Júlia e Kaique estavam progredindo no processo de recuperação. Assim que minha mulher voltou a trabalhar, minha sogra retornou para a pousada. Com um mês, mais ou menos, meu filho voltou às suas atitudes normais. Apesar dele sempre parecer muito responsável e ter o privilégio de Juh estar por perto, eu senti um gelinho no coração, mas só me restava alertar e confiar.
No final de semana, fomos à praia porque Kaká queria fazer algo diferente, e Mih sugeriu irmos ao nosso lugar favorito. Assim que chegamos, todos entramos no mar para brincar. Devo ter ficado uns 30 minutos com eles e fui pegar nossas coisas no carro para colocar em uma mesa, onde sentei e passei o olho na escala do hospital. Estava chegando o final do ano, e eu trabalharia no dia 25 de dezembro.
Fui tirada dos meus pensamentos quando senti um corpo molhado pulando em cima de mim. Era Kaique, que ria por ter conseguido me assustar.
— Não pula assim ainda, filho — falei, preocupada.
Mas só ouvia seus risos em resposta.
— Por que voltou? Ficou chato lá?
— Não, agora tá muito sol, resolvi sair — respondeu, pegando o protetor solar para que eu passasse nele.
— Fico muito orgulhosa quando te vejo assim, um rapazinho consciente e responsável com tudo. Você está tirando de letra e sabe disso, não é? — falei, suspendendo o cabelo que caía sobre seus olhos para poder passar o protetor.
— Sei! — respondeu, sorrindo. Não era só um convencimento; me pareceu que ele também estava orgulhoso de si mesmo.
Entre beijos, perguntei:
— E esse cabelo? Não quer mesmo cortar as pontinhas?
— Não, não quero mesmo! — respondeu, enfático, perdendo o sorriso que tinha no rosto.
— Então dá um jeito dele não ficar caindo nos olhos. Tem tantos modos de pentear! Se você quiser, eu posso tentar, a mamãe também — falei.
— Mas eu gosto dele caidinho — falou, um pouco triste, recostando-se sobre meu peito.
— Tudo bem, depois a gente conversa sobre isso então — cortei o assunto.
Estava bem quente e começou a soprar um vento muito bom. Fiquei fazendo carinho em seus pequenos cachos enquanto esperava a água de coco que pedimos chegar. Dei uma para ele e, depois de um tempo segurando para o meu playboyzinho, senti um líquido gelado escorrer sobre mim. Kaká dormiu ao mesmo tempo que bebia a água. Coloquei o coco sobre a mesa e ajeitei seu pescoço. A brisa fazia os cachinhos balançarem de forma graciosa. Ele é um menino lindo, desenhado, perfeito!
Olhei para o mar e as meninas mais lindas da minha vida vinham correndo, aparentemente apostando uma corrida, onde Mih vencia com folga. Juh claramente nem tentou ganhar e se divertia muito com isso.
— Ué, dormiu? — disse Juh ao olhar para nosso filho.
— Tá vendo que ele é um bebezinho... — disse Milena com uma voz fofa.
— Bebezinho pesado, vocês dois estão enormes! — falei.
— Perdi meu colo pós-mergulho — lamentou Juh de forma divertida.
— É, gatinha, perdeu — falei, rindo. Ela me deu um selinho e sentou em uma cadeira.
Logo, Kaique despertou e Mih e ele entraram na discussão de sempre sobre quem era mais bebê.
— Amor, já pensou no que vamos fazer no final do ano? Se vamos viajar ou ficar em casa? — perguntei.
— Não, quer fazer algo em específico? — me perguntou de volta.
— Não vamos todos para a pousada de novo? Tio Lorenzo disse que podia virar tradição... E é sempre tão legal, por que não vamos? — perguntou Mih melancolicamente, em um lamento inconformado.
— Não tivemos tempo para planejar, amor. Tanta coisa acontecendo... Nem reservamos com seus avós — respondeu Juh.
— Mas a vovó com certeza dá um jeito, ela ama quando vai todo mundo para lá, e o vovô também — tentou nossa filha.
— Por favor, vamos para lá com todo mundo... É um lugar grande e dá para eu matar a saudade de todos! — pediu Kaká.
— Amor, acho que nossa primeira opção é a pousada — disse Juh, rindo.
— É até bom porque no dia 25 vou trabalhar, e é um lugar próximo para poder voltar tranquilamente — falei despretensiosamente.
— Vai trabalhar no Natal, amor? Não tem como trocar? — perguntou imediatamente.
— Sim, gatinha, estava olhando a escala quando o Kaká chegou. Acredito que ninguém queira trocar pela data.
Juh visivelmente ficou chateada, mas não ia dizer nada na frente das crianças. Olhei de um lado para o outro, e acima do quiosque onde estávamos tinha um parquinho onde dava para monitorá-los.
— Querem ir para o parque? — perguntei.
— Simmmmm!!! — disse Mih, empolgada, levantando-se.
— Tem brinquedo que eu posso ir? — perguntou Kaique, de pé na cadeira, tentando observar.
Milena chegou mais perto e voltou comemorando que tinha, puxando-o pela mão.
— Ei... Psiu... — falei para Júlia, que não me dava bola e já estava com um bico do tamanho do mundo. — Gatinha! — exclamei, e ela olhou. — Vem aqui comigo... — chamei-a, esticando o braço. Depois de alguns segundos com ele parado no ar, ela me deu a mão e veio ao meu encontro.
Estava um pouco resistente, e eu a puxei para meu colo. Dei um cheiro no pescoço e tentei resolver o pequeno conflito.
— Tá chateada porque vou trabalhar, não é? — perguntei.
— Não, Lore. Eu estou chateada porque você trabalha demais, o tempo inteiro. Nem tem mais necessidade de você estar no hospital com esses horários loucos, mas você simplesmente não consegue largar, parece que é um vício! — desabafou, rispidamente.
— Amor, eu acho injusto pedir o meu desligamento antes desse contrato acabar. Quando a clínica era só um projeto, foi o hospital que me ajudou a concretizá-lo. Eu não vou renovar, mas também não vou sair agora.
— Você não vai renovar, porém já existem as palestras que você encaixa até nos finais de semana, e eu duvido que você não encontre nada para colocar na agenda, "uma experiência única" ou algo assim...
Confesso que fiquei um pouco surpresa com as reclamações. Juh sempre comentou que eu trabalhava demais, mas ela parecia pensar muito mais nessa questão do que eu imaginei. Seus posicionamentos foram coesos e diretos.
— Já está terminando essa correria. É só até o final do ano, e eu prometo para você que teremos muito tempo livre nessas férias. Você vai ter que me aguentar enquanto as suas durarem, do acordar ao dormir — disse enquanto beijava seu pescoço.
Juh virou para mim, depositou um selinho nos meus lábios e respondeu:
— Você não entende que isso é o que eu mais quero... Mas e depois?
— Tem a clínica. Eu quero estar ativa, mas você sabe que terei mais liberdade lá agora e gostaria de focar nas palestras, que não são frequentes... Se surgirem novos planos ou ofertas, a gente vai conversando, tá bom? — perguntei.
— Tá bom, amor... O problema é que sempre surge oferta... — falou, chateada.
— Eu prometo que vou trabalhar menos — falei e dei vários selinhos em seus lábios.
O assunto se encerrou, contudo, ficou um desconforto no ar. Eu odeio ter essa sensação de conversa pendente.
Eu sempre trabalhei muito desde que saí de casa. Queria independência e sucesso financeiro, mas sempre vivi me metendo em novos projetos porque sou completamente apaixonada pela psiquiatria e os efeitos dela sobre as pessoas. Foi difícil me ver numa situação em que precisei tirar um ano sabático e ter que tomar essa decisão, tanto que foi uma decisão tardia. Para qualquer pessoa que me conhecesse antes dessa pausa, diria que eu voltei pegando até leve. O que para meus irmãos era uma Lore desacelerada, para Juh era uma Lore sobrecarregada. Vivendo o momento, eu julguei uma reação exagerada, embora entendesse completamente que agora minha família cresceu e exigia mais atenção da minha parte. Acredito que afeto, expressão de sentimento, presença, apoio, consideração e carinho eu nunca deixei faltar, mas os próximos passos poderiam pôr em risco a bela relação que tínhamos.
— Gatinha, não gosto de ficar assim contigo... — lamentei em seu ouvido.
— Também não gosto... — respondeu, me fitando com um olhar triste.
E nisso as crianças surgiram acompanhadas de um casal e outras cinco crianças.
— Maaaaaaaaaaaaes! — gritou Mih, correndo animada.
— Vocês não vão acreditar! — disse Kaká, também empolgado.
Pela animação deles e pelo casal sorridente que os acompanhava, minhas suspeitas de que algum problema tinha acontecido foram zeradas.
— Olha que legal, eles têm cinco filhos! — disse, mostrando as crianças que estavam brincando no parque.
— Que maravilha! — exclamou Juh, cumprimentando o casal.
— Cinco filhos? Deve ser o caos mais gostoso do mundo! — falei, rindo e cumprimentando também.
— É, sim... Mas ter gêmeos também deve ser um trampo imenso — comentou o rapaz.
Juh e eu olhamos diretamente para os dois, que sorriam como se nada tivesse acontecido.
— É um desafio mesmo! — disse Juh, tentando parecer convincente.
— A gente vai ter mais irmãos, né? — perguntou Mih.
— Aaaaah, agora eu entendi tudo — falei de forma dinâmica.
O casal riu e já se despediu, pois estavam indo embora. Me desculpei pelo incômodo deles terem que vir até nós, mas formam bem gentis e disseram não se importar.
— Não quero ser o mais novo para sempre — disse Kaká.
— Vamos com calma. Kaique acabou de chegar em nossas vidas, temos que curtir um pouco essa vida de dois filhinhos! — falei.
— É, Lore tem razão. Vamos sem pressa. Temos que aproveitar, e não é tão simples assim criar, educar e dar toda a atenção necessária a uma criança. Acho que estamos indo bem, mas precisamos ter muita responsabilidade... — ela ia continuar falando, mas Milena a interrompeu.
— Vocês desistiram de mais irmãozinhos? — perguntou, assustada.
Tive a ligeira impressão de que a palavra “atenção” foi direcionada a mim, talvez por "estar no erro", e isso ficou na minha cabeça.
— NÃO! — respondemos juntas, para o alívio dos dois.
— Vocês se comportam aqui na mesa enquanto vou ao mar com a mamãe? — perguntei, e eles confirmaram. Pedi para um cuidar do outro e estaríamos de olho.
Passei a mão na cintura da minha esposa e fomos.
— Amor, você acha que não estou dando atenção suficiente à nossa família? — perguntei.
— Não, amor... Por que está perguntando isso agora? — ela me questionou.
— Pelo que você acabou de dizer para as crianças, senti uma pontada e resolvi perguntar logo. Mas que bom que foi só impressão — respondi.
— Eu jamais ia intrometer nossos filhos nisso... Poxa, como você pensou isso de mim? — me perguntou, desapontada.
Eu já estava me sentindo uma péssima mãe. Nesse momento, formou-se o combo: péssima mãe e péssima esposa.
— Amor, me perdoa, por favor... Foi uma conversa em cima da outra e eu não sabia do seu posicionamento sobre o meu excesso de trabalho... Me desculpa? — pedi, segurando seu rosto, pois ela já pretendia retornar.
— Tá bom... Vamos indo, tá ficando tarde já... — disse, me segurando pela mão.
— Antes, posso pedir um beijo? — falei, abraçando-a.
E depois de uns três selinhos, eu a beijei, mas foi um beijo bem frio.
Mais uma conversa inacabada para a conta; o sentimento que eu tinha era de que nada estava sendo resolvido e que cada passo meu piorava a situação.
Em casa, tomei banho. Kaique e Milena também. Eles estavam brincando no chão da sala enquanto eu descansava no sofá. Juh estava em ligação com meu sogro desde que chegamos, tentando resolver o final do ano. Eu já tinha mandado mensagem em um grupo que temos, e todos tinham confirmado presença (caso desse certo), o que não era nenhuma surpresa.
Aproveitei que estava com a cabeça cheia e só tinha os dois ali e perguntei: — Vocês acham que sou uma boa mãe?
Os pobrezinhos me olharam confusos.
— É — respondeu Mih.
— Eu concordo, é — disse Kaká.
— O que é ser uma boa mãe para vocês? — perguntei.
— Eu tenho coleguinhas que aprontam e os pais batem. Quando eu faço alguma coisa de errado, a senhora sempre conversa comigo e me explica por que não posso fazer besteiras... — disse Mih.
— E mesmo quando eu fico irritado, a senhora me trata com carinho e amor. Aí eu percebo que agi errado. Os pais dos nossos colegas não são assim. Nós temos as melhores mães do mundo inteiro! — disse Kaká.
Eu esperava algo bem raso, e as respostas deles me emocionaram. Logo que perceberam, pularam em cima de mim para me encher de amor.
Assim que saíram, olhei para frente e Juh observava a cena. Eu não sabia desde quando, então perguntei se tinha dado certo nossos planos e ela confirmou, para a comemoração dos meus preciosos filhos.
Júlia ia para o banho, mas antes me chamou para passar os valores divididos desse ano, quase igual aos anos anteriores.
— Lore, eu te fiz questionar sua maternidade? — perguntou de repente, enquanto tirava o biquíni.
— Você não, mas fiquei pensativa. Às vezes a gente acha que está desempenhando bem uma função, mas podemos estar enganados... — falei, medindo palavras para não criar outra confusão.
— Eu fiquei triste ouvindo vocês conversarem. Apesar de você ter recebido respostas corretas, me chateei por ter feito você se questionar em algo que faz tão bem... Me desculpa? Acredito que tenho parcela nisso, sim — disse, olhando para mim.
Eu a abracei e pedi para a gente conversar direito, porque a sensação de existir um problema entre nós estava acabando comigo.
— Não tem o que conversar, a gente já deixou tudo claro. Agora é só esperar isso passar... — falou, com as mãos nas têmporas, como se já não aguentasse mais o assunto.
— Tá bom... — falei, insatisfeita.
Ela foi para o banho e eu fiquei um tempo sentada na cama, pensando. Eu, que sou uma pessoa faladeira e pareço sempre ter algo na ponta da língua, naquele momento não encontrava palavras para descrever aquele clima tenso, muito menos resolvê-lo.
Eu tinha a impressão de que no próximo ano estaria mais tranquila. Atualmente, eu estava indo para a clínica de segunda a sexta e passando 24 horas no hospital duas vezes na semana. Palestras eram raras, mas quando apareciam, eu perdia muito tempo me deslocando para as cidades. Juh tinha razão ao ligar o seu alerta. Para a vida que eu já levei, isso não era nada, mas para o meu cenário atual estava uma rotina saturada.
Invadi o banheiro e a abracei. Mesmo sem entender, Juh me abraçou forte; ficamos assim por um tempo. Desliguei o chuveiro, mas não conseguia dizer nada. Ela aproximou seu rosto do meu e começou a dar pequenos beijos por toda a minha face até chegar à boca, beijinhos que evoluíram e esquentaram.
— Passou, não foi? — perguntei com um sorriso sacana, referindo-me ao mal-estar que existia entre nós.
— Se eu disser que sim, você vai parar por aqui? — perguntou de forma cínica.
Voltei a beija-la e suas mãos tentaram arrancar a minha roupa encharcada, mas eu tinha pressa em tê-la naquela tarde. Por mais que eu odiasse a sensação de panos molhados em contato o meu corpo, naquele momento ali eu só pensava em uma coisa: dar prazer a aquela mulher!
- Você fica cada dia mais gostosa, Júlia - falei em seu ouvido e voltei a atenção para os seus saborosos lábios.
Desci a mão pressionando seu corpo até chegar a sua entrada molhada, escorreguei propositalmente meus dedos ao redor, fazendo minha esposa suspirar.
- Vai, amor! Vai logo! - pediu em desespero.
- Você quer, gatinha? - Perguntei sem deixá-la responder, beijando-a mais uma vez.
Juh segurou meu rosto interrompendo nosso beijo e disse entre sussurros com a respiração descontrolada: - Por favor, me come agora!
Ouvi um gemido rouco enquanto meus dedos deslizaram firmemente até onde era possível, e começaram a fazer movimentos rápidos entrando e saindo. Insistentemente continuei tentando manter o beijo, mas não era possível. Eu já sabia que não, mas gosto de sentir/ouvir os gemidos abafados dentro da minha boca e toda a falta de controle que meus toques causavam. Os sons que saiam da sua boca pareciam sair do fundo da alma e eu perguntei no seu ouvido:
- Tá bom assim, amor? - Enquanto inseria mais um dedo dentro dela que acenava que sim com a cabeça e olhos fechados - Geme baixinho ou nosso filhos vão ouvir - continuei dizendo, mas sem facilitar a tarefa para seu lado pois já que não era mais possível manter nossos lábios juntos, minha língua desceu de forma provocativa até os seus seios.
Abocanhei um de cada vez com voracidade, chupando e mordiscando para o delírio da minha garota que começou a tremer enquanto se agarrava ao meu corpo, buscando algo para segurar. Seu quadril vinha cada vez mais firme conta mim, e senti a sua pulsação aumentar de forma abrupta, repentina e eu retirei meus dedos de dentro dela. Um olhar confuso tomou conta da dos seus olhos e eu levei a mão a boca, chupando dedo por dedo frente a frente. Dei um beijo curto mas forte, e desci com a língua pelo seu corpo até a sua pepeca, dei uma longa sugada, suas mãos forçavam ainda mais a minha cabeça, como se não estivéssemos perto o suficiente, novamente inseri meus dedos dentro dela de forma curvada, tocando onde era preciso e com o punho da outra mão estimulei seu clitóris preparando para a minha língua, que parecia querer mais do que nunca aquele contato.
O corpo de Júlia foi dando sinal de que o orgasmo se aproximava e o meu também, eu estava adorando vê-la daquela maneira, ouvi-la gemer cada vez com mais vontade, nós duas arfávamos e senti um choque tomando conta de todo meu corpo enquanto sentia um líquido quente sair de mim de forma quase que explosiva. Segurei com as duas mãos a cintura de Juh enquanto o oceano de dentro dela desaguava na minha boca e desabamos ali mesmo, ela por cima de mim. Agora só era possível escutar as nossas respirações, e sentir nossos pulmões subindo e descendo de forma ofegante, procurando o ar que parecia nunca vir.
Depois de um bom tempo, fomos nos reerguendo e tomamos um banho demorado, com muito carinho e promessas de que, independente de qualquer coisa, faríamos de tudo para superar e ficar bem.
Já no quarto, enquanto assistíamos a um filme, nós conversamos mais um pouco. Novamente, Júlia me pediu desculpas por ter possivelmente feito eu me questionar como mãe. Eu também pedi desculpas por não perceber o quanto minhas horas afastadas de casa e da família a afetavam. Prometi tentar adequar tudo da melhor maneira.
— Amor, o pessoal lá da escola tira onda com a minha cara, sabia? Elas têm umas reclamações pesadas dos seus parceiros, desconfianças e medo de serem deixadas... Eu falei uma vez que, graças a Deus, contigo não sinto isso. Para mim, é como se fosse morrer ao seu lado e tenho a segurança de que podemos superar tudo. Posso confiar 100% em ti. Aí sempre dizem que falo isso porque nosso relacionamento é novo, que eu sou jovem e sonho demais, e que mais para frente vou ver o que é bom...
— Eu sou coroa e tenho a mesma sensação. Já estive em outros relacionamentos e nunca senti o que nós temos. Tenho plena confiança em você. Sei que fazemos de tudo para dar certo e nunca desistiremos uma da outra... — falei de forma natural, mas um sorrisinho surgiu nos lábios do meu amor. Para mim, aquele mágico riso, que curou as feridas mais profundas do meu coração, era um convite para beijá-la.
Ouvimos batidinhas na porta e, ao autorizar a entrada, nossos filhos pularam na cama, pedindo para fazer algo diferente. Geralmente, quando pedem isso, já planejaram o que realmente querem fazer.
— A gente pode ir naquela sorveteria que eu gosto? — perguntou Mih.
Ela se referia ao Museu do Sorvete, que provavelmente já estava fechado.
— Pelo horário, não dá mais... — falei, observando os olhinhos tristes que nos fitavam. — Mas podemos ir na Ribeira, o que acham? — perguntei.
— Ebaaaaaaaaaaaaaaaa! — comemoraram, já descendo as escadas.
— Você não está cansada? — perguntou Juh, sorrindo enquanto fazia carinho no meu abdômen.
— Por vocês, vale a pena — falei, indo ao seu encontro para um novo beijinho.
E finalizamos o dia assim, sentadas observando o mar, enquanto as duas crianças se lambuzavam inteiras com sorvete e riam, enquanto eu brincava que jogaria os três para os tubarões inexistentes daquela praia.