumavam estudar sexta. Bia virou a cabeça lentamente para olhar para a amiga com cara de peixe de morto. Passaram-se 5 segundos sem que ela respondesse a pergunta de Clara que mais pareceram meia hora. Será que ele teria que fazer alguma coisa com os pés dela de novo? Ela só desejava que não. Contudo, ao mesmo tempo, Bia queria passar um tempo com Clara, era como se ela estivesse no meio de uma cabo de guerra. Mesmo com tamanho conflito, a menina de cabelo chanel tomou uma decisão:

- Pode ser!

- Oba! É como dizem, né, trabalhe enquanto eles dormem, hahaha! Brincou Clara, abraçando Bia pelo pescoço e inclinando a cabeça em sua direção.

- Bom, tchau pra vocês então, até de noite! Disse Vini, acenando juntamente as outras garotas para Bia e Clara enquanto esperavam no ponto de ônibus.

- Tchaaaau! Disseram Bia e Clara simultaneamente, indo para outro lado do campus.

Não demorou muito pra Bia perceber que Clara não estava indo para a biblioteca, e Clara já havia percebido que Bia estava abalada. Depois de 10 minutos andando, quando elas estavam numa área mais verde e afastada do campus.

- Que foi, Bia? Aconteceu alguma coisa? Perguntou Clara.

Ser honesta ou inventar uma desculpa? Bia não era forte o suficiente para fazer o segundo.

- Ah, tô meio cansada. Muita coisa pra fazer essa semana…

Clara deu um sorriso irônico com as respostas da amiga. Ela sabia que aquilo não era verdade. A garota de cabelo cacheado então parou, cruzou os braços e virou a cabeça de lado.

- Bia, eu sei que isso não é verdade. Pode falar, você tá assim por causa de ontem a noite, né?

Bia, hesitante, usou o pouco de força que tinha e respondeu:

- Sim…

Ao ouvir a resposta, Clara soltou uma risadinha. Colocando as mãos nos ombros da amiga, ela disse:

- Olha, eu sei que pra você é difícil. A gente construiu um afeto muito legal nesses últimos nesse último mês, eu te ajudei, enfim, você é uma amiga. Eu gosto muito de você, de verdade, mas certas coisas são necessárias. Pra te consolar, eu acho que você se acostuma, a primeira vez é bem ruim mesmo. E também, saiba que eu amo isso. E aí? Vai ser forte?

Bia acha cada uma das palavras que saem dos belos lábios da sua amiga absurdas. Por que raios ficar fazendo coisas tão esquisitas? Só porque ela quer? Só porque ela ajuda em uma matéria? Inacreditável. Porém, Bia sabia, pelo menos inconscientemente, que certas coisas não são racionais. O fetiche de Clara não era racional, não era lógico, possuía suas contradições. O mesmo podia ser dito do amor que Bia sentia por ela. Foi com base nisso que a pergunta de Clara finalmente respondida:

- Vou tentar… mas não garanto que eu vá conseguir.

Clara sorriu com os dentes e tirou os braços dos ombros de Bia, que não pôde deixar de sorrir sutilmente ao ver o sorriso da amiga. Sentando-se encostada em uma árvore, Clara incorpora malícia em seu rosto e pergunta:

- Mas já que você não parece que vai se acostumar tão cedo, quer antecipar um pagamento? Haha!

- Antecipar? Quando?

- Aqui e agora - disse Clara, séria.

Bia ficou pálida e começou a suar frio. No meio da faculdade? Com o risco de passar alguém e ver?

- Relaxa, sua tonta. Ninguém passa por aqui. Já fiquei aqui várias vezes e nunca tem uma alma viva. Mas e aí, quer antecipar ou não?

- Mas assim eu não preciso fazer nada quando a gente for estudar de novo? Perguntou Bia.

- Nadinha - disse Clara, assertiva - vamo?

- Vamo.

Bia sentou na grama em frente a Clara. Seus olhos se direcionaram para os pés de Clara calçados nas mesmas Havaianas brancas da noite anterior, o que a deixou aliviada por saber que seus pés provavelmente não estariam tão nojentos quanto da outra vez. Clara estendeu as pernas e colocou os pés no colo de Bia.

- Sabe, quando eu ganhei esse chinelo, ele era do branco, mas olha o solado, tá quase preto. Eu quero que ao invés do solado preto, a sua língua fique preta, capiche?

Bia encarou as solas dos chinelos por uns bons segundos, respirou fundo e tomou coragem para começar. Ela agarrou o tornozelo esquerdo de Clara e deslizou sua língua da parte debaixo ao topo da sola do calçado. Um pequeno rastro de saliva que embraquecia, ainda que muito pouco, o chinelo se formava onde a língua de Bia passava. O sabor amargo fez caretas surgirem no rosto de Bia, enquanto Clara sorria de satisfação ao ver as caras e bocas da amiga. A língua passou outra vez, e outras vez e outras vez. Levaram alguns minutos para que o solado fosse ficando branco, amargos minutos. A língua de Bia coletava mais sujeira à medida que ela passava pelas dobrinhas do calçado.

- Não esquece de lamber de ladinho pra limpar as dobrinhas, tá?

Bia respirou fundo novamente e obedeceu o comando de Clara. Limpar um chinelo com a língua, e ainda do jeito que a dona do chinelo queria, degradava Bia por completo. Depois de tanto a língua trabalhar, Clara teve um ato de misericórdia e puxou o pé, virando o solado para si. “Não limpou quase nada, mas você já deve tá cansada, né? Vamo pro outro então.” E Bia teve que repetir o mesmo processo com o pé direito. Mesma experiência: gosto amargo, lambidas inúteis atrás de lambidas inúteis, lambidas laterais. Foram 10 minutos para cada chinelo, minutos esses que Clara aproveitou observando a paisagem: grama, árvores e uma menina linda lambendo seus chinelos. “Pior que ela é tão bonitinha, né? Isso só deixa tudo mais gostoso!”. Pensou Clara.

Clara puxou os pés e pisou na terra que havia entre o gramado. Todo o trabalho doloroso de Bia foi por água abaixo. A garota branca então tirou os chinelos, cruzo as pernas em perna de índio e atirou os calçados para perto de Bia, apontando para a marca preta de seus pés na parte superior.

- Tá vendo essa marca aí? E do mesmo pé que você tava fazendo massagem e afundando o nariz ontem, haha! Duvido muito que essa sua linguinha vai fazer alguma diferença, mas eu queria que a marca fosse pelo menos.. um pouco menos escura.

Para a infelicidade de Bia, ela a captou o recado. As marcas tinham certa profundidade, aqueles chinelos com certeza não eram novos. Como se não bastassem as pegadas escuras, as marcas estavam acompanhadas de pequenos pedaços de sujeira, fiapos de cabelo e brilhavam do suor que os pés de Bia produziram só naquela quente manhã: um verdadeiro banquete - para quem é maluco, é claro. Para Bia, era mais um tortuoso desafio que seu paladar deveria enfrentar estoicamente.

De modo a acelerar o processo, a garota de pele parda colocou um chinelo em cada mão e os aproximou de sua cansada face. Antes da língua sair de sua boca para trabalhar, quem acordou foi seu nariz, que não pode deixar de notar o mesmo cheiro que quase a deixou nauseada na noite anterior, só que dessa vez, numa potência bem, mais bem menos elevada. Ao invés de uma piscina de vinagre concentrado, o chulé - ou melhor, chulezinho - se assemelhava a um pequenino pedaço de queijo.

Sem mais enrolações, Bia começou a lamber. O gosto era de borracha quente era salgado e carregava um pouco do azedinho do cheiro de seus pés. Cada vez que a língua de Bia passava pelas marcas, ela acumulava mais suor e sujeira, fazendo-a a dar tremeliques de nojo.

- Tem gosto de que, porquinha? Perguntou Clara, brincando com a amiga.

“Porquinha? É sério?” pensou Bia. O apelido era humilhante demais, tão humilhante que ela teve vontade de chorar. Entretanto, ver o sorriso brincalhão na cara de Clara a fez ser obediente e responder a pergunta da amiga, parando de lamber os chinelos por um instante

- É ruim… é tipo borracha… salgada… e azeda - respondeu Bia.

- “Borracha salgada e azeda”, hahaha! Parece bem ruim mesmo, ainda que não sou eu que tenho que lamber - falou Clara, colocando os braços para trás da cabeça e olhando para as folhas de árvores, relaxando.

Bia continuou lambendo enquanto Clara ficava em silêncio. Passaram-se 15 minutos, as marcas ainda estavam lá e não pareciam que iam sair tão cedo. Bia então olhou para a amiga em busca de um olhar de misericórdia, apenas para constatar que ela havia adormecido. Aliviada, ela colocou os chinelos em seu colo e pegou o celular para se ocupar durante o sono da colega. Contudo, o rosto de Clara disputava com o celular a atenção da garota de cabelo chanel. “Ela é tão fofa dormindo”, pensou Bia. Passaram-se muito minutos desde que Bia simplesmente largou o celular e começou a observar Clara. Ela então teve a ideia de pegar o celular para registrar a carinha adormecida de sua amiga, mas ela não contava com o fato de que tinha esquecido de desligar o flash.

Clara acordou com a luz do celular. Felizmente, ela não teve tempo de raciocinar o que a fez acordar.

- Hmm, quanto tempo eu dormi? Perguntou Clara, desorientada.

- Uns 15 minutinhos, eu acho - respondeu Bia.

Clara espreguiçou, levantando os braços para cima, botando o peito para frente e esticando as pernas.

- E aí, limpou? Perguntou Clara, apontando para os chinelos.

- Fiz o máximo que eu consegui, desculpa - disse Bia.

“O que? Como assim eu pedi desculpas por não lamberum chinelo o suficiente?”, pensou Bia, indignada. Clara, ao ouvir a resposta, riu levemente da situação miserável de sua amiga.

- Ai ai, essa minha porquinha… mas eu te entendo. Anos de sujeira, não esperava que saísse nem com água e sabão, hahaha!

A expressão de Bia transpirava exaustão ao ouvir Clara falar, o que fez com que a garota de cabelos cacheados demonstrasse um pouco de misericórdia.

- Sua língua tá cansada, né? Vou te deixar respirar um pouco.

Bia, aliviada, relaxou as costas e ergueu a cabeça. Um pouco de descanso finalmente. Ela se inspirou profundamente, apenas para sentir cinco dedos encostarem em seu nariz.

- Pode respirar, mas o ar vai passar pelos meus dedinhos primeiro, hahaha!

É, ter qualquer esperança de alívio durante esses momentos era inútil. Os pés de Clara não dariam um segundo de sossego para Bia enquanto ela estivesse acordada. Ela segurou a respiração por um tempo, erro terrível. Quando não deu mais para aguentar, Bia puxou o ar com força, e o chulé invadiu suas narinas. Era tão forte quanto na noite anterior? Nem perto. Era suportável? Quase, mas não o suficiente para evitar que Bia tossisse com o cheiro.

- Ah, para, você já cheirou eles em estado pior. Eu sei que tá quente, mas ele não tá tão ruim.

Bia parou, agarrou o tornozelo da amiga e a afastou de seu rosto para recuperar o fôlego, permitindo-a ver as solas enrugadas de Clara. Estavam com pedacinhos pequenos de sujeira, principalmente no calcanhar e entre os dedos. O sol que reluzia na planta de seu pé a fazia brilhar por causa do suor.

- Acho que eu respirei um pouco de sujeira… disse Bia, buscando misericórdia mais uma vez.

- Puts, tadinha! Vai ter que cheirar mais devagar então, tá? Bora de novo - falou Clara, aproximando-a da cara de Bia novamente - cheira.

Bia engoliu seco, e cheirou levemente. Mesmo que o cheiro fosse mais fraco que na noite anterior, seus olhos fecharam com força. Nada poderia fazer uma garota fresca como Bia não achar completamente nojento cheirar um pé suado, o que fazia o chulé parecer bem pior em sua cabeça.

- E aí? De 0 a 10? Indagou Clara.

Bia cheirou novamente para responder.

- Acho que… 6.

- 6? Ah, então tu tá exagerando com essas reações. Pode cheirar mais um pouco aí, hehe!

Mais um pouco.. quanto pouco? Bia obedeceu ao comando e seguiu inalando o aroma. Ela se esforçava o máximo para não fazer careta, e até que conseguia. Seu nariz ia de dedo a dedo, dobrinha a dobrinha. Nos dedos era muito pior que no resto da sola. Com cada cheirada, Bia ia se acostumando com o cheiro, mas não com a situação. O problema de cheirar o chulé não era o chulé, mas cheirar chulé. Isso ficava ainda pior sabendo quando a menina de pele branca usava o rosto de Bia como brinquedo. Seu pé deslizava lentamente pela sua cara, mas nunca deixando seu nariz livre. As narinas se ocupavam com o calcanhar, depois com o arco, depois com a parte embaixo dos dedos e por fim com os dedos. Em seguida, a mesma coisa, só que em ordem invertida. Clara sabia que o chulé de verdade estava na região dos dedos, então fazia questão de deixar eles no nariz de sua amiga por mais tempo que o restante das partes do seu pé. Às vezes o pé só parava naquela posição por minutos seguidos. Às vezes ela dobrava os dedinhos em volta do nariz para não deixar ar puro chegar no nariz de Bia.

Enquanto Bia cheirava, Clara suspirava aliviada com o arzinho fresco entrando e saindo entre seus dedos e passando por sua sola suada, erguendo a cabeça para cima e fechando os olhos. Ela também frequentemente passava minutos encarando a cara sofrida que Bia fazia quando ela passava o pé por seu rosto. Apesar de estar se deliciando, Clara decidiu que era hora de dar um passo à frente.

- Bia, você não gosta de cheirar meu pé, né? Pode ser sincera.

- Não, eu não gosto - respondeu Bia.

Sorrindo com a resposta de Bia, Clara se ajeitou, ainda encostada na árvore, e disse com um sorriso que transbordava malícia.

- Então que tal lamber até sair o cheiro?

O estômago de Bia embrulhou com a sugestão. Se o cheiro, mesmo com o chinelo, não era dos mais agradáveis, o gosto não deveria ser bom.

- E aí, vai ou não?

- Vou - disse Bia decidida. Quanto mais cedo acabasse, melhor seria.

Ela agarrou o pé pelo tornozelo como fez da outra vez e o fitou por alguns bons segundos. Sua mente se debatia para decidir se realmente sua língua estava disposta a enfrentar aquela parede de pele suada. Entretanto, sua interminável discussão interna se mostrava inútil à medida que ela aproximava a sola de seu rosto. Bia sentia-se cada vez mais impotente diante dos desejos perversos da garota que amava. Fechando os olhos, ela estendeu sua língua para fora e a deslizou do calcanhar até o dedão rapidamente, mas não rápido o suficiente para que sua boca escapasse do sabor salgado e ácido da parte mais baixa do corpo de Clara. Apesar do esforço gigantesco, ela não pode deixar de fazer uma careta típica de quem chupou limão e tremer sua cabeça de nojo. Clara poderia ter rido da reação, mas na verdade, aquilo lhe deixou impaciente.

- Pelo amor, né, Bia? Que cara é essa? Você lambeu um pé que tava calçado só na porcaria de um chinelo. Eu sei que deve tá um pouco sujo e suado, mas isso não é nem metade do que te espera se você quiser continuar estudando. Quer saber? Eu não vou passar mais a mão na sua cabeça enquanto meu pé não estiver brilhando com a sua saliva. E não esquece disso: é pra lamber devagar e apertando a língua contra a minha sola - falou Clara, imperativa.

A agressividade no tom de Clara fez com que Bia quisesse chorar, mas ela sabia que de nada iria adiantar. Mais uma vez, estoicamente, ela respirou fundo e lambeu de novo, e de novo, e de novo e de novo. As caretas continuavam em seu rosto. Porém, quase que como uma máquina, ela lambia e lambia mecanicamente para a satisfação de Clara. Cada vez que a língua ia do calcanhar aos dedos ela fazia um trajeto diferente, às vezes por dentro do arco, às vez por fora, às vezes parando no mindinho, às vezes parando no dedão. Depois de dez minutos de lambeção, a sola parecia ficar menos salgada e azeda, mas o mesmo não podia ser dito para os cinco dedos gordinhos. De modo a humilhar ainda mais a menina submissa, Clara usou a língua de Bia como fio dental para a sujeira acumulada entre seus dedos. As caretas que desapareceram por certo tempo voltaram quando as papilas gustativas de Bia foram expostas a novos sabores, o que só fez Clara aumentar a agressividade com que passava os dedos pela língua da amiga. Eventualmente, ela também começou a enfiar os dedos na boca de Bia, forçando-a a lambe-los de forma circular lá dentro.

O pé já estava praticamente limpo e a boca de Bia já praticamente cheia de sujeira e suor, mas Clara não parava de usar sua língua como pano. De vez em quando, ela mordia seus lábios ao sentir a língua daquela garota tão linda navegar pelo seu pé. Ela definitivamente não estava interessada em ter os pés limpos, afinal ela tinha chuveiro em casa, o que ela queria, como boa sádica que era, era ver Bia sofrer com a parte mais baixa de seu corpo e sentir sua língua quente e molhada em contato com sua pele. Mas ela percebeu que já havia passados do limites, pelo menos com aquele pé. Clara então o puxa bruscamente e o seca na grama.

- Vai lá no bebedouro beber um pouco de água e depois volta aqui - disse Clara para Bia enquanto apontava para um bebedouro a uns cem metros dali.

Bia levantou a expressão de morta de novo em seu rosto. As palavras “depois volta aqui” ecoavam em sua cabeça, ela sabia que Clara preparava mais alguma coisa. A água do bebedouro só evidenciou ainda mais a dormência de sua língua. Ela não queria voltar, mas sua obediência era grande demais, e ela andou lentamente aonde estava Clara.

- Pensei que tivesse ido embora - disse Clara ao ver sua amiga voltando - senta aí.

Bia sentou, apreensiva. Clara sorriu maliciosamente e apontou para seu outro pé que estava pisando na terra.

- Tá vendo esse pé aqui? Ela não saiu do chão desde que eu tô sentada aqui. Como você acha que ele tá?

Bia engoliu seco e respondeu:

- Sujo de terra?

- Exato! Eita como minha porquinha é inteligente, hahaha!

Bia sentiu seu rosto queimar com o comentário infeliz da amiga.

- Mas eu tenho agonia de pé sujo., ainda mais quando a sujeira gruda com o suor. Ainda bem que eu tenho uma porquinha pra limpar pra mim, né? Disse Clara com um sorriso perverso.

Desolação completa. Bia só queria chorar. Lamber o pé com um pouquinho de sujeira e suor já havia sido torturante, agora um pé sujo, sujo mesmo. Ela não falava nada, estava completamente paralisada. Clara percebeu que ela teria que dar uma mão para incentivá-la.

- Olha, é a última coisa que você vai ter que fazer hoje, tá? Depois cê tá livre, a gente vai até sair a noite. Eu sei que você odeia, mas eu acredito em você, assim como eu acreditei que você ia melhorar em Cálculo e você melhorou.

As emoções se misturavam. Bia se sentia como um pedaço de lixo, mas ouvir a garota que amava falar que acreditava nela trouxe um resquício de força de vontade que estava no fundo de seu âmago.

- Vamo logo com isso - disse Bia, determinada.

- Hehe! Agora minha porquinha tá apressada, né?

Clara tirou o pé do chão e o estendeu em frente a cara de Bia. Uma sola branca transformada em marrom alaranjado. Além de terra, o pé estava cheio de pedacinhos de grama. Como um atleta prestes a correr o último quilômetro de uma maratona, Bia respirou fundo e lambeu. Uma lambida lenta, com a língua pressionada com certa força contra aquela sola imunda. O gosto era terrível, e a textura pior ainda. O amargo da sujeira se misturava com o azedo e salgado do suor. A língua era arranhada pelos pedaços de terra enquanto coletava pedacinhos de grama ao mesmo tempo. Os olhos de Bia lacrimejavam, a mão que não segurava o pé agarrava a grama com força e seus dedos dos pés se contorciam dentro dos sapatos a cada lambida. Ela sofria, mas não parava. Algumas lambidas eram tão agressivas que Clara não resistia e fechava os olhos enquanto mordia os lábios.

O pé ia ficando mais limpo e mais limpo. Tendo aprendido as técnicas da última lambida, Bia não esqueceu da sujeira entre os dedos e passou a língua entre eles, enfiando-os na boca ocasionalmente. Lágrimas escorriam por seu rosto e se misturavam com a sujeira. Lá se foram 30 longos e árduos minutos até o pé ficar limpo.

Clara, colocando o pé na grama para secá-lo, sorriu para Bia e perguntou?

- E aí? Caiu um pedaço?

- Minha língua, minha língua quase caiu.

Clara riu da resposta e falou para Bia ir lavar a boca. No bebedouro, Bia cuspiu toda a sujeira que estava em sua boca. Apesar do sabor amargo que continuava lá, ela estava aliviada. Quando ela virou-se para voltar ao lugar onde estava Clara, Bia reparou que a amiga tinha ido até ela.

- Que porquinha fresca, hein? Hoje é a primeira e última vez que você vai cuspir o que tava no meu pé - disse Clara, autoritária.

“Era só o que faltava, ela deve querer que eu pegue uma infecção”, pensou Bia e disse a Clara:

- Beleza, mas você não vai parar de me chamar de porquinha não? Já acabou sua diversãozinha, né?

- Tá, eu vou parar, haha! Quer ir pegar o ônibus comigo?

Ela sentia que não deveria, afinal, ela tinha acabado de ser humilhada por aquela garota. No entanto, seu íntimo queria passar tempo com Clara.

- Pode ser…

As garotas andaram em direção ao ponto e esperaram. O ônibus chegou e Bia procurou por um lugar na janela, do qual Clara sentou-se ao lado. Elas passaram boa parte da viagem em silêncio, provavelmente pela falta de receptividade de Bia. No entanto, Clara decidiu quebrar o silêncio:

- Bia, você tá solteira, né? Mas você já namorou antes?

- Sim, no ensino médio. O primeiro ficou comigo dois anos e a gente terminou porque ele foi estudar fora. O segundo… me traiu com outra em uma festa que eu tava.

- Pô, sério? Homem não presta mesmo, né?

- A maioria não, mas eu acho que um dia acho um que presta.

Clara, sorrindo com o canto da boca, deitou a cabeça nos ombro direito de Bia e falou:

- E eu torço pra que você ache alguém que te ama.

Bia corou quando a amiga deitou em seu ombro, e não pôde deixar de esboçar um sorriso genuíno com o comentário consolador.

- Obrigada…

O ônibus parou e elas foram para a estação do metrô. As duas seguiam caminhos diferentes da mesma linha, portanto tiveram que se despedir Elas trocaram beijos na bochecha e deram tchau

- Tchau, Clara!

- Tchau, porquinha!

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 12 estrelas.
Incentive Geizer a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários