Me leve para a praia 5

Um conto erótico de R. Valentim
Categoria: Gay
Contém 5216 palavras
Data: 19/08/2024 23:55:24
Assuntos: Amigo, Gay, nerd

Tentei acordar mais cedo para o caso do meu pai não conseguir me levar hoje, mas demorei para conseguir dormir, fiquei com Cícero sem camisa na cabeça até o sono me pegar, ele é muito lindo e mexeu muito com meu imaginário, querendo ou não a curiosidade sobre seu corpo começou a crescer dentro de mim. Levantei com muito sono hoje, fui direto para o banheiro para tomar um banho frio e acordar de fato.

Minha mãe e isabel já saíram para trabalhar, vou direto me servir do café da manhã que minha mãe deixou para mim, uma tapioca que só ela sabe fazer e o café preto dela é sem comparação também, só que tamanha é minha decepção ao perceber que a desgraçada da minha irmã tomou todo o café ou pior deve ter derramado só para mim não tomar, Isabel é muito escrota ela sempre dá um jeito de mexer comigo, desde que ela me contou sobre a adoção e viu que isso só me fez ser ainda mais o queridinho — nas palavras dela.

Eu sou dessas pessoas que só funcionam pela manhã depois de tomar um café bem forte e puro de preferência, não tenho outra escolha a não ser passar um café e rezar para que meu pai possa me levar hoje se não vou me atrasar novamente, estou começando a achar que devo mesmo tirar minha habilitação, enfim depois de comer e levar a louça que sujou pego minhas coisas e saí apressado dando de cara com Cícero em sua moto com o telefone na mão.

— Cícero?

— Já ia te ligar, acabei de chegar — ele fala com um sorriso que só ele é capaz de ter a essa hora amanhã.

— O que está fazendo aqui? — Pergunto.

— Vim te buscar, não combinamos ontem?

— Pensei que era zueira sua — confessei.

— Não brinco com coisa séria — ele responde rindo.

— Não precisava ter se incomodado, deve ter acordado mais cedo para vir até aqui — fiquei vermelho de vergonha.

— Não dormi essa noite, só tirei um cochilo — ele responde me zuando claramente, pois ele sabe que eu jamais subiria sua moto sem ter certeza que ele está cem por cento capaz de pilotá-la.

— Você fica com essas piadas aí depois não vou mais querer andar com você nessa coisa.

A gargalhada dele me anima como o café da minha mãe costuma me animar, peguei o capacete e me seguro nele logo sem arrodeios, sei que ele está brincando sobre não ter dormido, mas ainda sim não estou cem por cento certo se quero arriscar, a moto realmente é um meio de transporte rápido, de carro costumo chegar quase na hora da aula, mas com Cícero de moto cheguei ainda mais cedo, ele me chamou para sentar com ele no fundo da sala, porém ignorei seu convite e sentei na frente como sempre, então me pegando de surpresa ele simplesmente sentou na frente junto comigo.

Seus amigos foram chegando e ficando sem entender porque ele estava sentado na frente, Raylan que era o presidente de seu fã clube sentou na frente com a gente o que foi até que bom já que assim eles ficaram conversando enquanto eu prestava atenção durante a aula, na troca de professor do segundo para o terceiro horário Cícero e seu amigos foram atrás de comer algo, já que Cícero reclamou que estava com fome.

— Você não come em casa? — Perguntei enquanto ele esperava seus amigos para irem juntos.

— Detesto comer sozinho — responde ele.

Assim eles saíram e só voltaram no quarto horário — caras de pau — as aulas da manhã correram normalmente, no almoço Cícero veio comer comigo no RU e com ele os seus amigos chatos, sério uma galera muito sem conteúdo, um verdadeiro saco ouvir os caras mais feios do que bater em mãe falando que pegam mulher, até parece, um deles que mais se gaba durante o almoço é Raylan, o que é uma grande mentira, ele era um dos amigos do Rick que fazia bullying comigo na escola, era tão insuportável que uma vez Rick chegou a dar um soco nele, desde esse dia ele parou de me zuar, hoje em dia não guardo mágoa, mas quero distância, Raylan era um moleque feio e que as meninas da nossa sala tinha nojo do jeito magista dele, ele só pegava as meninas que ficavam com qualquer um tipo a Soraya, mas até mesmo entre as ditas quengas ele passava longe de ser opção.

— Deixa de mentir Raylan, você não pegava nem gripe na escola — digo quando perco a paciência com esse assunto insalubre.

— Como é que é? — Ele pergunta visivelmente com raiva, já que todos seus amigos zuaram quando falei.

— Você não pegava nem metade do que você tá falando aí Raylan, deixa de ser mentiroso.

— Agora pronto, até a mocinha da turma vai querer me gastar — todos riram menos Cícero e eu.

— Deixa o cara Raylan — Cícero fala para ele numa boa, mas ele não entendeu a deixa para mudar de assunto.

— Olha lá, Daniela arrumou outro macho para te defender — Cícero o encara mais uma vez, alguns dos caras ainda estão rindo — tô falando na escola ele vivia correndo atrás do Ricardo, morria de ciúmes do cara era bizarro e meu amigo Ricardo por pena defendia esse trouxa.

Me levanto e saio da mesa sem falar mais nada, não deveria ter aberto minha boca, Cícero o repreendeu mais uma vez e veio comigo, estou me tremendo de ódio desse babaca, Raylan não passa de um parasita, um imbecil, quero chorar de raiva, mas não pelas suas palavras e sim pelo Rick, ele desapareceu depois que nos beijamos, deve ter sentindo nojo de mim ao algo assim, estraguei minha amizade com ele por não saber ficar calado.

Cícero me acompanha e me puxa pelo braço me fazendo esperar um pouco, ele me encara e mais uma vez é como ver o Rick em pé na minha frente, ele está fazendo a exata cara que meu amigo fazia depois de brigar com alguém para me defender, me senti na escola de novo, por isso que evito socializar demais, estou na faculdade e ainda me comporto como um moleque às vezes.

— Ele estava só brincando Dan relaxa — ele diz.

— Brincadeira tem limite — respondi.

— Mas você quem começou a gastar com o cara né — Cícero tinha razão, se eu tivesse ficado calado não teria brigado — mas fica tranquilo, não precisa se alterar.

— Você não entendia Cícero, não ele sempre falava essas merdas na escola para mim — confesso.

— Esquece isso, deixa ele falar o que quiser, não é verdade mesmo — sempre tive muito medo de me expor, vivo dentro do armário desde que entendi que era gay, mas agora aqui na frente do Cícero as palavra começam a sair da minha boca sem que possa ter qualquer controle ou mesmo filtro.

— Acontece Cícero que sou gay e me incomodar que tirem sarro de mim por causa disso — nunca fui tão honesto com alguém em toda minha vida, me preparo para qualquer coisa que venha dele como resposta, porém Cícero me pega de surpresa.

— Agora faz sentido você ter ficado bolado, ele não sabe? — A naturalidade na sua voz me assusta um pouco.

— Não, você é a primeira pessoa pra quem contei pra falar a verdade — estou com minha adrenalina a mil.

— Entendo, cara, fico feliz que você se sinta seguro de compartilhar comigo — ele diz.

— Eu entendo se não quiser ser meu amigo, por isso — vou me adiantando, mas ele me interrompe.

— Ei calma lá, que uma coisa não tem nada haver com a outra, gosto da sua amizade e isso pra mim é o que vale, quem você beija não é da minha conta.

— Valeu — falei sem saber ao certo se era a melhor resposta.

Depois disso lhe pedi segredo e fomos estudar na biblioteca, para ele minha sexualidade não foi problema nenhum, Cícero passou a tarde estudando comigo da mesma maneira que vinha fazendo antes, sem nenhuma diferença ou piada e nem nada do tipo, fico muito aliviado por ele não ter surtado e mudado comigo, por mais que eu odeio admitir Cícero se tornou um amigo próximo.

Depois de estudar fomos para o estacionamento, hoje estou tão cansado que não sei se quero discutir com ele sobre aceitar ou não sua carona e como ele não comentou nada imagino que ele vá me dar uma carona e assim acontece, vamos até sua moto, ele me entrega o capacete, mas antes que eu suba na moto ele me lança a seguinte pergunta.

— Dany boy, qual seu tipo? — Não sei o que mais me pegou nessa pergunta: o apelido ou a pergunta em si.

— Como que é?

— Tipo qual seu tipo de cara, te conheço tem uns dias e imagino que você esteja solteiro já que não vi você com ninguém e nem comentando com ninguém — a naturalidade com a qual ele fala sobre minha sexualidade é interessante e assustadora ao mesmo tempo.

— Sim Cícero estou solteiro, mas não sei qual é meu tipo — tive que mentir, como explicar para o amigo hetero sem perder a amizade que meu tipo é ele?

— Bem vou te ajudar a arrumar uns caras para você, Dan você é bonitão demais para ficar com esse mau humor de quem não transa — ficou mais vermelho que um pimentão e ele riu da minha cara com uma gargalhada muito gostosa.

— Porque não arruma primeiro pra você, afinal também não te vejo por aí com ninguém — respondi.

— Rapaz pior é que é verdade mesmo, eu estava ficando com a babá do meu primo, só que meio que me emocionei e ela me dispensou.

— O clichê do garoto rico pegando a empregada, deve ser um fetichi entre sua classe — digo.

— Nem foi, porque ela não é empregada lá de casa e sim da casa da minha tia e tipo eu nunca peguei as sobrinhas e amigas da Claudia que aparecem lá em casa de vez em quando para ajudá-la com a limpeza mais pesada.

— Se você é tão gente boa, por que é que anda com aquele povo que não presta, você perdeu uma aula inteira hoje por causa deles — o repreendi sem perceber o que estou fazendo.

— Você tem razão foi vacilo meu hoje me desculpe — fico com vergonha pois ele se desculpou real para mim por ter faltado aula — sobre eles serem meus amigos nem todos são idiotas.

— Ah que sim claro, me cite um amigo seu que seja gente boa — lancei o desafio e ele sorriu com muita malícia para mim.

— Fácil, você — ele me deixou sem palavras, apenas coloco o capacete e subo na moto e sem nem me dar conta o envolvi com meus braços que por sua vez não fez objeção alguma, mesmo sabendo da minha sexualidade agora.

Quando ele sai da universidade percebi que ele está tomando outro caminho que não difícil reconhecer, Cícero está me levando para sua casa, tinha esquecido que ele me convenceu a assistir ao jogo em uma churrascaria, essa é tão improvável que se falarem pro meu pai que me viram lá ele não acreditaria, como já falei eu gosto de futebol, mas não sou muito fã dos torcedores, mas pode ser que seja legal assistir ao jogo com ele, afinal a gente tem se dado bem juntos, aos poucos ele está preenchendo a vaga de melhor amigo e já é muito tarde para tentar evitar.

Chegamos na casa dele que está impecável como da outra vez, Claudia me comprimenta e vamos até seu quarto, assim que ele anuncia que vai tomar um banho desvio meu olhar para o computador com a desculpa de que vou precisar usá-lo, não quero ser tentado de novo, mas o fato dele tirar a roupa perto de mim mesmo sabendo que sou gay mostra que ele não tem mesmo preconceito comigo, claro que não vou atacá-lo também — embora a vontade exista — não sou nenhum animal.

Fico no computador até ele voltar do banheiro, estou com calor mesmo no ar condicionado, saber que ele está pelado no compartimento ao lado já é suficiente para mexer com meu imaginário, quando ele volta vestido — graças a Jeová — consigo controlar minha respiração melhor, o que não significa que ele não esteja um pital que nem diz minha mãe, ele está com uma bermuda moletom e uma camisa do Vozão, mais hetero impossível, se ele meter um juliete ai eu me acabo — brincadeira.

— Quer meter um banho? — Ele me pergunta.

— Não gosto de banhar para vestir a mesma roupa — falei.

— Te falei que a gente ia daqui de casa, devia ter trago uma muda — ele comenta com um sorriso de quem está prestes a aprontar — mas para sua sorte fiz algo que não pretendo fazer de novo enquanto eu viver.

— Do que você tá falando Cícero? — Ele me deixou curioso.

Cícero abre o guarda roupa e tira uma sacola com o emblema do Leão, continuo sem entender até que ele me entrega a sacola com um sorriso que não cabe na boca, quando olho dentro da sacola meu coração quase para de bater, ele não fez isso, Cícero comprou uma camisa oficial do meu time para mim, sendo que ele me conhece a menos de uma semana, não estou acreditando.

— Você é maluco?

— Olha não vou dizer que foi fácil, fui todo paramentado com minhas coisas do Vozão para não correr o risco de ser visto e interpretado errado — ele se diverte com sua história.

— Você é louco isso deve ter custado um rim.

— Nem foi tão caro assim, tenho uma do aniversário de cem anos do vozão que foi bem mais cara, quando fui no seu quarto naquele dia vi que tinha muita coisa do Leão na sua decoração, imaginei que você gostasse.

— Eu gosto sim, mas não posso aceitar Cícero, estamos em segundo na tabela da série A, com certeza não foi barata.

— Só pra falar que vocês estão na série A né safado — ele me lança mais um sorriso, preciso aprender a resistir a eles.

Cícero me arruma uma toalha limpa e me mostra seu banheiro, ele tem produtos caros de higiene pessoal, tem coisas na pia dele que nem sei para que serve, existe mesmo uma diferença do que é barato para ele e do que é barato para mim, amei minha camisa nova, mas realmente não posso aceitar, vou pagar a ele com as aulas de monitoria, essa grana vai fazer falta, mas vai ser por uma boa causa, pois essa camisa é linda, e tem uma pegada bem clássica esse ano.

Ele ainda me empresta um calção seu que ele usa para malhar, é o maior que ele tem e até que me serviu bem, só que ele ficou um pouco curto e sou muito tímido, minhas coxas preencheram bem o calção e ele deu uma valorizada na minha bunda que já é grande, pareço um hetero ao mesmo tempo que na minha cabeça acredito que já estou pronto para ir para esquina fazer ponto, como ainda está cedo Claudia nos trouxe um lanche, e ficamos jogando vídeo game por um tempo até dar a hora de sair, ficamos jogando papo fora até ele entrar em um papo complicado para mim.

— Quem é Ricardo? — Meu coração errou uma batida só de ouvir seu nome.

— O que?

— Ricardo, Raylan disse que você era apaixonado por ele — Cícero se esforçou para ser respeitoso na parte do apaixonado.

— Não foi totalmente mentira aquele babaca — com Cícero começo a sentir que posso me abrir e contar as coisas sem medo de julgamento e isso é ótimo — ele foi meu primeiro e único amor.

— Então vocês chegaram a ter algo?

— Não, ele é hetero e se mudou do bairro quando ainda éramos jovens — resolvi omitir a parte do beijo.

— Sério, que chato, sei como é não ter um amor correspondido — ele diz com um certo pesar.

— Se apaixonou pela babá do seu primo mesmo — tento desviar a conversa do Ricardo, pois não quero chorar na frente dele.

— Gostei, mas não é dela que estou falando, eu perdi a virgindade com uma vizinha do meu avô lá nos Estados Unidos, era jovem e idiota, ela era casada com um militar que estava em serviço fora do pais, foi uma loucura, me apaixonei para caralho e ela terminou tudo quando viu que não estava sabendo lidar com nosso caso, meu avô descobriu um dia e me mandou de volta para o Brasil no outro para que a esquece ela e não morrer com um tiro na cabeça quando o marido dela voltasse.

— Você é muito emocionado Ciço.

— Ah, então você finalmente conseguiu me chamar pelo apelido — seus olhos se iluminam ao perceber nossa amizade crescendo e tomando forma.

— Eu não, Cícero, você está ficando louco das ideias.

Quando nossa hora chegou insiste que não iria a lugar algum com ele de moto a noite então ele foi até o salão de sua mãe para pegar o carro, só que dessa vez me pediu para esperar no quarto dele, é muito difícil resistir ao impulso de sair mexendo em suas coisas, tem tanta coisa nesse quarto sobre ele que conta sua história, Ciço é um cara muito aberto, tipo ele é só emoção, seus souvenirs e fotos contam uma narrativa clara e emocionante, o quarto inteiro traz uma energia muito boa, é o lugar dele e isso me deixa muito a vontade.

Eu sei que não estou sendo muito claro nas minhas ideias, é só que é tão bom ter um amigo de novo e dessa vez preciso ter muito cuidado para não estragar as coisas de novo, dessa vez vai ser diferente, ele sabe sobre mim e ainda sim não liga, nós dois nos respeitamos muito e isso é uma base sólida para construir uma boa amizade, estou começando a entender o magnetismos social do Cícero, ele é tão grande que é impossível não seguir em sua órbita.

Cícero me levou até uma churrascaria conhecida mais ou menos perto da sua casa, o lugar parece ser caro, mas já me conformei que ele tem dinheiro então não estou surpreso, tem torcedores de ambos os times no local o que é bem raro, pois normalmente essas torcidas não se juntam muito principalmente em dia de clássico rei, o Vozão e o Leão são os maiores times do estado e estão entre os melhores do nordeste, quando eles se encontram no campeonato estadual ou até mesmo no brasileirão as torcidas chamam o encontro de clássico rei, para quem gosta de futebol assim como eu o clássico sempre tem um gostinho a mais.

Ele me leva até uma mesa onde tem amigos e parentes dele, só eu e um outro amigo dele torce para o Leão, o resto da mesa é Vozão, todos estão uniformizados também deixando o espaço bem massa, ele me apresenta como seu amigo da faculdade e todos me comprimentam, rola uma dous piadas de torcedor do time rival, mas é de praste não se deve levar essas brincadeiras para o coração não vale a pena tiltar por causa de time — mais a gente tilta quando o time faz merda ai tá liberado.

— Cesar esse é o Daniel — Cícero nos apresenta.

— Prazer Daniel — ele aperta minha mão.

— Prazer é meu Cesar.

— Cesar é meu personal e amigo há vinte anos — completa Cícero, não vou mentir, saber que ele tem um amigo assim tão antigo me dar uma pontinha de ciúmes, mas nada que eu não saiba lidar até aqui.

— O Daniel é fera na matemática e estão me ajudando com as aulas que perdi por entrar depois na faculdade.

Cícero pede licença para gente depois de nos apresentar e vai até o bar, ele deve conhecer o dono já que ele já vai entrando e pegando uma cerveja no freezer sem pedir permissão para ninguém, espero mesmo que ele conheça o dono porque tem que ser muito folgado para ir chegando assim nos cantos.

— O que foi — Cesar pergunta ao perceber minha cara de reprovação.

— Esse folgado pegando cerveja direto do freezer sem nem pedir a ninguém — falei e Cesar riu.

— Ele é meio que o dono já que é da família dele.

— Da família dele? — Minha ficha começa a cair aos poucos.

— É a churrascaria do pai dele.

Agora as coisas começam a fazer um pouco mais de sentido para mim, eu não bebo e particularmente fico preocupado ao ver Cícero enchendo seu copo, ele está dirigindo não deveria beber, pior que estou sem dinheiro para pedir um uber e sendo clássico uma hora dessas meu pai já deve ser o cara mais bêbado do bairro, descido não pensar muito nisso agora e aproveito o jogo.

— Você não bebe? — Cícero me pergunta ao notar que não servi meu copo.

— Não nem você deveria beber — digo.

— Só um pouquinho relaxa, vou pegar um refri pra você, quer beber o que?

— Não precisa se incomodar — falo.

— Deixa disso Dany boy, você é meu convidado, pode ser uma coca cola?

— Pode — digo com vergonha.

— Normal ou zero?

— Normal, pois é um desvio de caráter beber a zero — ele gargalha com meu comentário espontâneo.

O jogo começou e foi muito emocionante, durante o primeiro tempo o jogo ficou no zero a zero, os amigos do Cícero estão sendo bem legais comigo, me sinto em um ambiente tranquilo mesmo com todos os xingamentos e piadas de torcedor, fora que todos ali parecem ter uma boa vida, sou de longe o mais pobre sentado nessa mesa, demoro um tempo para reconhecer, mas no final do segundo tempo me dou conta que tem até um deputado na minha mesa usando uma camisa do vozão, é surreal para mim essa situação.

No final do jogo o Leão vence por um a zero, faço minha comemoração de forma mais singela possível, pois não quero desagradar os meus colegas de mesa, Cícero ficou puto da vida, ele gosta de torcer tanto quanto eu, pelo menos Cesar ficou feliz da vida até brindou comigo, ele com sua cerveja e eu com minha latinha de coca.

— Pai esse é o Daniel que te falei — meu amigo aproveita o fim do jogo para me apresentar ao seu pai.

O pai do Cícero é muito parecido com ele, só que velho, tem os cabelos grisalhos e a barba também, meu amigo me falou uma vez que ele é vinte anos mais velho que sua mãe, ele tinha quarenta quando a conheceu, hoje tem sessenta e nove, mas estou bem inteiro para um coroa e tem lá seu charme ainda, a bebedeira continua depois do jogo, acho que nunca vi tanta bebida na vida, pelo menos tem comida de monte também, a carne está uma delícia e pra completar tem um baião dividido de bom.

Do nada uma banda de pagode começa a tocar, juro que nem vi a banda chegando, assim do nada me vejo em um rolê de pagode, usando uma camisa oficial do Leão em uma churrascaria de rico e o principal sem ter ideia de como vou para casa, já que minha carteira ficou dentro da mochila e a esqueci na casa do Cícero, meu amigo está bem altinho já, foi até cantar uma musica com a banda e o infeliz canta bem até, está se tornando um desafio procurar defeitos nele.

— O que você tem? — Mais uma vez, César percebeu meu desconforto.

— Quero ir para casa, mas acho que o Cícero não está em condições.

— Eu posso te deixar se quiser.

— Ah não, não precisa eu vou ver com meu pai se ele pode vir me buscar — não posso aceitar uma carona do Cesar, afinal acabei de conhecer ele e onde eu moro é meio perigoso.

Ele se põe a minha disposição para o caso de eu mudar de ideia, tento falar com meu pai, mas minha suspeita estava certa afinal ele nem atende o telefone, depois de hoje eu preciso mesmo tirar minha carteira de motorista, só me resta fazer algo que eu particularmente odeio fazer, me afasto de todos e vou lá para fora, pego o telefone e ligo para minha mãe para perguntar se posso passar um carro de aplicativo no cartão dela, minha mãe diz que sempre que precisar posso fazer isso, só que não me sinto bem em fazer sem permissão.

— Bença mãe.

— Deus te abençoe filho, que barulho é esse onde você está?

— Vim ver o jogo com Cícero, mas já estou indo para casa.

— Você devia aproveitar um pouco mais filho, já é tão raro você sair de casa — ela me incentiva a ficar mais, pois sabe que sou muito responsável e que não bebo.

— Não já deu, quero mesmo ir para casa, mas o pai não está atendendo.

— A essa hora deve estar mais bêbado do que gambar, ainda mais depois da derrota do time dele.

— Pois é, quero saber se posso passar um carro de aplicativo no cartão?

— Oh Dan, filho claro que pode, você sabe que nem precisa pedir, você e Isabel podem ter cem anos, mas enquanto eu tiver viva e trabalhando meu dinheiro é pra gastar com vocês meu amor, mas acho que você deveria mesmo ficar mais tempo, quer que eu mande alguma coisa para você tomar um refrigerante e comer alguma coisa?

— Não mãe, já estou bem cheio, o Cícero está me forçando a comer e beber tudo pelas custas dele — ela ri.

— Esse menino parece muito boa gente, mas cuidado filho.

— Eu sei mãe, vou deixar a senhora trabalhar, te amo, bença?

— Deus te abençoe e te guarde meu filho, quando chegar em casa me avise por favor.

— Pode deixar mãe.

Antes de entrar para procurar pelo meu amigo ele aparece na porta me procurando e quando me ver vem até onde estou, ele fica fofo bêbado, seu olho baixo e seu sorriso o deixam a coisa mais fofa do mundo.

— O que foi?

— Estou indo, você pode levar minha mochila amanhã?

— Você já vai, não fica — ele diz.

— É que eu to cansado Ciço — seus olhos se iluminam mais uma vez ao ouvir seu apelido sair da minha boca.

— Pois tá, vou só avisar pro pai que estamos indo “pera”.

— Não, eu vou pedir um carro, você pode ficar e outra você bebeu não pode dirigir.

— Carro nada, vou deixar você, eu não tô bêbado.

— E esse olho baixo ai.

— É meu olho normal, mas falando sério vou te deixar, a gente passa lá em casa pegar suas coisas e vamos.

— Ciço não.

— Dan só vou falar com o pai — ele pega meu celular da minha mão para que eu o espere e segue para dentro do bar, parece que vou ter que entregar minha sorte nas mãos de deus.

Cícero volta e vamos para casa dele, ele está dirigindo bem ate, mesmo assim estou preocupado com o fato dele ter bebido, o rádio está ligado tocando uma música internacional e estamos falando sobre o jogo quando ele muda de assunto me pegando meio desprevenido com a pauta escolhida.

— E então o que você achou do Cesar?

— Ele parece legal porque?

— Só legal? Que isso o cara é gente boa e acho que ele te curtiu.

— Como assim, explica melhor que não estou entendo — as vezes sou lento mesmo.

— Qual é Dany boy, o Cesar é do vale, ele é gay.

— Espera, você me apresentou para ele pra me juntar com ele? — Estou puto por ele ter feito isso, mas por outro lado o César parece mesmo um cara gente boa e é bonito também.

— Não quero que você arrume um macho para mim Ciço — falo o mais sério que consigo.

— Foi mal, só que eu gosto do Cesar e gosto de tu, ia ser legal se vocês ficassem.

— Tá bom santo Antônio — ele começa a gargalhar com a comparação.

Na casa dele paramos para pegar minhas coisas, aproveito para tentar mais uma vez convencê-lo a não ir me deixar, pois ele está bêbado, mas ele segue irredutível e para piorar escuto ele ouvindo um áudio de amigos da faculdade chamando ele para beber, no estado que ele tá vai ficar dirigindo bêbado é muito perigoso.

— Ciço você não deve sair mais — falei.

— Oxe, tenho que ir te deixar, depois vou passar no buteco para encontrar com os caras.

— Ou você pode ficar em casa, olha só que maravilha — digo — até porque amanhã tem aula.

— É eu sei, então faz assim você fica, assim eu não vou precisar te deixar e nem vou sair, amanhã vamos para aula juntos.

— Como assim, eu vou dormir onde?

— Aqui ué, minha cama cabe nós dois, você é grandão mais da certo.

— Não vou dormir na mesma cama que você — falei com meu corpo tremendo só de pensar nisso.

— Porque não?

— Porque você não vai se sentir confortável dormindo com um cara gay do seu lado — falei a primeira besteira que meu veio a cabeça e ele gargalhou alto.

— Qual é vai quer me comer enquanto eu durmo é? — Ele está mesmo se divertindo com meu gay panic.

— Não, claro que não é só que eu acho dormir junto muita intimidade — então ele dá dois passos segura meu queixo e me dá um selinho, fico completamente paralizado.

— Pronto acho que somos bem intimos agora, vou tomar um banho, cê vai querer comer alguma coisa ainda, estava pensando em pedir açai, vai escolhendo algo ai na tv para gente assistir — ele fala indo para o banheiro tomar banho como se nada tivesse acontecido e tudo que consigo pensar é o que acabou de acontecer.

— Ciço porque você me beijou — pergunto quando ele sai do banheiro usando só a porra de uma samba canção.

— Somos amigos Dan, eu sou hetero e gosto de mulher, tenho certeza disso, você é gay curti cara e daí, isso não tem nada haver com o cara foda que você é, eu sei que sou gostoso e que você está comedo de me agarrar no meio da noite — jogo o traviseiro nele — Tá tudo bem, te dei um selinho para você que não me importo, quero ser seu amigo Dan.

— Já somos amigos Ciço — falei tentando controlar a emoção, ele me dá mais um beijo agora na bochexa e um tapinha na minha bunda.

— Agora vai tomar banho que vou pedir açai para gente.

— Pra onde vai toda essa comida? — Mudo de assunto.

— Eu bebi mais do que comi e to com fome agora.

No fim aviso minha mãe que vou dormir no Ciço e tomo meu banho, sou meio que obrigado a vestir a mesma bermuda que ele me emprestou vou deitar com ele, seu camisa, perto dele fico um pouco envergonhado de ficar sem camisa, já que ele é tão gostoso e definido, mas ele nem pareceu se importar comigo ali na cama dele deitado ao seu lado, com o tempo o açai chegou e vimos um filme, ele pegou no sono antes do final, a bebida enfim o venceu, Ciço dormindo ao meu lado sou capaz de jurar que meu coração quer sair pela boca, para não ter nenhuma tentação desligo a tv, cubro ele com o edredom e me deito de costa para ele, foda é que ele só tem um edredom na cama então tenho que dividir com ele, afinal o quarto está um gelo e não tem como dormir sem, vai ser uma noite longa e eu não tinha nada que ter aceitado dormir aqui.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 36 estrelas.
Incentive R Valentim a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.
Foto de perfil de R ValentimR ValentimContos: 15Seguidores: 26Seguindo: 1Mensagem não recebo mensagens por aqui apenas por e-mail: rvalentim.autor@gmail.com

Comentários

Foto de perfil de Jota_

Estou adorando a história! Só torcendo pra não acontecer nenhum acidente de moto, pq meu radar já ligou. Hahaha!

0 0
Foto de perfil genérica

Cícero parece ser uma pessoa bem tranquila, tomara que saiba respeitar o Dani, o conto está empolgante. E se o rick voltasse arrependido? O Dani ficaria balançado? E com isso o Cícero ficaria com ciúmes do Ricardo.

0 0
Foto de perfil genérica

Torcendo que o Dany não se machuque novamente e que cico não seja um canalha em dar falsa impressão ao garoto. O conto está maravilhoso. Fortal City no topo.

0 0
Foto de perfil genérica

Meu Deus que tentação pro pobre do Daniel. Eu já vivi essa história e o final não foi bom kkkkk tô torcendo pra que o Daniel não se machuque pq de triste já basta a vida real 🥲

1 0
Foto de perfil genérica

Concordo!!! Quando vejo que as histórias tomam o rumo de muita dor e sofrimento, deixo de ler. Como você disse, já basta a vida real.

0 0