XXXII
Com o desespero sacodindo dentro do peito e os meus pulmões ardendo por causa do esforço que imprimia nos joelhos correndo. Eu gritava enquanto subia "socorro! socorro!". Encontrei os portões da casa de Maicon e corri para as grades.
Afundei o dedo na campainha. As câmeras nos beirais superiores apontavam para mim.
- Socorro! Socorro! - eu chamava pelo interfone. - Sou amigo do Maicon! Por favor Frederico lembra de mim? Yuri! Sou colega de faculdade do Maicon! Sou o cara... o cara... o que transou na piscina da sua casa!
Era a única referência que me vinha a cabeça no momento.
Após um longo silêncio. Achei que ele não estava me escutando ou pior, que não estava em casa!
Eu decidi voltar por onde tinha vindo. Mas o silêncio e a solidão fria da rua me assustaram. Era um verdadeiro pesadelo.
- Sei quem você é, - uma voz grossa respondeu pelo interfone - o que você quer aqui?
- Maicon... eu e ele estávamos subindo para cá quando... quando ele apareceu e levou o Maicon com ele...
- Ele quem porra?
- Silverback... Adriano.
O interforne parou de responder. Ouvi o barulho de carro vindo em direção ao portão e os faróis iluminaram as grades que levantaram suaves sem barulho.
- Se afasta, - ele disse do carro.
Era um tipo de hiluxy fechada preta mas bem maior. O carro passou a minha frente e o portão voltou a descer. Frederico abaixou o virdo e eu subi para falar com ele sem entrar no carro.
- Vamos a polícia?
- Entra aí... - ele mandou.
Eu abri a porta e sentei ao seu lado.
- Obrigado... - gaguejei.
- O que porra vocês estavam fazendo na rua a essa hora?
- Ah... - a gente ia passando pelo lugar onde tudo havia acontecido - por favor para aqui preciso pegar minhas coisas.
- Isso é uma mala? - ele quis saber.
- Sim... - falei. - Umas coisas minhas.
- Tá, - ele disse - não quero nem saber o resto. Só diz onde você mora que vou te deixar lá.
- Mas e o Maicon?
- Não se preocupa, - ele disse - acho que sei como resolver isso. Não procura a polícia tá?
Frederico fazia as curvas sem preocupar-se com o que vinha pela frente, ele pesava no acelerador correndo pelas ruas, e me deixou na porta da republica, meu coração ficou quentinho.
Eu estava um pouco confuso mas assenti, desci do veículo e vi que apenas a casa do Lulu Beicinho tinha luz. Assim que o veículo desceu as ladeiras fazendo o barulho característico de carro pesado.
Duval estava terminando de sair de casa quando eu me aproximei.
- O que houve Yuri? - ele perguntou.
- Nem eu sei direito.
- Tá drogado porra? - ele puxou as lapelas dos meus olhos.
- Me abraça? - pedi sincero.
Duval apertou os olhos e encheu o peito de ar e veio e me puxou em sua direção.
- O que tá acontecendo?
- Estou morrendo de medo Duval, - confessei - não me deixa só, por favor...
Ele apertou os braços, estreitando a distância entre nós. Eu estava morrendo de medo e o abraço do Duval significou a recuperação de uma parte da coragem que fugiu do meu corpo. Ele passava a mão nas minhas costas.
- Eu vou te levar para um lugar onde você vai se sentir mais seguro tá...?
Eu sacodi a cabeça ainda apertado ao corpo dele. Nos atravessamos a rua e começamos a subir os degraus da casa de Lulu, fui seguindo os passos de Duval sem questionar nada.
- Não chora carai... Você está seguro - ele repetia.
O cheiro de rosas e chocolate que vinha das paredes da casa, me enjoou um pouco mas nós seguimos adentrando a casa bem arrumada. As paredes rosa bebê, passamos por um corredor, e entramos em um quarto.
- E o Lulu não vai brigar contigo?
- Ele é um amigo... - Duval disse. - Não se preocupa com isso agora.
Havia uma cama de solteiro e um guarda roupa como um quarto de hotel. Duval deitou comigo na cama e eu me aconcheguei a ele, relaxando meu corpo no colchão.
Eu sentia minhas pálpebras pesadas depois de um tempo, quietos, respirando no mesmo ritmo, eu ouvia o coração dele debaixo da minha orelha, e meu queixo roçava nos pelos do seu peito.
Duval ronronava uma canção que eu não conhecia mas que acabou servindo de embalo para meu sono.
Acordei de barriga para baixo na cama abraçando um travesseiro, e o quarto iluminado por uma luminária azul.
- Duval... - chamei.
Mas o som da minha voz morreu dentro do quarto. A porta estava fechada. Eu levantei e caminhei até a porta, girei a maçaneta e ela destravou a porta, havia uma música vindo de um dos quartos mais a frente.
A luz do corredor estava acessa.
A porta entreaberta de onde vinha a música dançante mas num volume baixo, era o de Lulu Beicinho. Eu entrevi a cama de casal e um guarda roupas enorme cobrindo toda a parede a esquerda.
Colei na parede ficando de costas, rente ao batente da porta mas longe das vistas de quem estivesse na mesma direção. Eu via apenas os vultos através do reflexo nas portas do guarda-roupa.
Duval estava em pé próximo a cama e o Lulu olhava para ele, como diante de um deus.
- Eu vou aparar, - Duval disse passando as mãos nos pelos. - Tá grande pra caralho me incomoda.
- Nem pense nisso - disse a voz sibilante e fina de Lulu - você é um macho a moda antiga. Um lindo homem a moda antiga.
Eram as mãos do Lulu que deslizavam pelo corpo do Duval fazendo aquele barulho dos pelos crespos amasiados pelas mãos finas. Ele parecia passar algum óleo no corpo do meu amigo.
- Por que não? - Duval objetou, íntimo. - Só um pouco Lulu.
O homem se jogou aos pés de Duval e começou implorar com as mãos juntas próximas ao queixo como se rezasse:
- É uma temeridade um macho como você fazer uma barbaridade dessas - ele tocou a barriga de Duval toda coberta por pelos - você é o homem mais viril que eu já conheci Duval, não faça uma coisa dessas com seu corpo.
- Que drama!
- Eu pago o quanto for mas não raspe.
- Que bobagem da porra... - Duval disse mas riu e caiu de costas na cama arreganhando os braços para trás da cabeça exibindo os tufões de pelos debaixo dos braços. - Todo mundo fala que estou parecendo um macaco.
- Uns invejosos.
- Eles estão certos - Duval suspirou. - Estou desaparecendo debaixo desses pelos todos.
- Chiiii - Lulu disse e baixou a voz a um sussurro.
Não dava para ver a reação do Lulu diante da visão do Duval peladão em sua cama mas pelos sons de beijo, de sucção, eu fazia uma ideia.
Voltei para o quarto incomodado com o que tinha visto.
Afinal havia um motivo para aqueles pelos todos no corpo do Duval.
Mas como uma mal digestão o que estava me roubando a paz era não ter notícias do Maicon "será que ele está bem? aquele maluco não ia ter coragem de fazer nada", eu pensava atordoado.