Eu mal podia acreditar que aquela garota que entrou no box toda destruída tinha se transformado na linda mulher que estava na minha frente. E o pior, eu a conhecia muito bem. Mesmo mais velha eu a reconheci na hora. Ela vendo a minha cara de espanto abriu um pequeno sorriso.
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Garota: Pelo visto você me reconheceu!
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Tamires: Claro que sim! Eu sou muito sua fã! Escuto suas músicas quase que diariamente.
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Garota: E porque não me reconheceu antes?
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Tamires: Desculpe, mas eu parei de te seguir depois que você se transformou na Luh pimentinhah. Eu sou fã da Luciana Telles, mas não gosto da Luh pimentinhah. Pode até parecer estranho já que são a mesma pessoa, mas acho que você me entendeu.
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Luh: Entendi sim e fiquei feliz em ouvir isso. Eu também não gosto da Luh pimentinhah. Na verdade eu odeio ela. Ela destruiu o que eu mais gostava de fazer. Subir em um palco e cantar minhas músicas.
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Tamires: Então porque você se transformou nisso? Dinheiro?
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Luh: Não!!! Eu nunca fiz música por causa de dinheiro. Eu fazia porque amava. Eu faço o que me obrigam a fazer. Olha, é uma história longa e complicada. Mas se a gente se encontrar de novo eu prometo que te conto. Isso se eu conseguir escapar daqui.
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Tamires: Tudo bem. Fiquei curiosa, mas se você não pode contar, você deve ter seus motivos.
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Ajudei ela sair do box e mostrei as roupas para ela vestir. Ela me agradeceu, eu disse que ia esperar ela se vestir e depois voltava. Quando saí do escritório o telefone da minha mesa tocou. Eu atendi e era uma das meninas da recepção. Ela disse que uma mulher e três homens procuraram pela gerência na recepção e estavam a caminho do meu escritório. Eu disse que iria recebê-los e pedi para ela enviar cinco seguranças para porta do meu escritório. Logo ouvi as batidas na porta. Me despedi e desliguei. Assim que abri a porta vi uma mulher na faixa de uns 45 anos, loira, até bonita e com umas roupas meio extravagantes. Também vi que três homens a acompanhavam. Fiquei parada na porta, não sai e nem os convidei para entrar.
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Tamires: Bom dia. Em que posso ajudar?
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Mulher: Você que é a gerente do hotel?
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Tamires: Sim, sou eu mesma.
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Mulher: Minha filha fugiu essa manhã e preciso ver as imagens das câmeras de segurança, mas um idiota que trabalha para você não deixou eu ver. É muito importante que eu tenha acesso a essas imagens.
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Tamires: O segurança que lhe atendeu não é idiota. Ele só estava fazendo seu trabalho. Não tem como a Srª ter acesso a essas imagens sem um mandado de justiça. É uma regra deste hotel e acho que de todos os hotéis que prezam pela integridade dos seus hóspedes.
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Mulher: Mas é uma emergência. Acho que você não entendeu! Minha filha fugiu e preciso encontrá-la.
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Tamires: Sim, eu entendi e isso não muda nada. A única coisa que posso fazer é ligar para a polícia para a Srª pedir ajuda a eles. Isso se sua filha for menor de idade. Se não for, eu nem isso posso fazer, já que não é um desaparecimento e sim uma fuga. Ela sendo maior de idade, tem o direito de entrar e sair do hotel como qualquer outro hóspede.
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Mulher: Não precisa ligar para a polícia. Eu só preciso ver as imagens.
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A mulher parecia nervosa e eu também já estava quase perdendo a paciência com ela, mas procurei respirar fundo. Algo que estava difícil já que o cheiro de bebida que saia da boca dela estava tomando conta do ambiente. Vi que enquanto a gente conversava os seguranças do hotel se aproximaram. Só fiz sinal com as mãos para eles se manterem onde estavam.
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Tamires: Sinto muito, mas sem um mandado não tem como isso acontecer. Não posso fazer nada para ajudar, são regras do hotel.
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Mulher: Você só pode estar de brincadeira. Você sabe com quem você está falando!?!
EU QUERO VER AQUELAS IMAGENS AGORA, ENTENDEU?
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Não sei o que passou pela cabeça dela, me intimidar, talvez. Mas ela cometeu um grande erro. Além de gritar comigo, ela colocou o dedo quase na minha cara e veio em minha direção querendo fazer eu entrar dentro só escritório. Mas eu não dei nem um passo para trás e quando vi o monte de anéis na sua mão eu fiquei mais irritada ainda. Só tirei o dedo dela da minha cara com uma mão e já coloquei as duas nos seus ombros e a empurrei para trás. Acho que dei uma exagerada na força porque se um dos seus "amigos" não tivesse a segurado, ela provavelmente teria caído.
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Tamires: Acho que estou falando com uma pessoa que tem dificuldades de compreender o que lhe é dito. Eu já falei e vou voltar a repetir. Sem um mandado ninguém tem acesso às imagens das câmeras. Outra coisa, se a Srª não se acalmar vou pedir aos seguranças do hotel para acompanhar a Srª até a saída. E se apontar esse dedo novamente na minha cara, eu mesmo te mostro a saída e tenho certeza que você não vai gostar. Então ou a Srª conversa de forma civilizada, porque aqui não é sua casa, ou vou te expulsar daqui, seja a Srª quem for.
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A mulher arregalou os olhos de susto. Acho que ela não esperava aquela reação de uma mulher usando um terninho. Quando os seguranças do hotel viram o que houve, já vieram na hora para onde eu estava. Porém uma voz pedindo calma chamou a atenção de todos. Era um homem mais velho. Alto, muito bem vestido e com um rosto bem simpático. Ele pediu por favor para os seguranças não fazerem nada que ele iria levar a mulher para seu quarto. Ali descobri que o nome dela era Lúcia. Ela tentou se explicar para ele e disse o motivo da confusão, mas ele foi enfático em a repreender, dizendo a ela que ela estava muito errada. Que nenhum hotel dava acesso a gravações de segurança sem uma autorização judicial. E que ele iria resolver o problema e pediu para ela se acalmar antes que ela causasse um problema maior. Ela não gostou, mas ficou calada e já saiu andando. Os que estavam com ela a seguiram. O homem que tinha acalmado os ânimos me pediu desculpas e disse que isso não se repetiria. Eu disse que estava tudo bem e ele se foi.
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Agradeci os seguranças pelo suporte, o chefe da segurança disse que se aproximou, mas foi para ajudar a mulher e não eu. Ele disse aquilo e saiu rindo. Eu entrei no meu escritório novamente e tranquei a porta. Fui direto até o banheiro e Luciana estava toda encolhida em um canto. Dava para ouvir ela chorava baixinho. Pelo jeito ela ouviu a conversa. Ela parecia apavorada. Eu não sabia o que fazer ou dizer vendo ela naquele estado. Então fiz o que eu achei apropriado para o momento. Fui até ela e a abracei. Ela retribuiu o abraço na hora e chorou muito no meu ombro. Ficamos abraçadas um bom tempo. Quando ela se acalmou um pouco eu tentei me afastar, mas ela me apertou com seus braços e não me deixou sair. Eu disse que estava tudo bem e ela estava segura.
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Ela se afastou um pouco, mas não me soltou. Também não me olhou nos olhos, eu levei a mão no teu queixo e levantei seu rosto. Olhei nos seus olhos e disse que tudo iria ficar bem. Falei que eu só iria ligar para minha prima para pedir ajuda a ela. Que ela era uma boa pessoa e não precisava se preocupar. Ela disse que tudo bem, mas não me soltava e abaixou o olhar novamente. Eu dei um pequeno sorriso e disse que precisava ir. Ela me olhou e disse que não sabia explicar, mas se sentia segura nos meus braços. Ela falou e me olhou nos olhos. Nessa hora eu não sabia o que dizer. Nossos olhares se fixaram. Eu nem percebi nossos rostos se aproximando, mas quando me dei conta a gente estava quase se beijando. Eu me assustei com aquilo e me afastei. Nessa hora acho que ela também se deu conta do que estava acontecendo e me soltou. Eu disse que só iria falar com minha prima e voltava.
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Sai do banheiro e já fui pensando na merda que eu estava fazendo. Me apaixonar por Luciana era sinal de encrenca e das grandes. Porém eu ainda podia sentir meu coração acelerado dentro do meu peito. Respirei fundo e fui ligar para minha prima. Ela não me atendeu, provavelmente estava no consultório do médico com sua filha. Eu então mandei uma mensagem no Whats avisando para ela não abrir os áudios perto de ninguém. A seguir mandei 3 áudios. Dois contando tudo que aconteceu resumidamente, um pedindo desculpas por ter arrumado esse problema e pedindo ajuda para solucionar ele. Enviei e voltei para o banheiro.
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Luciana estava com uma carinha melhor, mas estava meio sem graça comigo. Dava para ver que seu rosto estava bem corado. Resolvi perguntar algo a ela, queria tirar uma dúvida que ficou na minha cabeça durante a confusão com Lúcia.
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Tamires: Foi sua mãe que lhe agrediu?
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Luciana: Foi sim, ela me deu um tapa.
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Tamires: Eu imaginei. Ela me pareceu meio descontrolada. Mas o homem que chegou me pareceu ser gente boa.
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Luciana: Não!!! Ele é o pior de todos. Ele é muito educado e gentil perto das pessoas. Mas aquele homem é um monstro. É por causa dele que minha vida foi destruída. Ele tirou de mim tudo que eu amava! Minha família, minha música é minha liberdade.
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Eu vi o quanto ela ficou com ódio ao falar aquilo. Vi seus olhos começarem a lacrimejar. Algumas lágrimas escaparam, mas ela não chorou. Seu olhar era de puro ódio naquele momento. Eu fui até ela e disse para ela esquecer aquilo e que se ela falou, eu acreditava. Nessa hora meu celular chamou. Olhei e era minha prima. Atendi e ela disse que eu não precisava me desculpar por tentar ajudar alguém em perigo. Que estava orgulhosa de mim. Mas disse que a gente precisava tirar a Luciana do hotel. Se alguém descobrisse ela ali dentro poderia dar muito problema, já que ela era muito famosa. Ela me perguntou se eu estava disposta a ajudar a Luciana. Eu disse que sim, que antes eu estava em dúvida, mas agora eu tinha certeza que queria ajudar ela. Minha prima disse que estava indo levar a filha em casa e depois iria para o hotel. Se nesse meio tempo eu conseguisse levar ela até meu carro, ela poderia ajudar olhando como estava a saída do estacionamento. Eu disse que iria dar um jeito e agradeci pelo apoio.
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Perguntei à Luciana se ela conseguia andar. Ela disse que sim. Se fosse distância curta e eu a ajudasse, poderia pelo menos tentar. Eu falei para ela vir comigo. Levei ela no escritório e falei para ela esperar. Eu tinha uma ideia que poderia dar certo. Fui até a porta do escritório do Osvaldo e destranquei a porta. Voltei para o escritório e liguei para a sala de segurança. Pedi para o segurança olhar nas câmeras e ver o melhor momento para eu tirar a garota que ele viu entrar comigo mais cedo dali e levar para o escritório do Osvaldo sem sermos vistas. Ele disse que tinha entendido e pediu para eu aguardar na linha. Depois de uns dois minutos ele disse que eu tinha no máximo cinco minutos para sair e entrar no outro escritório sem ser vista. O agradeci e desliguei.
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Peguei minha bolsa e as chaves e chamei Luciana para a gente ir. Ela parecia com medo. Segurei sua mão e pedi para ela confiar em mim. Ela disse que confiava. Saímos e eu tranquei a porta. Passei a mão na sua cintura e ajudei ela a caminhar até a porta do escritório do Osvaldo. Entramos e graças a Deus ninguém apareceu no corredor. Tranquei a porta e seguimos para os fundos. Luciana abriu um sorriso quando viu a porta do elevador. Entramos e quando chegamos no subsolo eu falei para ela ficar atrás de mim. A porta se abriu e olhei se tinha alguém perto e graças a Deus não tinha. A gente foi até meu carro. Eu abri a porta de trás e a ajudei a entrar. Pedi para ela se abaixar para não ser vista. Mandei uma mensagem para minha prima e avisei que eu já estava no carro com a Luciana. Depois fiquei esperando ela me ligar.
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Depois de uns quinze minutos ela ligou e disse que tinha acabado de entrar no estacionamento. Que viu um monte de gente na porta do hotel, mas que na saída do estacionamento tinha só algumas pessoas, provavelmente repórteres. Ela falou que olharam para o carro dela, mas nenhum deles fez questão de se aproximar. Que provavelmente a notícia da fuga da Luciana não tinha vazado e que achava que dava para gente sair. Eu a agradeci e desliguei. Falei para Luciana se deitar entre os vãos dos bancos e ela se deitou. Liguei o carro e saí.
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Assim que sai da minha vaga Cibele chegou e só deu um tchau para mim com a mão. Fui em direção à saída com calma. Assim que parei para olhar o movimento dos carros vi umas pessoas me olhando. Porém nem deram muita atenção já que me viram sozinha no carro e com o uniforme do hotel. Sai e segui em frente, depois de uns 500 metros falei para Luciana que ela podia se sentar. Ela disse que iria continuar ali deitada mesmo. Com certeza ela estava com muito medo. Assim eu segui rumo ao meu apartamento. Mais uma vez levando alguém que decide ajudar. Só espero não me arrepender dessa vez 🙏🏻
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Continua..
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Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper