<<<<Fabi>>>>
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Descemos naquela manhã para tomar nosso café. Algumas pessoas já tinham terminado. Sentamos e vi Felipe com sua namorada indo para o fundo da casa. Provavelmente iam no pomar ou se sentarem perto da piscina. Eu não tinha dado muita atenção para eles naqueles primeiros dias. Falei com Nat que ia falar com eles um pouco. Conhecer melhor a Naiara. Ela me pareceu ser legal. Nat disse que eu podia ir, que ela iria dar umas voltas para esticar as pernas porque estava com os músculos meio duros da caminhada da tarde passada. Me disse também que evitava chegar perto da Naiara porque Felipe tinha ciúmes dela. Ela falou e caiu na risada. Heitor que ainda estava na mesa riu junto. Eu falei que tudo bem, que eu não iria demorar muito. Nat disse para eu não esquentar com isso.
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Terminei o café e fui procurar onde Felipe e Naiara estavam. Não foi difícil encontrar o casal sentados em um banco de madeira no início do pomar. Estavam abraçados curtindo a sombra de uma mangueira. Eu me aproximei e Felipe logo me viu. Perguntei se podia me sentar com eles e responderam que sim. Fiquei um bom tempo ali com eles. Pode conhecer mais de Naiara e da história dos dois. Me pareceram um casal apaixonado. Dei boas risadas com as brincadeiras de Felipe. Foi legal passar esse tempo ali com eles. Eu realmente não tinha dado muita atenção a eles nos primeiros dias, mas iria procurar mudar isso.
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Quando voltei para dentro, Nat estava sentada na varanda da casa. Perguntei se ela estava ali há muito tempo. Ela disse que tinha chegado há algum tempo. Que foi dar uma volta, mas não demorou muito. Que foi perto da entrada do sítio da D° Luiza, descansou um pouco na sombra de uma árvore. Voltou e estava ali me esperando. Chamei ela para entrar, já estava quase na hora do almoço. Subimos pro meu quarto e Nat resolveu tomar um banho rápido antes do almoço. Eu fiquei deitada na minha cama ouvindo música no celular. Resolvi não ir com ela porque em minutos eu tinha certeza que D° Luiza estaria batendo na porta do meu quarto me chamando para almoçar.
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Os dias seguintes foram muito bons. Eu consegui me desconectar um pouco dos problemas. Curti bastante minhas visitas e me diverti muito com o pequeno Lucas. Meu irmão foi embora depois de sete dias. Sua família foi com ele, Felipe e Naiara também. Só Nat ficou para trás e aí me concentrei muito nela. A gente aproveitou cada momento juntas. Mais uma vez foi incrível estar com ela. Mas infelizmente mais uma vez ela se foi e com sua partida os problemas da fazenda voltaram a ocupar minha mente. O risco de perder tudo tirava meu sono.
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Eu não vi mais a Gabi, ouvia às vezes o barulho da moto passando na porta da minha casa, mas não tive nenhum tipo de contato com ela novamente. Sei que ela veio à minha casa duas vezes nos últimos dias para ver minha mãe, mas ela veio em dois momentos que eu não estava. Não achei bom saber que ela veio aqui, mas também não podia proibir. Primeiro que a casa não era só minha. Segundo porque minha mãe amou que ela veio ver ela. Até começou a querer me dar uns conselhos para eu falar com ela, mas eu cortei logo e ela não falou mais nada. Parece que Gabi realmente atendeu meu pedido e ficou longe de mim. Pelo menos o mais distante possível devido às circunstâncias.
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O clima estava me ajudando. Não deu nenhuma semana sem chuva no mês de janeiro. Em fevereiro as chuvas diminuíram mas assim mesmo choveu e apesar de estar quente não fez um calor exagerado. Com isso os frutos das lavouras estavam indo bem graças a Deus. Tudo estava correndo bem para ter uma ótima colheita. Os produtos que o meu agrônomo me passou realmente estavam fazendo o efeito necessário e a terra parecia ter recuperado as forças. Meu encarregado estava bem animado também. Sebastião ou como todos o chamavam, Tião, não teve um começo fácil aqui. Muitos esperavam que alguém da turma mais antiga da fazenda fosse o novo encarregado, mas Tião foi indicado pelo meu agrônomo e tinha ótimas referências do seu antigo patrão que era meu vizinho de cerca. Então acabei contratando ele. Isso gerou alguns conflitos e intrigas entre os funcionários, mas conversei com os mais velhos e no fim deu tudo certo.
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Eu iria acompanhar a colheita de perto. Eu confiava nos meus funcionários, mas eu queria garantir que nada de errado acontecesse. Começamos a colher no fim de março. Começamos nas lavouras mais velhas. Era três máquinas trabalhando 24 horas diárias. No início de abril vieram mais de 60 pessoas para colher manualmente as lavouras mais novas. Isso iria até final de julho. Depois ainda tinha o trabalho das máquinas de rastelação que só terminariam seu trabalho no fim de agosto. As primeiras notícias não foram muito boas mas já eram esperadas. As primeiras lavouras deram poucos grãos, como eram mais velhas não foi surpresa nenhuma. Porém elas deram um pouco mais do que a gente previu.
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Faltavam uns 10 dias para a gente terminar a colheita das lavouras mais antigas que eram bem menos. Em um dia de manhã recebi uma ligação da D° Luiza pedindo para eu ir para casa urgentemente. Minha mãe tinha passado mal e tinha que levar ela para o hospital. Eu estava em uma lavoura perto da entrada da fazenda e não demorei a chegar em casa. D° Luiza já estava me esperando e disse que minha mãe estava com dificuldade para respirar. Não teve o que fazer, levei ela direto pro hospital. Ficamos ali o resto do dia e a noite toda. D° Luiza ficou comigo o tempo todo. O médico disse que tinham estabilizado ela, mas ela ainda estava respirando com ajuda de aparelhos.
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Minha mãe acabou ficando 7 dias internada antes de voltar para casa. Eu e D° Luiza revezamos entre nossa casa e o quarto do hospital. Minha mãe só voltou para casa porque montei praticamente um quarto de hospital no quarto dela e contratei uma enfermeira. O médico que cuidou dela disse que o coração dela não estava mais aguentando e que era melhor ela fazer logo uma operação para colocar o marca passo. Eu disse que ia resolver isso.
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Assim que cheguei em casa já liguei para o médico dela em BH e ele disse que era para gente ir para ela fazer uns exames e marcar a cirurgia o mais rápido possível. Meu irmão que já sabia o que estava acontecendo mais uma vez abriu as portas da sua casa para a gente ficar. D° Luiza me implorou para ir junto. Ela gostava muito da minha mãe, eu não podia dizer não. Depois de oito dias que ela tinha saído do hospital eu a levei para BH. Antes de ir eu conversei com Tião e com mais três funcionários meus de confiança e expliquei a situação. Pedi para cuidar da colheita porque eu não poderia deixar minha mãe naquele momento. Ele me tranquilizou e disse que eu podia ir tranquilamente. Eu fui, mas não fui tranquila. A fazenda dependia daquela colheita.
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Em BH correu tudo bem graças a Deus. Minha mãe fez uma bateria de exames. Tudo deu certo e em 15 dias aconteceu a operação. Minha mãe iria precisar de repouso absoluto por um mês depois da cirurgia. O médico achou melhor fazer isso em BH e depois sim a gente poderia voltar para casa tranquilamente. Eu não queria correr nenhum risco e resolvi aceitar sua recomendação. Ficamos na casa do meu irmão. D° Luiza não quis voltar para casa. Disse que Gabi estava cuidando de tudo e só iria voltar com minha mãe junto com ela. Na verdade eu achei melhor. Minha mãe ficava mais à vontade com a D° Luiza cuidando dela. Fora que ela foi um porto seguro para mim naqueles dias já que meu irmão, Bárbara, Lúcia e Nat não podiam ficar direto comigo.
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Depois de um mês voltamos para casa. Minha mãe precisaria ficar mais dois meses sem fazer nenhum tipo de esforço físico. Eu não conseguia sair de perto dela. O medo de acontecer algo com ela era enorme. Então fiquei praticamente todo o tempo em casa. No final de maio Tião veio ao meu escritório. Me passou todos os recibos e pagamentos que ele fez. Acertamos tudo que tinha ficado para ele resolver. No final da conversa ele me deu uma notícia não muito boa. Disse que a colheita estava indo bem, porém o café estava dando muita quebra na hora de limpar e separar os grãos. Que o agrônomo já tinha olhado e iria me explicar melhor, mas infelizmente a safra iria ser bem menor do que a gente esperava. Naquele momento já bateu o desespero.
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À tarde o agrônomo veio me ver. Ele me disse que o cafezal deu muitos frutos. Porém os frutos estavam com muitas sementes ruins. Ele me levou até onde limpava o café. A gente foi até uma das maiores pias de sacos. Com a ajuda de um dos funcionários que trabalhava ali ele me mostrou o conteúdo de alguns sacos. Era tudo de café ruim. Todos muitos pequenos ou quebrados. Ele disse que cada dois sacos de café bom, estava dando um de café ruim.
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Eu entendi na hora o que aquilo significava. Eu estava completamente ferrada. Esse café ruim era vendido por um preço muito baixo. Isso quando achava comprador. Voltei para casa desolada. Fizemos umas contas. Se continuasse assim eu teria dinheiro só para pagar a colheita daquele mês e olhe lá. Sem chance de pagar o empréstimo. Se eu não pagar os juros vão fazer a dívida dobrar em pouco tempo. Para eu pagar teria que vender uma boa parte da fazenda. Era melhor vender até a metade do que perder ela toda.
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Não queria levar problemas para minha mãe, mas tive que falar com ela e ela disse que eu podia resolver como eu quisesse que ela assinava embaixo. Pedi conselhos a meu irmão, a D° Luiza e a Matias. Todos chegaram a uma conclusão. Melhor vender a metade do que perder tudo. Eu não tinha outra saída. Pedi Tião e meu agrônomo para tentar achar comprador. Mas ninguém queria comprar um pedaço de terra enorme que tinha boatos de problemas no solo. Até que um dia Tião vem no meu escritório e diz que seu ex-patrão tinha uma oferta pela fazenda, mas nela inteira. Eu disse que eu não iria vender ela toda, só mesmo a metade. Mesmo assim quis saber o valor que ele ofereceu. Era bem abaixo do que valia, mas não chegava a ser um valor ruim devido às circunstâncias.
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No mês seguinte o dinheiro não deu para pagar tudo. Iria faltar mais ou menos 15 mil reais. Eu estava no escritório quase chorando e D° Luzia viu e veio perguntar o que houve. Falei para ela o que estava acontecendo. Ela saiu e fez uma ligação. Depois de mais ou menos uma hora ouvi o barulho da moto da Gabi. D° Luiza apareceu de novo no escritório. Me entregou 15 mil em dinheiro e disse que era para eu pegar. Que não tinha discussão sobre isso. Depois virou as costas e saiu antes que eu pudesse protestar.
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Paguei tudo o que tinha que pagar naquele mesmo dia, me sobrou 120 reais. Não tinha outra saída. Falei com minha mãe e expliquei toda a situação. Sai daquele quarto chorando. Depois liguei para Tião e pedi para ele falar com o ex-patrão dele. No outro dia após o almoço ele estava no meu escritório para comprar minha fazenda inteira. Ele já tinha resolvido tudo na parte da manhã. Era ele pagar e eu assinar o documento de venda na frente de três testemunhas,Tião, Carlos meu agrônomo, e D°Luiza. Depois da minha assinatura e das testemunhas era só registrar em cartório. Quando eu fui assinar ouvi alguém me chamar, depois ouvi barulho de vários passos. Logo Marcelo entrou com vários outros policiais. Eu levei um susto com aquela invasão. Eu não estava entendendo nada.
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Continua..
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Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper