Amor renascido das cinzas
Meu pai queria ampliar o pequeno negócio de comércio de ferragens e congêneres responsável pelo sustento da família. No entanto, a cidade do interior na qual residíamos não comportava algo maior do que aquilo e ele resolveu mudar para uma cidade com mais estrutura que distava pouco mais de 150 quilômetros de onde morávamos. Por semanas antes da grande mudança, a agitação tomou conta de todos, havia muito a se providenciar e, no meu caso, também significava abandonar meu colégio e todas amizades que formei. Apesar do sentimento de perda eu estava eufórico e animado pela mudança, pois sempre achei a cidade pacata demais para um adolescente.
Somos quatro, meu pai, minha mãe, minha irmã e eu, o que por si só já restringia meu círculo familiar, uma vez que todos os meus tios e tias, bem como meus primos de ambos os lados moravam a certa distância e os víamos pouco. Mesmo dentro de casa eu me sentia solitário. Minha irmã, seis anos mais velha do que eu, tinha seu universo particular e feminino muito distante do meu, o que restringia nosso contato, frio e escasso, ao mínimo necessário para vivermos sob o mesmo teto. Ela era a menina dos olhos do meu pai, sua princesinha, como ele se referia a ela. Também era a companhia predileta da minha mãe nos múltiplos interesses femininos que as duas compartilhavam. Com essa dinâmica familiar eu me transformei num adolescente introvertido que procurava nas amizades do colégio aquilo que me faltava dentro de casa. Assim como, procurava atender a todas as expectativas que meus pais depositavam sobre mim, sendo um filho exemplar, um aluno dedicado e um garoto que não lhes trazia problemas.
Nos mudamos para uma casa confortável numa rua curta, sem saída, de não mais que uns 250 metros que terminava numa pequena pracinha circular. Já a loja, meu pai instalou num bairro próximo numa avenida de comércio movimentada e num edifício com o dobro do tamanho do anterior.
Na nova cidade, dois colégios tradicionais concentravam os filhos da elite local, um mais conservador dirigido por padres beneditinos foi o escolhido pelos meus pais para me matricular, e outro mais liberal conduzido por empresários do ramo educacional. Como a nossa mudança aconteceu durante o ano letivo, eu virei uma espécie de atração da turma e, por muitas semanas, o principal assunto nas conversas dos corredores. As primeiras a me abordarem foram as garotas, embora tímido e retraído, eu tinha consciência que era um adolescente bonito para os padrões masculinos, mas encarava essa dádiva com certa relutância; pois, se por um lado a beleza aliada a um sorriso abre as portas e facilita as coisas, por outro, atrai a inveja, o escárnio e até os mais vis instintos do ser humano, particularmente dos homens. Digo isso porque senti na pele o que é ser assediado sexualmente tanto por rapazes quanto por homens casados e maduros que tinham idade para serem meus pais, mas que me propuseram obscenidades, devido ao meu corpo esguio e ao rosto imberbe, com as quais nem em sonho eu imaginei. Contudo, passados alguns meses, consegui angariar um pequeno círculo de amigos e amigas e com isso me dei por satisfeito, já que continuava um adolescente reservado.
Decorrido um tempo, também surgiram os primeiros problemas. O primeiro aconteceu no próprio colégio com o garoto mais parrudo e invocado que tinha a fama de encrenqueiro. Logo na primeira semana de aulas, fiz amizade com as duas garotas mais bonitas e cobiçadas do colégio, Valéria e Isabel; a primeira tinha recém rompido um namorico com o valentão Bernardo, o que só vim a descobrir quando ele me cercou certo dia durante a aula de educação física com mais três capangas acusando-me de ter-lhe roubado a namorada e exigindo que me afastasse dela e da amiga que estava sendo cobiçada por um de seus asseclas.
- Cara, não sei do que você está falando! Foram elas que me abordaram querendo minha amizade, nem sabia que vocês tiveram um caso e não estou interessado por nenhuma das duas, além da amizade. – respondi, quando ele me ameaçou no vestiário longe das vistas do professor.
- Por que, não gosta de garotas? Você tem mesmo cara de ser meio veadinho, é bonito demais para ser um macho. – questionou ele, fazendo com que os bobalhões que o acompanhavam caíssem na risada.
- Se você não consegue segurar uma namorada o problema é seu, não meu! Pelo seu comportamento até dá para adivinhar por que ela te largou! – revidei
- Como é que é, veadinho? Está insinuando que não sou homem o suficiente para ser desejado pelas garotas? – o estúpido nem desconfiou que minha afirmação não era uma insinuação, mas uma afirmação. – Eu vou te pegar na saída e quebrar a sua cara! – exclamou, para se afirmar perante os colegas.
- É assim que você quer impressionar as garotas, dando porrada em outros rapazes? Muito corajoso você! Continue assim e em pouco tempo não haverá sequer uma menina interessada num troglodita como você! – afirmei, numa ousadia que podia me custar um murro na cara.
- Eu vou dar uma porrada nesse moleque! A bichinha está tirando uma comigo! – disse aos amigos, que disfarçavam o riso para não se tornarem alvo de sua ira.
- Vamos, vá em frente! Use essa montanha de músculos para se certificar que é homem. Fora esses três idiotas, aposto que o restante da turma só vai confirmar que não vale à pena ter qualquer tipo de relacionamento com um sujeito feito você, e isso inclui as garotas. – eu não sei porque estava revidando as agressões desse babaca, e também devia ter perdido a noção do perigo. – É lá fora, na saída que você quer me pegar, não vou fugir mesmo sabendo que vou levar uma puta surra. Até depois! – acrescentei, empurrando-o para abrir caminho e passar por eles. Ele ficou estarrecido, os amigos incrédulos, ninguém antes havia ousado desafiá-lo daquela maneira. Eu estava quase certo de que chegaria em casa com a cara arrebentada.
Por um milagre, ou sabe-se lá que outra razão, voltei para casa são e salvo e, a partir dali, o Bernardo só me observava à distância com uma visível ponta de inveja do sucesso que eu fazia entre a turma. Nunca nos tornamos amigos, mas não me recusava a lhe emprestar os cadernos das matérias que eram disputados quase à tapa às vésperas das provas, pois eu anotava cada suspiro das explicações dos professores. Ele tinha certeza que eu era gay, mais um motivo para manter distância e não correr o risco de ver sua masculinidade ser questionada se mantivesse uma amizade comigo.
O segundo problema com o qual tive que lidar foi mais sério e amedrontador. Para chegar em casa eu precisava percorrer três longos quarteirões de uma rua da qual a minha era perpendicular e, me via obrigado a passar diante das casas de uns caras que estudavam no colégio liberal. Ocorre que havia uma rija entre os dois colégios que vinha se desenrolando há anos e, por um motivo que ninguém mais se lembrava, iniciada por gerações bem anteriores a nossa. Eles eram três, me identificaram por causa do uniforme, o que bastou para me declararem um inimigo a ser derrotado. Não bastasse serem em maior número, eram sujeitos do tipo do Bernardo, grandes, corpulentos, dispostos a arrumar encrenca com o mundo, se fosse preciso. Só havia algo que os distinguia dele, eram tesões de machos que eu, naquela época, ciente de que era gay, não conseguia deixar despercebidos. Sempre me perguntei por que os héteros mais másculos, bonitos e interessantes tinham tanto receio de conviver com um gay a ponto de só pensarem em tripudiar sobre ele ou agredi-lo.
Nas primeiras semanas não invocaram comigo, me encarando pouco amistosos, ficaram a me observar com a mesma atenção que um lobo dispensa a uma presa. Confesso que sentia arrepios toda vez que passava por eles que, ao que parecia, não tinham outra ocupação que não ficar jogando conversa fora diante dos portões e ficar disputando cestas num terreno baldio onde haviam instalado uma quadra de basquete improvisada onde os garotos das redondezas vinham se distrair. Eu precisava passar por ali ao menos três vezes ao dia; no retorno das aulas, uma vez que pela manhã meu pai me dava carona a caminho da loja e, duas vezes à tarde quando ia para as aulas de piano com um professor do bairro três vezes por semana, e no serviço de voluntariado num asilo que fazia nas outras duas tardes lendo livros para os idosos que já não conseguiam ler por si próprios.
- É bichinha, aposto cem paus! Homem não tem um corpão desses e muito menos uma bunda desse tamanho. – disse um deles. Foi a primeira observação que fizeram entre si antes de começarem o assédio propriamente dito.
- Não vale! É ganhar cem paus sem nenhum esforço! Só pelo uniforme dá para saber que é veado. Só dá veado naquele colégio. Lembra do Julinho, o loiro que cobrimos de porrada e se mijou todo? De onde ele saiu? Daquele colégio de veados! – sentenciou outro.
- Só tem um jeito de descobrir, vamos levar um papo com a bichinha e ver se ela é chegada numa rola. – sugeriu outro. Ao ouvir isso, estremeci.
Propositalmente eu já me mudava para a calçada oposta à das casas deles no quarteirão anterior numa tentativa de escapar ileso de seus achaques. Naquele final de tarde, voltando da aula de piano, isso não serviu de nada. O pouco movimento naquele trecho da rua facilitava o ataque às vítimas e, havia chegado a minha vez. Vi-os cruzando a rua quando me avistaram, respirei fundo apesar da vontade de dar meia volta e sair correndo, procurei dar os passos mais firmes que conseguia para não me mostrar acovardado. Porém, ao chegar perto deles fui cercado e forçado a encostar no muro de uma casa.
- Sabe que é terminantemente proibido para veadinhos do seu colégio passarem por essa rua, não sabe? O que te faz pensar que vai ficar desfilando na nossa cara sem levar umas porradas? – perguntou-me um que, não fosse o ar ameaçador, podia ser um dos caras mais sexy que já havia visto.
- A rua é pública, eu moro ali adiante e esse é o meu caminho! – respondi, sem conseguir disfarçar o tremor com o qual segurava a pasta de partituras.
- Está com medo, bichinha? – questionou outro.
- Não! Por que haveria de estar com medo, vão me comer, são lobos por acaso?
- Você ficou repentinamente pálido e está tremendo, se isso não é medo, o que é? – perguntou o primeiro. – Quanto a te comer, até que é uma boa ideia, você é bem gostosinho com essa bunda de tanajura. – emendou sarcástico, fazendo os outros dois caçoarem.
- Deixa eu ver o que você está levando aí! – exclamou o terceiro, arrancando a pasta das minhas mãos e verificando seu conteúdo.
- Me devolve! São partituras e meu caderno de solfejo. – esclareci, o que os fez rir.
- O boiola estuda piano, tem coisa mais de veado que isso? – indagou o segundo.
- Me devolve, cara!
- O que vai fazer seu eu não devolver, chorar?
- Não quero encrenca! Me deixem ir embora e fica tudo bem, vocês na de vocês e eu na minha. – sugeri
- Você já arrumou encrenca só de passar por aqui! Mas, podemos resolver isso se você pagar um pedágio! – sugeriu o primeiro.
- Não vou pagar para caminhar num espaço público, isso é ridículo e ilegal. Também não tenho grana comigo e, mesmo que tivesse, não ia lhes dar um centavo sequer. – retruquei, já sem paciência.
- Ui, ui, ui, o veadinho ficou nervoso! – debochou um.
- Já pegou nisso aqui? – perguntou outro, agarrando o próprio cacete que, por sinal devia ser bem avantajado como meu olhar atento já havia notado.
- Não tenho interesse nessas mixarias!
- Uau! Vocês ouviram, o veadinho só gosta de pica grande! – exclamou sarcástico. – É o seguinte, para bichinhas do colégio de padres, como você, passarem por aqui tem que pagar pedágio. Precisa mamar nossas rolas até sair leitinho e engolir tudo, sem frescura. – afirmou. Foi minha vez de cair na gargalhada, apesar da imprudência, não consegui segurá-la.
- Está tirando o sarro na nossa cara, seu puto?
- Sabe quando? Jamais, cara! E para mim já deu! Me devolve a pasta! – eu estava disposto a tudo, até me atrever dar um soco na cara do sujeito que segurava minha pasta. Mas, antes de terminar de cerrar o punho, levei uma bofetada, vinda nem sei de onde, que fez meu ouvido zunir.
Na mesma hora comecei a gritar por socorro e, felizmente, uma mulher na casa defronte apareceu na janela e berrou perguntando que baderna estávamos fazendo na porta da casa dela. Isso os distraiu o suficiente para eu arrancar a pasta das mãos do sujeito e sair em disparada.
- Você vai voltar veado do caralho! Amanhã a gente te pega! – ouvi berrarem atrás de mim.
O que fazer? Se voltasse a me encontrar com eles ia levar uma baita surra, mas não havia outro caminho que eu pudesse percorrer para chegar em casa. Nunca fui de chegar em casa e choramingar pelo que tinha acontecido comigo na escola, era um princípio que eu pretendia manter a qualquer custo. No entanto, nunca precisei enfrentar algo semelhante e, tenho que admitir, dessa vez estava apavorado. Cheguei a comentar com dois colegas no dia seguinte sobre o ocorrido e pedi ajuda para me darem uma sugestão do que fazer. Ambos disseram para eu contar para o meu pai ou até dar queixa numa delegacia. Nenhuma das sugestões se enquadrava na minha maneira de resolver os problemas. Talvez vocês me acusem de covarde, não lhes tiro a razão, pois estava acovardado quando fingi não estar me sentindo bem para ir ao colégio na manhã seguinte. Preocupada, minha mãe aventou a possibilidade de me levar ao médico, uma vez que febre eu não tinha e na visão dela toda doença de criança sem a febre era sinal de algo mais grave.
- Não sou mais nenhum bebê, mãe! Pelo amor de Deus, não comece a enfiar caraminholas na cabeça, devo ter comido alguma coisa que me deixou indisposto. – precisei argumentar para ela desistir de me levar a um médico.
Bem, por um dia o problema estava resolvido, mas e depois? Pus a mente a funcionar à mil para ver se encontrava uma solução, e nada. Talvez mais um dia em casa, ainda “doente” para a solução aparecer num passe de mágica. Era pouco provável, como ao final acabou se comprovando. Contudo, consegui adiar o enfrentamento por dois dias, e já cogitava pagar o tal pedágio, uma vez que nenhum dos três era de se jogar fora, muito pelo contrário, eram uns tesões de macho. O problema é que eu era virgem, gay com certeza, mas virgem. Por mais tentado que estivesse a sentir como era chupar uma rola, a coisa ainda me assustava.
Chovia naquela tarde, não muito, era uma daquelas chuvas fracas que perduravam por horas; tinha começado como uma garoa que foi se intensificando durante a minha aula de piano. Fazia mais de duas semanas que eu estava ensaiando o Noturno nº 19 em E menor Op. 72 de Chopin e continuava errando sempre nos mesmos trechos, o que já tinha esgotado a paciência do professor. Naquela tarde, além desses trechos, errei outros que já havia tocado com desenvoltura e ele me encarava de cara feia me acusando de não estar concentrado. Ele estava certo, a todo momento eu me distraía com a chuva engrossando lá fora e, imaginando que ela era a resposta dos céus aos meus apelos. Quanto mais intensa, menor a chance daqueles caras estarem à minha espera. Portanto, não seria hoje que eu precisaria encarar aquelas picas.
Finda a aula, com uma bronca do professor e me ameaçando de ter uma conversa com meus pais sobre a minha falta de empenho nos estudos, tomei o rumo de casa a passos largos. Quando me aproximei das casas deles não havia ninguém na calçada, chovia mais fraco e comecei a respirar mais aliviado, eles não iam me aporrinhar. Essa certeza durou pouco. Assim que passei pela frente da casa do mais aguerrido deles, vi-os reunidos num canto da varanda da casa, estavam à minha espera. Como pude ser tão ingênuo e pensar que uma chuvinha os faria desistir de seu propósito? Só havia uma coisa a fazer, correr, correr o mais rápido que podia antes de eles me alcançarem. Também isso durou pouco, os três dispararam atrás de mim assim que me viram.
- Não adianta fugir, veadinho! É melhor você se render, ou a coisa pode piorar para o seu lado! – ameaçou um.
Continuei correndo e enfiando os pés nas poças d’água sem olhar para trás. No desespero para salvar a integridade física e moral, minha pasta de partituras se abriu fazendo com que algumas, juntamente com o caderno de solfejo, fossem ficando pelo caminho. Na esquina do quarteirão seguinte fui detido com um puxão na camiseta que quase a rasgou. Esbaforido e sem folego, fui cercado e minha tentativa de me livrar de suas mãos resultou infrutífera. Lá estava eu novamente, achacado sob os olhares de escárnio dos três.
- Achou que ia escapar, veadinho, sumindo por dois dias? Qual foi o nosso trato? Só passa por aqui se pagar o pedágio! E vai ser agora! – impuseram, excitados com a possibilidade de terem suas rolas chupadas.
- Eu estava doente, ainda estou! Outro dia e faço, hoje não! – respondi
- Bancando o espertinho! Isso não vai funcionar, é hoje e está acabado! – me prendendo pelos braços, fui levado à força até o fim do quarteirão onde um grande terreno abrigava dois galpões abandonados de uma antiga empresa que se mudara, deixando a área, que a molecada usava para fumar um baseado ou levar alguma putinha das redondezas para uma foda rápida.
- Eu faço qualquer outra coisa, mas isso não! Vamos negociar, eu dou toda a minha mesada! – propus.
- Não queremos a sua grana, queremos o seu cuzinho de boiola!
- Está bem, então! Eu chupo, mas só a rola de um, não dos três! – eu tentava inutilmente ganhar tempo. Olhava para as casas à procura de alguém que me pudesse tirar daquele sufoco.
Foi preciso escalar o alambrado de um portão fechado por corrente e cadeado para acessar os galpões. Eu tremia tanto que quase despenquei quando estava no topo, não fosse um deles me segurar, mesmo assim, um rasgo enorme se abriu na lateral da minha bermuda. Não fossem algumas telhas do galpão estarem avariadas deixando entrar um pouco de luz, a escuridão seria total. As palavras ecoavam no grande vazio onde algumas máquinas velhas e enferrujadas pareciam monstros de outro planeta. Havia dezenas de caixotes de madeira espalhados e empilhados junto às paredes. Foi para lá que me levaram, sob um facho de luz e gotas de chuva que passavam pelo telhado.
- Por favor, não façam isso comigo! Vamos ser amigos, já que somos praticamente vizinhos. – propus, com a voz gaguejando. – Meu nome é Rodrigo, e o de vocês?
- É o seguinte, Rodrigo veadinho, ninguém aqui está a fim de amizade com nenhuma das bichinhas do seu colégio, temos uma reputação a zelar. E, aqui está o que você vai mamar, uma caceta cheia de tesão com muito leitinho para você se degustar. – disse o mais atrevido que, infelizmente, também era o mais tesudo deles, ao tirar a jeba enorme pela braguilha e sacudi-la acintosamente na minha frente. Os outros dois imediatamente o imitaram e me vi frente a frente com três caralhões excitados.
Fui forçado a me ajoelhar diante da jeba dele, linda por sinal e, antes que eu voltasse a falar qualquer coisa, ele a pincelou na minha cara e seu cheiro másculo adentrou minhas narinas. Podia não ser tão ruim assim, pensei comigo mesmo. Não era assim que havia imaginado perder a virgindade, mas diante dos fatos, talvez fosse melhor tirar o máximo de proveito da situação. Eles ficaram doidos com a cena, o pouco juízo que lhes restava, se é que tinham algum, desapareceu ante o instinto animalesco de saciarem seus tesões. Ele passou a concentrar as pinceladas ao redor da minha boca quando a rola começou a soltar o pré-gozo aromático.
- Põe na boca, Rodrigo veadinho! – ordenou. – Põe na boca e chupa, mas cuidado com os dentes, isso aqui é muito sensível! – exclamou tão excitado que mal conseguia articular as palavras por entre o arfar. – Se me machucar, vou te dar uma porrada, entendeu?
A glande era tão grande que quase não cabia na minha boca, tive que forçar para a envolver com os lábios. Um sonoro gemido ecoou pelo galpão quando ele sentiu o calor da minha boca encapando seu falo.
- Tesão da porra! Puta sensação maravilhosa! O veadinho está chupando minha rola! – ou eu estava enganado, ou era a primeira vez que ele sentia essa sensação, embora quisesse fazer parecer perante os amigos que já tinha sentido a verga ser mamada.
- Cacete, o veadinho está mamando mesmo! Meu caralho está quase estourando só de ver isso! – exclamou estupefato outro.
Ele tentava enfiar a pica na minha garganta, mas minha inexperiência me fazia sentir engulhos. Ele se zangou e voltou a ordenar que o chupasse sem frescuras, me agarrando pelos cabelos e fixando minha cabeça em sua virilha com ambas as mãos. Com o rosto afundado nos pentelhos dele, eu fazia o melhor que podia, lambia, chupava e sugava aquela carne vibrante e quente. Pareceu que eu tinha acertado depois de um tempo, pois ele parou de reclamar e, eu já conseguia sugar sem que o reflexo de náusea me obrigasse a tirar o cacete da boca. Ele grunhia de satisfação a cada sugada que acentuava o sabor ligeiramente salgado que se espalhava deliciosamente pela minha boca.
- Porra do caralho, eu vou gozar na boca desse moleque! – exclamou, tentando postergar o gozo iminente que o ensandecia.
Enquanto isso, os outros dois se masturbavam sacolejando aqueles cacetões bem diante do meu rosto. Sem aviso, virei para o lado e abocanhei a rola de um deles, a reação foi a mesma, um grunhido forte e sonoro e o tesão se espalhando por todo corpo dele.
- Cacete! O veadinho sabe como mamar uma rola, puta delícia! – exclamou quando comecei a sugá-lo.
Não era tão difícil nem tão asqueroso como eu havia imaginado, na verdade, ver aqueles marmanjões cheios de tesão arfando e gemendo de prazer com as minhas lambidas e chupadas em suas rolas estava sendo bastante prazeroso. Isso, sem mencionar como era saboroso aquele visgo translúcido que minava das chapeletas estufadas. O clima dentro do galpão era de luxúria e sexo, estávamos todos excitados e, de repente, comecei a ter o corpo todo bolinado lascivamente por aqueles pares de mãos sedentas. Tive as roupas arrancadas e com a nudez totalmente exposta, os olhares deles brilhavam numa cobiça sem controle. Mãos fortes com dedos grossos deslizavam pelo meu corpo me fazendo sentir um prazer único e inusitado, especialmente quando elas se concentravam sobre as minhas nádegas que eram não só apalpadas com frenesi, como também amassadas com volúpia. Soltei meu primeiro gemido e isso os deixou ainda mais excitados, meu corpo nu à mercê da tara desenfreada deles os fez perder os limites da razão. O mais atrevido voltou a me agarrar, dessa vez me carregando e me deitando sobre um dos caixotes. Ele abriu minhas pernas e as colocou sobre os ombros expondo meu cuzinho rosado que foi avidamente examinado e palpado por todos eles. Eu gemia num misto de pavor e prazer.
- Tesão de rabo que esse moleque tem, todo rosadinho e pregueado! Puta merda, nunca senti tanto tesão! – exclamou o atrevido, deslizando o polegar pelo meu rego e chuchando com ele o buraquinho do meu cu. Pensei que ia desfalecer e soltei um ganido longo e agudo.
- O que você vai fazer? Me soltem, eu já chupei os três, o combinado foi isso! – argumentei, pois a maneira como ele olhava para o meu cuzinho estava me dando arrepios.
- Ninguém gozou ainda, queremos gozar e vamos gozar em você! – sentenciou outro que acabara de enfiar novamente sua pica na minha garganta.
Distraído em chupar as duas rolas que estavam na minha boca, eu não percebi o atrevido posicionando a cabeçorra sobre a minha rosquinha anal. Só quando senti o toque e uma leve forçada, é que me dei conta de que estava prestes a ser enrabado. Não deu tempo de protestar, a forçada seguinte distendeu minhas pregas, rasgou meu esfíncter e fez aquele caralhão deslizar para dentro de mim. Soltei um grito mesmo com as duas rolas dos outros dois entaladas entre os lábios. Eles todos foram ao delírio, tinham ido bem mais longe do que supuseram, e o atrevido estava sendo contemplado com um prazer com o qual nunca sonhou, meu cuzinho quente e úmido travando ao redor de seu pauzão grosso como se o quisesse engolir. Um dos que eu chupava não conseguiu mais segurar o gozo e esporrou na minha boca e rosto, soltando um grunhido rouco e prazeroso. O atrevido deu mais uma estocada, enfiando o pauzão mais fundo nas minhas carnes que se abriam receptivas.
- Ai, ai, ai, está doendo! – gemi, encarando-o enquanto ele enfiava lenta e cuidadosamente o cacetão no fundo do meu cu, dilacerando minha carne virgem.
- Vou gozar, vou gozar! - anunciou outro que continuava pincelando a jeba na minha boca e logo me vi engolindo mais aquela porção de jatos de porra esbranquiçada de sabor alcalino que também se espalhavam pelo meu rosto e corpo.
O atrevido não parava de bombar meu cuzinho, cada vez mais alucinado pelo prazer e pelos meus gemidinhos sensuais. Aqueles sons ecoando pelo galpão atraíram a atenção de um senhor que tinha sido recém posto ali para morar nos fundos do terreno com o propósito de manter distantes quaisquer intrusos. Ele entrou no galpão por uma porta lateral que rangeu alto quando foi bruscamente aberta no momento exato em que o atrevido urrava e se despejava no meu cuzinho arregaçado encharcando-o com sua porra cremosa. Soltei um grito quando vi o homem segurando um porrete numa das mãos e avançando sobre nós.
- O que estão fazendo aqui, seu bando de vagabundos? Fora daqui seus filhos da puta! Isso aqui é uma propriedade particular, não um puteiro para vocês virem fazer suas sacanagens! – berrou o senhor enfurecido e bradando o porrete ameaçador no ar.
Os três se viraram na direção dele e correram em direção ao portão de saída. O atrevido sacou tão bruscamente o cacetão duro do meu cuzinho que precisei gritar de dor. Juntei as pernas sentindo a umidade pegajosa entre elas, saltei do caixote e comecei a catar as minhas roupas espalhadas pelo chão, o que me retardou permitindo que o senhor me alcançasse quando os três já saltavam sobre o portão em fuga. Tentei correr, mas ele desceu o porrete na minha bunda nua e nas pernas. Comecei a implorar por clemência, pois o cu com as pregas arregaçadas não me dava chance de fugir.
- Não tem vergonha nessa cara, não, seu moleque veado? Três de uma vez, sua putinha safada! Vai dar o cu num puteiro ou noutro lugar qualquer, aqui não, desavergonhado! – berrava o homem.
- Não é culpa minha, foram eles que me arrastaram para cá. Me deixe sair, por favor, me deixe sair! – implorei, cobrindo as pressas minha nudez.
- Não quero saber de quem é culpa! Não quero mais ver nenhum de vocês aqui dentro! Suma daqui vagabundo, pelo mesmo lugar por onde entrou. – ordenou, descendo mais uma porretada nas minhas nádegas, enquanto eu corria em direção ao portão e, a muito custo, tentava escalá-lo.
Por puro sarcasmo, quando eu estava quase no topo pronto a me deixar cair do lado de fora, ele enfiou o porrete no meio das minhas pernas e começou a cutucar meu cuzinho lanhado, enquanto eu gritava desesperado.
- Não é de pau no cu que você gosta, moleque veado? Se te pegar aqui dentro mais uma vez eu mesmo enfio minha rola nesse rabo até você largar de ser veado! – sentenciou, quando me pus a correr na direção de casa.
Escondidos na esquina que dava acesso à rua da minha casa, os três me aguardavam. Cheguei mancando com as porretadas que levei nas pernas, meu corpo parecia estar pesando uma tonelada, eu estava zonzo.
- É essa toda a coragem de vocês? Me largar para trás para que ele me pegasse e vocês pudessem sair ilesos, que bando de machos valentes! – exclamei quando me perguntaram o que havia acontecido. – Claro que ele me pegou, me acertou com aquele porrete enquanto vocês fugiam sem olhar para trás!
- Você podia ter corrido! – exclamou um deles.
- Fácil falar quando não se está completamente nu procurando pelas roupas espalhadas pelo chão, nem com o cu todo machucado. – revidei furioso. – Nunca passei por tanta humilhação, ele surrou minha bunda nua e enfiou o porrete no meio das minhas pernas. – quando ouvi minhas próprias palavras desatei a chorar.
- Não, não vai dar uma de veadinho melindrado agora e chorar feito um bebê! – exclamou o que tinha me esporrado na boca por último.
- Não é você quem está na minha pele, não é? Não é você quem está passando por toda essa humilhação.
- Calma, não chore! Foi nossa culpa, não sabíamos que tinham colocado um segurança lá. Ele bateu muito em você? – perguntou o atrevido que me enrabou, vindo me abraçar. Ao olhar para ele, percebi que meu choro o comoveu e perturbou.
- Vamos dar uma lição naquele sujeito! Alguma temos que aprontar com ele! – disse outro.
- Pouco me importa! Só eu me ferrei, estão contentes agora?
- Juro que não queríamos isso! A gente só queria zoar um pouco com você! – afirmou o atrevido, sem conseguir encarar as lágrimas de desciam do meu rosto.
- Pois souberam fazer tudo muito direitinho!
- A gente está arrependido, de verdade! – disse outro. – Meu nome é Marcos, o dele Nando e o sortudo aí que conseguiu meter em você é o Roberto. Você tinha sugerido que ficássemos amigos, é isso que te propomos. Não vamos mais implicar com você, mesmo sendo um veadinho daquele colégio de boiolas. – afirmou.
- E pare de me chamar de veadinho! Eu tenho um nome e vocês sabem muito bem qual é! – exclamei impositivo. – Não sou veado! – acrescentei sem pensar.
- É meio difícil de acreditar que um cara que há quinze minutos atrás estava com duas picas na boca e outra no cu não seja veado! – sentenciou o que havia gozado na minha boca de primeiro.
- Vocês entenderam o que eu quis dizer, não se façam de mais tontos do que já são! – revidei. – E tem mais, podem tirar o cavalinho da chuva se acham que isso vai se repetir algum dia. Nunca mais, entenderam! Nunca! – exclamei determinado.
- Isso é injusto! Por que só o Roberto pode meter no seu cuzinho? Também queremos a nossa chance! – ousou o salafrário.
- Nunca mais! Vão satisfazer suas taras com quem quiserem, comigo é que não! Qualquer gracinha semelhante e eu denuncio vocês e boto para ferrar, sem dó nem piedade, como fizeram comigo. – afirmei resoluto
- Duro vai ser provar! – exclamou um.
- Ah, você acha? Que tal eu ir para casa agora, falar com meu pai e ir a uma delegacia denunciando o que fizeram. Um simples exame vai detectar o esperma dos três em todo meu corpo, vocês serão acusados de estupro e esses vergões que o porrete do segurança deixou em mim vai complicar ainda mais a situação de vocês, é isso que querem? – eu estava procurando garantir que eles nem sonhassem mais em bolinar comigo.
- Não precisa ser tão radical, já pedimos desculpas e vamos aprontar uma com o segurança, para te vingar! – asseverou o Roberto.
Faltei às aulas por mais três dias, dessa vez sem fingimento. Eu tinha a sensação de ter sido atropelado por um caminhão, os vergões do porrete se transformaram em hematomas roxos e inchados e os músculos abaixo deles doíam ao menor movimento. O cuzinho também doía, mas essa sensação vinha acompanhada de muito prazer quando me recordava da maneira como o Roberto me encarou quando foi me penetrando. A virgindade se foi, e exacerbou a vontade de sentir novamente uma rola socada no ânus.
Uma amiga do colégio estava comigo ao celular quando minha mãe entrou no meu quarto para avisar que estava saindo para o cabelereiro e supermercado e mais, que uns colegas da escola esperavam por mim na sala. Crendo que se tratava dos meus dois amigos mais chegados da classe, desci sem me preocupar em trocar o moletom que estava usando. Eram eles, os três, estavam com aquela cara de cachorro arrependido, mas que, no mesmo instante em que me viram enfiado no moletom justo que ressaltava minhas coxas grossas e minha bunda, adquiriu uma expressão de cobiça, em especial a do Roberto que havia sentido no cacete como todo aquele volume de carne podia ser prazeroso.
- O que querem aqui? – perguntei surpreso.
- Queríamos saber como você está! – a resposta ecoou unânime.
- Como acham que posso estar? Precisei faltar às aulas e demais atividades e ficar em casa escondendo dos meus pais as marcas que aquele segurança deixou no meu corpo. Isso sem mencionar que na confusão perdi minha pasta de partituras o que vai me fazer levar uma bronca do professor que já não vai com a minha cara. Se meus pais souberem que invadi aqueles galpões com um bando de arruaceiros, e pior, o que vocês fizeram comigo, vou receber um baita de um castigo. – respondi.
- Não te arrastamos à força para lá, você tinha concordado em pagar o pedágio. Só demos azar daquele filho da puta estar de tocaia. – retrucou o Nando, procurando minimizar a culpa deles.
- Você só pode estar de brincadeira! Eu concordei? Como pode ser tão sínico? Eu fui coagido, pressionado, compelido ou, seja lá que adjetivo queiram usar para entrar naquele lugar e precisar encarar esses troços enormes que vocês têm no meio das pernas. Foi isso que aconteceu, eu jamais teria feito isso por vontade própria! – revidei
- Tá, a gente pode ter forçado um pouco a barra, mas você estava disposto a dar o cuzinho para os três, não fosse aquele miserável estragar o nosso barato! – disse o Marcos
- Calma pessoal, não viemos aqui para brigar, sério Rodrigo, só queríamos saber se você está bem. Como estão os machucados, ainda doem muito? – indagou o Roberto, particularmente interessado em saber da situação do machucado que ele provocou no meu cuzinho virgem, embora lhe faltasse coragem para perguntar diretamente.
- Também ainda dói um pouco! – respondi corando.
- Sinto muito, juro! Não tive a intenção! – retrucou sincero, deixando o Marcos e Nando momentaneamente confusos com aquela conversa enigmática.
Eles passaram a tarde toda me fazendo companhia, não eram caras do mal como eu havia imaginado quando me assediavam, eram até legais e divertidos. Eram sim, do tipo que gosta de provocar, de subjugar, de implicar com tudo aquilo que foge dos padrões de marmanjos heterossexuais que se acham os reis do mundo, e nisso, estavam incluídos logicamente os gays. Contudo, algo em mim estava colocando em xeque todas aquelas convicções machistas que os norteavam. Não que isso fizesse deles algum tipo de santo, o interesse pelos meus atributos físicos e o prazer sexual sem consequências continuava sendo um objetivo a ser conquistado, a prova estava naqueles olhares libidinosos que me lançaram assim que me viram descer as escadas ao encontro deles.
Eu me impus com o propósito inquestionável não ceder a mais nenhuma de suas exigências ou imposições de cunho sexual, por mais atraentes e sedutores que aqueles três sacripantas fossem. Eu me achava novo demais para começar uma vida sexual enquanto gay, até porque toda essa questão ainda não estava bem resolvida dentro da minha cabeça e eu não tinha confessado a ninguém a minha sexualidade. Portanto, não era hora de ficar me deixando enrabar por um bando de marmanjões cheios de testosterona que só estavam a fim de se divertir com fodas inconsequentes. Afora isso, acabamos de certa forma nos tornando amigos. As implicações pararam, eu já podia passar diante da casa deles sem ser achacado e nossos encontros foram se tornando cada vez mais amistosos, a ponto de frequentarmos a casa uns dos outros. Eles ainda guardavam segredo entre os colegas do colégio deles dessa amizade inusitada, pois a velha rixa entre os dois colégios continuava sendo uma questão de honra.
Quando ficávamos a sós na casa de um de nós para assistir algum filme, jogar videogame ou simplesmente bater papo eles costumavam pôr as manguinhas de fora. Ora um se atirava sobre mim e ficava me agarrando enquanto propunha sacanagens, ora era uma mão boba que entrava debaixo das minhas roupas e ficava bolinando com meus mamilos ou nádegas polpudas, ora era um com os hormônios à flor da pele me encoxando por trás e se esfregando em mim com a ereção a estourar dentro da calça, o que eu não impedia e até empinava discretamente a bunda fazendo com que o tarado se esporrasse todo; isso quando não era simplesmente agarrado e contido enquanto alguns chupões ou um beijo na boca eram levianamente roubado para satisfazer o tesão que parecia nunca arrefecer em nenhum deles. Eu protestava e me fazia de indignado ameaçando cortar relações, mas, no fundo, o assédio daqueles machinhos parrudos e sedentos me deixava nas nuvens. Sim, eu era gay, num momento qualquer eu precisaria admitir que me sentia realizado e feliz com a abordagem de outro homem. Porém, havia bastante tempo pela frente para que eu me dispusesse a viver essa realidade e, certamente, não seria com nenhum daqueles três salafrários tarados.
- Olha o que você fez, seu putinho! – costumavam exclamar com a cueca toda melada de porra.
- Você goza na cueca e a culpa é minha? Faça-me um favor, isso já e demais, seu tarado! – revidava eu, intimamente contente por ter conseguido tal façanha.
- Óbvio que é, de quem mais seria? Esse rabão deixa a gente maluco! Sua obrigação é deixar a gente colocar o pau no seu cuzinho, afinal você é o gay! Sabia que atiçar um homem e não o satisfazer pode fazer a cabeça dele pirar? Homens precisam de sexo, precisam gozar para estarem saudáveis.
- Pirados vocês já são, não preciso fazer nada quanto a isso! Ademais, foram vocês que começaram a abusar de mim naquele galpão. – argumentava eu.
- Outra vez essa história! Está fazendo quase três anos que aquilo rolou e você nunca nos perdoa. – retrucavam.
Eu já os havia perdoado há muito, nunca fui de guardar rancores, e eles faziam de tudo para que eu não sentisse mágoas daquele dia funesto. Contudo, eu jamais os deixaria saber que os tinha perdoado; talvez fosse uma maneira pouco ortodoxa de castigar todos os machões héteros que se acham no direito de tripudiar com os gays.
Embora houvesse uma faculdade de medicina na cidade, eu quis estudar na capital, numa mais conceituada e foi uma realização quando vi meu nome entre a lista de aprovados. Minha irmã havia se casado no ano anterior com um cara cuja família vivia na capital e isso me estimulou a encarar a mudança. Eu sempre nutri certo fascínio por cidades grandes, a agitação, as inúmeras possibilidades, o anonimato que, de certa forma, te poupava dos mexericos de cidades onde meio mundo se conhece. Meu cunhado arranjou um pequeno apartamento a pouca distância da universidade. Com pequeno quero dizer minúsculo, mas que atenderia às minhas necessidades durante o curso, e que não causaria um rombo nas finanças do meu pai.
Nunca fui afeito a despedidas, a adeuses que formam um nó na garganta querendo nos sufocar e, talvez isso, tenha feito com que partisse rumo a minha nova vida na capital sem me despedir do Marcos, Nando e Roberto. Não que eu fosse chorar; bem, talvez, quem sabe. Por via das dúvidas achei melhor não me despedir deles, pois sabia que deixariam saudades com as quais seria difícil lidar. Eu precisava focar nos estudos, me concentrar no meu futuro e deixar aqueles safados também seguirem suas vidas que, certamente, não incluiriam um gay em seus futuros de machos heterossexuais.
Passaram-se anos, eu liderava uma equipe de pediatria num grande hospital e me sentia quase realizado, uma vez que a vida amorosa continuava desfalcada, quase celibatária. Nos dois últimos anos da faculdade e durante a residência médica eu me envolvi com um colega de turma, tivemos ótimos momentos juntos, o sexo era fantástico, porém sabíamos que não haveria um futuro para aquela relação que tinha mais contornos de uma amizade do que de uma paixão. Quando me envolvi com ele resolvi contar aos meus pais que era gay, o que não foi propriamente uma surpresa para eles, mas que, no entanto, desagradou meu pai que tinha criado inúmeras expectativas quanto ao único filho homem, o que levaria seu sobrenome adiante. Ele nunca deixou de falar comigo ou rompeu relações, mas ficou melindrado por um bom tempo, não perdendo a chance de me lançar indiretas. Tudo se amenizou quando minha irmã deu à luz um garotão que voltou a encher a vida dos meus pais de expectativas. Meu pai até vendeu o comércio de ferragens e eles se mudaram para a capital para ficarem próximos do neto.
Passei uns anos em jejum antes de conhecer outro cara, Lucas, e nesse apostei todas as minhas fichas achando que tinha encontrado o homem da minha vida. Ele chegou a se mudar para a minha casa, o que gerou outro pequeno conflito com o meu pai que, àquelas alturas havia aceito minha sexualidade, porém não me via ligado a outro homem, especialmente um que não deixava dúvidas quanto a sua virilidade. Na cabeça do meu pai, isso fazia de mim mais gay do que já era. No entanto, não foi a implicação dos meus pais que o afastou de mim, mas uma mulher que trabalhava na mesma empresa dele. Fiquei arrasado quando ele me dispensou, nem tanto pelo pé na bunda, mas por descobrir que ele não me amava de verdade como eu o amava. Minha primeira desilusão amorosa, um rombo no meu coração, seria também a última, ou ainda haveria muitas outras? Escaldado pela dor, evitei um novo envolvimento amoroso para não sofrer.
No hospital o que não faltava eram garotas e mulheres sonhando com o pediatra tesudo, eu enchia a cabeça delas de sonhos libidinosos e era constantemente assediado como se fosse o único homem sobre a face da terra. Se eu fosse um jogador de futebol, certamente seria um exímio driblador, pois minha inventividade para me livrar delas tinha desenvolvido essa característica na minha personalidade.
Foi lá que conheci a Thais, a chefe do setor de contas a pagar. Embora trabalhasse no setor administrativo do hospital acabamos por construir uma sólida amizade durante os horários de almoço. Ela era uma das raras mulheres que não me assediavam com segundas intenções, o que contava muitos pontos a seu favor no meu conceito. Nossa amizade não era baseada em trocas de informações pessoais, sabíamos pouco sobre a vida particular de cada um. O que eu sabia dela era que era casada e tinha dois filhos, um menino e uma bebê com quatorze meses que havia se tornado minha paciente desde o dia em nasceu. O fato de não se mostrar interessada em mim me fazia supor que o marido, sobre o qual raramente fazia algum comentário, devia ser um homem interessante e completo que supria todas as necessidades de uma mulher. De mim, ela sabia que era o solteiro mais cobiçado do pedaço, e me trazia as informações e comentários mais bizarros que circulavam a meu respeito. Essa proximidade comigo fez com que muitas tentassem fazer dela uma ponte para chegar a mim com as mais estapafúrdias estratégias, e isso nos fazia rir e tornar nossos almoços descontraídos e alegres. A Thais notou que eu andava meio cabisbaixo e tristonho nas últimas semanas. Porém, sua discrição a impediu de fazer qualquer tipo de pergunta que pudesse invadir minha privacidade.
- Está tudo bem com o senhor, Dr. Rodrigo? – questionou no dia posterior ao que o Lucas veio buscar suas coisas no nosso apartamento, pondo um fim definitivo no nosso relacionamento. Me deparar com a parte do armário que ele ocupava sem as suas roupas doeu mais do que eu podia imaginar.
- Sim, está! – menti.
- O senhor parece abatido!
- Tenho andado assoberbado com o trabalho e ao que parece um resfriado também anda tentando me derrubar. – afirmei, para pôr um fim nos questionamentos. Ela desconfiava que havia outra coisa por trás do meu abatimento, pois eu sempre andava às voltas com uma rotina estafante de trabalho sem nunca estar abatido, mas fez que acreditou na minha resposta.
Já durava um mês aquela tristeza que parecia nunca ter fim. A cada noite que entrava na cama e não encontrava o corpão maciço, quente e excitado do Lucas pronto para me envolver em seus braços e, com uma sequência de beijos, me deixar penetrar o cuzinho com seu membro grosso, as lágrimas brotavam copiosas e me atormentavam até o sono me vencer.
Depois que me assumi gay, conheci outros e constatei que as relações homoafetivas costumavam ser fugazes na maioria das vezes, que a troca de parceiros era quase uma constante entre eles, que o amor verdadeiro e longevo parecia não fazer parte da vida dessas pessoas. Talvez eu estivesse destinado a ter a mesma sorte, uma vida sem uma paixão duradoura, um futuro meio solitário.
A Thais me convidou para o aniversário de dois anos de sua garotinha, provavelmente para tentar me tirar daquela prostração prolongada. Não era propriamente o tipo de evento ou distração que me atraía, mas por ser ela e por ser uma chance de não passar mais uma noite naquele apartamento cheio de recordações, resolvi aceitar. No fundo, ela nem contava com isso, e ficou excepcionalmente feliz por eu ter aceito o convite que, vindo de outros, teria sido imediatamente recusado.
A festa foi na casa dela, com a qual me surpreendi ao estacionar diante, num bairro bastante concorrido da cidade. A fachada moderna guardava certa imponência, o que me levou a concluir que havia sido construída ou reformada por ocasião do casamento dela. E também, que o marido devia ser um sujeito com um excelente emprego ou até um pequeno empresário bem sucedido. Cheguei um pouco tarde ao local devido a um chamado de emergência no hospital, a casa ampla cercada de um belo jardim estava apinhada de parentes e amigos, o que me deixou um pouco retraído, um hábito que nunca se perdeu em minha personalidade introvertida quando cercado de completos estranhos.
Foi a própria Thais quem me recebeu com a filhinha nos braços, toda risonha com aquela agitação que tomava conta da casa. Assim que me viu, ela estendeu os bracinhos na minha direção já familiarizada com a minha presença e seduzida pelo presente envolto num papel brilhante de cores chamativas. Segurei-a nos braços enquanto, afoita, ia rasgando o papel para chegar ao presente, iluminando ainda mais o sorriso quando o identificou.
- Gostou? – perguntei, dando um beijo nas bochechas rechonchudas e rosadas. A alegria de se agitar para que a colocasse no chão onde pudesse brincar com seu novo brinquedo foi a melhor resposta que eu podia esperar.
- Venha, doutor, quero lhe apresentar alguns amigos e parentes! – disse a Thais, me introduzindo entre os convidados que fui cumprimentando e tentando gravar os nomes para evitar qualquer gafe mais adiante.
De repente, os vi num canto próximo à grande porta de correr de vidro que dava para o jardim, os três, mais maduros, porém não menos viris e tesudos. Por uma fração de segundos minhas pernas não queriam me obedecer, precisei inspirar fundo, os demais convivas se tornaram apenas silhuetas embaçadas sem uma forma definida. Meu olhar só conseguia focar nos três quando ela me conduziu até eles, após ter anunciado que ia me apresentar ao marido. Qual deles seria ele, perguntei-me. Eles me encaravam como se estivessem vendo a Fênix ressurgir das cinzas.
- Este é meu marido, Marcos! – eu mal conseguia ouvir o som da voz dela quando ele me estendeu a mão e apertou a minha com força e determinação. – Doutor Rodrigo, o chefe da pediatria que atende nossa filha, de quem já te contei e que é o doutor mais cobiçado do hospital. – acrescentou ela, me fazendo corar com aquela mão quente envolvendo a minha.
- Olá, Rodrigo! – cumprimentou ele, ainda sob o baque da surpresa.
- E esses são o Nando e o Roberto, amigos de infância do meu marido lá do interior onde moravam. – continuou a Thais, desconhecendo completamente o meu passado com aqueles três.
- Oi! – balbuciei, sem desviar o olhar daqueles olhos que me encaravam não acreditando no que viam.
- Mundo pequeno, não é? – indagou o Roberto, cujas mãos seguravam a minha de maneira expressiva.
- Muito! – consegui murmurar depois de alguns infindáveis segundos de silêncio.
- Vocês se conhecem? – perguntou a Thais, suspeitando que o Roberto e eu já nos conhecíamos pela maneira como nossos olhares se escrutinavam.
- Sim! – respondeu de pronto o Marcos, deixando-a surpresa.
- De onde? – perguntou ela incrédula.
- Nós quatro fomos praticamente vizinhos durante a adolescência. – esclareceu ele.
- Incrível! Você sempre mencionou o Nando e o Roberto nas tuas conversas sobre a vida no interior, mas nunca me falou do doutor Rodrigo. Que coincidência feliz! Vocês devem estar contentes com esse reencontro inesperado. – disse ela toda entusiasmada, embora nenhum de nós estivesse esboçando euforia alguma com aquele encontro.
- Ele não era doutor na época, e eu nunca imaginei que o Rodrigo de quem você tanto fala era o mesmo Rodrigo que eu conheci na adolescência. – respondeu ele, ligeiramente incomodado com o que a esposa e eu pudéssemos ter confidenciado um ao outro.
- Bem, sendo assim, vou deixar que matem a saudade daquele tempo e cuidar dos outros convidados! – exclamou ela, deixando-nos a sós.
- Juro que eu não sabia ..... – dissemos eu e o Marcos simultaneamente depois de um silêncio constrangedor.
- Você primeiro, faço questão! – devolvi, pois não sabia como continuar aquela conversa.
- Quanto tempo faz? Dez anos, mais! – afirmou, procurando a cumplicidade dos amigos. – nem sequer um simples – Tchau – nada, você apenas sumiu sem se despedir de nós, sem olhar para trás, sem nenhuma consideração por tudo que tivemos juntos. E agora volta como o famoso Dr. Rodrigo. Como pode fazer isso conosco? – questionou ele, despejando sua zanga acumulada.
- Eu .... eu .... eu nem sei o que dizer! Nunca pensei reencontrá-los! – retruquei, numa colocação infeliz.
- Mas pelo visto e por azar você nos reencontrou, não apenas um, mas os três. Os três que você deixava loucos de tesão, se consumindo por dentro loucos de vontade de meterem as picas nesse tesão de rabo. – sentenciou
- Não considero nosso reencontro um azar, apenas não esperava por ele. Eu não sabia como me despedir de vocês naquela época. Não podia nem imaginar o que nos aguardaria no futuro, e como seria esse futuro sem vocês, por isso não me despedi. A última coisa que eu queria que vocês guardassem de mim era eu chorando por ficar privado da nossa amizade. – afirmei sincero.
- Mesmo depois, você podia ter entrado em contato, dito alguma coisa, dar seu paradeiro! – exclamou o Nando, entrando na conversa e tão revoltado quanto o Marcos.
- Podia, você está certo! Peço desculpas! – subitamente eu queria sair correndo dali, todas aquelas lembranças estavam se reavivando na minha memória; o galpão, o sabor do esperma deles, a intrepidez dos caralhões que agora deviam ser ainda bem maiores, os beijos lascivos que me roubavam, as encoxadas, o bolinar de mãos que explorava cada parte do meu corpo e, a penetração impulsiva do Roberto que levou consigo a minha virgindade junto com um tanto de preguinhas anais estraçalhadas.
- Não há desculpas para o que você fez conosco! – afirmou o Nando
- O que mais posso dizer? Lamento se os magoei, não foi minha intenção!
- Você fez muito mais que nos magoar, você nos deixou alijados do que mais nos deixava excitados e contentes por compartilhar, o tesão ardente que consumia nossos corpos, as carícias das tuas mãos, os beijos úmidos que precisávamos roubar dos teus lábios, a sensação inebriante da sua boca mamando nossas rolas até gozarmos. – queixou-se o Marcos.
- Tudo aquilo não passou de arroubos da juventude! Vocês estão casados, constituíram famílias, tiveram seus filhos, que espaço eu teria na vida de vocês? Não se façam de vítimas! E, se procurarem se recordar bem como tudo aquilo começou, não estariam me crucificando agora. – devolvi.
- Não justifica! – exclamou o Nando.
- Justifica, sim! Ou vocês foram tão ousados com suas mulheres quanto foram comigo? Contaram a elas sobre o pedágio? Contaram como se valiam da minha ingenuidade esfregando suas picas nas minhas nádegas até gozarem nas cuecas? Tenho certeza que não, afinal como machões como vocês podiam um dia sequer ter sonhado em ter qualquer coisa com um gay, um veadinho fresco como me chamavam quando me cercavam na calçada para tripudiar de mim. – despejei. – Como podem ver, eu também tenho minhas razões para estar magoado, se essa for a questão.
- Será que é só isso que temos a dizer uns aos outros depois de todos esses anos? Não seria mais benéfico para todos nós se recordássemos dos bons momentos daquela época? – foi a primeira vez que o Roberto abriu a boca, até então ele não havia tirado os olhos de mim nem por um segundo.
- Eu concordo com o Beto! Chega de reclamar! – exclamou o Marcos. – Afinal, você continua um puta de um tesão, essa bunda ainda deixa minha rola inquieta!
- Deixa a Thais ouvir essa besteira! – devolvi com um sorriso genuíno
- E, por acaso, esse rabão tem dono? – perguntou o Nando, dando uma secada no volume das minhas nádegas confinadas no jeans que as comprimia.
- Deixa de ser atrevido! Onde está a sua mulher para ver com que tipo de sem-vergonha ela se casou? – questionei. – Seria curioso ver o que ela ia fazer com você se viesse a descobrir como eu sei que seu sacão comporta duas bolas em alturas diferentes, a da esquerda sendo ligeiramente menor do que a outra. – acrescentei, mais descontraído.
- Nem brinca com isso! É divórcio na certa! – exclamou exaltado, olhando ao redor para se certificar que a esposa estava distante. – E você nunca se esqueceu desse detalhe, meu saco deve ter lhe deixado uma ótima impressão! – emendou gabando-se.
- Talvez!
- E o que guardou de mim? – quis saber o Marcos.
- O que é isso, a inquisição?
- Conta vai! Quero saber do que mais gostou em mim. Você nos deve essa, o Nando e eu nunca soubemos o que é estar dentro do seu cuzinho.
- Larga a mão de ser descarado! Quer que eu te exalte por seu pauzão se parecer com um torpedo que fica tremendamente grosso na base, ou fale daquela pinta amarronzada de nascença junto a virilha na perna direita, só para se vangloriar?
- Cacete, você se lembra de tudo! Gostava mesmo tanto assim da gente, depois de tudo que fizemos com você?
- Pois é, para você ver que não devo estar no meu juízo perfeito!
- Nós estávamos perdidamente apaixonados por você naquela época, não é rapazes? Os três, pode isso? Se você não tivesse sumido talvez hoje fossemos como é que se poderia chamar ... quadrisal ... poliamor? - divagou o Nando
- Tipo um relacionamento romântico e sexual sem hierarquia entre as partes, porém com nós três ativos e você passivo! – fantasiou o Marcos.
- Eu diria que isso está mais para suruba do que para um relacionamento igualitário! – exclamei.
- Não, se houvesse amor! – afirmou o Roberto. Foi nesse momento que percebi uma tristeza no fundo de seu olhar. Ele se manter mais calado que os outros dois devia ter uma razão que não se limitava a estar chateado comigo por não ter me despedido deles e nunca mais ter dado notícias.
- E conta aí o que você guardou do nosso amigo aqui? O sortudo que conseguiu enfiar a rola dele no seu cuzinho antes daquele segurança acabar com a nossa festa. – indagou o Nando
- O Rodrigo tem razão, as esposas de vocês deviam estar ouvindo essa conversa e palpitar sobre os maridos que têm! – disse o Roberto, ligeiramente incomodado com a pergunta.
- Claro que guardo algo dele também! Nunca se esquece quem nos tirou a virgindade, mesmo sob aquelas condições. – respondi, numa troca tão intensa de olhar com o Roberto que me fez sentir um calafrio percorrendo a coluna e, por uns instantes uma vibração potente no ânus. Ele me esboçou um sorriso contido, como que gratificado pela lembrança que eu guardava dele não ser física, mas sentimental.
O Marcos e o Nando tinham virado homens, bonitos e viris cabe acrescentar, mas naquelas duas horas de reencontro continuavam os mesmos moleques safados e tarados que me fizeram chupar suas picas. O Roberto não. Ele era o único mudado, também havia se transformado num homem atraente e másculo continuando tão parrudo quanto nos anos finais da adolescência, mas nele ocorreu uma transformação que não consegui compreender plenamente. Estava mais sério, mais retraído, o oposto do que era naqueles tempos e, se eu não estivesse enganado ou completamente deslumbrado com aquele olhar atordoante, eu arriscaria dizer, triste.
Deixamos em dado momento a sala lotada e seu falatório alto para continuar nossa conversa num canto do jardim, uma vez que fazia uma noite agradável e até um pouco fresca. Aproveitando-se do afastamento e de uma leve distração minha, o Nando passou discretamente os braços ao redor da minha cintura e me encoxou com vontade, ao mesmo tempo que me propunha uma safadeza como fazia na adolescência.
- Me conta o segredo que deixa a sua bunda cada vez mais tesuda e gostosa. Que tal rememorarmos aqueles tempos e você me deixar entrar dentro dela? – sugeriu atiçado pelo tesão que lhe provocara uma ereção.
- Como tem coragem, seu cafajeste? Não faz nem meia hora que me apresentou sua esposa, por sinal uma mulher atraente e meiga pelo quem constatei. Eu jamais vou ter qualquer coisa com um homem casado, pai de família! Você deveria me conhecer, apesar dos anos que ficamos afastados! – respondi ultrajado e acertando o soco brando sobre aquela rola escandalosamente dura.
- Ai, porra! Isso dói, sabia? Vejo que continua o mesmo veadinho santo daquele tempo! – retrucou ele, massageando o volume distendido sob sua calça, enquanto o Marcos e o Roberto zombavam do atrevimento dele.
- Continuo sim! Especialmente em relação a depravados como você! Vá resolver suas taras com sua esposa, não foi para isso que se casou? – indaguei
- A vida de casado não atende todas as necessidades de um macho! Você que é gay pode não saber disso, mas pergunte aos dois aí. Enquanto elas nos quiserem como reprodutores está tudo bem, rola sexo o tempo todo, mas bastou engravidarem e terem os filhos para que nos deixem a ver navios. O sexo deixa de ser prioridade e nós, os maridos, somos deixados de escanteio. Isso sem mencionar que depois de parirem, o brinquedinho delas já não é mais o mesmo, não causa mais tanto prazer como antes. – afirmou o sem-vergonha.
- Você devia ter vergonha nessa cara! Com uma esposa linda como a sua e dois filhos fofinhos, dizer uma cretinice dessas é um sacrilégio!
- Em parte dou razão ao Nando! – exclamou o Marcos concordando. – Depois dos filhos o sexo não é mais o mesmo.
- Inacreditável que estejam me dizendo isso com essas caras-de-pau! Bando de tarados incuráveis.
- Como o Nando disse, um gay nunca vai entender como é a vida de um cara casado e pai de família. Vocês estão sempre livres, podem trepar toda vez que tem vontade, podem fazer sexo até se enjoarem sem que ninguém invente uma desculpa para não transar, sem que aleguem cansaço, dor de cabeça, ou o que a criatividade sugerir. Temos que nos contentar com uma trepada semanal e olhe lá!
- Semanal? Eu me daria por satisfeito se fosse quinzenal! – interveio o Nando, enquanto ambos riam.
- E você, também não está satisfeito com o sexo que sua esposa lhe oferece? Justamente você que era o mais ousado e atrevido e que não pensava noutra coisa que não enfiar esse troço enorme em mim o tempo todo! – sentenciei, me dirigindo ao Roberto que estava estranhamente calado, pois era o que mais falava e se insinuava quando o assunto era sexo. Ele não me respondeu, apenas trocou olhares com o Nando e o Marcos antes de se instalar um silêncio repentino.
Pouco depois, na cozinha vazia, para onde o Marcos e eu nos dirigimos para que ele oferecesse um copo d’água, ele também me envolveu por trás e se esfregou na minha bunda, enquanto uma de suas mãos deslizava entre os botões da minha camisa e agarrava um dos meus mamilos.
- A Thais me falava do pediatra gostosão, mas eu nunca imaginei que pudesse ser você! Eu continuo louco de vontade de entrar no seu cuzinho, você sempre negou isso a mim e ao Nando. Não acha que é injusto nos negar esse prazer? – perguntou, sussurrando no meu cangote enquanto o cobria de beijos molhados. Livrei-me dele abruptamente e zangado.
- Se vocês continuarem com essas atitudes vamos ficar mais uma vez uma década ou mais sem nos vermos. Eu trabalho com a Thais, temos uma amizade especial e eu fico triste que tenha um marido que não a respeita nem valoriza dentro de sua própria casa. Você é outro depravado, Marcos, como pode? Quantas vezes já traiu a pobre infeliz? Ela é tão dedicada a você, me conta coisas do esposo com a boca cheia de orgulho, nem desconfiando do cafajeste que você é! – despejei indignado.
- Eu nunca a traí! Mas, trairia com você! Eu sonho com você desde a juventude, fico imaginando como seria sentir seu cuzinho travado ao redor do meu cacete, justinho, úmido, quente. Você não é capaz de entender como a imaginação de um macho como eu é fértil em se tratando de sexo. Eu nunca colocaria minha felicidade e a da Thais em risco com uma traição supérflua. Porém, com você ela não seria supérflua e banal, seria um sonho virando realidade e, eu daria tudo por um único momento dentro de você. – confessou.
A sinceridade dele me comoveu, não sei o que incuti nesses três durante a nossa adolescência e naqueles folguedos que compartilhamos. Contudo, era evidente que foi muito mais do que a amizade que eu supunha. Por um lado, eu me sentia lisonjeado, não é todo gay que pode se sentir orgulhoso por três tremendos machos o desejando lasciva e abertamente depois de uns poucos anos e arroubos da juventude. No entanto, por outro, minha índole repudiava esse tipo de atitude machista, de homens que colocam o amor verdadeiro de escanteio em favor do sexo irresponsável que pode magoar outras pessoas.
A Thais veio ter comigo e com o Marcos na cozinha, perguntou como estava o nosso surpreendente reencontro, e me abraçou toda feliz por haver outro vínculo nos unindo além daquela amizade que havia se formado no trabalho.
- Estou tão contente por descobrir que vocês já se conheciam, que foram amigos na adolescência, Dr. Rodrigo. O Marcos e eu fazemos questão que venha a nossa casa muitas vezes, que faça parte do nosso círculo de amizades, não é amor?
- Também fiquei feliz com esse reencontro! Certamente nos veremos com mais frequência! – prometi, sem saber se cumpriria essa promessa. – Eu vou aproveitar para me despedir, ainda preciso passar noutro lugar! Foi uma noite muito agradável, e sou grato pelo convite! Nos vemos na segunda, não é, Thais?
- O senhor chegou há pouco, doutor! Fique mais um pouco, a festa ainda vai longe! – pediu ela, enquanto o Marcos compreendia a minha pressa em sair dali, antes que outros segredos viessem à tona.
- Preciso mesmo ir! E, se quer que nossa amizade continue fora do ambiente de trabalho, pare de me chamar de doutor a todo instante. É Rodrigo, e nada mais, Ok? – pedi, enquanto segurava as mãos dela entre as minhas e lhe depositava um beijo fraterno na bochecha.
O Marcos me abraçou com força apesar da presença da mulher, beijou discretamente meu pescoço e sussurrou – Não suma, por favor, ainda temos questões a resolver. Nós três precisamos de você! – e eu fiquei imaginando que questões seriam essas, sexo certamente, e isso não ia rolar sob hipótese alguma por mais sedutores que eles fossem.
Deixei passar algumas semanas para abordar sutilmente a Thais com uma dúvida que vinha me atormentando desde a festa, o comportamento retraído do Roberto.
- Eles não te contaram? A esposa do Roberto, Claudia, faleceu há pouco mais de meio ano. Depois do parto do segundo filho, descobriram um câncer no pâncreas, o tumor de um tipo bastante agressivo já estava avançado embora ela não apresentasse sintomas que estavam ligados diretamente a ele. Os médicos pensavam em algo relacionado com a gravidez, mas depois que o Gabrielzinho nasceu e ela continuava tendo problemas, o tumor foi finalmente descoberto. Nem a quimioterapia e nem uma cirurgia a que foi submetida conseguiram impedir o avanço da doença e, pouco depois do Gabriel completar um ano de vida, a dela se extinguiu. O Roberto ficou arrasado, como era de se esperar. Não se recuperou até agora. Os dois garotos são a vida dele, e ele se culpa por não ser um bom pai, o que definitivamente não é verdade, já tentamos inúmeras vezes convencê-lo do contrário, mas ele não consegue enxergar a situação com clareza. – revelou ela.
Enquanto ela falava, eu precisei me esforçar e comprimir os olhos para não deixar que as lágrimas que se formaram rolassem pelo meu rosto. Meu silêncio a fez ver o quanto a revelação me abalou. Então compreendi o motivo daquele retraimento, dos risos contidos, daquela tristeza no olhar expressivo dele.
- Acho que vocês terem se reencontrado vai ser um ponto positivo para que o Beto volte a ser o cara extrovertido e alegre que conheci quando namorava o Marcos. – disse ela
- Se souber de algo que eu possa fazer por ele, não deixe de me avisar! – pedi, sufocando o nó que se formou na minha garganta.
- Creio que já fez, o seu retorno o deixou mais solto, segundo o Marcos me contou num encontro recente dos três. – afirmou ela. – O Marcos e eu estamos querendo promover um churrasco lá em casa só para vocês, assim você se entrosa com as nossas famílias, isso fará bem a todos! – comentou. Eu precisava encontrar uma maneira de me esquivar desse encontro, usar meu talento para afastar as mulheres e me livrar dessa situação embaraçosa. – Te aviso quando marcarmos, será em breve!
- Ando cheio de compromissos, mas farei o possível! – devolvi, em mais uma promessa que não pretendia cumprir.
Se ela, ou a esposa do Nando, viessem a saber o que seus maridos e eu fizemos no passado tudo estaria perdido. Eu não estava preparado para que todos no hospital soubessem que era gay, e essa revelação podia comprometer irremediavelmente meu futuro profissional, lá dentro e também fora dali. Portanto, eu precisava fugir de novos encontros, já que ficou evidente que tanto o Nando quanto o Marcos continuariam a tentar o que não conseguiram na adolescência, entrar no meu cuzinho com seus membros insaciados.
Tudo estava saindo conforme eu havia planejado, o tal convite para o churrasco foi sendo adiado com repetidas evasivas. Até surgir algo com que não contei. Era meu plantão semanal, no meio da tarde a Thais veio aflita no meu encalço, algo que nunca aconteceu.
- Dr. Rodrigo, doutor Rodrigo! Uma emergência ... no PS ... estão precisando do senhor lá ... com urgência ... é o Gabrielzinho ... filho do Roberto! – ela atropelava as palavras fazendo pausas para retomar o fôlego agitado.
- Acalme-se Thais! Há um plantonista no PS capaz de resolver qualquer situação. Tenha calma! – exclamei, pousando a mão sobre seu ombro.
- É ele quem está pedindo a sua ajuda, ele está sozinho no PS com três emergências. – esclareceu ela, antes de corrermos em disparada rumo ao PS.
O garotinho com cerca de três anos em crises convulsivas repetidas e ictérico estava ao lado da babá desesperada, afirmando que a culpa de ele estar assim não era dela, que tentara baixar a febre dele, mas que, de repente, ele começou a estrebuchar e se contorcer todo há mais ou menos uma hora, quando se lembrou que a Thais trabalhava no hospital e ligou para ela pedindo ajuda. Enquanto ela fazia seu relato tentando ser o mais minuciosa possível, nova crise se deflagrou. Ao tocá-lo constatei que ardia em febre e mandei que a enfermagem aplicasse as medicações intravenosas para a debelar, bem como repor fluídos para reidratá-lo. Ele respondeu prontamente, alguns minutos depois as convulsões cessaram e o turgor da pele foi retornando aos poucos. Ao examiná-lo, constatei a hepatite bacteriana que o acometeu e responsável pela icterícia acentuada. O quadro devia estar evoluindo há alguns dias sem ter sido notado, até culminar no pico febril que desencadeou as convulsões. Por uns instantes fiquei tão revoltado que me dirigi à babá num tom áspero.
- Onde está o pai dessa criança? Esse quadro vem evoluindo há pelo menos uns dois ou três dias, como ninguém percebeu nada? – ela se encolheu e precisou segurar o choro.
- Me desculpe, eu pensei que fosse outra daquelas indisposições e febres causadas por uma infecção de garganta ou ouvido das quais ele já teve algumas. Não imaginei que era tão sério. – justificou-se
- E o pai dele, também não viu que o filho estava prostrado? – questionei sem pensar.
- Ele está em viagem pela empresa. Até ontem era a Dona Alice que estava cuidando deles comigo, mas ela precisou viajar para o interior para ficar com o marido. – revelou
Ao ouvir o nome Alice lembrei-me que se tratava da mãe do Roberto e, subitamente comecei a vislumbrar as dificuldades pelas quais ele devia estar passando depois que perdeu a esposa. Arrependi-me de ter perdido o controle, pois já tinha presenciado inúmeras vezes o relapso de pais que traziam seus filhos pequenos em estado grave por negligenciarem suas obrigações.
- A Dona Alice é a mãe do Roberto, ela vem com certa regularidade à capital para ajudar o filho depois de tudo o que aconteceu. – interveio a Thais, procurando eximir o Roberto.
- Eu sei, Thais, me recordo dela. Me desculpe, você agiu bem trazendo-o prontamente ao hospital, vai ficar tudo bem, fique tranquila! – afirmei para a babá.
- O Gabrielzinho é um anjo, fico aflita quando o vejo assim! – retrucou ela, procurando amparo nos braços da Thais.
- Você ouviu o doutor Rodrigo, ele vai ficar bem. Ninguém está te culpando de nada. – tranquilizou-a a Thais.
- Vou mantê-lo internado por alguns dias, será mais fácil cuidar dele aqui no hospital do que em casa. – afirmei
- Assim você pode se dedicar exclusivamente ao Tavinho, sabendo que ele está sendo bem cuidado. Vou me encarregar de estar o maior tempo possível ao lado dele durante o expediente. – disse a Thais, desincumbindo a babá da tarefa.
- Também estarei por aqui, não se preocupe, vamos cuidar bem dele. – afirmei. – O Roberto já foi avisado?
- Eu mesma me encarreguei disso, doutor! – respondeu a Thais. – Ele só conseguiu um voo de retorno para daqui a três dias, deve chegar em casa no final da semana.
Uma ligação aflita do Roberto veio pouco depois. Transtornado e a quilômetros de distância, privado de dar assistência ao filho naquele momento, ele era a imagem de um pai angustiado pela dor e pela incapacidade de fazer qualquer coisa pelo garoto.
- Eu te suplico, Rodrigo, cuide do meu menino! – implorou engolindo o choro.
- Fique tranquilo, vou cuidar dele, não se desespere! Estarei o tempo todo ao lado dele, te garanto. – asseverei comovido
- Obrigado! Muito obrigado, Rodrigo! Há momentos em que fico perdido, me sentindo um inútil. – devolveu ele.
- Não há porque se sentir assim, tudo vai ficar bem! Quando voltar vai encontrá-lo restabelecido, fique calmo.
Entre um atendimento e outro eu me achegava ao leito do garotinho. Era um menino lindo, com braços e pernas cheias de dobrinhas, um rosto sereno que se revelava cada vez mais doce à medida que a febre cedia e a icterícia regredia retornando a cor natural da pele e da esclera ocular. Tinha deixado instruções para que me chamassem assim que ele acordasse. Ao me ver ficou agitado, começou a chorar pedindo pelo pai. Claramente alguém usando um jaleco branco era alguém que, ou ia furá-lo com uma agulha, ou ia palpá-lo em lugares doloridos aumentando seu temor pelo desconhecido. Um olhar tranquilo e confiante, algumas perguntas que ficaram sem resposta enquanto ele me observava com a mesma acurácia que eu examinava meus pacientes e, ele foi se acalmando. Expliquei-lhe porque estava ali e garanti que todo aquele mal estar que estava sentindo ia sumir, como mágica, brinquei. O primeiro sorriso tímido surgiu e encheu meu peito de um calor recompensador. A primeira pergunta surgiu no início da noite.
- Você vai me dar uma injeção?
- Não! Esse canudinho que está no seu braço vai evitar que usemos uma agulha.
- Eu não gosto de agulhas!
- Nem eu! São chatas, não é?
- Chatas não, elas doem!
- É verdade, elas doem, mas também ajudam a curar.
- É o que meu pai também sempre me fala, mas mesmo assim não gosto delas. – o menino era sagaz para idade, e estava lentamente tentando confiar em mim. – Você vai ficar aqui comigo?
- Se você quiser, sim! Que tal eu me sentar aqui do seu lado, fica bom assim?
- Fica! – respondeu, escorregando um pouco para o lado para me dar espaço no leito apertado. – Você pode me contar uma estória? O papai sempre me conta uma quando está em casa. – precisei conter com as costas dos dedos a lágrima que inundou meus olhos.
- Claro que posso! Eu não conheço muitas estórias, mas sei de algumas, talvez você até já as conheça.
- Não faz mal, o papai também repete uma porção delas, mas eu finjo que não sei como terminam. Só no final eu conto a verdade para ele, e ele me abraça! – nunca me vi numa situação tão emotiva e temia desatar a chorar na frente daquele garoto que não perdia nenhuma expressão do meu rosto.
- Seu pai deve ser muito legal! – minha voz me traía.
- É sim, o nome dele é Roberto, mas todo mundo chama ele de Beto, é um apelido, você sabia? – eu evitei por uns instantes de o encarar.
- Sim, eu sei!
- Você também está doente? Por que está chorando?
- Estou chorando porque você é um menino muito fofo! – respondi, não queria enganá-lo com qualquer desculpa esfarrapada. Ele ficou me encarando em silêncio, até eu conseguir pronunciar outra frase sem toda aquela emoção.
- A vovó também diz que eu sou fofo, e fica me apertando o tempo todo.
- Como ela faz, assim? – indaguei, cutucando-o e provocando cócegas que o fizeram rir.
Segurei a mãozinha dele na minha e comecei a inventar uma estória cujo final dependia da imaginação que não vinha. No começo ele não desgrudava os olhos de mim, mas com o passar do tempo e um desfecho que parecia nunca chegar, ele foi cerrando vagarosamente os olhos até adormecer. As enfermeiras que já me conheciam de longa data e que conheciam minha dedicação aos meus pequenos pacientes nunca tinham me visto tão empenhado num deles, e fui alvo de algumas gozações. Chegaram até a me fotografar sentado ao lado do leito cochilando com a cabeça pendendo desajeitada para o lado, as imagens circularam por todo hospital na manhã seguinte e serviram de chacota por mais de uma semana.
A Thais e o Marcos até se prontificaram a ficar com o Gabriel quando estava em condições de ter alta, mas tinham um compromisso com os pais dela fora da cidade. A mãe do Roberto também não podia retornar à capital antes de resolver algumas questões no interior. Sem pestanejar, prontifiquei-me a levar os dois garotos para a minha casa. Eu estava fora do meu juízo perfeito, só podia ser. Como ia dar conta de cuidar de duas crianças quando nunca nem sonhei em fazer isso? Contudo, quando aquele garotinho me encarava, eu me sentia a mais capaz das criaturas, e não saberia explicar o porquê.
O Gustavo, Tavinho, estava com seis anos, o Gabriel com três. Foi ele quem encorajou o irmão relutante a seguir comigo para a minha casa. Instalei-os no quarto de hóspede da melhor forma que pude. A casa nunca tinha visto uma criança correndo pelos cômodos, e tudo com que se deparavam era motivo de curiosidade e uma infinidade de perguntas, que eu ia respondendo tomado de uma alegria inusitada. Mesmo quando sorriam, a tristeza no olhar permanecia em seus semblantes. Tentei de tudo para ver se conseguia ao menos amenizar aquela tristeza arraigada, mas me dei conta de que isso talvez levasse anos. O estranhamento pelo novo ambiente durou pouco, havia muito a explorar e a perguntar, por isso não desgrudavam de mim. Tirei uma folga na sexta-feira para me dedicar exclusivamente a eles e fizemos uma programação que os deixou elétricos. No final do dia estavam exaustos, tanto quanto eu, e capotaram em suas camas na metade da estória que estava lendo num livreto repleto de figuras coloridas que comprei durante o passeio.
Assim que caíram no sono, me enfiei sob a ducha para relaxar. Não nego que durante todo o passeio e atividades eu estava tenso, jamais me imaginei cuidando de uma criança, muito menos duas afetadas por dificuldades que mal conseguiam compreender. Estava terminando de me enxugar quando o Roberto chegou. A aflição estampada no rosto o fez se lançar em meus braços perguntando pelos garotos numa afobação sem tamanho.
- Eles estão bem, estão dormindo, fique calmo! Passeamos o dia todo, e eles chegaram cansados. – esclareci, conduzindo-o ao quarto onde ambos dormiam profundamente. Ele se inclinou sobre cada um deles e os beijou tocando-os levemente nos cabelos para que não acordassem.
Virou-se para mim, parado encostado à porta e começou a chorar.
- Sou um péssimo pai! Nunca vou dar conta de cuidar deles sozinho! Sempre estou ausente quando precisam de mim. – sentenciou penalizado.
- Não é o que eles acham de você, eles te amam, Roberto! Você está fazendo e dando o melhor de si, só merece elogios! – afirmei, me achegando a ele e encostando sua cabeça na minha cintura.
- Obrigado por cuidar deles, nem sei como te agradecer!
- Quer saber, foi um dos dias mais felizes da minha vida! – devolvi sincero.
- Lamento que tenha tido todo esse trabalho, você já é tão ocupado! Vou chamar um táxi e tentar levá-los para casa sem que acordem. Obrigado por tudo!
- Nem pensar! Deixe-os dormindo, vou providenciar as coisas para você se ajeitar no sofá, deve estar cansado da viagem.
- Não posso te sobrecarregar!
- Deixe de besteira! Você fica! Já jantou?
- Não! Vim direto do aeroporto! Não se incomode, vá descansar, é tarde!
Eu mesmo estava faminto, preparei algo para comermos enquanto ele me contava como a doença da esposa evoluiu até perdê-la, deixando-o com os garotos por criar. Toda vez que olhava nos olhos dele, em alguns momentos marejados, eu encontrava aquele mesmo olhar que um dia me encarou tão profunda e significativamente enquanto seu membro avantajado abria caminho e penetrava vigorosamente meu ânus, me fazendo sentir, em meio à dor de estar sendo dilacerado, algo que jamais se apagou da minha memória. Ele também me encarava, e eu daria de um tudo para saber o que se passava em sua mente. Creio que naquele instante, ambos estavam se dando conta de que aquele vínculo fugaz que se formou durante o coito aguerrido no galpão abandonado, jamais se desfez, mesmo passados todos esses anos.
Ele foi se banhar enquanto eu ajeitava o sofá para ele dormir. Ofereci-lhe meu quarto, onde estaria melhor acomodado depois das longas horas de voo, mas ele recusou, alegando não querer tirar meu conforto.
- Não quer mesmo descansar no meu quarto, você é grande vai ficar desconfortável no sofá? – perguntei, quando ele surgiu com a toalha enrolada na cintura e, por uns segundos, me fez perder completamente a noção de tempo e espaço.
Não havia tantos pelos sensuais naquele tronco maçudo que redobrou seu tamanho comparado a anos atrás. No devaneio, observando-o seminu com aquele corpão, fiquei me perguntando o que mais teria dobrado de tamanho desde o tempo em que éramos vizinhos no interior. Precisei sacudir os pensamentos para voltar à realidade e controlar a comichão nas mãos que queriam deslizar por sobre seu torso entre os pelos.
- Está tudo perfeito, Rodrigo! Cuidar do meu caçula, acolher meus filhos em sua casa e agora me receber com todo esse carinho é mais que o suficiente. Obrigado, por tudo. – respondeu ele.
Fui me deitar, porém estava tão agitado com tudo aquilo que tinha certeza que enfrentaria uma noite insone. Virei-me diversas vezes entre os lençóis, não encontrava uma posição, não encontrava uma maneira de tirar todas aquelas imagens e pensamentos da minha mente. Apesar de exausto, cochilava por não mais do que alguns minutos, voltando a ver os pensamentos rodopiando na cabeça. Durante um desses cochilos não percebi que ele se deitara ao meu lado e, quando despertei meio aturdido, senti seu corpo nu e quente encostado nas minhas costas, sua respiração morna resvalando na nuca, o caralhão excitado comprimido contra as nádegas. Nem precisei me virar para saber que ele estava acordado.
- O que faz aqui? – perguntei
- Preciso do seu calor, preciso de você! – respondeu, beijando meu ombro nu
- Será que deveríamos estar fazendo isso? Podemos nos arrepender e nos ferir, ambos não estamos na melhor fase de nossas vidas. – argumentei
- Talvez possamos sair dessa fase sombria que nos assola se estivermos juntos nos apoiando mutuamente. – sugeriu. – Desde nosso reencontro na casa do Marcos, não consigo parar de pensar em você. É como se você estivesse impregnado sob a minha pele todos esses anos sem eu me dar conta disso. Aquela tarde no galpão se torna cada vez mais real à medida que estou perto de você. – confessou.
- Também nunca esqueci daquela tarde, de você pulsando dentro de mim! – afirmei, sentindo-o encaixar a virilha na minha bunda.
- Lamento apenas uma coisa daquele dia, ter me excedido e te machucado. Eu me gabava para o Marcos e para o Nando afirmando que já tinha transado com algumas garotas do colégio e da vizinhança, mas não passava de um babaca virgem. Você foi a minha primeira vez e, quando senti seu cuzinho apertando a minha rola enquanto esporrava, me senti o homem mais realizado desse mundo. Nenhum outro gozo foi tão intenso e significativo, nem mesmo os que geraram meus filhos, pois quando aconteceram, eu não sabia que estava engravidando minha mulher. Com você não, você sorriu para mim quando começou a ficar molhado, não tirou seu olhar admirado e prazeroso de mim até minha porra começar a vazar do seu ânus. Quando o segurança nos flagrou e eu tirei meu pau às pressas do seu cuzinho sangrando, eu soube que também era virgem. O fato de você nunca mais ter permitido que nenhum de nós te penetrasse me fez ver que você não se entregou a mim apenas para pagar o pedágio, e levei anos para descobrir o motivo que só se confirmou quando nos reencontramos na casa do Marcos. Quando você me olhou nos olhos, do mesmo jeito que naquele dia, senti que aquele vínculo ainda te prendia a mim.
- Eu nunca havia sentido algo tão forte em mim como naquele dia, acho que me apaixonei por você durante o coito que deveria ser só mais uma zoação de vocês, mas que, de repente, ganhou outro significado. – admiti
- Como pode ver, seja lá o que formos fazer de agora em diante, só pode nos fazer bem e trazer felicidade. – ponderou, já enfiando a mão sob a bermuda do meu pijama e a descerrando para expor meu rego.
Eu me ajeitei de lado, fleti uma das pernas o que apartou mais as minhas nádegas e empinei a bunda oferecendo-a ao cacetão duro e melado dele que escorregou prontamente para dentro do meu reguinho apertado. Eu suspirei, ele suspirou. Umas poucas pinceladas ao redor do meu ânus corrugado e uma empurrada potente e certeira fizeram o cacetão romper algumas pregas e escorregar para dentro de mim. Soltei um grunhido abafado e rebolei para o pauzão deslizar mais facilmente mitigando a dor da penetração.
- Estou te machucando?
- Não! Estou há mais de seis meses em abstinência total, é só isso. Não há nada que eu queira mais do que você dentro de mim. – respondi.
- Até nisso estamos empatados, não tenho uma relação sexual há três anos desde que minha mulher foi diagnosticada. – revelou ele.
Nos impulsos impetuosos e sedentos dava para perceber o quanto o Roberto precisava daquilo, e eu me abri e me entreguei acolhendo-o com todo carinho e paixão que sentia por ele. Gemi com as estocadas profundas, compartilhando os beijos sequiosos que ele me dava em recompensa pelo prazer que estava sentindo. Mal sabia ele que eu voltava a me sentir vivo, a ter esperanças no amor, a acreditar que ainda podia ser feliz ao lado de um homem que merecesse todo o amor e carinho que tinha para dar. Nossos corpos pareciam cada vez mais insaciados, ele tirou o pauzão do meu cuzinho, me colocou na posição de frango assado e voltou a me penetrar com a mesma força e sofreguidão. Eu gani, ele arfou profundamente. Olho no olho ele me bombava metendo o caralhão até o talo no fundo do meu cu. Minhas mãos percorriam seus braços musculosos, deslizavam sobre os ombros largos, acariciavam suas costas vigorosas, afagavam seu rosto hirsuto de onde brotava um sorriso cúmplice. Uma estocada bruta e eu gani mais alto, sentindo-o retesar-se todo. Ele liberou um urro rouco e se despejou todo em mim, liberando jatos abundantes de sêmen espesso acumulado e sentindo como se toda tristeza estivesse se desafogando naquele gozo imerso no prazer.
Acordamos mais tarde do que pretendíamos, o Tavinho e o Gabriel estavam parados junto a porta parcialmente aberta, receosos de se aproximar da cama onde o pai e eu despertávamos lentamente com os corpos ainda entrelaçados. Cobri apressadamente minha nudez e cutuquei o Roberto que exibia uma enorme ereção matinal. Ele despertou no susto e cobriu o sexo proeminente.
- Já acordaram? – perguntou atabalhoado pelo flagrante
- Claro, papai, estamos aqui em pé! – respondeu o Gabriel sem dar um significado ao fato do pai e eu estamos na mesma cama, enquanto o Tavinho procurava entender o que dois homens nus faziam deitados um nos braços do outro. – Eu já fiz xixi sozinho e estou com fome! – acrescentou com seu olhar esperto.
- Está bem, eu já vou levantar para irmos para casa. Esperem um pouco na sala, só vou me vestir. – disse o Roberto trocando um olhar acanhado comigo.
- Podemos tomar café na casa do Rodligo? Ele faz um chocolate muito mais gostoso do que o da vovó e da Lucinda. – perguntou o Gabriel
- Claro que podem! – respondi de pronto. Já vou preparar um especial para vocês. – o sorriso dos garotos se iluminou. Não sei o que fiz para que eles se apegassem tão rapidamente a mim, mas sentia uma satisfação imensa nisso.
- Você sabia, papai, que o Rodligo também sabe contar estórias? Elas são beeeemmm compridas e sempre chegam no fim quando eu já estou dormindo. – disse o Gabriel, abrindo os braços para mostrar quão longas eram as minhas estórias. O Roberto riu e piscou para mim.
- Ganhou dois admiradores! – exclamou
- Quem sabe com um pouco de sorte, ganhe três! – devolvi
- Já os têm! – retrucou ele.
Minha casa pareceu ganhar vida toda vez que eles vinham ter comigo, era dessa vida que eu precisava e, acredito, o Roberto também. Os meninos estavam cada vez mais apegados a mim, já não se acanhavam diante de nada, queriam minha presença, queriam o afeto que lhes dedicava, queriam compartilhar cada nova descoberta. A avó vinha cada vez menos para a capital, eu dividia os cuidados com os garotos com o Roberto e eles se sentiam realizados com nossa dedicação. Levou tempo para que ele e eu abordássemos o assunto de morar juntos, mas as próprias circunstâncias foram nos levando a isso. Eu já não gostava mais da minha casa, ela me trazia recordações do Lucas, por a termos construído em parceria, guardava aspectos que me remetiam a ele, cuja importância deixara de existir.
O Roberto e eu adquirimos outra, onde os meninos tinham seus próprios quartos e espaço de sobra para brincar e trazer os colegas de escola. Também abrimos nossa relação para as famílias do Marcos e do Nando. Foi no que mais relutei, pois temia que minha sexualidade se espalhasse aos quatro ventos e viesse a afetar minha vida profissional. No entanto, a Thais e a esposa do Nando foram muito discretas e, numa cumplicidade inimaginável, resguardaram minha relação com o Roberto. Na verdade, fui melhor aceito por eles do que pelo meu cunhado que, depois de eu me abrir para meus pais e minha irmã, demonstrou seu lado homofóbico, evitando de me convidar para os eventos familiares e procurando afastar meus sobrinhos do meu convívio como se eu os pudesse contaminar com a minha homossexualidade.
- Você sabia Rodligo que eu te amo? – perguntou-me o Gabrielzinho no dia em que dormiu pela primeira vez em seu novo quarto na nova casa e eu contava aos dois uma das minhas estórias sem fim.
A pergunta me pegou tão desprevenido que meus olhos se encheram de lágrimas, o Roberto me observava com a cabeça apoiada sobre as minhas pernas, compartilhando aquele momento íntimo com os filhos.
- Eu sabia, sim! Sabia porque também amo muito todos os três, muito, um tantão assim! – respondi com a voz embargada, quando os meninos começaram a rir do meu gesto e o Roberto colou sua boca na minha num beijo longo e úmido.