<<<<Gabi>>>>
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Depois de deixar meu currículo em várias fazendas e nas 4 lojas agropecuária da cidade eu fiquei aguardando alguém entrar em contato. Sinceramente eu não estava nem um pouco esperançosa que isso fosse acontecer. Primeiro que no meu currículo faltava algo muito importante nessa área, experiência. Para eu conseguir um trabalho só se eu tivesse alguém de muito prestígio na área ou na cidade para me ajudar e eu não tinha. Não iria pedir a D° Sandra porque ainda nem tinha falado com ela, Fabi era sem chance de poder me ajudar. Meu tio era bem conhecido, porém era só um pequeno agricultor aos olhos dos outros. Então o que eu imaginava aconteceu, nada de arrumar trabalho nos primeiros meses ali.
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Bom, mas eu não fiquei parada. Comecei a ajudar meu tio na lavoura. A gente se dava muito bem, os funcionários dele eram gente boa comigo e a maioria eram conhecidos meus. Meus conselhos eram sempre bem recebidos pelo meu tio e os primeiros que ele seguiu deram resultado acima do esperado. Meu tio disse que não poderia me pagar um salário adequado para minha função, mas poderia pagar no mínimo um salário e meio por mês se eu quisesse trabalhar para ele. Eu disse que podia ser apenas um salário, mas queria usar uma pequena parte de uma das quadras da plantação dele como meu laboratório de teste. Ele disse que não era um problema e eu poderia usar.
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Nat depois daquela nossa conversa não apareceu mais na minha casa e eu só a vi depois uma vez na porta da casa de Fabi, mais uma vez ganhei um aceno e um belo sorriso. Sinceramente queria ter mais contato com ela, gostei mesmo do jeito dela . Acho que se não fosse pelo problema com Fabi a gente seria boas amigas. Talvez se tivéssemos nos conhecido em outro lugar, até mais que amigas, que mulher linda que ela é. Por falar em Fabi, eu nunca mais tentei nada, achei melhor dar um tempo para tentar recuperar sua amizade.
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Consegui ir ver a D° Sandra duas vezes. Pedi ajuda a minha mãe depois que ela me disse que sua patroa reclamou que eu não fui vê-la. Em duas oportunidades que Fabi foi à cidade com Nat, minha mãe me avisou e eu fui ver D° Sandra. Na primeira vez eu fiquei meio receosa porque afinal de contas eu fui o motivo da tristeza da sua filha por um bom tempo. Agora eu era o motivo da raiva. Mas ela me tratou muito bem, na verdade não fez nenhuma pergunta sobre minha partida nem nada do tipo. Só conversamos sobre meus estudos, sua saúde e sobre meu pai. Relembramos coisas do passado, mas nada desconfortável sobre minha partida e o que isso causou.
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Quando saí de lá eu sinceramente fiquei pensando sobre isso. Porque ela não tocou no assunto. Foi bem estranho. A única explicação era que minha mãe tinha pedido para ela não fazer isso. As duas eram grandes amigas há muitos anos. Provavelmente sabiam tudo uma da vida da outra. Muitas perguntas se formaram na minha mente. Será que minha mãe contou tudo a ela? Será que ela sabe a verdade e não liga ou minha mãe omitiu algumas coisas? Mas como minha mãe iria contar a história pela metade? Eu não tinha as respostas e resolvi não falar sobre isso com minha mãe. Se fosse um segredo delas eu iria respeitar. Até porque foi algo bom para mim, explicar o que eu fiz para D"° Sandra não iria prestar.
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Esses primeiros 3 meses depois da minha volta se foram. Eu falava com as meninas quase todo dia e com meu pai e minha madrasta também. Marcelo voltou a ser meu amigo como antes e Carla se mostrou ser uma boa amiga também. A colheita na fazenda da Fabi provavelmente estava para começar e eu estava feliz porque eu tinha certeza que seria uma ótima colheita. As lavouras que eu vi na sua fazenda estavam todas muito boas. Meu tio também iria começar a do nosso sítio e eu queria muito ajudar.
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Tudo estava correndo bem até que as coisas começaram a dar muito errado. Não comigo, mas com Fabi e sua família. Primeiro D° Sandra passou mal e ficou internada alguns dias. Logo depois ela teve que fazer uma operação em BH e ficou por lá vários dias com Fabi. E claro, com minha mãe que passou esse tempo todo ao lado da sua amiga. Depois da volta eu achei que as coisas iriam melhorar já que minha mãe me contou que a operação foi um sucesso. Mas logo minha mãe solta outra bomba. Fabi estava em sérios apuros financeiramente e o risco de perder a fazenda era enorme.
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Eu não entendia como a colheita da fazenda podia estar sendo ruim. Pedi para minha mãe procurar saber dos motivos. Minha mãe disse que já sabia, que D° Sandra explicou o que Fabi passou para ela. Aí para mim fez menos sentido ainda. Eu vi as lavouras. Eu peguei e abri vários grãos e estavam perfeitos. Sem sinal de doença ou qualquer outro problema. Expliquei para minha mãe, mas pedi para ela não comentar para não arrumar mais problemas. Eu iria olhar as outras partes da fazenda para ter certeza. Falei com meu tio sobre isso e ele achou estranho também. Ele disse que para dar uma quebra nos grãos daquele jeito só se tivesse uma doença nova na fazenda ou se o tratamento no solo não tivesse dado resultado, mas isso era meio impossível já que as lavouras estavam bonitas e saudáveis ao olhar.
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Depois daquela conversa eu resolvi realmente tirar a história a limpo. No domingo eu peguei minha moto e andei em boa parte da fazenda. Evitei os lugares onde as máquinas estavam trabalhando para não correr o risco de ser vista. Não encontrei nada de errado em nenhuma lavoura. Até nas que já tinham sido colhidas eu olhei. Sempre fica alguns grãos para trás, ou nos galhos ou no chão entre as folhas. Só em uma lavoura que provavelmente era a mais velha achei alguns grãos ruins, mas foram poucos no meio de vários com as sementes perfeitas. Ali eu tive certeza que tinha algo muito errado. Mas o que? Isso eu teria que descobrir, mas de algo eu tinha certeza. Alguém estava roubando a Fabi.
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Falei com meu tio e minha mãe e eles concordaram comigo. Meu tio falou que Fabi vendia o café para uma grande exportadora e conhecia os responsáveis. Era pessoas sérias e provavelmente o problema não era lá. O dinheiro da venda era depositado direto na conta da Fabi. Então o que estava acontecendo de errado era antes de chegar a exportadora. Eu precisava descobrir algo de concreto antes de falar com D° Sandra ou pedir para minha mãe falar com Fabi. Eu resolvi fazer minha própria análise do solo, mas não deu muito certo já que eu iria precisar de um laboratório e eu não tinha acesso a um adequado. Entrei em contato com meu pai e ele passou o contato de uma agrônomo experiente e professor na UFMG. Liguei e ele foi muito gente boa comigo. Meu pai já tinha adiantado o assunto, mas expliquei melhor o que eu queria. Ele me passou o número de um laboratório confiável em Passos. Liguei e contratei o serviço deles. Agora era só recolher os materiais e enviar.
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Tive que esperar até um dia de domingo porque eu não podia ser vista recolhendo os materiais de jeito nenhum. Fiz de novo o percurso pela fazenda evitando as máquinas. Não era difícil já que as colheitadeiras faziam barulho que dava para escutar de longe. Recolhi uma amostra de terra, uma folha e uma raiz de cada quadra que eu fui. Não foi difícil catalogar já que em toda quadra tinha uma placa com o número da quadra, a qualidade do café e a data da planta das mudas. Depois de tudo pronto eu esperei chegar a segunda feira para poder enviar as amostra pelo correio.
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Infelizmente eu iria ter que esperar mais dias que o necessário para ter os resultados nas mãos. Continuei ajudando meu tio na colheita que ia muito bem por sinal. Pedi à minha mãe para me falar sobre qualquer novidade. A última que tive foi que Fabi tinha resolvido vender a metade da fazenda. Aquilo me deixou muito triste e meio que me senti impotente porque eu sabia que tinha algo errado. Mas não sabia o que é nem tinha provas de nada. O que me deixou mais tranquila foi que meu tio disse que não iria ser fácil para Fabi conseguir comprador já que o boato das terras terem o solo ruim tinha espalhado pela região.
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Enquanto isso a colheita do sítio ia super bem, demorada porque era toda manualmente, mas dando um bom lucro. Meu tio preferia receber em dinheiro a venda do café. Assim ele fazia os pagamentos e sempre adiantava uma parte dos 10% da minha mãe. Algo que ela não achava certo porque para saber o lucro tinha que vender tudo e pagar tudo. Aí sim sobrava o lucro, mas meu tio dizia que sabia o lucro mesmo antes de fazer isso. E na verdade ele raramente errava e quando errava era coisa mínima. Um belo dia eu estava eu na cidade com 100 mil reais na mochila. Eu tinha acabado de pegar o pagamento da exportadora. Eu iria depositar 10 mil para minha mãe e 80 pro meu tio. O restante eu iria levar para ele no sítio. Quando estava na porta do banco, minha mãe me ligou. Pediu para eu levar 15 mil para ela. Que depois explicava ao meu tio. Fui ao banco e depositei 75 mil e levei o restante. Minha mãe me esperava na frente da casa da Fabi. Entreguei o dinheiro a ela que me agradeceu e disse que a noite me explicava. Eu fui pro sítio e entreguei o resto pro meu tio e expliquei para ele o que tinha acontecido. Meu tio disse que não tinha problema algum e me agradeceu por trazer o dinheiro para ele.
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Eu imaginei o motivo da minha mãe ter pegado o dinheiro, mas a noite eu perguntaria ela. Fiquei pensando na situação de Fabi e em tudo que estava acontecendo. Resolvi não ir à lavoura. Eu precisava pensar no que fazer e resolvi ir no lugar mais tranquilo que eu conhecia para pensar e ver se eu tinha alguma boa ideia para ajudar naquela situação o mais rápido possível. Troquei de roupa e desci até o fundo da fazenda da Fabi onde iniciava a divisa com o sítio. Andei mais um pouco e cheguei onde descia até o fundo da grota. Desci e lá embaixo sentei em uma pedra e fiquei admirando aquele lugar lindo. Comecei a pensar em alguma solução para ajudar Fabi.
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Fiquei ali muito tempo. Mas não tive nenhuma ideia. O jeito era esperar os resultados das análises que eu teria logo nas mão e aí sim eu poderia fazer algo. O sol já estava indo embora. Então resolvi voltar para casa. Quando fui chegando ao topo do barranco ouvi barulho de motos. Parecia ser duas ou três. Eu conhecia aquele barulho. Era das broz que alguns funcionários da fazenda usavam para se locomover. O barulho foi ficando mais perto quando de repente parou. Provavelmente tinham encostado bem no início da trilha para ficar nas sombras das árvores. Subi mais um pouco e olhei para cima no rumo onde o barulho parou. Eu conseguia ver mais ou menos entre o mato e a cerca no topo do barranco. Encostei no barranco para não ser vista. Achei melhor não terminar de subir. Eu não sabia quem era e eu estava sozinha. Fiquei com um pouco de medo.
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Logo ouvi que os homens começaram a conversar. Só ouvi duas vozes e deduzi que eram só dois, mas pelas vozes não reconheci quem era. Estavam falando sobre futebol e o jogo do Cruzeiro a noite. Mas de repente o papo me chamou a atenção.
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Homem 1: O time está péssimo mas pelo menos com a grana que vou pegar amanhã posso comprar uma TV enorme e ver o jogo em 4k kkkkk
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Homem 2: Verdade, até que enfim vamos fazer a última carga e pegar a grana. E vai ser bem mais que os outros anos.
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Homem 1: Verdade. Tomara que o pessoal da fazenda vá embora logo, assim a gente carrega logo os caminhões e pode ficar sossegado só esperando a grana.
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Homem 2: De todo jeito temos que esperar ficar bem escuro para poder sair, se pegam a gente é cadeia na certa.
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Homem 1: Ainda bem que é a última carga, depois a fazenda vai mudar de dono kkkk
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Homem 2 : No fundo fico com pena da D° Fabiana, vai perder a fazenda, a mãe está muito doente, ela além de gostosa é gente boa.
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Homem 1: Deixa se ser bobo, gente rica não tem dó da gente não, eu não estou nem aí. Mas gostosa ela é mesmo, e aquela mulher que anda com ela é mais ainda! Eu pegava qualquer uma, só não tenho sorte kkkkkkk
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Dali para frente não teve nada de importante, na verdade ouvi coisas que me deixaram com nojo dos dois. Mas depois de uns 30 minutos um deles recebeu uma chamada rápida e disse para o outro que eles já poderiam ir para o galpão. Já estava escurecendo e eu precisava agir rápido. Aquela conversa que ouvi por pura sorte poderia mudar tudo se eu fosse esperta.
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Continua..
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Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper