“Uma grande mudança em nossas vidas
Cap 1 O INÍCIO 1.6
Anteriormente na última parte deste capítulo:
“Para completar aquela noite com chave de ouro e realmente recomeçar minha vida, no camarote vip pago pela gravadora, a pedido de Camille, conheci uma garota, uma loirinha que mexeu com meus sentimentos.
Estava me sentindo pronto para recomeçar também minha vida amorosa e não quis perder tempo.”Victoria)
Após Carol deixar meu quarto, me joguei na cama. Minha cabeça girava, e eu não conseguia nem ficar sentada sem sentir náuseas. Meu coração batia acelerado, num ritmo irregular, e eu mal conseguia respirar. Mais uma vez, uma angústia dominou meu corpo e minha mente.
Não sei exatamente quanto tempo se passou, mas o silêncio do quarto, que era minha única companhia naquele momento, foi interrompido quando Claudinho e Boca-Torta entraram.
— Vic, o que você acha que está fazendo? Já são quase 11 horas, e o Pedrão está te chamando. Esquece o que você falou com as meninas — disse Claudinho, um dos que eu realmente achava que era meu amigo.
Ele tinha uma expressão severa, despreocupada, como se ara eu quem tivesse feito algo errado.
Antes que eu pudesse responder, Boca-Torta, com uma postura mais tranquila, como sempre, tentou me acalmar.
— Fica calma, Vic. Ninguém daquele grupo vai mandar esses vídeos para outras pessoas. A gente...
Nesse momento, eu me descontrolei. Consegui levantar, gritando, e dei um tapa no rosto dos dois. Empurrei-os para fora do meu quarto, xingando e gritando que eles eram uns filhos da puta.
Várias pessoas começaram a bater na porta e exigir que eu abrisse, inclusive o Pedrão. Fiz então a única coisa que pude naquele momento. Com calma, mandei todos se calarem e falei para aquele negão maldito:
— Presta atenção... Eu estou ligando para a polícia. Vou colocar no viva-voz para você ouvir que eu estou falando sério.
— Calma, Vic... Não faz isso. Eu prometo que a gente não vai fazer nada com você. Só abre a porta pra eu me explicar — respondeu Pedrão, dessa vez com a voz mais baixa.
Não respondi nada. Apenas disquei o número da polícia e coloquei no viva-voz.
— Tudo bem, tudo bem, gatinha... Não vamos insistir mais. Fica aí e vai embora se quiser. Só deixa a polícia de fora disso.
— Vão embora. E me tragam um pedaço de carne e uma garrafa de água fechada. Eu já mandei as mensagens para várias amigas. Se, quando eu for pegar o que pedi, alguém tentar alguma coisa, elas vão chamar a polícia em menos de cinco minutos. Estou falando sério.
— Tudo bem, fica tranquila. Em alguns minutos a gente traz o que você pediu.
Não consegui dizer mais nada. Apenas deitei na cama e esperei. Depois de uns vinte minutos, bateram na porta e disseram que o que eu tinha solicitado estava lá.
Levantei da cama com calma, fui até a porta e tentei ouvir ou ver alguma coisa por baixo dela. Sentindo-me um pouco mais segura, abri a porta e peguei a encomenda.
Por volta das 22:00, o Fe me mandou uma mensagem dizendo que estava subindo no palco, ansioso, mas muito feliz. Ele me mandou uma selfie com a banda e outra com os pais, vestidos com camisetas pretas. Pela primeira vez naquele dia 30 de dezembro, esbocei um sorriso.
Acabei adormecendo com aquela sensação boa de vê-lo se divertindo. Saber que, depois de tudo o que aconteceu, ele ainda se lembrou de mim e me mandou aquelas mensagens me deixou “leve” novamente.
Fui acordada pelo som das notificações do celular. Do lado de fora do quarto, eu ainda podia ouvir o som da festa: música eletrônica não muito alta, misturada com gemidos e o choque de corpos das pessoas se relacionando.
As mensagens eram do Fe. As primeiras me deixaram feliz de uma maneira que não consigo descrever. Ele me mandou três vídeos. O primeiro era da banda tocando a primeira música, que o deixou completamente emocionado, com os olhos cheios de lágrimas. Acabei chorando junto, como uma criança.
Os outros dois vídeos também eram da banda, mas o último foi o que mais me tocou. A música começou de forma lenta, com ele tocando um violão acústico, sozinho no palco, enquanto o restante da banda ainda não havia retornado do intervalo. Aquela cena não sai da minha cabeça até hoje. A música falava de renascimento, de recomeçar.
Naquele momento, soube exatamente o que eu deveria fazer e onde era o meu lugar.
As últimas mensagens, dessa vez em áudio, me deixaram aflita e trouxeram de volta toda a ansiedade que eu havia sentido horas antes.
Os áudios eram do Fernando, certamente bêbado, me contando que conheceu uma garota e que estava afim de ficar com ela. Ele disse que precisava me contar e que já tinha decidido há muito tempo que queria apenas minha amizade. Inclusive, já tinha deixado claro, por mensagens, anteriormente. Mas, como amiga, ele queria compartilhar aquele momento comigo. Foi aí que percebi que o tinha perdido para sempre, pelo menos como algo além de um amigo.
Desesperada, liguei para uma amiga de balada e implorei que ela viesse me pegar. Graças a Deus, ela aceitou e combinou de passar aqui por volta das 9:00 da manhã de hoje (dia 31).
Aquela noite foi marcada por toda a movimentação do lado de fora do meu quarto. O som abafado e inconfundível de várias pessoas participando de uma suruba a poucos metros de distância parecia vibrar nas paredes. O cheiro adocicado e enjoativo de uma substância ilícita, tão comum nesses lugares, penetrava o ar pesado do ambiente fechado em que eu estava apertando ainda mais a opressão que se acumulava na minha mente. Por um momento, senti o impulso de ceder. A solidão, o barulho, o cheiro—tudo me empurrava para fora, à procura de qualquer companhia que aliviasse o desconforto que me consumia.
Cheguei a me levantar da cama, as pernas bambas, como se tivessem vontade própria. Dei alguns passos em direção à porta. O toque frio da maçaneta me trouxe de volta por um breve segundo, mas o peso de tudo o que tinha acontecido comigo começou a se misturar com o som lá fora. Talvez fosse mais fácil sair, escapar por algumas horas. Talvez…
Mas logo, uma sensação diferente tomou conta de mim. Um pensamento firme cortou a confusão como uma lâmina afiada. Eu sabia o que era aquilo—o velho condicionamento, a manipulação. O mesmo padrão que me fazia aceitar uma situação que eu não poderia, nem deveria, suportar. Respirei fundo e, com esforço, me afastei da porta.
O tumulto dentro de mim era tão forte quanto o que acontecia do lado de fora. Mas voltei a mim. Venci, mais uma vez, a batalha que sempre parecia querer me derrubar. Não foi sempre assim, claro. Desde o momento em que deixei aquele relacionamento horrível com Alberto se desenvolver, tudo mudou. Uma parte de mim foi quebrada ali, e tem sido uma luta constante para reconstruí-la desde então. Mas, naquela noite, eu resisti. E isso já era uma pequena vitória.
Sentindo o gosto da vitória sobre minha mente, percebi que não precisava me submeter a nada daquilo para ser feliz. Havia, pelo menos, uma pessoa na minha vida que conseguia enxergar quem eu era, alguém que eu mesma não conseguia ver há muito tempo. Ele me amava pelo que eu realmente sou, e isso me fez lembrar que eu não me resumia a ser um objeto sexual para homens que nunca sequer me mereceram.
Com essa nova percepção, decidi, mais uma vez, mandar uma mensagem. Desta vez, porém, gravei áudios para que ele pudesse ouvir e assimilar tudo da maneira mais clara possível. Contei tudo, sem esconder nada. Falei sobre meu relacionamento anterior, sobre como Alberto me manipulou, me condicionou a me tornar uma mulher que, por dentro, me causava tanto desprezo. Tentei explicar por que eu me submetia a aquelas situações, mas a verdade é que não havia uma resposta concreta. Era como se eu estivesse presa em um ciclo de autoanulação, e nem eu sabia dizer por quê.
Quando conheci Fernando, pela primeira vez em muito tempo, comecei a me sentir valorizada. Ele me via de um jeito que eu tinha esquecido de me ver, e eu estava plena, satisfeita, em todos os sentidos. No entanto, essa sensação de bem-estar me deixava vulnerável, como se a felicidade fosse frágil demais, pronta para escapar a qualquer momento. Provavelmente, para uma mente saudável, isso não faria sentido. Mas, para mim, fazia. Era essa vulnerabilidade que me fazia, inconscientemente, tentar sabotar nosso relacionamento, mesmo sem entender, até aquele momento, que eu estava fazendo isso.
Por fim, falei sobre Pedrão. Contei como ele começou a dominar minha mente naquela festa da atlética do curso, mesmo quando tudo o que fizemos foi nos beijar. Confessei – e era verdade – que eu não sabia que ele era um dos amigos de Fe na república. Mas depois disso, me envolvi de uma maneira que me desestabilizou. Acabei relatando em detalhes, talvez mais para mim mesma do que para Fe, como Pedrão me tratou durante a viagem. Ele me fez sentir de uma forma que eu nunca havia sentido antes. Havia algo em como ele me controlava que era irresistível. Contei, sem conseguir segurar, como ele "me tomou" para si, de um jeito que me fez sentir prazer apenas com ele. Com os outros, eu fazia o que me mandavam, sempre tentando ser boa o suficiente, sempre querendo agradar, tentando satisfazer seus amigos da melhor forma possível. Mas com Pedrão, era diferente. Ele me fazia querer ser submissa a ele, e isso me assustava mais do que eu podia admitir.
Depois de enviar o áudio, uma angústia profunda tomou conta de mim. Eu não tinha percebido o quanto estava me expondo, o quanto estava confessando a Fe que tinha me deixado submeter a tudo aquilo, que tinha cedido a Pedrão de uma forma que me fazia perder o controle. Se não fosse pelos prints que ele mesmo me enviou, eu não sei onde ou como tudo isso teria terminado.
A partir daquele momento, dormir se tornou impossível. Cochilei por alguns minutos, vencida pelo cansaço, mas logo acordava, o coração acelerado, esperando qualquer resposta. A noite parecia interminável. Fiquei encarando o celular, aguardando por qualquer sinal dele... mas nada veio.
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(Fernando)
Logo após sairmos do palco, por volta das 23h30, já estávamos no camarim da banda quando Camille bateu na porta.
— Meninos, Michele... Estão vestidos? Tenho uma surpresa para vocês.
Imediatamente, Marcus abriu a porta, e então nossos familiares, namoradas e o noivo de Michele entraram.
Meus pais rapidamente me abraçaram, ambos com os rostos avermelhados, os olhos lacrimejando e inchados. Não consigo descrever com palavras aquele momento.
Após algumas conversas entre todos os presentes, um papo relaxante, onde nossa convivência harmoniosa contrastava com a adrenalina que ainda corria em nossas veias momentos antes de subirmos ao palco, minha mãe contou que havia gravado, com seu celular de última geração, três músicas.
Naquele instante, percebi o quanto minha mãe me conhecia e como nos conectávamos sem precisar dizer uma palavra. O primeiro vídeo era da nossa primeira música, já mencionada anteriormente. A segunda era “Temple of Hate”, talvez a música que mais toquei nos últimos dias e que, na minha opinião, era a mais difícil tecnicamente. A última música gravada por minha mãe foi "Rebirth". Todas essas músicas são especiais por um motivo, e minha mãe conseguiu captar exatamente isso ao escolhê-las para filmar.
Estava tão feliz que enviei esses vídeos, explicando como me sentia, para Naty e Vic. Para Vic, ainda completei as mensagens dizendo o quanto ela era importante para mim, embora eu não quisesse mais nada além da sua amizade. Achei por bem deixar isso claro novamente e, com isso, me senti em paz comigo mesmo, como se um peso tivesse sido tirado das minhas costas.
Por volta da meia-noite, Camille nos chamou para irmos até o camarote dela, que, na verdade, era o nosso camarote, já que era uma cortesia da gravadora que gravaria nosso disco.
O lugar não era muito grande; parecia um complemento, uma extensão do restante do ambiente, mas um pouco mais reservado e acolhedor. Ao chegarmos, Camille me puxou pelo braço e me levou até um canto. No caminho, ela sussurrou no meu ouvido:
— Esse é meu outro presente para você, mocinho. Cuide bem dela.
No início, fiquei sem entender, mas não tive tempo de fazer nenhuma pergunta. Quando chegamos ao local, vi uma loirinha linda, não muito alta, com os olhos castanhos, parecendo duas jabuticabas. Ela era um pouco mais baixa que eu, vestia uma calça jeans não muito apertada e uma camisa do Iron Maiden, que lhe dava um ar descolado e autêntico.
Após as apresentações, Fabiane, ou Fabi, me lançou um sorriso tímido, mas malicioso, que fez meu coração acelerar. Tentei iniciar uma conversa, mas meu "probleminha" quase me fez ficar tão tímido que pensei em desistir. Ela, então, tomou a iniciativa, me puxou pela cintura e me deu um beijo suave e inesperado. Logo depois, aproximou a boca do meu ouvido e disse:
— Fica calmo. Sei do seu probleminha, e ele só me deixa mais à vontade. Eu só quero te conhecer melhor e te beijar muito.
Depois disso, ela recuou o corpo, me deu uma piscadinha que me fez sorrir, e, a partir daí, eu me soltei, sentindo-me mais leve.
Com o tempo, já estávamos como namoradinhos naquele lugar, trocando olhares e sorrisos cúmplices. Porém, algo me incomodava. Por incrível que pareça, apesar de tudo, eu sentia que estava fazendo algo errado em relação à Vic. Comecei a beber mais do que estava acostumado, como se o álcool pudesse apagar minhas preocupações, e, em certo momento, lembro de ter ido ao banheiro e mandado alguns áudios para Vic. Logo depois, a bebida fez efeito, e acabei desmaiando, sentado na privada, sentindo-me perdido em pensamentos confusos.
Acordei no dia seguinte sem saber o que havia acontecido e com uma baita dor de cabeça.
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(Victoria)
Por volta das 07:30 da manhã, eu ouvi a notificação de uma mensagem em meu celular e corri como uma adolescente ansiosa pela possibilidade de ser alguma resposta do meu amor.
O choque com a realidade de que aqueles áudios nem tinham sido recebidos, provavelmente porque o Fe tinha desligado o celular — talvez porque pudesse ter dormido com outra mulher — me fez retornar àquele estado de angústia que cada vez mais me domina facilmente, como se eu estivesse presa em um pesadelo interminável.
As mensagens que chegaram eram de minha amiga, que disse que conseguiu convencer seu namorado a antecipar sua volta para São Paulo. Um misto de felicidade por ter a oportunidade de sair daquele pesadelo e tristeza por não ter tido meus áudios ouvidos e respondidos me tomou por completo, como se um peso insuportável tivesse sido colocado em meus ombros.
Resolvi ligar para Pedrão e o comuniquei que uma amiga estaria em 30 minutos na porta daquela casa. Menti, dizendo que ela sabia de tudo e que, se não saísse sem problemas, ela iria direto para a polícia. Meu coração disparava, mas eu precisava parecer firme.
Pedrão me respondeu com deboche, falando que outras de suas putas vieram para a casa na última noite e que ninguém faria nada para impedir minha saída. Na verdade, eu já não era necessária; ele parecia se divertir com minha agonia.
Confesso que aquele canalha sabe mexer com minha cabeça. Mas não entrei na provocação e, no momento certo, saí de meu quarto e, logo depois, daquela casa, sem nenhuma resistência. Me senti em segurança ao entrar no carro do namorado de Beth, como se finalmente estivesse escapando de uma prisão.
O percurso até São Paulo foi constrangedor, em um silêncio angustiante. Eles não fizeram questão de conversar comigo, e seus olhares eram de julgamento, me fuzilando e condenando em silêncio. Saí do carro me despedindo timidamente, mas sem receber nenhuma resposta. Será que aquele comportamento seria o habitual em relação a mim a partir de agora? A pergunta ecoava em minha mente, e a resposta me deixava angustiada. Acho que merecia, e isso me fez muito mal, como se a dor se tornasse parte de mim.
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(Fernando)
Após acordar naquela manhã do dia 31 de dezembro, a dor de cabeça que sentia, associada àquela sensação horrível no meu estômago, me deixou sem vontade de levantar da cama. A luz que entrava pela janela parecia intensificar meu desconforto, como se a própria manhã estivesse me julgando.
Junto a isso, um sentimento de vergonha por ter terminado aquela noite maravilhosa de forma humilhante — desmaiado na privada devido ao excesso de bebida — me consumia, fazendo com que cada lembrança da noite anterior fosse um lembrete doloroso da minha fragilidade.
Senti um pouco de medo de não ter mais nenhuma chance com a Fabi e percebi que, involuntariamente, eu tinha sabotado uma oportunidade única de recomeçar minha vida amorosa. Logicamente, a hipótese de que aquilo aconteceu por causa da Vic me causou desconforto e revolta comigo mesmo, uma sensação que me derrubava de um jeito que nunca tinha sentido antes.
Já recuperado da ressaca, após tomar alguns medicamentos específicos para controlar o ânimo exaltado do meu estômago, medi também com analgésico para a dor de cabeça, tentando me recompor.
Nesse tempo, liguei meu celular, e diversas notificações interromperam o silêncio sufocante do meu quarto. Vários áudios da madrugada começaram a "pipocar" em meu celular. Eram da Vic. Ouvi tudo atentamente e comecei, finalmente, a compreender — embora estivesse longe de aceitar — tudo o que aconteceu na vida daquela garota e o porquê da preferência por determinados padrões questionáveis de relacionamentos.
O que senti foi pena, e me vi numa missão de ajudar minha amiga a sair daquela situação que sua própria mente a impunha. Apenas uma parte me deixou um desconforto que não consigo explicar: a parte em que ela conta como Pedrão a tomou para ele e como, de maneira involuntária, ela estava realmente se encaminhando para se submeter de forma completamente degradante àquele cara.
Me senti impotente, como se as palavras que eu queria dizer estivessem presas na minha garganta, sem ter meios de ajudar a Vic a se livrar daquela situação. Resolvi conversar com Marcus ou Naty antes de tocar no assunto dos áudios com a Vic, buscando apoio antes de enfrentar aquela conversa difícil.
Além dos áudios da Vic, outras duas mensagens chamaram minha atenção. Uma delas era de meu pai, informando que iriam voltar para São Paulo para passar o réveillon com o restante da minha família, o que já estava combinado anteriormente.
A outra mensagem era de Marcus, me chamando para tomar café em seu quarto. Teríamos que conversar sobre coisas relacionadas à banda e nossa carreira.
Resolvi então responder meu pai com uma mensagem dizendo que estava bem, mas de ressaca, e desejando um ótimo dia, além de agradecer por todo o dia de ontem e sua participação mais que importante. Logo após, me levantei, tomei um banho rápido e fui até o quarto de Marcus.
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(Victoria)
Eram quase meio-dia daquele dia 31 de dezembro. Com certeza, eu nunca iria passar uma virada de ano tão ruim como aquela, pelo menos até aquele momento.
Ao chegar em casa, meus pais não estavam; ainda estavam no interior de Santa Catarina, com o restante da família. Eu não estava acostumada à solidão, e, com certeza, ela não era uma grande amiga.
Subi para meu quarto, deitei na cama e senti a textura leve e reconfortante do jogo de cama. Comecei a admirar tudo o que nunca tinha dado muita importância anteriormente: os móveis que meus pais mandaram fazer sob encomenda, os quadros quase amadores que minha prima me deu e que eu nunca reparei como deveria, e o cheiro suave do produto perfumado que usaram para lavar meus lençóis.
Com a solidão começando a me consumir, de maneira impulsiva e sem pensar, liguei para Naty. Comecei a desabafar sem nem a cumprimentar. Só o ato de falar e me abrir com alguém que realmente estava disposta a ouvir me deixou eufórica e feliz. Nunca imaginei que me sentiria tão bem com esse tipo de conversa: franca, honesta e completamente desarmada.
Naty se mostrou uma ouvinte maravilhosa. Ela me deixou desabafar e me abrir como nunca. Logo após, fez uma proposta que me atingiu em cheio.
— Vic, se você prometer que irá buscar ajuda com minha tia, uma psicanalista com um ótimo currículo, eu prometo ajudar você a reconquistar o Fe.
A proposta me fez refletir sobre minha necessidade de mudança, e eu sabia que isso faria parte do meu renascimento, do meu recomeço. Resolvi aceitar com todo meu coração e esperança.
— Ótimo. Eu vou passar aí às 14 horas. Esteja pronta. Vamos encontrar o Fe e sua banda em Campinas. Mas no meio do caminho, eu irei conversar com você. Esse será o único momento em que você terá para me convencer, na verdade, convencer a si mesma.
Fiquei um minuto em silêncio, e Naty entendeu. Ela não me apressou, apenas me deu tempo para processar tudo aquilo. Aquela viagem seria o início de minha transformação, meu recomeço, meu "renascimento", e eu estava genuinamente feliz e esperançosa com o que viria.
— Não se preocupe com o Fe. O Marcus está com ele tomando café e irá preparar o terreno para quando você chegar. Mas... apenas se você for sincera em nossa conversa, marcar com minha tia um horário na minha frente e me convencer de que merece o Fe.
Ouvindo essas palavras, uma sensação de determinação começou a tomar conta de mim. Eu sabia que esse era o momento de buscar o que realmente desejava e de enfrentar meus medos. A ajuda que Naty oferecia não era apenas sobre reconquistar Fernando, mas também sobre me reconquistar e encontrar meu lugar no mundo.
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(Fernando)
Cheguei perto da porta do quarto de Marcus e ouvi vozes de algumas pessoas no local. Meu coração disparou com a possibilidade de encontrar Fabi novamente. Naquele momento, travei, quase sem coragem de me colocar na posição desconfortável de encarar aquela garota depois do que aconteceu ontem.
Quando estava decidido a virar de costas e sair andando pelo corredor, a porta se abriu, e Camille saiu com outras garotas e alguns rapazes. Ela apenas acenou com a cabeça e sorriu de forma tímida.
— Pode entrar. Você e Marcus têm muito o que conversar. A Fabi me pediu para passar o contato dela para você. Me procure depois, que eu vou te entregar. Ela curtiu você.
Eu respondi com um sorriso tímido também. Saber que uma garota como Fabi se interessou por mim me ajudou muito a reconectar com minha autoestima.
Ao entrar no quarto, Marcus me cumprimentou de forma habitual. Começamos a conversar sobre a banda, as apresentações, o contrato, e etc. Muitas coisas gerais, relacionadas à banda e à nossa carreira.
Ao me perguntar a respeito de Fabi, meu corpo me traiu. Olhei para baixo, retraí meu corpo e comecei a gaguejar. Marcus me conhece como ninguém e me chamou para uma conversa um pouco mais séria sobre a Vic e nosso relacionamento.
Resolvi contar tudo desde o começo. A cada novo período do nosso relacionamento, o modo abusivo como ela me tratava e como eu não me impunha, pelos motivos que já citei exaustivamente, vinham à tona.
Logo após, desabafei sobre como me senti com o que aconteceu naquele churrasco, em que rolou a "noite das meninas" e, mais recentemente, falei sobre aquela viagem da Vic, que se tornou um pesadelo para mim.
Mostrei todas as mensagens, fotos, áudios, vídeos e os prints que recebi da Victoria e de outras pessoas. Nesse momento, não me segurei e comecei a chorar.
Marcus reagiu de uma maneira completamente inesperada. Ele me abraçou e apenas falou:
— Fica tranquilo. Você sabe que precisa colocar tudo para fora. Vai te fazer bem. Eu estou te ouvindo e estou aqui para te apoiar.
Não consegui falar mais nada, mas o abracei forte e comecei a chorar ainda mais. Após um momento, um pouco de vergonha surgiu sorrateiramente na minha mente. Naquela hora, eu parecia uma criança nos braços de um adulto, mas o Marcus era apenas quatro meses mais velho do que eu.
Me senti totalmente vulnerável. Há muitos anos eu não me sentia assim, e isso me deixou desconfortável. Tentei me livrar dos braços dele, mas Marcus segurou minha nuca com uma mão e, com a outra, começou a acariciar meu rosto, enxugando minhas lágrimas.
Um turbilhão de pensamentos começou a surgir do nada na minha cabeça. Marcus manteve seu olhar intenso, quase castigando minha alma através dos meus olhos. Ele iniciou uma carícia leve e devagar no meu cabelo, na região da nuca, e com a outra mão continuou acariciando meu rosto, até que me surpreendeu novamente. Ele começou a introduzir seu dedo na minha boca, primeiro percorrendo todo o meu lábio e logo depois abrindo espaço para entrar.
Eu me mantive paralisado, incrédulo e... comecei a perceber meu pau endurecendo. Ao perceber isso, Marcus me soltou de seu encanto, mandou que eu me sentasse em uma poltrona perto da cama e pegou uma garrafa de água para mim, além de dois exemplares minúsculos de uísque de uma marca bastante conhecida.
Ele começou a andar nervoso pelo quarto, tomou uma das garrafas de forma rápida, em poucos goles. Eu permanecia imóvel, com um misto de vergonha e desconforto pela situação.
Ele então respirou fundo, sentou na beirada da cama e bateu na cama com a palma da mão, me chamando para sentar ao seu lado.
Ele me encarou e perguntou:
— Você não é gay, certo?
— Claro que não! Está me confundindo — respondi, demonstrando irritação.
Ele então respirou fundo e me disse algo que nunca foi tão verdadeiro e libertador:
— A Naty e a tia dela têm razão. Você sofre de carência emocional, e isso se deve a esse seu jeito de lidar com as coisas. Por causa dessa carência, você confunde afeto e cuidado com algo a mais, e isso te coloca como presa fácil para aproveitadores e abusadores.
— Se eu, com essa barriga, essa barba e essa careca, consegui te seduzir e fazer você se excitar, mesmo sem você ter a mínima vontade de estar em um relacionamento com um homem, imagina o que uma gata como a Vic não consegue fazer com a sua cabeça.
Ele realmente tinha razão, e muitas dúvidas começaram a surgir, golpeando minha mente. Fiquei parado por alguns minutos, até que Marcus reiniciou a conversa:
— A Naty está trazendo a Vic para cá. Ela vai obrigar a Vic a se tratar com sua tia. Ela também tem muitas questões para resolver. Você ouviu os áudios... eu não sou a pessoa indicada para iniciar uma reflexão mais profunda sobre tudo isso.
Eu não respondi com palavras, apenas com um aceno de cabeça.
— Você vai comigo para os EUA e vamos conhecer a casa de Dom PP. Para vencer o Pedrão e essa natureza quase ninfomaníaca dela, você vai ter que focar sua atenção em aprender a ser um bom dom. Faça isso, senão o amor da sua vida será sub de outros, com você tendo conhecimento das aventuras dela ou não.
Continua...
Obs: FICA PROIBIDO A COPIA, EXIBIÇÃO OU REPRODUÇÃO DESTE CONTEÚDO FORA DESTE SITE SEM AUTORIZAÇÃO EXPRESSA DO AUTOR.
Obs 2: como autor iniciante no site, gostaria de um feedback, com sugestões, críticas e etc ... Obrigado.
Obs 3: como prometido consegui soltar mais uma parte, era para ser a última, mas esse fds foi meu aniversário e eu fiquei de terminar e não consegui. E acho TB que iria muito extenso.
Espero que curtam e que a formatação saia corretamente dessa vez.