Parte I — Sexta-feira, 13 de Setembro de 2030

Um conto erótico de Jade
Categoria: Sadomasoquismo
Contém 10147 palavras
Data: 24/09/2024 04:32:35

Cabelos negros feito o breu de uma noite sombria, suas mechas onduladas, longas até o cox. Veia azulada, pulsava por debaixo de uma pele branca e pálida, bem mais clara do que eu, puxou a mãe. Lábios pequenos, porém desenhados com delicadeza e perfeição, quase sempre pintado com cores dramáticas, como suas unhas. Olhos grandes e adoráveis feito uma boneca, um olhar que me apavora, íris esverdeadas brilhantes, que ela puxou da mãe. Nariz batatinha, traço da família. Essa é minha filha, a razão do meu viver, de vinte e dois aninhos, Isabel K. Bergelmir.

Eu, Gregory K. Bergelmir, nos meus cinquenta e três anos de idade, tenho desde os quarenta e oito, trilhado o caminho de pai solo; já faz meia década que minha mulher tirou sua própria vida, e desde então tudo mudou drasticamente.

Meu trabalho é em grande parte remoto, fico em casa quase o tempo todo e não sou muito de sair. Acordo às seis, escovo os dentes, tomo café da manhã e vou logo trabalhar no meu escritório particular. Lá pras onze levo minha cabritinha até a faculdade, aproveito na volta dou um pulo no mercado se necessário, abasteço e volto para casa.

Essa vida de solteiro tem sido muito benéfica, desde os quatorze tenho pulado de um relacionamento para o outro, Ariadna K., mãe da minha pituca, foi a última das oito que já me relacionei um dia. Tive somente uma criança, foi planejado, acredito que ter mais de um seja completamente desnecessário. Tenho me mantido um homem livre de tentações mundanas, ao menos por maior parte do tempo. Decidi me reconectar com a religião, sou adepto ao ocultismo, porém, ainda iniciante, estou reencontrando meu lado espiritual depois de anos levando uma vida ordinária.

Isabel por outro lado é agnóstica, ela não acredita no que eu acredito, mas tem certo orgulho de mim por não ser só mais um ‘crente padrão’, como ela mesma diz, era isso que pensava de sua mãe, só mais uma maluca obcecada com religião. Minha esposa de fato era religiosa, mas não tanto como minha pequena relata, ou talvez sim e eu estou cego, não sei, de qualquer forma eu nunca fui do tipo que força minha crença nos outros goela abaixo.

Essa mania de revolta da Isabel e esse sentimentalismo excessivo fazem parte do transtorno de personalidade borderline (ou autismo?), hoje em dia entendo isso bem. Desde o diagnóstico há seis meses, tenho analisado seu comportamento de perto, estudado sobre sua condição, foi recomendação do médico que eu fosse mais cuidadoso com ela. Por rejeitar as sessões de terapia, e comumente negligenciar os remédios, além da agressividade, tenho que intervir quase todos os dias, ela tem se tornado cada vez mais instável.

Lido também com as crises recorrentes, os cortes no corpo, o sangue escorrendo, a raiva, algumas vezes ela chega a me machucar, e sempre se arrepende depois. Isabel também tem uma condição que a faz desmaiar com maior frequência que o normal, quase todo dia ela desmaia, morro de preocupação. Por motivos como esses não a deixo morar sozinha, ela quer ser independente e ter sua própria casa, mas nesse estado, não dá.

Eu me considero do tipo mente-aberta, minha filha tem o poder de livre escolha, o ideal em todo caso, porém é esperado que sempre tome decisões conscientes e responsáveis. Seu comportamento tem sido o padrão, pensando de um modo geral, nada desvia-se do esperado em uma menina nessa idade, porém, durante as crises tudo muda drasticamente, e ela se transforma em uma versão diferente de si mesma.

Com vinte e dois, ela já toma três tipos de medicamentos diferentes: antidepressivo, antipsicótico e controlador de humor. Dois anos atrás ela tentou contra a própria vida, e isso me fez decidir que trabalhar em casa seria realmente necessário. Meu turno era das oito às cinco, ela chegava em casa da faculdade lá pras seis horas, eu não tinha muito tempo livre porque também estudava a noite, focava em outras coisas que considerava de grande importância, tomava conta do resto, como a janta e a limpeza, era quase tudo por minha conta, isso porque ela me prometeu que iria focar nos estudos, fui ingênuo em acreditar.

Na época ela namorava aquele indivíduo, um sujeito marginal chamado Diogo, mais ou menos da idade dela, os dois eram igual eu e a Amanda, minha segunda namorada. Amanda era super amorosa comigo, se é que me entendem, fazíamos até na cama dos nossos pais, fico me perguntando se eles já fizeram na minha, só sei que vi coisas que pai nenhum gostaria de ter presenciado.

O namoro durou um ano e pouco, ano passado foi o ano mais esquisito e intenso da minha vida. O indivíduo foi expulso de casa, não era a primeira vez, ele já tinha um histórico de abuso de drogas e tráfico. É claro que disse: — “Nem fudendo”, mas Isabel me implorou e chorou horrores até que eu perdesse minha paciência e deixasse o cabaço morar junto a nós. Irritado, dei um ‘ok’, deixei acontecer.

Diogo era aquele típico vagabundo sem futuro, um mala sem alça, não que isso tenha algo a ver com sua cor de pele, era o jeito dele de ser que me dava nos nervos. O caos reinou aqui em casa, tive que ser rígido, discutimos quase todos os dias, aqui não é a casa da mãe Joana, quer fumar? Pois fume, longe de mim, na rua ou no quarto com a porta fechada, não me interessa se é legalizado ou não. Quer transar? Faça-o, no quarto, de portas bem fechadas. As regras eram claras, perto de mim tem que ter disciplina, não gostou? Paciência.

Mas eles insistiam em agir como animais, faziam amor feito coelhos, eram sete vezes por dia, não me perguntem como descobri isso. As brigas aconteciam de vez em quando, eles aprendiam a lição, dava alguns dias esqueciam tudo que foi combinado, é como se entrasse em um ouvido e saísse no outro.

Inicialmente, eu ficava indignado em ter que ouvir os gemidos, o som do sexo abafado todos os dias, não sou obrigado, mas com o tempo, eu meio que me acostumei, de um jeito impróprio talvez.

Deixei ela ciente que escutava tudo, quando revelei, Isabel soltou um: — “Credo, pai!” O padrão, mas depois de uns dias ela voltou a gemer do mesmo jeito que antes, ai eu perdi a calma; não que seja escandalosa como a mãe, mas mesmo assim, uma experiência revoltante.

Teve um dia, não, foram três situações que vi o ato acontecendo ao vivo e a cores. Da primeira vez, eles estavam de roupa, calça e calcinha arriadas até o joelho, ela apoiando na parede, ele por trás, vê-los assim me deixou furioso por alguns segundos, rapidamente me acalmei e segui em frente, sem pensar nada sobre.

Aconteceu que mais tarde me lembrei daquilo, senti-me estranho ao lembrar da cena com tanta riqueza de detalhes, minha cabeça doeu minutos depois. À noite, sentei e conversei com a Isabel, fui direto; disse que vi coisas que gostaria de ‘desver’, e exigi mais discrição. Envergonhada e com a testa toda suada, ela pediu desculpas gaguejando, a reação me pareceu sincera, acreditei ter entendido minha frustração.

Da segunda vez, semanas depois, vi acontecer durante um dia que fomos acampar (gosto de estar em conexão com a natureza). Estávamos só nós três nadando no rio São Francisco, sentei-me no cais para pescar, e depois de alguns minutos, percebi movimentos estranhos dentro da água. Ela estava grudada nele, tipo, com os corpos juntos, abraçando-o firmemente, a expressão dela também não ajuda, aquela carinha não engana ninguém. Com rispidez, exigi que voltassem pro carro e me esperassem, certeza que transaram lá mesmo, o cheiro fica no ar após o ato.

Da terceira vez, meses já passados desde que Diogo começou a morar com a gente, o casal fez algo bastante ousado. Isso lá pra novembro do ano passado, presenciei ambos praticando obscenidades na cozinha, dessa vez, eu simplesmente congelei na hora, fiquei em pé ali na sala, observando de longe feito um maníaco. Admito que deixei meus demônios falarem mais alto, estava um breu total na sala e nos corredores, a luz lunar entrava pelas janelas da cozinha, a lua estava cheia aquele dia.

Curiosidade me consumiu novamente, sentimento avassalador, inexplicável como me senti; segurei minha respiração e decidi não intervir. Minha baixinha, minha princesinha, meu anjo, inacreditável, deixando ser usada por alguém que não a merece de forma alguma. Não adianta conversar, ela não me escuta, só corre atrás de quem não presta. Incrivelmente, o vadio conseguia fazer suas pernas tremerem, o rosto dela também estava avermelhado, percebi que estava muito perto de ter um orgasmo.

O moleque literalmente se lambuzava em seu néctar, lambendo sem nojo como deve ser, me fascina, ele chupa seu pequeno botãozinho com delicadeza, acho que ela é sensível e ele realmente teve o que queria. Não estava depilada, mesmo assim ele ‘caiu de boca’, como dizem. Juro que tentei, mas infelizmente não consegui parar de olhar nem por um segundo, fui fraco eu sei, não devia nem estar ali em primeiro lugar.

Só de lembrar dos seus gemidos… ò Deus, minha bebê tem os gemidinhos mais adoráveis e inocentes que já ouvi, perdoe-me Deus por endurecer completamente pensando nela, só você sabe o quanto eu pequei, também sabes que minha intenção nunca foi machucá-la. Não nego que fiquei fissurado no ato sujo deles, quando ouvi ela dizer, gemendo: — “Ain, eu vou gozar”, tentando abafar a voz com a mão, perdi minha compostura completamente, não estava preparado para ouvi-la em um momento tão vulnerável, mas fique ali mesmo assim.

Foi tudo muito rápido, creio que menos de três minutos, porém me pareceu que fiquei ali por mais de meia hora. Ela de fato teve um orgasmo, ver e ouvir foi uma experiência surreal, me deu arrepios por todo corpo de tanta excitação, infelizmente não pude evitá-lo, teria eu retornado para o quarto e esperado para beber água isso não teria acontecido, agora não tem volta.

Saí dali arrependido, tomei um banho gelado e rezei cem vezes, prometi para mim mesmo que nunca mais voltaria a fazer algo tão repugnante, pedi perdão, mas na verdade, é ela quem deveria me perdoar.

Passei a semana inteira consumido pela paranoia e a culpa, jejuei, rezei muito, só fui me ‘esquecer’ quase um mês depois (acho que nunca esquecerei), percebi que precisava perdoar a mim mesmo, só assim esqueceria do ocorrido, então o fiz, quem disse que me esqueci?

Algo mais grave aconteceu meses após o término.

Diogo e Isabel brigaram feio, ele quem decidiu terminar a relação, e minha filha não é do tipo que aceita um término tão fácil. Coitada, ela fez de tudo para que ficasse, mandou milhares de mensagens, saia de casa para ir atrás dele (ela tem uma moto), se envolvia em brigas, se humilhou diversas vezes, pois ela ainda o amava, mas Diogo já não queria mais nada.

Bom, ao menos era isso que eu pensei; ele começou a namorar uma tal de Melania, mas mesmo assim vi o safado junto da minha princesa, não sei se tinha alguma coisa rolando ou não, somente os flagrei de mãos dadas. Ela escondia tudo de mim, tudo aquilo que eu reprovaria, ela sabe que sou mente-aberta, mas tudo tem um limite.

Conselhos é o que não falta, já dei muitos, cheguei a explicar como ele a usaria e descartaria depois, mas Isabel é uma pirralha teimosa, claro que ela não quis me ouvir. Mais tarde, sua teimosia a fez dar de cara com o muro, quando percebeu que estava sendo usada e que não tinha mais jeito ela entrou em depressão profunda, se isolou no quarto, e graças a Deus, parou de se relacionar com aquele sujeito.

É como se o mundo tivesse acabado pra Isabel, não queria ir pra faculdade de jeito nenhum, passava a noite em claro e só dormia a tarde, ia pra cama às oito da manhã e não levantava por nada, além da higiene precária; ela já odeia tomar banho, negligenciar é fácil. O término foi tão devastador que ela passou a comer em excesso novamente depois de alguns dias, era muita comida, no primeiro sinal que aquele hábito voltaria tive que intervir; vi laxantes na gaveta, e conversei sério com ela.

Isa ficou brava, inventou desculpas esfarrapadas, e depois chorou por frustração. Era uma baita de uma chorona naquela época, pra falar a verdade sempre foi, acho que sente-se à vontade em chorar na minha presença, pensa numa mulher que chora, ôh se chora.

Por mais cansativo que seja, gosto de cuidar dela, claro, quero ver minha princesa bem. Isabel adora ser mimada, sua melhora aparenta ser bastante significativa quando a bajulo, percebi isso, também notei que ela fingia muito, tudo para chamar minha atenção, obviamente.

Arrumo os quartos, dobro as roupas, limpo os cômodos, dou remédio, penteio os cabelos, escovo os dentes, até comida na boca eu dou, faço tudo isso sem reclamar, também já cheguei a dar banho algumas vezes; quando ela tá bêbada, doente, ou simplesmente quando se recusa a banhar-se (tem vez que nem por reza braba) acredito ser necessário intervir.

Na hora do banho, minha função é levá-la até o banheiro, tirar suas roupas, abrir o chuveiro e ficar de olho, somente. Nunca toquei em seu corpo sexualmente, não toco em suas partes íntimas nem mesmo se ela me desse permissão. Vê-la nua não me afeta como me afetava antes, hoje em dia olho para o seu corpo nu sem sentir-me estimulado. Não nego que sou levemente atraído pela Isabel, sonho muito com ela, porém nunca ousaria machucá-la de forma alguma, ela sabe que tudo que faço é com o seu consentimento.

Me controlo, e evito olhar demais durante os banhos, descobri que ela não liga quando olho; costumava pedir desculpas por encarar, ela me ignorava friamente, mais tarde me disse que não tava ‘nem ai’ então passei a não me preocupar com isso. Aprendi a olhar pro corpo dela como se fosse algo ordinário, sem maldade na mente, foi difícil controlar os pensamentos intrusivos, porém os medicamentos me ajudaram.

Desde janeiro deste ano tenho feito sessões de terapia, quase um quarto da minha renda vai para o meu tratamento médico, e da minha filha, minha família está diretamente ligada aos melhores profissionais da cidade. Isabel não sabe do que sofro, prefiro mentir do que falar a verdade, relato ser depressão, e olha que eu não sou de mentir, sou o homem mais honesto que conheço de toda Minas Gerais, porém aqui vemos uma exceção à regra.

Os banhos e os cuidados persistiram por semanas, eu já tinha me acostumado, ela quem interpretou tudo errado, achava que estava tudo bem sair pelada do banheiro. Não adianta brigar, ela acha que é brincadeira, parece que voltou a ser criança de novo, coisa mais besta. Esse lado dela floresceu aos poucos, não que eu não tenha percebido antes, porém naquele dia em especial ficou bastante evidente.

Fomos ao mercado num domingo de manhã; pra começar, já fazia dias que ela estava de bom humor, tomando seus remédios direitinho (graças a mim), super carinhosa e doce, sua doçura chegava a me dar diabetes. Naquela manhã, novamente ela tinha feito xixi na cama, nada de novo—sua bexiga é fraca.

Ela usa, durante a noite, aqueles absorventes maiores, específicos para incontinência urinária, mas ultimamente eles não estão conseguindo reter a urina, tive que trocá-la, não antes de acordá-la, digo, ela nunca acorda totalmente. Sempre quando troco os absorventes deixo as luzes apagadas ou somente o abajur ligado, assim vejo somente o necessário. Avisei o que tinha feito depois, quando ela acordou, achei que fosse ficar puta comigo, mas a pirralha não deu a mínima.

Aquilo virou rotina, eu troco ela enquanto dorme, toda vez que percebo ter feito xixi na cama. Acho que está tudo bem, ides que ela esteja de acordo, porém devo continuar controlando meus pensamentos intrusivos, e essa é a parte mais difícil, sem me controlar não sou digno de vê-la nua.

Depois de ter trocado ela e os lençois voltamos a dormir. Mais tarde fomos no mercado, Isabel ficou quase uma hora no setor infantil enquanto eu fazia as compras da semana. Deixei-a sozinha, quando nos encontramos, o carrinho já cheio, perguntei se queria que comprasse algo, ela me trouxe lenços umedecidos, brinquedos, uma chupeta e uma madeira dizendo que queria presentear o bebê de uma amiga dela.

Achei estranho, que amiga? Seus amigos são todos virtuais, e eu não lembro de nenhuma mãe, é óbvio que é mais uma mentirinha dela. Disse para escolher somente três, que aquilo tudo não dá, ela resmungou e escolheu a mamadeira, o bico, e um elefante de pelúcia.

Voltamos pra casa ela correu pro quarto, de tarde vi ela lá, adorável, chupando chupeta deitadinha na cama, abraçava o elefantinho vendo anime no celular, ela não me viu. De madrugada, lá pras duas da manhã, acordei pra ir no banheiro e tomar água encontrei com ela na cozinha, usava fone de ouvido então provavelmente não me ouviu aproximar. Isabel preparava a mamadeira com leite ninho quente (ela adora), ela congelou na hora que me viu, não reagi, peguei minha água e perguntei: — “Tu não disse que era pro muleque?” Ela pensou, e disse: — “Ah… é mesmo… uh… e-eu só tô testando pra vê como é…”, desculpa mais esfarrapada, ri um pouco, disse: — “Dorme bem…”, ela me deu um beijinho na bochecha e disse: — “Dorme bem pai”.

No dia seguinte, sábado de manhãzinha, eu trabalhava na sala quando a avistei correndo até a porta, perguntei: — “Vai aonde?” Ela toda energética, disse que iria ali no mercadinho Topaz, aqueles mercados de bairro. Quando voltou ela tinha um sorriso enorme no rosto e uma sacola grande na mão, ela se aproximou, ficou tímida e disse: — “Pai?”, eu respondi: — “Chora…”, focado na TV. Ela pergunta: — “Posso te pedir uma coisa? O senhor vai ficar brabo?”, olhei pra ela, tomei um gole de whisky e disse: — “Olha… depende, pede ai”. Ela sentou-se no sofá, e com vergonha pediu: — “Você coloca fralda em mim? E-eu comprei e não sei colocar…”, como já estava levemente alterado (sempre bebo um pouco de whisky todas as manhãs) não pensei muito sobre e perguntei: — “Tem certeza?” Ela disse: — “Se o senhor não se importar…”, não questionei seus motivos para usar fralda, e ainda por cima fora do horário, disse: — “Me espera lá no quarto”, e ela o fez.

Não esperei muito, respirei fundo e quando entrei no quarto ela já estava deitada na cama sem calcinha. Meu Deus, dê-me força, não sei se tô preparado pra isso, pensei, essa seria a primeira vez que verei com detalhes. Ela abriu as pernas pra mim sem se envergonhar, estava tranquila, distraída com o celular na mão. Na hora que vi sua… tentei não olhar diretamente, senti um nó na garganta e um aperto no peito, foi impossível não sexualizar a situação.

Peguei a fralda, já ia colocá-la quando Isabel chamou minha atenção: — “Não vai passar pomada?”, disse que sim, peguei a pomada de assadura, e… só de pensar já me deixa estimulado, seus lábios grandes são rosados como os lábios pequenos, os pêlos pubianos cobriam não somente a testa, mas também os lábios.

Ela é sobrepeso, bem dizer gordinha, gorda é uma palavra muito forte, naturalmente sua pepeca também é rechonchuda. Uso os dedos para espalhar a pomada em sua vulva, ela suspira, pega o bico e morde, na hora mil pensamentos me veio à mente. Minha mão começou a tremer e eu tentei olhar para a barriga dela, assim, talvez, evitando uma ereção, toquei no seu cuzinho ela contraiu e piscou pra mim, meu pau enrijeceu na hora, foi quase de imediato. Agilizei e terminei com aquilo logo, depois sentei na cama, impossibilitado de levantar-me, o que eu achei ter evitado aconteceu.

Me curvei um pouco e disse ter terminado, ela se vestiu e me abraçou, dizendo: — “Brigadu pai”, do jeitinho animado dela. Abracei forte, e peguei em sua região lombar pressionando de leve, discretamente senti seu cheiro no pescoço, a respiração dela também me excita. Merda, não sei o que me deu, aquilo tudo foi automático, como as coisas saem do controle… Isabel deixou escapar uma risadinha desconfortável, percebendo essa minha atitude nojenta, desculpa filha.

Minhas mãos suadas tremiam, meu estômago embrulhava, minha barriga dói, acho que ela não percebeu meu nervosismo, espero. Fiquei ali travado por mais ou menos cinco minutos, encarando a parede com meu pau latejando e minha mente vazia feito um lunático. Logo depois, voltei pro meu quarto, tranquei a porta, deitei na cama e tirei meu pau da cueca. Em silêncio e absurdamente excitado, me masturbei pensando nela, aquela foi a primeira vez que fiz aquilo por causa dela… diversas memórias me veio à tona.

Lembrei-me da época quando ainda era menina, de quando seus seios começaram a crescer e seu corpo mudou. Isabel sempre foi o grudezinho do papai, fui eu quem presenciei sua menarca, fui eu quem ensinou sobre sexo, eu quem fui o mais próximo dela. Ariadna foi diagnosticada com psicose pós-parto, ninguém sabe bem a causa, minha mulher sofreu muito, os traços esquizofrênicos persistiram por anos. Lembro-me bem como Bell tinha medo dela, não foi fácil aproximar as duas.

Ela dizia que ia casar comigo, coisa de criança, eu sei, eu quem sou doente de levar isso a sério. Os únicos que conhecem esse meu lado, fora meu irmão, se encontram em fóruns, sites. Nem meus falecidos pais, nem minha esposa, nem amigos, nem minha irmã, sinceramente, ninguém me conhece de verdade, esse indivíduo perverso aqui usa uma máscara quase que constantemente.

Gozar pensando nela foi horrível, porém, puro êxtase ao mesmo tempo, senti um alívio sexual nunca antes alcançado, é como se sofresse de blue balls por uma década. Meu sêmen jorrou em minha blusa e minha barriga, minha respiração ficou descontrolada, gemi alto, e sussurrei seu nome, Isabel. Lágrimas escorriam sem explicação, não sei porque chorei, mas tenho teorias.

Fiquei ali chorando por quase dez minutos, todo sujo de porra. Ela não me ouvia ou via, pedi desculpas em voz alta diversas vezes, me arrependi profundamente, é como se tivesse a machucado ao denegrir sua imagem de forma tão repulsiva. Eu me sentia um monstro, um animal selvagem, como tive a audácia de fazer algo tão cruel?

Aquela semana após o ato foi difícil, senti-me muito mau, moralmente abalado, eu corrompi aquela imagem pura que construí dela, infectei minha mente com obscenidades indescritíveis. Eu sentia vergonha ao olhar para ela, à noite quase não dormia, tive pesadelos em que fui preso e arrastado pro inferno. Meu psicológico estava um caos, ela não entende o porquê fiquei tão deprimido, não sabe desses pensamentos impuros, desta culpa que me corrói, das noites mal dormidas. Sua consciência estava limpa, não a minha.

O pior de tudo é que não dá pra esquecer, Isa me pediu pra trocar as fraldas de novo e eu neguei, dei desculpas, não que eu não queira, na verdade, acho que quero até demais, mas não posso, aquilo é demais pra mim. Ainda sim ela insistiu, só troquei os absorventes enquanto ela dormia, de luzes apagadas, é o jeito, agora fraldas não.

Vejo minha filha como uma PcD, ela não é oficialmente, mas levando em conta tudo que acontece no nosso dia a dia, ela tem sim uma deficiência. Minha princesa precisa de mim, já morou sozinha por uns meses, foram os meses mais brutais da vida dela; busquei no hospital psiquiátrico depois de ficar duas semanas internada. Sem mim Isabel não se cuida, não come direito, não vai pra faculdade, enfim, até os médicos me disseram para mantê-la por perto.

Ontem mesmo tive de dar banho nela, a bendita veio com aquela ideia errada de trocar a fralda, eu disse que aquilo nunca aconteceria novamente. Isa ficou chocada com minha suposta frieza, sentiu-se envergonhada e perguntou o porquê. Disse que aquilo era errado, fui direto, ela entendeu mas parecia estar decepcionada. Não sei nem porque fiz essa merda em primeiro lugar, certamente estava pensando com a cabeça de baixo, não raciocinei direito.

Naquela quinta, poucas horas depois de ter chegado da faculdade, Isabel bebeu todas, vomitou, e lá pras uma da manhã dormiu, vestida do mesmo jeito que chegou em casa. Insisti para que tomasse banho pois sei que ela novamente se atrasaria se tivesse que fazê-lo antes de sair, ela resmungou e não deu a mínima. Acordá-la é um trabalho árduo, muitas vezes fica semiconsciente, mas não acorda. Balancei ela, belisquei, mas como eu sei que ela não vai acordar tirei suas roupas, incluindo o sutiã e calcinha. Tentei novamente incentivá-la a sair da cama, persisti até convencê-la a banhar-se por conta própria (tem teimado para que eu o faça). Coloquei seu absorvente, vesti a roupa, cobri, dei um beijo na testa, e esperei até que dormisse.

Hoje, sexta, ela veio me acordar, entrou no quarto e subiu na cama abruptamente. Quando abri os olhos, vi ela ajoelhada próximo das minhas pernas, olhando pra mim. Ouvi ela dizer:

— Para de roncar, acorda! — Me chacoalhou, pressionei os olhos com as mãos.

Estava só de samba-canção, e uma camisa de algodão branca. O edredom me cobria (ainda bem), meu corpo estava quente até ela me descobrir. Senti o vento gelado entrar pela porta, fazendo os pêlos do meu corpo arrepiarem. Pedi:

— Fecha essa porta… — Ainda não tinha me ligado da enxurrada de ofensas que estaria por vir, e veio de uma vez só.

— Quem é essa PUTA que você tá conversando no zap hein?? É aquela loira peituda??? — disse, com o meu celular em mãos.

— Uh… — Senti-me confuso, ela se aproximou de mim, inalei seu hálito mentolado. Claramente interpretei errado, ela tava brava pra caralho.

— É ela eu sei que é! Ai que ódio pai, por que você faz essas merda?? Uuuuhh… — É claro que ela partiu pra agressão me dando tapas e socos.

— Ow ow ow que isso?? Enlouqueceu?? — Sentei-me e tive que me proteger dela, então segurei seus braços.

— Tu é nojento! Te odeio! — Bah, nada que me surpreenda, as lágrimas também fazem parte do draminha.

— Quê que é agora hã?? Quê que tem meu Whatsapp? — Olhei direto nos olhos dela e não a soltei até que se controlasse.

— Se-seu Whatsapp — gaguejando, ela chorava e dizia: — eu vi no s-seu…

— Calma anjo… — Fiz carinho em seus cabelos e dei um beijinho em sua mão — quê que você viu? Me conta.

— Aquela loira… não lembro o nome dela…

— A Andreza?

— É… (soluço) eu acordei hoje e vi no seu celular… vi a conversa, mas descarregou…

— Tá de sacanagem? Como que você desbloqueou?

— Com seu dedo… — Claro, ela usou minha digital enquanto eu dormia — desculpa.

Fiquei muito preocupado, achei um absurdo ela ter feito isso, tem muita coisa no meu celular que me incriminaria, coisas que prefiro não expor. Seu rosto molhado de lágrimas me deixava ainda mais paranoico, na hora pensei: ‘Merda, ela deve ter lido o diário’, todos os meus segredos estão lá, seria uma tragédia.

— Quê que você viu Isabel?

— Você e aquela mulher no zap… (soluço) você chama ela de amor mas cê disse que ainda amava a mamãe.

— Disse, mas ela já se foi, num é mesmo? Eu tenho direito de ter outro alguém, não tenho?

— Sim…

— Então pra que esse chororô? Era isso mesmo? — Às vezes ela age tão infantil que me assusta.

— Não sei…

— Isso tudo é medo de ter uma madrasta? Hah… — Fiquei solteiro desde que me tornei viúvo, daquela época pra cá ela tem demonstrado seu lado ciumento.

— Não pai… — disse ela, me deitei mais aliviado e peguei o celular.

— Haa… (bocejando) que horas são? Não era pra você já tá arrumada?

— Não quero ir pra faculdade…

— De novo? Seu eu deixar você falta todo dia, vai se arrumar.

— O senhor vai me levar??

— Se você se arrumar rapidinho eu levo.

— Já é! — ela saiu da cama feliz, com o humor diferente do de minutos atrás — Vou lá.

— Vai lá.

Ela se foi, fechou a porta e eu fiquei sozinho. Fascinante como ela fica cada dia mais sexy, suas curvas ficaram ainda mais acentuadas depois que ela ganhou peso. O formato perfeito de corpo—coxas grossas e macias, quadril bem largo, bunda enorme grande, peitinhos pequenos, tórax estreito, construída proporcionalmente semelhante a uma pêra. Sua pele é macia, cheirosa, e de aparência uniforme, com detalhes rosados em várias regiões, como um bebê. Sim, ela tem espinhas como muitas outras garotas, um pouco mais que o normal, não que isso seja um ponto negativo, de certa forma, a torna ainda mais jovial.

Adoro fantasiar com seus seios, é o mais longe que vou, penso que se focar em uma coisa só, paro de fantasiar-me com o sexo em si, então escolhi seus peitinhos. Eles são raros, minha filha prefere não usar sutiã em casa, onde ela se sente mais à vontade, (também, para mim, nem precisa, sua mãe também não usava) além disso já os vi como são de fato. Suas aréolas são gordinhas e empinadas, o mamilo pequeno, curiosamente, são quase da cor de sua pele, não rosa, como a xoxota dela. O formato incomum me excita sem igual, minha filha não gosta, já me disse querer fazer uma cirurgia para diminuir as aréolas, para mim, não há necessidade (o corpo é dela), disse que são normais como qualquer outra guria, só faltou implorar para que não o fizesse.

Acho que também não usa calcinha, me contou como usar calcinha incomoda e irrita sua pele, prefiro nem pensar nisso. Sei que não devia ter pensamentos depravados com minha filha, mas tentar reprimir meu desejo sexual só me fez sofrer. Já tentei, e tentei muito, acredite, mas hoje em dia, tenho três dias na semana em que posso ter esses pensamentos proibidos: sexta, sábado e domingo.

Limitar meus momentos de indulgência é uma forma de autocontrole, não só esses pensamentos, mas também o sexo, a comida, as drogas, bebida, o trabalho, tudo é regulado e controlado de acordo com os meus ideais. Confesso que sou fraco em relação a sexo e bebida, não só isso, amor me vicia.

Os pensamentos são uma alternativa pros desejos mais obscuros. Parece que me torno em outro alguém quando durmo, Ariadna me contou, como fazia coisas bizarras durante o sono—não só roncar, conversar ‘sozinho’ ou mover meu corpo, eu também me masturbava, usava ela sem seu consentimento, enfim.

Sexsomnia tem me assombrado desde os vinte e três anos, ou até mesmo antes, nunca levei muito a sério por ser algo que ocorreu raramente, porém quando vi minha mulher chorando no banheiro naquela manhã, senti-me um verme depravado. Foi difícil convencê-la de que não me lembrava de nada; depois do diagnóstico de sonambulismo sexual, passei a tomar Clonazepam, e dependendo da situação, dormia em um quarto separado.

Ariadna tinha medo que eu fizesse algo com a Bell, me tratava como um monstro (e ela tinha toda razão), sentia-me culpado, mas ao mesmo tempo, achava aquilo injusto. Não teve sexo por quase seis meses, ela não queria nem me tocar, aquela cara de deboche me tirava do sério.

O pior era minha filha, cara, ela tinha nove anos e era uma baita de uma medrosa; não gostava de dormir sozinha. A maldita me proibiu de dormir na presença dela, eu entendo o medo, mas aquilo me fez pensar, fiquei puto. Me sentia triste e irritado ao mesmo tempo, Isabel gostava de dormir com nós dois, não com um ou outro, era os dois.

Lixo, pervertido, bastardo, estuprador, as vozes me diziam. Só o ódio dela já bastava pra me destruir por dentro, nós dois paranoicos; Deus, eu sentia tanta vergonha pai, me vem um nó na garganta só de lembrar. Trancar a porta e as janelas virou regra quando ia dormir, fazem cerca de duas semanas desde que decidi deixar as portas destrancadas; qualquer coisa, tranco de novo. Tomei a decisão depois de me filmar por dois meses ininterruptamente, toda vez que ia dormir, até o despertar, confirmando que o remédio realmente estava fazendo efeito.

Vinte e dois anos nas costas e até hoje a pirralha me acorda no meio da madrugada quase arrombando a porta por medo de não sei o que (sabe sim). Hoje eu entendo que ela tem muitos motivos para querer dormir na companhia de alguém, todos válidos. Isso não acontece quando ela está namorando, ou naqueles dias quando ela e Jéssica eram amigas, ou aquela outra amiga dela, a Amanda, ou a Ana Luiza (todas elas, traíras).

Ela tem um sono péssimo, não consegue dormir cedo de jeito nenhum; na faculdade, fazia parte dos meus planos colocar ela no período da tarde ou noite, assim poderia acordar mais tarde, porém, infelizmente não tinham vagas disponíveis. Dormir juntos nunca foi o ideal, faz anos desde que descobri que minha cabritinha também sofre de sexsomnia, acreditei que ela ainda não sabia sobre sua condição; já eu sei, porque eu vi, foi sem querer, não fiquei por perto pra ver os detalhes, mas sei que ela faz dormindo.

────୨ৎ────

Depois de ter tomado café e me arrumado, fui até o carro e esperei por ela, chamei: — Bora cabeçuda! — Passado alguns minutos minha paciência foi se esgotando. Ela saiu de casa vestida com uma blusa preta diferente, cheia de detalhes, gargantilha no pescoço, barriguinha à mostra e um piercing no umbigo. Calça branca e nos pés tênis all-star, linda como sempre. Seus cabelos cacheados volumosos estavam presos em um rabo de cavalo, na boca e no nariz, piercings que a deixavam ainda mais sexy. Unhas pintadas de preto, curtas e corroídas de tanto que a abençoada morde.

Ela entra no carro, senta do meu lado e diz:

— Bora. — Ela joga a mochila no banco de trás.

— Bora… — Dei partida, e seguimos rumo a faculdade.

Depois de uns minutos mexendo no celular, eu não direção, Isabel conversou comigo:

— Pai?

— Hum…? — Fui vestido com blusa social, calça jeans e calçados sem cadarço, confortável e neutro.

— Tu já me viu andar pela casa igual sonâmbulo, num é mesmo?

— Já, mas faz tempo isso. — Não desconfiei de nada com aquela pergunta inicial, Isa sempre foi super curiosa.

— Então, eu sei, eu tinha dezessete né…

— Ahã.

— Mas e quando eu durmo? O senhor já me viu… — Ela pressionou o assento, mordeu os lábios e evitou contato visual, claramente estava relutante em continuar.

— Viu o quê? Fala ai.

— Tá, sei nem se eu devia perguntar isso, mas vamos lá, então… uh-

— Oxi, se não tem que perguntar não pergunta.

— Nossa pai, é importante.

— Então desembucha… — Só fui entender, quando ela disse.

— …você já me viu fazendo besteirinhas enquanto durmo?

— Besteirinhas?

— É q-que o Diogo me disse que me viu fazendo aquilo dormindo uma vez, e meio que às vezes de manhã quando acordo eu percebo que tô sem calcinha e tals… sabe?

— Ahã…

— É muito estranho… a gente faz as coisas sem saber… quando acordo a cama tá toda molhada.

— Certeza que não é xixi?

— Não é não! Eu cheiro meus dedos e tem cheiro da minha… (risadinha) uhh… é sério pai! — Minha gatinha fica toda vermelhinha, ela também tem um rosado natural em suas bochechas. Lembro-me quando senti o cheiro da sua pepeca, não só nos seus dedos, mas só de estar perto de mim num dia quente, já exala o aroma.

— Beleza… — Acho que agi com frieza.

— Nossa… cê tá bravo? Achei que tava tudo bem falar essas coisas… mas parece que não né?

— Não, ow, que isso bebê… — fiz cafuné em seus cabelos e disse: — pode contar o que quiser pro pai, somos melhores amigos agora não somos?

— Sim eu acho…

Depois de tantas brigas entre ela e os supostos amigos, e algumas brigas entre nós, decidimos que seríamos melhores amigos, principalmente agora que Ariadna não está mais aqui. Nessa idade, acho que somos adultos o suficiente para ter esse tipo de intimidade.

— Cê sabe que eu não vou te julgar… conta ai. — O trânsito estava uma bela porcaria, chegaremos lá atrasados.

— Sabe por que te perguntei se já me viu? É que… eu também já te vi.

— Viu o quê? Explica melhor isso ai.

— Hihihi… — ela ri de cabeça baixa, e diz: — te vi batendo uma, ontem de ontem…

— Porra… — claro, me envergonhei na hora — tu entrou no meu quarto quarta?

— Entrei, mas é que eu queria dormir com você…

— Puta merda… — Aquilo me deixou bolado, não sei o que ela viu, a culpa foi toda dela, voltarei a trancar o quarto de agora em diante, pensei. Ela olhou pra mim e disse:

— Desculpa… eu nem vi muita coisa, você tava fazendo debaixo da coberta.

— …partir de hoje vou passar a trancar o quarto-

— Não! Eu quero dormir com você, não tranca. — Aqueles olhos de filhote de cachorro, me deixava ainda mais irritado.

— Vou pagar passagem pra essa sua amiga Patrícia vim pra cá, ai você dorme com ela. — A garota é uma amiga virtual da minha filha, mora lá em Rondônia.

— Não quero… quero dormir com você.

— Anjo a gente não pode, cê sabe muito bem porquê.

— Mas pai nunca aconteceu nada comigo.

— Melhor evitar, também você não precisa ficar dormindo comigo todo dia.

— Que saco… — emburrada, ela cruza os braços e diz: — tu não tinha essas coisas.

— Sempre tive.

— Qual o problema?? É só uma vez ou outra, num é sempre não.

— Não, melhor não.

— Ai que saco pai! Tu é um escroto.

— Mais respeito por favor, tô fazendo isso pelo seu bem.

— Bahh se acontecesse também eu não tava nem ai.

Aquilo desbloqueou milhares de dúvidas na minha cabeça, é isso mesmo que ela quis dizer? Pensei, não é possível, tive que confirmar.

— Não fala isso… diz as coisas sem pensar. — Olhei pra ela, e disse.

— Que sem pensar! Se fosse tu… eu perdoaria, cê também não sabe do que faz quando tá dormindo né?

— Sim mas… — fiquei desnorteado com suas palavras, ela disse aquilo sem nenhum pudor — perdoaria…?

— Sim, minha mãe devia ter te perdoado, cara não sei pra que tanto drama, na moral…

— Foi drama… — foi?

— Claro que foi! Ela me dizia coisas horríveis de você pai, tu não é um monstro, te conheço sei que não é. — Será que conhece mesmo? Duvido, nem sua mãe, nem seus avós me conheciam de verdade.

— O que eu fiz é imperdoável…

— É perdoável sim! Não é você quem decide se vai perdoar ou não… mas ides que o senhor se arrependa de verdade.

— Tendi… desculpa.

— Nada.

— Mas me escuta… não fala essas coisas não, se eu te machucasse assim, não serei merecedor do seu perdão… me promete que não vai me perdoar? É importante pra mim ter essa certeza…

— Nah, véi isso quem escolhe sou eu né? Duhh… — Ela tá certa.

— É… de fato… mas mesmo assim, eu não me perdoaria, pecado assim não tem salvação.

— Para de falar merda pai, hehe (risadinha) ih eu ein…

Ela me atiçou, e depois foi mexer no celular, como se nada tivesse acontecido; minha filha disse que tá tudo bem se a gente… não, ela simplesmente quer me mostrar o quanto me ama e confia em mim, aparentemente a ponto de perdoar um estupro. Fico admirado em saber que minha pequena também está indignada com aquela injustiça que a mãe dela fez comigo, sinto que realmente somos melhores amigos.

— Pai…

— Fala. — Ela sempre tem que esperar por uma resposta, não tem?

— Heh… fiquei sabendo que cês dois ficaram um tempão sem transar. — Aquele olhar sapeca adorável dela me provoca.

— Sim… ela não queria, ficamos uns meses depois do… ai depois foi pra uma vez por mês, depois uma vez por semana, às vezes duas.

— Era por isso que tu corria atrás de gp né pai?

— Gp?

— Ah… desculpa, garota de programa.

— …sua mãe me deu permissão.

— Fiquei sabendo.

— Mas não me envolvo mais…

— No problem, eu também não ligo se tu come puta.

— … — Sem comentários.

— Deve que você fazia muito na época que tava solteiro né… — a abençoada fez o gesto de novo — eu faço muito, tipo muito mesmo, até mesmo namorando, hihi… (risadinha) era por isso que aquele otário vivia me chamando de DJ.

— Hm… entendi — olhei pra ela e perguntei: — já fez hoje de manhã?

— Uhh… — Acho que ela ficou desconfortável com minha pergunta.

— …sorry. — Já fazem alguns minutos que estamos presos na Via Expressa, quase toda sexta isso, ainda bem que ela não tem faculdade sábado.

— Fiz sim… fiz logo depois que acordei.

— Ah é? — Caramba, por isso que ela atrasa.

— E você pai… já bateu uma hoje? (risadinhas) Tihi… — O sorriso dela é tão lindo.

— Não… — é cada pergunta, distrai-me olhando para sua boca — faz um tempo que eu não faço isso ai.

— ‘Isso ai’? Tá com vergonha tá? Hihi.

— N-não… — merda, gaguejei bem na hora — é que a gente raramente conversava sobre esses bagulhos, agora tu vem com esses papos todo dia, ai é foda.

— Uai foi tu quem perguntou primeiro se eu toquei siririca hoje!

— Sei, fica brava não anjo, sei que é curiosidade, pode perguntar o que quiser, você também já é adulta, somos adultos então não tem problema.

— Ah… não tenho nada em mente agora… — ela ‘vegetou’ por alguns segundos olhando para o nada — quantas vezes você faz por dia?

— Duas vezes por semana…

— Só isso?? Uh… eu faço cinco vezes por dia. — Cinco? Não me surpreende, quando bem mais jovem fazia algumas vezes por dia.

— Heh… — Não pude evitar ficar envergonhado.

— Hehe (risadinhas) é muito né? — Ela também ficou com vergonha.

— Não… se não te atrapalha a fazer outras coisas não é.

— Então… acho que é… — Sua expressão mudou, ela parecia falar sério.

— É só cinco mesmo ou você tá escondendo alguma coisa?

— S-sim normalmente sim, mas tipo, tem vez que eu não tenho muito tempo sozinha ai eu acabo fazendo… tipo… onde eu não devo…

— Tipo aonde?

— Ah… sei lá, na sala…

— Na sala de aula??

— É… — Aquilo visivelmente causava muita vergonha na minha pequena.

— Você fez aquilo na sala de aula, Isabel?

— Mas foi escondido! E-eu sento nos fundos, não dá nada.

— Não dá nada né… e tu não tem medo de ser pega não? Maluca.

— Ah… sei lá… já aconteceu né? (risadinha) Tem até um gordinho nerdola que senta do meu lado que… uh, ele me flagrou mês passado, acho que agora ele tá obcecado comigo. — Aquilo me causou certa preocupação.

— Me explica melhor isso ai.

— Nesse dia eu tava muito… enfim eu tava com muita vontade, muita mesmo, por isso fiz na sala, só que ele viu e… eu demorei a perceber que ele tava olhando pra mim sabe?

— Entendi.

— Ai eu expliquei pra ele meio que assumi e agora todo dia no horário da pausa ele vai no bar comigo, é um saco. — Ela gostava de ir ao bar perto da faculdade, fora o parque, esse era seu lugar favorito de passar tempo.

— Você passou seu número pra ele? — Perguntei, porque eu conheço bem minha menina, sei que é ingênua; certo dia, Isabel, com dezoito aninhos, foi em uma biqueira com uma amiga fazer o ‘corre’. O traficante (outro traficante, não o Diogo) pediu o número dela e a bendita diz ter ficado com medo, mas passou mesmo assim.

— Uh… ele pediu meu WhatsApp, ai eu passei…

— Puta merda… — o trânsito finalmente voltava ao normal.

— Eu ia bloquear ele mas não consigo.

— Me dá seu celular. — Estendi minha mão.

— Não! N-não faz isso, não tem nada demais. — Pensei que bloqueá-lo talvez não fosse a melhor decisão, isso provavelmente só aumentaria sua raiva.

— Coloca o número dele no meu celular... — Desbloqueei meu celular e entreguei a ela.

— Tá… — Ela o fez como solicitado.

— Hm… Alexsander Schimit? — Vi o nome na tela do celular, e o guardei no bolso.

— É. — O sobrenome me parece familiar.

— Como você se sente perto dele?

— Ah sei lá, ele conversa muito, tipo mais do que eu — impossível — e fica nervoso às vezes…

— Ele já te mandou alguma coisa obscena no WhatsApp?

— Não… mas ele é super chato sabe? Fica mandando mensagem o dia todo.

— Qual a idade do guri?

— Uns trinta e três. — Esse é marmanjo velho já.

— Já falou pra ele te deixar em paz?

— Não… é chato mas ele nunca fez nada demais, então tipo… eu até que gosto de conversar com ele, ele é super gentil.

— Vou bater um papo com esse piá, de homem pra homem.

— Vai intimidar ele não né?

— Não preciso disso.

— Tá bom então… sem intimidação.

— Depois me mostra o chat.

— Aham.

Prosseguimos a viagem conversando, deixei ela na porta da faculdade, e ainda tive a chance de avistar o gordinho à distância, maluco de uns um e setenta, cabelo preto curto e cara de casado.

De volta em casa, ainda me sentia um pouco excitado graças a conversa que tive com ela. Deitei na cama e poucos minutos depois Andreza me ligou, conversamos um pouco, me perguntou se podíamos nos ver pessoalmente; última vez que nos encontramos foi sábado da semana passada. Disse para nos encontrarmos no parque aqui perto de casa; Nathy é minha mulher atualmente, mas ainda estamos bem no início.

Escondi o relacionamento da minha filha devido aos ciúmes. Conheci a loira há três anos, na época que trabalhávamos presencialmente na nossa atual empresa. Ela ainda trabalha lá, presencialmente, na área administrativa. Nos aproximamos como quaisquer outros colegas de trabalho, depois viramos amigos. Ela também é viúva, além de ser mãe de um marmanjo da idade da minha filha, um de dezessete, e uma pirralha de quinze. Nossas semelhanças nos aproximou de certa forma, ainda sim acredito que ela forçou um pouco.

Não há dúvidas que Andreza Bering tenha um bom coração, isso é fato, mas assim como muitas mulheres que conheci, ela é instável. A primeira vez que ficamos aconteceu cerca de seis meses antes da tentativa da Isabel (que aconteceu quinze dias antes de eu começar a trabalhar remotamente, também estava afastado devido a isso). Por não ter carro e por morarmos relativamente próximos, costumava levar ela em casa todo dia. Saímos nos finais de semana, tempos depois eu estava a levando pra minha casa, de vidros fechados, eu dirigia enquanto ela fazia um oral em mim.

De acordo com o que sei sobre mim mesmo, eu nunca, em momento algum, demonstrei estar apaixonado por ela, simplesmente aceitei com a ideia de que eu não posso ficar a usando feito um objeto, queria ter um namoro em que cada um tenha sua própria vida privada, deixei isso claro desde o início. Mas não foi bem isso que aconteceu, semana passada discutimos, ela me acusando de negligenciar a relação. Não é bem isso, eu preciso do meu espaço e da solidão no meu tempo livre, me desculpei por ser ausente, ela me perdoou, como sempre.

Às dez da manhã me arrumei e parti em direção ao parque, ela se atrasou como sempre, quando chegou, conversamos, andamos pelo parque, e comemos algo. Vinte minutos depois fomos até a sua casa, conversei um pouco com os filhos dela, e claro, escapamos para ir transar no quarto dela. Fiquei lá pro almoço, demos uns amassos, transamos de novo, e às duas da tarde meti o pé, passei no mercado, nas casas lotéricas e voltei pra casa às quatro.

Sentado no sofá, já de banho tomado e roupa limpa no corpo, peguei meu celular, ignorei as mensagens de Andreza e mandei mensagens para minha gatinha. Perguntei se estava bem, se havia alimentado-se direito, e se encontrou-se com o nerdola durante o intervalo, ela estava online e me respondeu rapidamente, disse estar bem e ter se alimentado. Também confirmou ter se encontrado com o piá:

“Conversei com ele hoje.. tu disse alguma coisa?”, respondi:

“Ainda não”

“Ata… ele me disse uma coisa estranha…”

“Me conta”

“Ele tá aqui, depois eu te conto”

“Ok, qualquer coisa me liga”, ela responde alguns minutos depois:

“O senhor vai me buscar hoje?”

“Tá com medo do quê?”

“N”

“Mal acostumada… vem de Uber, sobrou dinheiro não sobrou?”

“Sobrou, mas eu queria que você me buscasse”

“Vou ver e te aviso”

“Tá… kk aaa por favorr 。°(°.◜ᯅ◝°)°。”

“Já disse que vou pensar”

“Tá bom •ᴗ• pensa com carinho ❤️”

“❤️”

Deixei que voltasse a estudar, passei o resto da tarde focado na tela do meu notebook, trabalhando, fazendo compras, pesquisando coisas na internet e estudando. Lá pras sete horas me levantei, me arrumei e parti rumo a faculdade de carro. Ela me esperava em pé, próximo aos outros alunos, perto desse tal de Ian, vi que estava desconfortável, ele estava a importunando, me aproximei dos dois, com o braço pra fora da janela, e perguntei:

— Tá tudo bem ai?

— Pai. — Coitada, percebi que estava ansiosa.

— Tu que é o pai dela?? — Ele perguntou, o sujeito parecia alterado.

— Sou…

— Prazer, Alexsander Schimit. — Ele deu espaço, e veio me cumprimentar, sua testa e mão cobertas de suor.

— Entra logo ai — olhei para Isabel, pedindo que entrasse, ela apressou-se, entrou com sua mochila e sentou no banco de trás — mora aonde?

— Eu? Lá em Sapucaias.

— Entra ai.

— Opa. — Ele entra e senta do meu lado, do retrovisor consigo ver a cara de cu da Isabel, ela claramente reprovou minha decisão, paciência.

— Tenho que abastecer antes beleza? — disse, dando partida no carro.

— Eu não tô com pressa. — disse o gordinho, um olho em mim, o outro na porta.

— Eu tô, bora que eu tenho coisa pra fazer. — Perto dos outros, ela me trata como capacho.

— Bom, eu num tô com pressa, ele também não, então… dois contra um aqui.

— Uuhhh… — Ela deitou-se de cara no assento.

— Então… senhor Gregory-

— Não gosto que outros homens me chamem de senhor.

— Ah… e-

— Uai, como que tu sabe o nome do meu pai? — A garota interrompe.

— Uh…

— Deixa o cara falar meu.

— Tu que interrompe ele. — Parece uma zona, o pobre coitado só queria falar.

— Fala ai irmão.

— Não porque falei isso… tô só o pó cara, esse negócio de faculdade… fora o estágio e o freelance.

— Foda irmão, tu tá com quanto?

— Trinta e três.

— O certo é fazer isso ai mesmo, faz faculdade, e se precisar trabalhar também trabalha.

— Tô tentando mudar de vida mas tá foda… dois e quinhentos no mês e ainda pagando pensão.

— Menina ou menino?

— Menina, Carol, coisa mais linda, três aninhos, vou te mostrar.

— Uai tu tem filho? — Isabel pergunta.

— Tenho… aqui ela. — Ele nos mostrou em seu celular a foto dela.

— Linda ela. — Eu comentei, já ela não disse nada.

— Minha princesa ela. — Na hora meu telefone toca, pego meu celular e tenho que atender.

— Minha mãe… — mamãe mora em outra cidade, converso com ela quase todo dia — oi mãe?

Enquanto conversava ao telefone, o marmanjo puxou conversa com a Isabel. Pude observá-los enquanto dirijo, respostas curtas demonstravam que ela não estava nem um pouco interessada no assunto. Depois de me explicar onde posso deixá-lo, ela deitada no banco de trás, Alex recebeu uma ligação. Faltavam cinco minutos para chegarmos no ponto onde o deixaria, eu pensava nas contas a pagar, quando Isa se senta e diz querer fazer xixi.

— Tenho que fazer xixi… — Estávamos em silêncio, com o rádio ligado em volume ambiente, quando ela resmungou.

— Segura ai, quinze minutinhos a gente tá lá… até menos, dez minutos. — disse.

— Se eu fizer xixi no carro a culpa é sua.

— (suspiro) É urgente?

— É.

— Calma ai gente, heh… tem banheiro lá em casa. — disse Ian.

— E a gente chega quando?

— Logo logo.

— Mas ai pra chegar em casa tem que andar até lá embaixo.

— Mija nessa garrafa ai. — Peguei uma garrafa pet vazia e joguei no banco de trás.

— Nem fudendo.

— Vai ser rápido.

— Tem que ser.

Acelerei, ela já estava agoniada. Chegamos em três minutos, estacionei próximo a uma mata escura, ela abriu a porta às pressas, tirou a calça e agachou ali mesmo, urinando no asfalto. Ainda bem que ninguém viu, ouvimos o esguichar e seus suspiros discretos. Saí do carro e me aproximei dela, seus gemidinhos momentâneos me atiçaram, Alex disse:

— É aqui mesmo — só pelo tom de voz, consigo perceber seu nervosismo — não deu pra segurar né? Sei como é.

— A bexiga dela é fraca. — disse. Ele sai do carro, fica confuso, e ao invés de simplesmente seguir rumo a casa dele, ele veio me dar tchau.

— Então, tchau, vou indo lá. — O puto só queria ver ela mijar, claro.

— … — Alex veio segurar minha mão, segurei de volta e esperamos, eu estava do lado dela, e ele do outro.

— Que saco! Não deu pra segurar… — reclamou ela.

— Molhou o banco?

— Não… mas molhou minha calcinha e minha calça, ai que ódio! — Ela levantou-se e vestiu as calças, sendo um pouco descuidada ao subir a calcinha.

— Vish…

— Eu tenho uma bermuda aqui se quiser. — Alex tinha nas costas uma mochila.

— Quero.

— Ih… tá aqui não, foi mal, achei que tinha trago, hehe… — disse ele após procurar na mochila.

— Vou colocar umas sacolas, ai tu senta.

— Tá…

— S-se quiser ir lá em casa eu te arranjo alguma coisa pra vestir.

— Não… valeu. — Pensei que aceitaria.

Peguei algumas sacolas no porta-malas e coloquei no banco frontal para que sentasse, Alex finalmente despediu-se e seguiu rumo a casa dele, sentei-me, então pude continuar a dirigir. Achei que fosse falar algo, mas Isabel ficou calada, vidrada no celular, tive que puxar conversa com ela:

— Aquele cara lá tá a fim de ti… tu percebeu né? — perguntei.

— Oi?

— Aquele maluco… tu viu o jeito que ele fica? Tá de olho em ti, fica esperta.

— (risadinhas) Saí… heh, nada a ver pai.

— Tu não percebeu o jeito que o cara te olha?

— Não…

— Ingênua mesmo… tá precisando ter mais maldade.

— Uai mas eu… tá, verdade eu fui burra.

— Não fala assim.

— Eu nunca vou entender essa coisa de maldade…

— Já conversamos sobre isso.

— … — Um silêncio momentâneo pairou no ar.

— Quer chiclete? — Tirei gomas de mascar do porta-luvas de ofereci ela, comendo um em seguida.

— Não… pera tu não ia conversar com ele?

— Depois.

— Hm… — ela de cabeça baixa, disse logo depois:

— Pai…

— Fala.

— É zuado eu querer dar pra ele?

— Uh… não sei, vai do quanto você se valoriza.

— Pai?? Pra falar a verdade, ele… é chato mas nem é tão feio assim.

— Já se olhou no espelho? Virou o que agora? A bela e a fera?

— Ele é super gentil, sabe?

— Sim, tu disse.

— Queria dar só uma vez e é isso, só pra ver como é.

— Só pra ver como é? Tu não tem juízo mesmo… vai lá, transa com ele.

— Posso mesmo?

— Filhota, tu já tá com vinte e dois, o corpo é seu, a vida é sua, quem decide é você.

— Isso ai foi meio passivo-agressivo, mas tá, valeu.

— Beleza…

Sim, eu fiquei irritado, porém por dois motivos válidos: ela já abortou antes, não uma, duas vezes. Na primeira, com quinze, foi espontâneo, fiquei sabendo no hospital. Na segunda vez, com dezenove, ela fez consigo mesmo, usando um cabide de metal… consequentemente, hemorragia, ela tentou esconder até não dar mais; levei Isa às pressas pro pronto socorro, precisou de transfusão de sangue, o que não foi fácil conseguir, o sangue da minha filha é O-. E ainda ficou internada por alguns dias, as sequelas persistem até hoje.

Aquilo me abalou profundamente, mesmo assim tentei entender seu lado. Ela chorou muito, lamentou, pediu desculpas e prometeu que não iria voltar a cometer o mesmo erro, que havia se arrependido. Tive que acreditar, agora se ela for tentar de novo, ao menos estarei por perto.

Segundo motivo é que ele vai trazer esses marmanjos tudo pra dentro de casa, e isso nunca mais, não na minha casa; tem um quarto com banheiro separado da casa bem aqui do lado, estava ocupado na época que o ex dela morava aqui com nós, agora não está mais, se ela quiser pode morar lá com ele, se ela quiser.

────୨ৎ────

Chegamos em casa e ela foi logo tomar banho, eu também fui, já que temos dois banheiros em casa. Jantamos (ela quem escolheu fazê-lo) e às dez e meia eu me sentei no sofá, fui assistir documentários na TV enquanto leio algum livro sobre magia (tenho uma pequena coleção), na verdade. Meia hora depois a abençoada vem pra sala me falar coisas um tanto quanto…

— Pai tu se encontrou com a peituda hoje?

— Andreza.

— Peituda!

— Sim…

— Cês tão namorando mesmo?

— Tamo.

— Hm… — Ela distraiu o celular enquanto conversava comigo.

— Vai me contar o que o cara te contou mais cedo?

— Ah…ele disse… ah sei lá nem lembro mais.

— Tendi.

— Oownn… olha pai, a Pabline. — Ela me mostra no celular minha sobrinha de seis meses de idade, usando uma roupinha adorável, parecia uma boneca.

— Eu vi essa foto… seu tio me mandou.

— E quando vai ser que a gente vai ver ele e a Pabline? Faz mais de um mês que não vejo eles.

— Amanhã ele tá ai.

— Sério??

— Não sei se a Pabline vem.

— Espero que aquela chata da Simone não venha. — As duas nunca foram compatíveis.

— … — Tirei do bolso um cigarro Marlboro e peguei o isqueiro da mesa de centro.

— Anem fuma lá fora.

— Iiih… tu fuma maconha, nem vem.

— Heh…

Não que eu seja a favor, mas não faço drama, parece ajudar com a ansiedade e a raiva também, então tudo bem. Antes ela ia direto na biqueira, mas um tempo depois que descobri, consegui um contato (foi fácil, tenho contatos) e desde então, entramos em um acordo que eu compraria o que ela precisasse, ela me prometeu que consumiria somente a cannabis ou drogas mais leves. Não sei se mente para mim, ou se esconde algo, mas parece estar se controlando.

— Sabe… se eu engravidasse dessa vez eu não tiraria… — disse ela, alisando uma mecha de cabelo, comecei a me preocupar.

— Bom saber… — Traguei, e soltei fumaça sem tossir.

— Eu acho muito bonito aquela barriga de grávida… e criança é tão, uh, amorzinho sabe? Heh… — Começou, já até sei onde vai isso.

— Estranho tu dizer isso, não você que odiava criança?

— Sim mas… eu tinha vinte quando eu disse isso… agora é diferente.

— Tô vendo.

— Eu quero ter sete filhos, cinco meninas e dois meninos. — Puta merda.

— …

— A gente vai morar numa fazenda, tipo aquelas grandonas. Quero plantar milho, cacau, mandioca, um monte de coisa.

— …

— Queria que a gente morasse lá no Amazonas.

— Quê?

— Fico pensando se eu e o Di tivesse um menino, ou menina, se seria branquinha igual eu, ou se seria mediano, ou se seria pretinha tipo ele.

— …

— O que tu acha?

— Você tá muito nova pra ter filho.

— Não existe isso, eu já tô com vinte e dois, affs, escroto.

— Tu me perguntou o que eu acho. — Esse linguajar…

— Você não quer ter netinhos?

— Tanto faz, me preocupo com você.

— Eu sei, eu já tô gorda, vou ficar igual a um porco se eu engravidar.

— Claro que não, garota.

— Ao menos se eu engordasse mais meus peitos cresceriam, ai eu ficaria peituda também.

— Para de falar bobagem.

— Hehe tô brincando…

— Sei.

Soltei fumaça, e comecei a me perguntar qual o motivo daquela conversa. Passou-se alguns minutos, percebi que ela olhava para fotos do ex no celular, fotos do casal, claramente ela ainda sente falta, achei que tivesse superado. Iria perguntar se ainda pensa nele, mas preferi ir direto ao ponto:

— Tu ainda transa com ele?

— Uh… n-não… na verdade faz um mês… — Foi fácil dessa vez.

— Porra véi… — suspirei, esfreguei os olhos e respirei fundo — que ideia errada é essa Isabel?

— Ah mas não é sempre, é só às vezes!

— Isabel… tá esquecendo de alguma coisa? Tu perdeu a cabeça?

— Eu sei que ele é comprometido! Mas é ele que procura, não sou eu que-

— Caguei, não quero ver vocês dois juntos.

— Só tapar os olhos uai... — Ela gosta de bater de frente.

— Cê tá louca?? — Só meu olhar foi o suficiente para torná-la ansiosa, Isa acha que me enfrentar vai mudar alguma coisa.

— D-desculpa! Eu não queria, m-mas eu amo ele pai, ele disse que ainda me ama muito também… — Suas mãos e sua voz estavam trêmulas.

— … — Balancei a cabeça, e acendi um outro cigarro.

— Eu não tenho orgulho disso… e-eu só contei pro senhor… porque… — Parecia que ia chorar, então decidi deixar ela desconfortável.

— E ele transa bem?

— Eh? Ah… sim… (risadinha) transa.

— Fala ai, ele te chupa bem?

— Uhh… p-pai??

— Heh… desculpa, tava só te testando. — Claro, ela ainda tem vergonha.

— Ata… —

— … — Traguei o cigarro.

— Eu também chupo bem… a mamãe te chupava bem?

— Mas cê tá danada com essas perguntas hoje hein??

— Hihihi. — Rindo, ela sai correndo da sala.

— Vai, melhor ir pro teu quarto mesmo.

Ela tá que tá hoje, tudo bem, já até sei porque. Naquela noite ela foi dormir relativamente cedo, e eu dormi às duas da manhã, fiquei conversando com a Andreza até cair no sono.

****

Não coloco sexo nas primeiras partes.

Espero que gostem, meu celular dificulta a revisão, espero não estar faltando nada.

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Comentários

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O cara deve ter oferecido vinagre pro filho do chefe lá no Gólgota, uma filha dessas é desfrutar dos prazeres do Inferno em vida, kkkkkk!

Boa narrativa, boa história, continue.

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Obrigada, logo irei postar mais , quando tiver mais gente acompanhando

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