Me leve para a praia 3

Um conto erótico de R. Valentim
Categoria: Gay
Contém 2186 palavras
Data: 17/08/2024 17:00:15
Assuntos: Amigo, Gay, nerd

Na manhã tenho um pouco de dificuldade para acordar, passei a noite repassando toda a minha conversa com Cícero, se não fosse tão nerd até faltaria a aula, mas me conheço, vou surtar se atrasar quem dirá se eu chegar a faltar, vou remoer isso por dias, então levanto e tomo um banho gelado, como sempre Isabel fez apenas o café dela e ainda deixou o coador de café sujo na pia, essa garota está cada vez mais folgada sério.

Minha mãe está dormindo, temos uma regra muito rígida na casa que é, quando minha mãe dorme ninguém a acorda a não ser que seja uma emergência e detalhe uma emergência que apenas ela possa resolver, ela trabalha muito então tem direito ao seu merecido descanso, bem correndo o risco de me atrasar lavo a louça que Isabel deixou suja e passo um café para me ajudar a não dormir durante a primeira aula, deixo tudo em ordem e saio para oficina do meu pai.

— Bença pai — falo assim que o vejo.

— Deus te abençoe, meu filho — ele responde.

— Pai vamos estou atrasado — falei impaciente.

— Filho, hoje o pai não tem como ir não — fiquei pálido pois já estou atrasado.

— Como assim pai? Já estou atrasado — falei.

— Por isso que já te falei várias vezes que você tem que tirar sua carteira né Daniel, estou com um carro que preciso entregar daqui a pouco, não posso largar o serviço agora filho.

— Tudo bem pai — ele podia ter me avisado mais cedo que não poderia me deixar, mas algo em mim me proíbe de discutir ou reclamar qualquer coisa com meus pais, até quando estou certo apenas aceito e não faço birra, afinal tenho que ser grato a eles.

— Pega ali na minha mesa dinheiro pro táxi filho — ele fala ao ver que estou chateado, mesmo que eu não fale nada ele é meu pai e me conhece muito bem.

— Não pai deixa eu pego um ônibus, bença pai — respondo me esforçando para melhorar minha cara.

— Deus te abençoe — me despeço dele e sigo para o ponto de ônibus.

Pra variar perdi o onibus que eu tenho que pegar para chegar em cima da hora na faculdade, se você já dependeu de ônibus de bairro sabe que além de serem poucos eles costumam demorar, resultado cheguei no final da segunda aula apenas, estou com duas pizzas nas axilas, pois além de atrasado hoje é um dos dias mais quentes que já passei na vida, como que pode tão cedo da manhã o sol já está rajando o coco dessa maneira, definitivamente tem dias que não vale a pena sair da cama.

A professora me lança um olhar mortal pois estou entrando no final de sua aula, o lugar que costumo sentar na frente está ocupado, procuro com os olhos um lugar para sentar e vejo Cícero tirando sua mochila de uma carteira ao seu lado, respiro fundo e sigo para o fundo da sala me sentando ao seu lado, ele me lança um sorriso simpático que ignoro totalmente, pois estou com um mau humor gigante.

— Pensei que não ia vir hoje — ele fala.

— Meu pai não podia me deixar e perdi o ônibus — falei.

— Eita dia puxado — ele fala ainda se divertindo com minha manhã caótica.

— Daniel você tem algo pra compartilhar com a turma, já que está conversando com Cícero — meu coração quase para é a primeira vez na vida que sou chamado atenção por um professor.

— Desculpe — quero que o chão se abra e me engula.

No fim da aula tivemos os outros horários livres porque o professor precisou falta, hoje meu dia está sendo um dos piores, os amigos do Cícero chamaram ele para comer algo numa lanchonete que tem dentro do campus, ele me chamou para ir junto, mas além de ter que economizar não estou nem um pouco afim de socializar hoje, então invento uma desculpa e vou para a biblioteca estudar os conteúdos que perdi hoje por conta do meu atraso, Cícero me manda mensagem depois de um tempo perguntando onde estou, até pensei em não responder num primeiro momento, só que fico com mil pensamentos na cabeça que só passam depois que respondo, a cabeça de uma pessoa ansiosa não costuma fazer muito sentido as vezes.

Mas uma vez me pego pensando do Rick e nas semelhanças dele com o Cícero, para o Rick não importava meu mau humor ele sempre fazia questão de está por perto e de me arrastar para os rolês que ia, “você precisa socializar” ele dizia, no fim boa parte das pessoas que conheci na juventude foi por causa dele, fazer amigos nunca foi minha especialidade, mas para Rick era fácil assim como é para o Cícero.

A parte ruim de tirar o Rick do fundo da gaveta é que com ele vem todas as lembranças boas e ruins, no dia em que me declarei para ele corri para casa, entrei no meu quarto correndo, queria gritar, chorar e tudo ao mesmo tempo, um vazio tomou meu peito, havia estragado minha amizade com Rick, minha vida nunca mais seria a mesma a partir daquele dia, perdi o tempo chorando com a cara no travesseiro.

Fiquei assim até Isabel apareceu na porta falando que Rick estava lá, ela o deixou entrar e ele veio até meu quarto, se sentou na cama ao meu lado sem dizer nenhuma palavra, me sentei do seu lado e enxuguei as lágrimas, ficamos em silêncio por muito tempo, ele foi quem falou primeiro.

— Dan, eu não sei o que dizer — ele também estava perdido assim como eu.

— Desculpa Rick, eu devia ter ficado calado, estraguei tudo, agora eu entendo se você me odiar.

— Eu não te odeio Dan, tá maluco, você é meu irmão cara.

— Mas eu não consigo mais fingir que não sinto nada além da amizade — falei.

— Dan, eu gosto de ti, mas não sou gay — ele escolhe cada palavra antes de falar — mas eu jamais te odiaria por causa disso, você gosta de caras não muda nada para mim.

— Rick eu — ele me interrompe e segura meu queixo, minha respiração falha e ele me beija.

Nosso beijo começa com um toque de lábios, que aquece todo o meu corpo, sua língua pediu passagem para dentro de minha boca, a sensação de beijar de língua o cara que eu sempre amei é surreal, seguro seu rosto com delicadeza, nosso beijo fica muito intenso, meu pau ficou duro como nunca antes, porém antes que algo mais pudesse acontecer Isabel entrou no quarto, até hoje me pergunto se ela viu algo, ou se deu tempo de nos separarmos, o lance é que ela nunca tocou no assunto nem comigo e nem com nossos pais, mas por coincidência ou não me contou mais tarde naquele dia que eu era adotado.

Cícero entrou na biblioteca me procurando com os olhos, quando me encontrou veio até onde eu estava, seu sorriso era como um sol dentro da sala, o cara anda com tanta confiança, ele é gato e sabe disso, não é que ele seja esnobe ou exibido, o cara simplesmente é gostoso, atrair olhares é natural para ele, acho até que Cícero não percebe o tamanho do sucesso que faz quando está desfilando pelos corredores da faculdade, sua foto já apareceu algumas vezes no canal de paquera da faculdade, por onde ele passa seus fãs está lá babando por ele.

— Porque não foi comer com a gente — ele perguntou.

— Não estou com fome — menti.

— Ah sim, você quer começar a estudar agora ou só depois do almoço? — ele pergunta.

— Pode ser depois do almoço, vai lá ficar com seus amigos — falei sem olhar para ele.

— Oxe e não já estou fazendo isso — sou pego de surpresa com sua fala, meus olhos finalmente saem do livro e o encaro.

— Não somos amigos — falei.

— Somos sim, até já fui no seu quarto, por falar nisso amanhã vou ver o jogo na churrascaria quer vir comigo?

— Não — respondi sem pensar muito.

— Ai, direto como uma flecha, gostei disso, mas é clássico rei meu amigo, não vou aceitar um não como desculpa — ele fala rindo da minha careta.

— Não tenho dinheiro para sair, Cícero — falei.

— Eu estou lhe convidando rapaz, passo na sua casa e lhe busco, ou melhor podemos ir para minha casa depois da monitoria e de lá vamos ver o jogo.

Como não tava afim de conversar falo pra ele que é melhor começar a estudar mesmo, pegamos os livros e começamos de onde paramos ontem, fico tão envolvido com a tutoria que nem vejo a hora passar, vamos para o RU juntos e no caminho ele encontra seus amigos que nos seguem, de repente me vejo cercado de pessoas conversando enquanto como, sou o único em silêncio na mesa, até quando falam comigo responde de forma monossilábica ou apenas com gesto de cabeça.

Próxima semana não só vamos ter aula até quarta pois é feriado de carnaval e a turma não fala de outra coisa, pelo que tentei estão combinando uma viagem para um interior do estado famoso pelo carnaval movimentado, uma das garotas que está na mesa diz que seu avô mora lá e que a casa é grande o suficiente para receber a galera, ai o resto parece coisa de filme, o grupo simplesmente resolve toda a logística da viagem durante o almoço, como eles vão, quem vai e as formas de contribuição, o engraçado é que para fazer trabalha da faculdade não rola metade dessa eficiência — prioridades né.

— Eu vou com o Cíço — diz Raylan.

— Vai dar não Raylan — Cícero responde, sinto uma pontada de satisfação com o corte que ele dá no amigo, mas engasgo logo em seguida com a justificativa que ele dá para não levá-lo — O Dan já vai comigo.

— Ah cara — Raylan protesta.

— Sinto muito cara, mas na moto só cabe dois — todos estão rindo do fora que Raylan levou até o próprio, todos menos eu, como assim eu vou com ele, primeiro que nem viajar eu vou, segundo que nem em um milhão de anos eu subo naquela moto de novo.

Eles resolvem todos os detalhes e vão se despedindo em seguida até ficar só Raylan, Cícero e eu na mesa, aproveito que para respirar um pouco, fico muito nervoso perto de tanta gente assim, não estou acostumado com esse nível de socialização, Cícero e Raylan estão conversando sobre as bebidas que vão comprar para levar, depois que eles decidem o que vão comprar aqui e o que vai ser comprado lá finalmente saímos os três do RU, Raylan chama Cícero para ir no shopping — tem um perto do campus — comprar um presente para namorada dele, mas ele responde que vai estudar comigo, assim Raylan se despede da gente e vai nos deixando sozinhos.

— Quem foi que te falou que vou viajar no carnaval com você e esse povo todo?

— Qual é o problema, vai dizer que você não gosta de carnaval?

— Eu não gosto de pessoas, até gosto do carnaval e de ver os desfiles com minha mãe quando ela não está no plantão — falei.

— Ah deixa disso, são só o pessoal da nossa sala e algumas pessoas de fora — se todo mundo que eles colocaram na lista, essas algumas pessoas totalizam vinte duas.

— Nem vai caber isso tudo de gente na casa do avô da menina, já ouviu falar de Impenetrabilidade?

— O conceito de que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço? — Fico surpreso dele saber — não sou tão burro — ele fala rindo.

— Enfim, não vai caber.

— Olha que se deus fez é porque cabe — fico corado com a piadinha infame dele.

— Você é muito quinta série — falei indo para fora da universidade, quando ele se deu conta me parou perguntando para onde estou indo — para casa.

— Não vamos estudar? — Ele pergunta confuso.

— Já estudamos antes do almoço.

— Pensei que você sempre estudasse — ele fala rindo.

— Nem sempre, às vezes eu gosto de ficar de bobeira.

— Duvido — ele fala em tom de desafio.

— Não tenho que te provar nada, mas sim é verdade, eu gosto de jogar videogame, por exemplo — falei.

— Ah então vamos lá para casa, a gente pode jogar e se der vontade de estudar um pouco mais, afinal ainda tenho matéria para por em dias — ele responde já indo para o estacionamento.

— Não vou para sua casa — falei em protesto, que ele claramente ignora já que embora tenha recusado o segui para o estacionamento.

— Você é irritante Cícero — falei.

— E mesmo assim você me adora — ele fala me entregando o capacete.

— Não vou subir nisso de novo — falei.

— Deixa disso, eu vou devagarinho — a quinta série nele é muito forte, o duplo sentido de suas falas é muito nítido.

Sei que falei que não andaria mais de moto, entretanto o poder de persuasão do Cícero é muito grande, só que dessa vez jurei para mim mesmo que não importa o que aconteça não vou me agarrar nele de novo, porém bastou ele sair com a moto e meu corpo se inclinar para trás para meus braços o envolveram de novo, juro por deus odeio andar de moto.

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Comentários

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Tá tudo mundo vendo a espiral em que o Dan vai entrar, até ele hehe. Vai fundo! Quem não arrisca não petisca 😛

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Fortal City sendo narrada, clássico rei, será que a faculdade é na UFC, UECE ou Unifor?

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Ansioso pelo próximo. Tô curtindo muito esse

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👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏

Fico sempre ansioso pelas suas publicações. Continuarei lendo com muito gosto até começarem as desgraças. Aí esperarei os capítulos iniciais de outra série.

Você é bom demais na escrita.

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Você e seu nêmesis mineiro têm muito em comum! Hahaha

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