Olá, gente. É um prazer finalmente escrever um primeiro conto para este blog que há tanto tempo me distraio com maravilhosas histórias. Curiosamente, sempre nutri certa vergonha de publicar algum texto neste site, mesmo o conhecendo há muitos anos. Ao mesmo tempo, havia em mim uma necessidade de também colocar para fora algumas histórias que ocorreram comigo e que muitas vezes evito comentar em meu ciclo social. É chegada então a hora de iniciar o conto. Espero que gostem.
Meu nome é Eduardo, sou professor e pesquisador de história em uma importante universidade de Pernambuco e a história que vou relatar para vocês ocorreu há dois anos, quando eu estava com 32 anos.
Durante minha trajetória acadêmica, seja ainda na graduação, na pós-graduação ou como professor, sempre curti uma boa farra. Com bebidas, gente divertida, música boa e mulheres interessantes. Nunca fui nenhum galã ou o cara mais bonito da escola ou universidade. Tenho apenas 1,74m, não sou musculoso, mas possuo um bom físico por praticar ciclismo regularmente e boxe duas vezes na semana. Não fui eu quem inventou isso, mas de tanto ouvir das mulheres com que já me envolvi, percebi que minha maior beleza é o meu sorriso, que muitas vezes é meio caminho andado para conquistar uma bela mulher. Pois bem, enquanto pesquisador e professor, me envolvi com diversas pesquisas que envolviam música: rock, hip hop, forró. Nas duas primeiras eu não me envolvi diretamente com os artistas, fui o que muitos chamam de “pesquisador de gabinete”. Um pouco insatisfeito com essa pecha que minha profissão carrega, decidi finalmente colocar a mão na massa e realizar uma pesquisa mais profunda sobre o forró no sertão do Estado de Pernambuco, mais precisamente na cidade onde nasceu e viveu Luiz Gonzaga: Exu. Meu foco principal era buscar as raízes de Luiz Gonzaga, como a cidade operava na época em que ele morou lá e também como funciona hoje após a fama que o lugar conquistou após o sucesso do Rei do Baião. Consegui uma dispensa de algumas disciplinas que eu lecionava e foquei somente na pesquisa em que eu estava para me aventurar. Não sou casado nem possuo filhos, então viajar para longe e passar um bom tempo não é problema para mim. Já foi em outras situações, quando a distância impedia relacionamentos duradouros que consequentemente acabam em traições, sejam da minha parte ou das minhas ex-namoradas. Mas vida que segue. Nunca fui um cara de ser inimigo das mulheres, seja que as que magoaram ou as que magoei, gosto de prezar pelo diálogo e seguir meu caminho sem maiores dramas.
Eu tinha um grande problema para iniciar a minha pesquisa em Exu. Eu não sabia muito COMO iniciar e muito menos algum contato local para fazer uma espécie de ponte entre mim e as pessoas que por ventura eu pudesse me interessar para entrevistar. Ainda assim peguei meu carro e segui rumo ao sertão. Foi uma viagem longa de quase 9 horas. Infelizmente no dia da viagem perdi muito tempo procurando amigos para ficarem com meus dois cachorros e acabei saindo um pouco tarde da capital: por volta das 15h. Cheguei em Exu quase de meia noite, onde a cidade inteira já dormia e só existia o som do vento forte batendo em alguns galhos de árvores que embelezavam o centro da cidade. Eu havia estabelecido um contato com uma pousada, mas ao chegar notei que estava tudo escuro e fechado. Bati à porta algumas vezes e uma senhora veio me atender.
- Boa noite! Desculpe pelo horário e se a assustei. Eu vim de Recife, sou Eduardo. Falei com um rapaz chamado Antônio e disse que queria um quarto para algumas semanas.
- Ah! Você é o professor que meu neto me falou. Eu sou Maria, dona da pousada. Venha entrando. Jantou alguma coisa? Quer um cuscuz? Eu faço agora.
- Não, dona Maria. Não precisa se aperrear. Eu comi alguma coisa e tenho umas frutas aqui na mochila comigo. Só me diga onde é o quarto que não quero mais atrapalhar seu sono.
- Já vi que você é um rapaz muito gentil, num instante vai ficar amigo do povo daqui. Seu quarto é aquele ali (apontando) e me deu a chave. – Boa noite! Amanhã cedo tem café da manhã.
- Obrigado. Até amanhã!
Cheguei no quarto e gostei de toda a acomodação. Espaçoso, limpo e agradável. Simples como eu gostaria que fosse. Tomei um banho quente e fui dormir, estava acabado. Para não dizer que não fiz outra coisa antes de dormir, avisei aos meus amigos e familiares que cheguei bem e estava bem hospedado. No outro dia tomei o café da manhã que a dona Maria falou e conversei amenidades com algumas pessoas que estavam na pousada, como Antônio, o neto de dona Maria, e algumas pessoas que serviam a comida. Perguntei se era comum ocorrer forró na cidade, se havia alguma banda local, como era o funcionamento cultural da cidade de um modo geral. Antônio me contou que a família Canindé, muito famosa naquela região, quinzenalmente realizava festivais na principal praça da cidade, onde tanto pessoas comuns que ainda não era artistas podiam se apresentar, como também algumas bandas da região já consolidadas se apresentavam para animar o povo. Abri um sorrisão na hora. Ainda era dia, fui andar um pouco para conhecer a cidade e esperar aquela primeira noite de forró que já me deixava ansioso. Não toco instrumento algum nem sou afinado, mas além de ter um bom ouvido musical, sou um grande apreciador de forró, baião e também gosto bastante de dançar. Tava doido para conhecer alguma morena para dançar agarradinha comigo. Mas aquele sol quente na cabeça naquele início de tarde tava me deixando era doido. Recife é quente, mas aquele calor tava de matar. Precisava molhar o bico. Achei uma barraquinha que tinha o nome “Só para lavar”. Logo tirei uma foto para mandar para os amigos e ri muito do título. Lavar é como chamamos aqui aquela bebida que desce caprichada, geralmente uma cerveja após o almoço, uma saideira, um vinho depois da janta etc. Não podia encher a cara, queria estar sóbrio para conhecer os forrozeiros da cidade e não parecer um papudinho já na minha primeira noite na cidade. O local é pequeno, apesar de “tomar uma” ser algo comum, não queria ficar falado. Tomei duas cervejas bem geladas ao som de José Augusto, que o dono do bar gostava muito. O dono do bar, por sinal, era a pessoa mais fofoqueira que conheci na cidade até aquele momento. Para um pesquisador um fofoqueiro é sempre uma fonte riquíssima. Não precisava perguntas, ele falava logo algumas coisas:
- Olhe, você é novidade na cidade. É provável que apareça algumas mulheres interessadas. Mas cuidado com raparigagem pro lado das filhas do prefeito, Seu Elias Canindé. No forró da semana passada ele mandou matar um cabra que só sorriu pra uma das filhas dele.
- Que isso, seu Zito! Não vou me envolver em problemas não, já basta os que já tenho! Mas me diga, além de ser bravo assim o prefeito é uma pessoa que dá para conversar amigavelmente? Preciso de informações para a minha pesquisa e personalidades importantes da cidade seriam uma mão na roda.
- Olhe, ele geralmente gosta de aparecer no jornal, essas coisas. Mas nisso aí que você quer procurar eu não sei dizer. Eu sei que ele depois de tomar umas lapadas de Pitu fica um pouco mais solto, conversador. Repare hoje no Festival.
- Obrigado, seu Zito. Depois volto aqui com mais calma pra entrevistar o senhor.
- Nem precisa pedir, meu fio.
Após duas horinhas na barraquinha do seu Zito voltei à pousada para tomar um banho e me vestir. Fiquei pensando se me envolveria em problemas naquela cidade. Não possuo parentes de renome, não conheço nenhum político daquela região e muito menos gosto de bajular pessoas que se acham importantes. Tentaria com minha boa lábia dobrar o prefeito e conseguir boas informações sobre a cidade. Tentaria também ficar longe das filhas dele porque já vi que o cara é ciumento e agressivo.
Ao sair da pousada já escutava de longe uma zabumba tocando. Eu estava realmente muito ansioso para experienciar uma noite de forró no sertão. A cidade de Exu tem cerca de 35 mil habitantes e não recebe tantos turistas, então me surpreendi quando vi a praça principal da cidade tomada por pessoas. Deveria haver pelo menos umas duas mil pessoas ali. Durante o dia vi muita gente idosa e crianças, me surpreendi ao ver muitas pessoas jovens e bonitas, principalmente as moças. Mas estava na minha. Cidade de interior você deve tomar todo o cuidado com as mulheres porque tudo vira motivo de bala, principalmente de corno bravo.
A frente do palco estava com muitas pessoas. Eu não conseguiria fazer nada estando ali. Fiquei numa parte um pouco mais alta da praça, em uma calçada, de modo que conseguia ter uma visão panorâmica do espaço. A uns 100 metros de mim estava o prefeito. Na pousada pesquisei o nome da figura e vi as fuças dele para poder identifica-lo na multidão. Nem precisava. Estava cheio de gente ao redor dele, o que sinalizava ser alguém famoso da cidade. No palco algumas apresentações interessantes: um repentista que arrancou gargalhada do público. Uma poeta que declamou versos belíssimos. Um senhorzinho que cantou “A morte de um vaqueiro” de Luiz Gonzaga, à capela. Fiquei arrepiado. Muita força naquele palco. Não sabia o que estava por vir. A banda mais falava da cidade, que ouvi dizer ser família Gonzaga estava para se apresentar: As Gonzagas era o nome da banda formada somente por mulheres. O mundo musical do forró é um pouco machista, me surpreendi positivamente por ver um palco tomado por mulheres. Peguei uma cerveja gelada para acompanhar e por alguns segundos fiquei de costas para o palco. Foi quando ouvi aquela sanfoneira tocar pela primeira vez. Minha espinha arrepiou. Não consegui abrir a latinha de cerveja. Somente virei imediatamente. Era a mulher mais charmosa que eu já vi. Era de uma beleza natural, simples, sensual. É difícil até descrever. Ela segurava uma sanfona de pelo menos 10kg com a maior naturalidade do mundo. Me aproximei mais alguns metros e até hoje não entendo como ela não caia para a frente com aquele peso todo, porque havia algo que pesava muito ali também: seus belos seios. Nunca vi uma mulher com seios tão grandes e ao mesmo tempo empinados, sem flacidez. De onde estava não sabia se era silicone, mas ao tocar a sanfona – principalmente tocando forró – é natural a pessoa que toca se balançar um pouco e nisso dava para acompanhar o balançar dos seus seios, o que me indicava serem naturais. Também reparava no seu sorriso ao tocar, nos cabelos balançando, naquele vestido florido rodando e seus belos quadris que deveriam guardar uma bunda deliciosa.
- EI RAPAZ! Tá secando a filha do prefeito?
Fui despertado dos meus devaneios.
- Opa! Não entendi.
- Você aí com a boca aberta olhando a filha do prefeito, a dona Madá.
...Madá... era esse o nome da minha musa.
- Não não! Eu estou encantado com essa banda formidável! Cada arranjo foi pensado perfeitamente. As letras bem cantadas. Tudo. – Dei essa conversada mole de pesquisador para fugir da situação.
- Ah bom! Pois tenha cuidado pra não olhar demais. O homi é nervoso.
Sei quem era o tal “homi”. Há poucas horas estava na pousada ciente de que não deveria me envolver com problemas e agora estava doido para me aproximar daquela morena, tocar seus lábios, devorá-la inteira. Mas não dava. Aquele sujeito ainda me contou que ela tinha somente 17 anos para piorar minha situação. Depois de adulto nunca me envolvi com alguém menor de 18 anos, aquilo foi desolador pra mim. Como aquela mulher com todo aquele corpo, aquela voz que exalava maturidade possuía apenas 17 anos?
Eu precisava beber e pensar. Precisava fumar um cigarro sentado e pensar. Como me aproximar do prefeito e me manter longe de Madá que arrastava meus pensamentos para perto dela como um imã?
Sentado e um pouco mais distante pude reparar melhor também no restante da banda. Eram quatro mulheres belíssimas. Que genética era essa? Para vocês visualizarem melhor, elas são todas da cor da atriz e cantora Lucy Alves. Uma mistura muito doida de provavelmente indígenas, negros e brancos deram naquelas mulheres estupendas. A vocalista principal era mais velha e ainda assim guardava uma beleza monumental. Pela cara que o prefeito fazia ao vê-la cantar e o no rabo de olho que ele fazia para descobrir se alguém a encarava, deveria ser sua esposa. Agora pronto. Toda mulher gostosa da cidade está debaixo das asas daquele homem.
O show delas acabou. Aplaudi emocionado por todos aqueles acontecimentos. Mesmo que Madá tivesse mais de 17 anos, não fosse filha de alguém importante, o que garantiria que eu a teria pra mim? Nada. Mas eu sentia no fundo que era capaz de conquistá-la. Coloquei na cabeça que deveria me aproximar do prefeito e fazer amizade com sua família. Fui nervoso ao encontro do prefeito. No caminho algumas pessoas olharam assustadas porque me viram andando com cara de doido. Sim, aquela altura eu estava com uma cara de maluco. Cabelos assanhados, uma lata de cerveja na mão, suado. Tudo esse efeito de Madá em mim. Mas nesse trajeto até o prefeito dei uma passada de mão no cabelo e abotoei dois botões da camisa que estavam abertos quando fui tomar um ar.
- Boa noite seu prefeito! Parabéns pela organização dessa festival incrível! É minha primeira vez em Exu e gostei muito. Falei sem ser muito bajulador, mas também com certa firmeza na voz a ponto de ele me notar.
- Boa noite meu jovem! Não precisa me chamar de “seu prefeito”, pode me chamar de Elias. Sim, esse festival é a vida da minha família. Todos trabalhamos muito nisso, em manter a nossa cultura acesa! - Falou quase cuspindo na minha cara. Notei que estava um pouco mamado.
- É justamente pelo amor ao forró e essa cultura acesa que estou aqui! Vim pesquisar sobre a cidade e sobre as origens de Luiz Gonzaga!
- Mas não me diga! Qual seu nome meu rapaz? – Zé, não tá vendo aqui que o rapaz tá com sede? Traz uma lapadinha daquela cana do sítio pra ele!
... eu já estava simpatizando com o prefeito. Eu sou uma pessoa muito fácil de conversar. Quando encontro alguém do mesmo modo acabo fazendo logo amizade. Achei que por ser político aquele senhor fosse um grosseiro estúpido, mas me parecia bastante educado, gentil. (Mesmo eu já sabendo que alguns dias antes ele mandou matar um).
No momento em que o empregado do prefeito chegou com a dose de cana, suas filhas e sua mulher vieram ao seu encontro abraçá-lo.
- Olha aqui seu.... como é seu nome mesmo?
- Eduardo.
- Olha aqui Eduardo. Essa aqui é a minha fortaleza. Deus não me deu um filho homem mas me mandou 3 filhas fortes e talentosas! Você não acha? Essa aqui é minha esposa Joana (foi apontando de uma a uma). Essa aqui é Rosana, a mais velha. A do meio é Quitéria. A minha caçulinha, meu bebê, é Madá.
- Boa noite, senhoras. Foi uma honra assisti-las nesta noite. De onde Luiz Gonzaga estiver com certeza está sorrindo agora. Meus parabéns! Falei empolgado mas sem demonstrar assanhamento. Olhei no máximo por um segundo nos olhos de cada uma enquanto falava. Nesse um segundo que olhei para Madá vi seus olhos de perto, parece que olhei por uma hora. Pude ver sua boca, seu sorriso se abrindo quando terminei de falar. Eu estava perdido.
- Que isso seu Eduardo, que gentileza! – Falou Joana.
- É isso mesmo Eduardo! Luiz Gonzaga deve estar se acabando de sorrir e de chorar de alegria vendo que em Exu tem o legado dele! Bora virar essa lapada em homenagem ao sertão!
- Simbora! E virei aquela lapada de cana. Pense numa cachaça boa. Doce e forte sem descer rasgando e queimando.
Dona Joana perguntou, com toda gentileza do mundo, onde eu estava instalado. Respondi que estava na pousada Horizonte, de dona Maria. Ela sorriu como se já conhecesse e disse que eu estava em boas mãos. O prefeito falou o mesmo mas ainda assim disse:
- Lá é muito bom! Valorizamos as pousadas da região! Mas amanhã quero que você vá almoçar lá no meu sítio. Vamos matar um boi e fazer um churrasco com uma banda de sanfoneiro da região. Será o aniversário de 18 anos de Madá! Não precisa levar nada!
- Opa seu Elias. Será um prazer. Acho que não consegui esconder meu sorriso.
Pedi o endereço, me despedi dizendo que ainda estava cansado da viagem e voltei para a pousada. Consegui dar dois passos importantes em apenas um dia na cidade: fiz contato com o prefeito que demonstrou ser receptivo e ainda vou visitar a sua casa onde estará a sua filha Madá. Todos os dilemas morais foram embora: Madá no outro dia teria 18 anos, não teria nenhuma preocupação quanto a isso. Mas sim... o prefeito foi um cara bacana mas já mandou matar quantos? Era um risco que eu estava decidido a correr. Tomei um banho quente e me masturbei duas vezes pensando em Madá. Naqueles olhos, naquela boca, naqueles seios. Precisava daquela mulher pra mim. Mas muita coisa ainda estava para acontecer.
Continua.