Lendo alguns comentários lembrei do grande Nelson Rodrigues, autor que com brilhantismo escancarou a hipocrisia com que brasileiros e brasileiras tratam suas sexualidade. Ele tem uma máxima que considero perfeita: "Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar".
Dito isso, discordo de críticas que não entram na complexidade dos personagens, onde os comentaristas simplesmente marcam sua posição contra o estilo de vida dos personagens, eu até entendo, para algumas pessoas é perturbador perceber que a felicidade pode vir de um estilo de vida que não compreendem.
Claro que felicidade, principalmente a conjugal, não é um moto perpétuo, ninguém é feliz 100% do tempo em qualquer estilo de relacionamento e restringir os problemas que Mark e Nanda viveram ao seu estilo de relacionamento é limitar muito a análise.
O casal se ama, começaram como monogâmicos e, apesar do amor, em um determinado momento da vida perceberam que a "paixão sexual" já não era a mesma. Foi a partir desse momento que Mark começou a pensar em novas possibilidades e, com muita conversa e cumplicidade, Nanda foi aceitando as "loucuras" do marido e gostando. Descobriu um lado da sua personalidade oculto até então.
Apesar dos problemas vividos o casal se tornou cada vez mais cúmplices, apaixonados e viram sua vida sexual tornar-se cada vez mais quente, mesmo quando não tinham a participação de terceiros.
Foi fácil? Obviamente que não. O casal viveu momentos bons e momentos ruins, mas não é assim com qualquer casal, independente do estilo de relacionamento?
A quantidade de comentários atribuindo a culpa de todo e qualquer problema do casal a Nanda é impressionante. Tudo bem, ela é impulsiva e muitas vezes mete os pés pelas mãos, mas tinha como ser diferente?
Mark tem experiência de vida, é racional, centrado e foi ele que propôs, depois de muito pensar, o novo estilo de relacionamento. Já Nanda era virgem até conhecer Mark, imaginava que seria mulher de um homem só por toda sua vida e, de repente, é apresentada a um mundo que não imaginava existir e, diga-se de passagem, se encantou!
Quando a mulher (o mesmo se aplica aos homens), tem uma bagagem de múltiplas experiências sexuais, fica muito mais fácil lidar com a transição do relacionamento monogâmico para o liberal, agora, como no caso da Nanda, onde Mark foi seu único homem até então, as chances de errar são muito grandes. É muito difícil virar a chave do "sexo com amor" para o "sexo pelo sexo".
Os primeiros erros da Nanda, na minha leitura, foram justamente durante esse processo de modificação de mentalidade.
Ela mudou? Sim, no entanto, algumas coisinhas ficam no subconsciente. Ela não se sente completamente confortável com Mark com outra mulher, por exemplo ...
Quanto a última confusão é importante entender o que a encantou no Rick. A meu ver não foi o sexo, que parece que não foi uma maravilha, nem o tamanho da rola, foi o fato dele tocar em algo não resolvido em seu subconsciente: ele disse com todas as letras que se ela fosse dele ele não admitiria compartilha-la com ninguém. Isso acendeu luzes do velho amor romântico que ela acalentou por boa parte da sua vida.
Contraditório? Não. Por mais que goste da vida liberal ela foi criada para ser mulher de um homem só e, venhamos e convenhamos, não e simples mudar algo que foi martelado em nossas cabeças durante toda nossa infância.
Nanda vai se provar confiável quando entender plenamente que o fato dela transar com outros homens não a faz uma mulher infiel e que Mark permitir tais aventuras não faz dele um corno manso, inferior aos homens que não aceitam o estilo de vida liberal.
Conscientemente ela já sabe, o problema é o inconsciente...
Já vi muitos casais liberais acabarem por conta da mulher, mesmo curtindo o estilo liberal, perder o interesse pelo marido e se apaixonar por um homem que exigia fidelidade. No fundo, mesmo gostando da diversidade, elas não se sentiam amadas por seus maridos que aceitavam vê-las com outros.
A mente humana não é simples!!
Prezado amigo!
Primeiramente, agradeço por nos lembrar Nelson Rodrigues, o maior dramaturgo desse país!
Concordo muito com suas palavras, mas me pego em alguns ponderamentos:
* Em qualquer relacionamento Liberal ou monogâmico a questão da transparência, respeito, cumplicidade e confiança sofre muito com a mentira e a omissão (culposa ou dolosa);
* O Rick me parece ser um playboy, FDP, que vê a Nanda como um troféu;
* Em uma segunda lua de mel levar o maior desafeto do seu parceiro para participar?
* A cada novo confronto o Rick sai mais fortalecido, (ele demonstrou através de uma terapia, falsa ou não, que o Mark tem medo do efeito que ele causa na Nanda);
* O Mark liberou (até rápido) a Nanda para o Rick e já está se questionando se o amor dele é suficiente para trazer a Nanda de volta;
* A Nanda está entrando em uma espiral da teoria do caos;
Achei a sua concepção factual em relação a Nanda e por esse motivo, (se não for inconveniente) gostaria saber a sua percepção com relação ao Mark.
Obs: Por motivo pessoal que não vêm ao caso, sempre defendo o Mark, a 1.000% certo ou não.
Desde de já agradeço pela atenção!
Compreendo sua indignação ( e a de muitos leitores), com o comportamento de Rick, realmente ele é um sujeito tóxico, acostumado a ter tudo que quer "bateu o pé" quando Nanda não fez suas vontades. Mas, na minha leitura, ele não é a fonte dos problemas do casal.
Nanda é, segundo a descrição de Mark, uma mulher linda, sex e envolvente. Nada mais natural que ela seja constantemente abordada, com e sem a companhia do marido, em ambientes liberais e baunilhas.
Mark é bem resolvido com isso, confia na sua "onça branca", sabe de todo o amor e cumplicidade que existe no relacionamento.
Rick tinha tudo para ser mais uma experiência, algo a ser contado entre beijos e risadas no conforto do quarto depois que as meninas fossem dormir. Mas não foi assim...
Mark não é o tipo de homem que se incomoda com o poder financeiro ou o tamanho da rola de quem come sua esposa, ele é bem resolvido, não vê os eventuais amantes de Nanda como concorrentes, sabe que não existe concorrência.
O que tirou Mark do seu equilíbrio foi perceber que, pela primeira vez, Nanda pensou na possibilidade de algo além do sexo com um de seus amantes. Pela primeira vez ele se viu em uma disputa por sua esposa.
Obviamente ele ficou inseguro, a situação era nova e com o potencial de destruir o que lhe é mais sagrado, sua família.
Como homem liberal bem resolvido ele nunca viu problema em permitir que sua esposa se divertisse com outros, mas ao perceber que Nanda desenvolveu sentimentos por outro ele com razão se sentiu traído.
Tudo bem, ele a perdoou. As conversas com Dr. Galeano ajudaram, mas será que ele entendeu o que fez Nanda virar a chave e olhar para Rick com outros olhos?
Infelizmente acho que não. Nem Nanda nem Mark foram a fundo nessa questão, muito mais fácil (ou menos doloroso), atribuir a "paixão" ao encanto com a beleza, a posição social ou até pela rola gigantesca do playboy...
Volto ao que escrevi no primeiro comentário: a questão é outra, Rick tocou em um ponto não resolvido, a contradição entre a "nova Nanda", uma mulher liberal, aberta para novas experiências, e a "velha Nanda", uma mulher criada para ser de um homem só. Rick entrou para o imaginário afetivo de Nanda ao declarar que se ela fosse sua esposa ele não aceitaria compartilhar, ela teria de ser exclusiva.
O curioso é que ao Nanda tentar "educar" Rick nas regras do mundo liberal, para ser aceito por Mark, ela destrói o que o tornou especial aos seus olhos.
Quando Rick saiu da mesa com Nanda para transar, com as bençãos de Mark, o encanto quebrou. Ele passou a ser "mais um", talvez por conta disso Nanda "broxou", perdeu o interesse. Amantes ela teve muitos, mas só Rick aventou querer que ela fosse exclusivamente sua. Ao aceitar que só a teria ao se sujeitar a aprovação do marido, seu verdadeiro macho, ele deixou de motivar a "velha Nanda" e a nova sabe que pão de queijo mineiro é melhor que o paulista.
Abraços.
Agradeço muitíssimo pela atenção,consideração e tempo a mim dispensado. Muito obrigado!
Com relação ao nosso "casal 20" concordo que realmente eles não foram a fundo para resolver toda essa situação. Ao meu ver, cada dia eles estão se perdendo e acredito que algo com efeito perturbador desencadeará a QUEBRA do que sempre uniu o casal.
Olha, tem sentido o que vc está dizendo... Porque segundo a Nanda, o cara nem é essa fera toda na cama, acho até meio chato, a convivência nem foi tão longa pra causar esse estrago todo... Se for isso mesmo, aí que o Mark tem que redobrar a atenção com o "Pela Saco" do Rick.😂 Mas pode ser que o Dr Galeano esteja certo... o proibido falando alto. A partir do momento tô que o Mark não travou, ela perdeu o interesse... Duas boas hipóteses. Bora esperar pra ver. Eu ainda acho que a Nanda deveria dar logo pra esse cara é acabar com essa história de que quer transar com ele "apenas para provar para o Mark que é confiável ". No.meu ponto de vista, não é assim que se prova a confiabilidade, mas... assim ela acha... bora esperar pra ver o "carro andar" ou a "merda entornar".😂
Salvo os comentários dos leitores que claramente querem impor a visão monogâmica e/ou ofender os autores, as opiniões giram em torno de manter uma pessoa que não tem respeito, que manipula e ofende por perto, caso do Rick.
A criatura já causou diversos transtornos e dissabores ao casal, porém ele segue sendo uma sombra perturbadora fazendo exatamente as mesmas coisas.
É desrespeitoso, ofende o espaço do casal, causa dores ao casal, no caso do Mark o desrespeito dele como homem e marido, e da Nanda que envolvida comete erros e insiste nestes mesmos erros
Aí fica difícil pensar que são percalços da vida liberal, que os comentários são machistas/monogâmicos e afins
Vc só esqueceu de um ponto himerus, as experiências frustante que a Nanda teve ao entrar nesse meio, com exceção do alemão, todos os demais teve alguma dor de cabeça e fora q nenhum deles ela saiu sozinha, com o Rick teve aquela sedução, aquela conquista e tratamento que ela só teve com o mark até aquele momento,
Franco
Muito bacana esse seu texto explicando a importância do “planejamento biológico” na delimitação da conduta humana de forma geral e, especificamente, na sexualidade. Não sou da área da psicologia ou sociologia, mas concordo com tudo que foi dito, porém acho importante acrescentar um fator. Leio em alguns comentários que a “monogamia” é apenas fruto de aspectos culturais definidos pelo papel das doutrinas religiosas, principalmente no “Novo Testamento”. Com relação ao “apenas” eu discordo. Saliento que acredito em um “Deus”, não me alinho às diretrizes e condutas sociais estabelecidas pelas religiões. Ou seja, não sou religioso, muito menos cristão. Digo isso para compartilhar meu ponto de vista de que é importante ressaltar que a monogamia não é a única forma de organização sexual e reprodutiva encontrada na história humana. A diversidade de práticas sexuais e relacionamentos ao longo do tempo e entre diferentes culturas demonstra que a sexualidade humana é um fenômeno complexo e adaptável. É verdade que a biologia fornece algumas pistas sobre as bases do comportamento humano, incluindo a sexualidade. Estudos em diversas espécies, primatas, lobos, leões e outras sugerem que a monogamia pode oferecer vantagens evolutivas, como:
Criação dos filhotes: Em algumas espécies, a presença de um macho para auxiliar na criação dos filhotes aumenta as chances de sobrevivência da prole.
Proteção do território: A monogamia pode ser uma estratégia para garantir o acesso a recursos e proteger o território do casal.
Mas até nos grupos de animais essa monogamia é flexível, isso significa que, embora tendam a formar pares para criar a prole, esses pares não são necessariamente permanentes para a vida toda. A duração e a exclusividade desses pares podem variar dependendo de fatores como a disponibilidade de recursos, a dinâmica social da alcateia ou grupos de outras espécies e a sobrevivência dos parceiros. Se um parceiro morrer ou for expulso do grupo, o sobrevivente pode formar um novo par. Mesmo nos aspectos religiosos refletidos na delimitação da conduta moral da sociedade ocidental em geral há discussões na comparação entre o Velho e o Novo Testamentos. Em resumo, enquanto o Velho Testamento permitia a poligamia, a monogamia era vista como o ideal divino. O Novo Testamento, por sua vez, reafirma a monogamia como o padrão para o casamento, apresentando Jesus Cristo como o exemplo supremo de fidelidade e amor. É importante ressaltar que a Bíblia, em ambos os testamentos, valoriza a união, o amor e a fidelidade dentro do casamento.
O que quero dizer é que a flexibilidade ou não da conduta sexual da sociedade é muito complexa, sendo inúmeros fatores responsáveis pelo caminho escolhido por determinado indivíduo.
Longa conversa…
Sem imposições, apenas um ponto de vista.
Abraços
Eu não sou cristão, portanto o que me leva à ser "monogâmico" não são as diretrizes estabelecidas pelo velho ou novo testamentos. O pouco que conheço de história da humanidade me faz questionar os verdadeiros motivos por trás de uma adoração divina, ou seja, "poder político", exercendo uma dominação de determinado grupo pessoas sobre os demais, sempre "falando em nome de Deus", se tornando assim inquestionáveis tais "ordens". A minha escolha por uma vida monogâmica se dá por puro e simples receio de estragar o que conquistamos juntos, eu e minha mulher. Não tenho estrutura emocional para viver essa montanha russa da vida liberal. Quando digo isso, faço com admiração. Admiro o mundo "liberal". Admiro quem vive isso e consegue conciliar, como é o caso do casal de autores. Não penso como muitos dos leitores, que comentam apenas para ofender e discordar desse meio. Não vejo sentido em ler contos "liberais" não gostando disso. Eu gosto, não perderia meu tempo lendo alguma coisa que não me dê prazer... enfim, é como penso...
Quanto à comparação da conduta humana com a de outras espécies, o que quis dizer é que algumas vezes o instinto "animal" se manifesta no ser humano. Cabe a cada um de nós dominar esse instinto por meio da inteligência e reflexão racional. Um exemplo disso são crimes cometidos com 30 facadas na vítima... Talvez a vítima tenha morrido na terceira facada, mas o agressor continua esfaqueado instintivamente aquele corpo sem vida... os nossos instintos nos protegem algumas vezes, nos fornecendo uma descarga de adrenalina acima da média que nos faz realizar coisas que normalmente não faríamos... Claro que essa interferência "instintiva" é mínima, mas penso que existe...