<<<<Fabi>>>>
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Eu não entendi nada do que estava acontecendo. Vários policiais entraram junto com Marcelo. Um deles, que provavelmente era o comandante, deu voz de prisão para meu agrônomo Carlos, meu encarregado Tião e o seu ex -patrão José Roberto. Os três foram algemados e retirados do meu escritório. Eu estava em choque com tudo aquilo. D° Luiza veio me acalmar e logo Marcelo se aproximou. Me disse que eu precisava ir na delegacia o mais rápido possível.
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Fabi: Tudo bem, eu vou atrás de vocês, mas você poderia me dizer o que está acontecendo? E porque eu preciso ir até a delegacia?
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Marcelo: Só posso te adiantar que os três armaram para você, inclusive estavam te roubando. E você tem que ir na delegacia para o delegado te explicar o que está acontecendo e você precisa dar um depoimento. Se você quiser levar um advogado tudo bem, mas já adianto que não será necessário já que você é vítima nessa história ok.
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Fabi: Como assim me roubando? E armaram o que Marcelo?
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Marcelo: Fabi, não tenho tempo de te explicar aqui, tenho que voltar para a delegacia porque o dia hoje vai ser movimentado. Assim que você chegar na delegacia você vai saber de tudo o que eu sei. Desculpe, mas preciso ir.
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Eu fui correndo falar com minha mãe o que tinha acontecido. Tentei explicar com a maior calma possível, mas assim mesmo ela ficou assustada com tudo aquilo. D° Luiza estava comigo e me ajudou a acalmá-la. Eu não podia demorar ali e pedi à D° Luiza para ficar com minha mãe e fui para a cidade. Durante o caminho fui processando o que tinha acontecido. Só podia ser uma coisa. Os três roubaram minha fazenda me fazendo entrar em dívidas e assim ter que vendê-la bem abaixo do preço. Era a única coisa que veio à minha cabeça. Mas algumas coisas não faziam sentido. Acelerei o máximo que eu podia para chegar logo à delegacia.
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Ainda não entendia como Carlos estava envolvido nisso. Tinha muitos anos que ele trabalhava comigo. Logo que Pedro deixou a fazenda, minha mãe o contratou. Nossas famílias frequentavam a casa uns dos outros. Eu só contratei Tião por indicação dele. Provavelmente estavam me roubando a muito tempo. Nossa como foi trouxa em confiar nele.
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Quando cheguei na porta da delegacia, eu estava uma pilha de nervos. Estacionei e fui entrar, quando comecei a subir as escadas da entrada escuto o barulho de uma moto. Só me faltava essa, era Gabi com certeza. Nem olhei para trás, eu conhecia bem aquele som. Continuei andando e entrei no local. Eu não sabia onde ir e fiquei meio na dúvida que direção seguir. Fiquei parada por um instante ali indecisa até resolver ir perguntar a alguém. Quando comecei a andar escuto Gabi me chamar.
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Gabi: Fabi, espera um momento. Preciso falar com você.
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Eu continuei andando. Eu estava muito nervosa. Não queria falar com ela, ainda mais naquele momento. Mas ela insistiu em me chamar.
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Gabi: Por favor, Fabi. É importante, eu..
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Naquela hora eu virei e gritei com ela.
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Fabi: EU NÃO QUERO FALAR COM VOCÊ! EU NÃO QUERO, ENTENDEU. JÁ TE PEDI PARA ME DEIXAR EM PAZ.
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Gabi: Fabi mas é sobr..
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Não deixei ela terminar e já gritei de novo.
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Fabi: VOCÊ NÃO ME ENTENDEU? ME DEIXA EM PAZ. SOME DA MINHA VIDA!
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Ela se calou e abaixou a cabeça. Parecia que iria chorar, mas eu não dei a mínima. Só virei as costas e segui. Quando me dei conta, havia algumas pessoas ali me olhando. Me bateu uma vergonha. Poxa ela tinha que aparecer justo agora para me infernizar? Fui tirada dos meus pensamentos com um policial me chamando. Ele disse que o delegado estava à minha espera. Segui ele até um escritório. Nele estava o delegado, Marcelo e um detetive da Polícia Civil.
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Fui convidada a sentar em uma cadeira em frente a mesa do delegado, o detetive ficou em pé ao lado dele e Marcelo se sentou do meu lado depois de pegar um copo de água para mim. Ele me conhecia bem e sabia que eu estava muito nervosa. O delegado começou a falar que ele ia me explicar o que estava acontecendo e depois iria querer meu depoimento. Eu disse que tudo bem.
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Delegado: Nesta manhã chegou até meu conhecimento através do soldado Marcelo que aconteceu um roubo de café na sua propriedade. Depois de olhar as provas que eram bem contundentes eu liguei imediatamente para o juiz pedindo a expedição de vários mandados de busca e apreensão na fazenda e casas dos envolvidos. Eu tinha que agir rápido para não desconfigurar o flagrante se não eu precisaria de um mandado para prendê-los. Graças a ação conjunta da polícia civil e militar a gente conseguiu ir até sua residência e efetuamos a prisão dos envolvidos.
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Ainda não sabemos exatamente como tudo aconteceu nem até que ponto cada um está envolvido, mas temos provas o suficiente e um testemunho chave que realmente todos estão. Mas acho que com o depoimento deles tudo vai ser esclarecido. E vamos precisar de sua ajuda para identificar mais seis funcionários seus que participaram do roubo. Três deles a gente já sabe quem é, mas com sua ajuda podemos ter certeza e também identificar os outros.
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Fabi: Claro, eu vou ajudar no que for necessário. Até porque eu ainda não entendi direito o que aconteceu. E queria saber se vocês tem certeza que o Carlos está mesmo envolvido.
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Delegado: Sim. Temos provas o suficiente para afirmar que ele está. Temos um testemunho que indica isso. Através do testemunho nós verificamos uma análise feita das suas terras e plantações feitas em um laboratório em Passos. As análises comprovam que suas terras não têm nenhum problema no solo. O soldado Marcelo tem conhecimento do que vinha acontecendo na sua fazenda. Ele já deu o depoimento dele e somando os dois depoimentos e a análise não há dúvida que o seu agrônomo está envolvido. Só estamos esperando o resultado das análise chegar. Como eles já foram enviados só estamos esperando eles estarem em nossas mãos, mas já conversamos com o responsável do laboratório e ele nos passou os resultados.
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Fabi: Desculpe, é muita coisa para processar, eu estou ficando mais confusa com algumas informações, mas umas eu entendi. Só queria saber como vocês descobriram isso tudo.
Marcelo, você já estava investigando isso? Se estava, porque não me falou?
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Marcelo: Eu não estava não Fabi. Na verdade, foi uma surpresa para mim quando descobri isso tudo. Vou te mostrar o vídeo que recebi na madrugada e nos levou a descobrir o que sabemos até agora.
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Marcelo me entregou o seu celular e disse que o vídeo era longo e que já tinha passado ele na íntegra para o delegado. Ele pediu para eu dar play, mas o delegado nos interrompeu. Ele disse que ia deixar eu sozinha para ver o vídeo e eles iriam verificar os andamento do depoimento dos três envolvidos que estavam presos. Mas que precisava dos nomes dos meus funcionários que trabalham no meu galpão. Eu disse a ele que não sabia porque era tudo resolvido pelo Tião. Mas eu poderia ligar para um dos outros funcionários da fazenda e perguntar. Ele disse que isso ajudaria. Marcelo disse que eu podia ver o vídeo. Que ele conhece a maioria dos funcionários antigos da fazenda e iria verificar com eles. Eu concordei e eles saíram.
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Eu dei play no vídeo e comecei a entender o que era. O vídeo realmente era grande, ou melhor, era enorme com mais de duas horas de gravação. Eu fui vendo e tudo começou a fazer sentido para mim. Meu Deus como eu fui ingênua. Eu fui adiantado o vídeo em algumas partes menos importantes e eram partes longas. Quando consegui ver tudo eu estava com muita raiva e muito emocionada. Raiva de saber que tentaram me passar a perna e por terem me roubado debaixo do meu nariz. E emocionada por causa da voz que ouvi praticamente o tempo todo narrando tudo que acontecia no vídeo.
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Eu fiquei um tempo ali tentando por minhas emoções no lugar. Depois de um tempo, Marcelo entra na sala com um envelope. Quando ele tentou dizer o que era eu me levantei e o abracei. Nessa hora eu não aguentei e chorei. Marcelo sabia o motivo e só correspondeu o abraço. Ele ali comigo e ficou me dizendo que estava tudo bem. Logo o delegado apareceu e viu meu estado. Ele sugeriu que eu fosse para casa. Disse que eu podia dar meu depoimento no dia seguinte e que já tinham identificado os outros homens que participaram do roubo. Me falou que os depoimentos dos três já presos ainda estavam em andamento, mas que praticamente tudo estava quase esclarecido com as provas que eles tinham em mãos.
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Eu o agradeci por deixar eu ir, realmente eu não tinha condições de dar um depoimento naquele momento. Era melhor eu fazer isso mais calma. Marcelo me acompanhou até a saída. Não vi a moto da Gabi e imaginei que ela já tinha ido para casa. Marcelo me perguntou se eu queria conversar sobre o que houve. Eu disse que sim, mas não naquele momento. Que eu tinha algo mais importante para fazer. Ele perguntou se eu tinha condições de dirigir, eu disse que sim e nós nos despedimos. Entrei na minha caminhonete e fui em direção a minha fazenda. Eu tentei ir rápido, mas não deu. Algumas lembranças me fizeram deixar escapar algumas lágrimas, o que atrapalhou um pouco minha visão. Demorei mais do que o de costume a chegar em casa.
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D° Luiza provavelmente ouviu o barulho da caminhonete e veio me encontrar na porta. Eu já fui logo perguntando por Gabi. Ela disse que a filha tinha acabado de passar na frente da casa e provavelmente estava em casa. Que até tentou ligar, mas não deu certo porque provavelmente ela estava sem bateria, já que ela tinha mandado msg mais cedo avisando que estava quase sem. Eu disse para ela avisar minha mãe que eu estava bem e logo voltava, que só iria procurar Gabi para conversar. D° Luiza abriu um belo sorriso e disse que tudo bem.
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Voltei para a caminhonete e fui para o sítio. A estrada estava bem empoeirada e dava para ver a última marca dos pneus da moto. Quando cheguei na porta do sítio eu percebi que ela não tinha entrado ali. As marcas de pneus seguiam pela estrada. Eu tinha certeza que era a moto dela porque as marcas de pneus eram bem largas. Eu sabia onde ela estava. Abri um pequeno sorriso e segui em frente. Estacionei a caminhonete e desci o barranco. Ela provavelmente já imaginava que era eu, pois quando a vi ela estava em pé parada me olhando com uma cara de dúvida.
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Eu fui me aproximando calmamente para ela não pensar nada de errado já que eu tinha gritado com ela a pouco tempo. Tentei abrir um pequeno sorriso que foi retribuído. Eu cheguei bem perto e não disse nada. Eu a abracei e senti os seus braços passando em torno do meu corpo. Eu só consegui dizer obrigado antes do meu choro tomar conta de mim. Eu queria agradecer ela direito, queria me desculpar também, mas não conseguia dizer nada. Logo ouvi seu choro também. Não sei por quanto tempo ficamos ali abraçadas, mas foi pouco se comparar com a saudade que eu estava daquele abraço.
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Continua..
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Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper