Prazer além das cortinas (FINAL)

Um conto erótico de Jotha Elle
Categoria: Heterossexual
Contém 4461 palavras
Data: 25/09/2024 00:20:31

Naquela quarta-feira, a meteorologia não havia errado: o calor era insuportável, e Ana lutava contra o sono, perturbada tanto pela temperatura quanto pelas lembranças da conversa com Regina na noite anterior. Era quase meia-noite quando decidiu ir até a janela da sala para tentar sentir um pouco da brisa noturna.

Ao abrir as cortinas e olhar para fora, Ana congelou. Ali, na calçada em frente ao prédio, estava Marcos, saindo do edifício. Seu coração disparou, e uma sensação amarga de confirmação tomou conta dela. As suspeitas que tentara afastar agora se tornavam uma certeza inegável: Marcos e Regina estavam realmente envolvidos.

.

Em um impulso, Ana pegou o telefone e ligou para a portaria. "Boa noite, seu João. O Marcos esteve no prédio agora há pouco?" perguntou, tentando manter a voz firme.

O porteiro, sempre cordial, respondeu prontamente: "Sim, dona Ana, ele acabou de sair."

Ana engoliu em seco antes de fazer a próxima pergunta. "Você sabe em qual apartamento ele foi?"

Houve uma breve pausa antes que o porteiro respondesse: "Ele foi no apartamento da senhora, dona Ana. Nem interfonei porque o Marcos é conhecido aqui."

Quando o porteiro respondeu que Marcos havia ido ao seu apartamento, Ana sentiu o sangue gelar. Antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, o porteiro perguntou, preocupado: "Aconteceu alguma coisa, dona Ana?"

Ela respirou fundo, tentando manter a compostura. "Não, está tudo bem, seu João. Obrigada."

Desligou o interfone rapidamente, suas mãos tremendo levemente. Por fora, ela conseguia manter a aparência de calma, mas por dentro, sentia-se em pedaços. As suspeitas que ela tinha agora pareciam se transformar em uma dolorosa realidade.

Na manhã seguinte, assim que acordou, Ana, ainda perturbada pelos acontecimentos da noite anterior, decidiu mandar uma mensagem para Marcos. Com os dedos trêmulos, ela digitou: "Oi, filho, você fez uma boa viagem?"

Marcos respondeu poucos minutos depois: "Oi, mãe! Sim, a viagem foi tranquila. Cheguei ontem à noite, mas estava tão cansado que fui direto pra minha casa. Caí na cama e nem consegui mandar uma mensagem pra senhora, me desculpe.”

Ao ler a mensagem, Ana sentiu um aperto no peito. Ele estava mentindo. O que ela havia presenciado na noite anterior confirmou suas suspeitas. Agora, não restavam mais dúvidas: Regina e Marcos estavam envolvidos, e Marcos, sem saber, acabava de entregar a verdade que Regina tanto tentava esconder.

Ainda naquela manhã, enquanto se dirigia ao trabalho, ao entrar no elevador, Ana deu de cara com Regina. O clima ficou imediatamente tenso. Regina, tentando manter a normalidade, perguntou com um sorriso: "Tudo bem, Ana?"

Ana, sem conseguir conter o ressentimento que crescia dentro dela, respondeu com um tom sarcástico: "Tudo ótimo, Regina. E você? Dormiu bem ontem à noite? Foi bom pra você?"

Regina ficou visivelmente desconcertada. O sorriso em seu rosto sumiu, e ela sentiu o peso das palavras de Ana. A tensão no elevador ficou palpável, enquanto Regina tentava processar o que acabara de ouvir, percebendo que Ana sabia mais do que ela imaginava.

"O que está havendo, Ana?" perguntou Regina, tentando parecer surpresa, mas com um leve tremor na voz.

Ana, com os olhos fuzilando de raiva e ressentimento, apenas olhou fixamente para Regina, sem dizer uma palavra. O silêncio no elevador parecia interminável, e a tensão entre as duas era quase insuportável. Regina sabia que algo estava errado, mas o olhar de Ana falava mais do que qualquer palavra poderia expressar.

Quando as portas do elevador se abriram, Ana saiu apressadamente, quase correndo em direção à saída do prédio. Regina, ainda atônita, mal teve tempo de reagir. Antes de alcançar a porta, Ana virou-se bruscamente, seus olhos ainda carregados de raiva, e disse secamente: "Depois falamos."

Regina tentou segui-la, mas Ana já estava longe. As duas costumavam caminhar juntas até o metrô, mas naquele dia Ana parecia determinada a fugir daquela conversa. Quando Regina finalmente saiu à rua, seus olhos procuraram a amiga entre os transeuntes, mas Ana já havia desaparecido na multidão. O vazio deixado por sua ausência foi tão forte quanto o silêncio no elevador momentos antes.

Regina passou o dia em uma inquietação que não a deixava concentrar-se em nada. Sabia que Ana desconfiava do seu envolvimento com Marcos, mas algo na maneira como ela reagiu naquele elevador parecia diferente, como se Ana soubesse de tudo. A cada minuto, Regina se questionava se havia sido descuidada, se Marcos poderia ter mencionado algo ou se Ana havia percebido por conta própria.

"Será que estou ficando paranoica?", pensou, enquanto revivia mentalmente cada conversa, cada olhar trocado entre ela e Marcos. Ou talvez fosse a própria culpa que estava começando a pesar. A possibilidade de Ana saber a verdade a deixava angustiada, mas o que mais a incomodava era não saber exatamente o que ela sabia e como.

No meio do dia, sem conseguir se concentrar no trabalho, Regina pegou o celular e digitou uma mensagem para Ana:

"Oi, Ana. Podemos conversar mais tarde? Fiquei preocupada com você hoje de manhã... Senti que algo não está certo entre a gente."

Ela hesitou por um momento antes de enviar a mensagem, mas no fundo sabia que precisava esclarecer a situação.

Não demorou para Ana responder.

“Claro que não está certo, detesto mentiras, você mentiu e levou meu filho a mentir também” disse ela.

Regina ficou em choque ao ler a mensagem de Ana. O coração acelerou e as mãos tremiam enquanto segurava o celular. Ela sabia que Ana tinha descoberto, mas não imaginava que a situação chegaria a esse ponto.

Respirou fundo e tentou pensar em uma resposta. Digitou várias vezes, apagou, e finalmente escreveu:

"Desculpa, Ana... Eu nunca quis te magoar. Podemos conversar pessoalmente? Eu preciso te explicar tudo."

Regina esperava ansiosamente pela resposta, temendo que sua amizade com Ana estivesse completamente arruinada.

Ana, apesar de todo o turbilhão de sentimentos, respirou fundo e manteve a calma. Com um tom neutro e calculado, respondeu a Regina:

— Tudo bem, vamos conversar mais tarde.

Ela sabia que, por mais que seu coração estivesse consumido pelo ciúme e pela raiva, demonstrar qualquer emoção agora poderia levantar suspeitas em Marcos. Então, decidiu manter a aparência de normalidade, tentando ganhar tempo para entender melhor a situação e planejar seus próximos passos.

Naquela noite, Ana e Regina se encontraram no apartamento de Regina. Ana, fragilizada e com o coração pesado, não conseguiu mais conter suas emoções. A dor da mentira de Regina corroía por dentro, e ela, magoada, desabou em lágrimas.

— Eu não consigo mais guardar isso, Regina — disse Ana, com a voz trêmula. — Você mentiu pra mim, e eu estou destruída. Eu te amo... sempre te amei, e esconder isso tem sido insuportável.

Entre soluços, Ana confessou a paixão que há tanto tempo guardava. Regina, visivelmente abalada pelas palavras de Ana, se aproximou e respondeu com suavidade:

— Ana, eu sinto muito se te magoei. Eu gosto muito de você, e por você tenho um sentimento profundo de amizade e admiração. O que aconteceu entre Marcos e eu... foi algo inesperado, eu juro. Eu nunca quis que nada disso acontecesse, e não queria que as coisas chegassem a esse ponto.

Ana, entre a dor da traição e o amor que sentia, sentiu-se ainda mais perdida diante da resposta de Regina.

Regina tentou reconfortar Ana, mas sabia que a verdade estava lançada e que nada seria como antes.

O que Regina não sabia é que antes da semana terminar o destino lhe traria mais uma surpresa.

—O final de semana chegou, e Marcos, imerso nos preparativos da festa de aniversário de seu filho, estava tão atarefado que mal teve tempo de falar com Regina. As responsabilidades da festa o consumiram, distraindo-o das tensões ao redor.

Regina, por outro lado, escolheu se manter distante, retraída, aguardando o desenrolar dos acontecimentos.

Ana, consumida pela confusão de seus sentimentos, decidiu se calar. No entanto, em uma tentativa de afastar seus pensamentos, ela buscou distração ajudando Marcos com os preparativos da festa. Entre arranjos e detalhes, Ana tentou sufocar a dor de sua paixão não correspondida e a traição que sentia, mantendo-se ocupada.

Regina foi convidada para a festa de aniversário da criança, mas hesitou em aceitar. Ela sabia que sua presença poderia magoar ainda mais Ana, e a tensão entre elas a deixava desconfortável. Por um momento, Regina pensou seriamente em não comparecer, preferindo se afastar para evitar qualquer confronto desnecessário.

No entanto, após uma breve reflexão, ela ponderou sobre a situação. Marcos, sem saber dos sentimentos de Ana e do que havia ocorrido entre as duas, insistiu para que ela fosse, destacando o quanto sua presença era importante para ele. Sentindo-se pressionada e sem querer decepcionar Marcos, Regina decidiu ir à festa, embora carregasse a preocupação de como isso poderia impactar Ana.

No sábado, por volta das 15 horas, Regina se dirigiu ao salão de festas do prédio, onde seria comemorado o aniversário do pequeno Enzo. Enquanto caminhava, um turbilhão de pensamentos a acompanhava. Foram os sete dias mais agitados da sua vida.

Ela ainda estava meio contrariada, hesitante sobre sua decisão de comparecer. Sabia que a situação com Ana era delicada, e sua presença poderia piorar as coisas.

Antes de entrar, respirou fundo e murmurou para si mesma:

— Vamos manter as aparências.

Regina sabia que, ao menos por aquela tarde, precisava deixar seus sentimentos de lado e fingir que tudo estava normal, principalmente por respeito a Marcos e à celebração de Enzo. Por mais difícil que fosse, ela havia decidido que manter a fachada seria sua única opção naquele momento.

Quando Regina chegou ao salão de festas, Marcos e Ana já estavam lá. O ambiente estava decorado com cores vibrantes para a celebração de Enzo. Assim que Regina entrou, Marcos a viu e abriu um sorriso discreto, porém cheio de significado. Era um sorriso que demonstrava mais do que apenas cumprimento; trazia a lembrança dos momentos de prazer vividos nos últimos dias.

Marcos então virou-se para Ana e, de maneira casual, comentou:

— Sua amiga chegou.

Ana, que até aquele momento estava concentrada nos detalhes da festa, sentiu um aperto no peito ao ouvir essas palavras. Mesmo sem olhar diretamente para Regina, sua presença era inegável, e a frieza com que precisaria lidar durante o evento já começava a pesar.

Ao ver Regina entrando no salão, Ana mal conseguiu disfarçar o desconforto que sentiu. Enquanto Marcos sorria discretamente, ela, sem conseguir evitar, pensou em silêncio:

— Falsa.

Apesar de estar cercada pelas cores e sons da festa, o que Ana sentia era uma mistura de mágoa e traição. A presença de Regina, tão próxima e ao mesmo tempo distante, fazia seu coração bater mais pesado, enquanto tentava manter a compostura diante de todos.

Marcos, mantendo uma postura formal, caminhou em direção a Regina para recebê-la. Com um sorriso educado, ele disse:

— Minha mãe estava te aguardando.

Sem dar tempo para que Regina respondesse, ele a conduziu até Ana, que observava a cena com o coração apertado. A aproximação parecia inevitável, e enquanto caminhavam em direção a Ana, a tensão no ar se tornava palpável. Ana, ainda abalada e com a palavra "falsa" ecoando em sua mente, sabia que teria que enfrentar Regina cara a cara, mantendo as aparências.

Então, um homem entrou no salão de festas. Era o marido de Ana. Assim que o viu, Marcos exclamou com entusiasmo:

— Olha quem chegou! Venha pra cá, papai!

O ambiente, até então carregado de tensão, mudou momentaneamente com a chegada do pai de Marcos. Ele se aproximou com um sorriso, passando pelas mesas, cumprimentando os convidados cordialmente. Marcos, virou-se para Regina e perguntou casualmente:

— Já conhecia o meu pai?

Regina, mantendo a compostura, respondeu com um leve sorriso:

— Ainda não.

Ana, ouvindo a resposta de Regina, aproximou-se dela e sussurrou em seu ouvido: ainda bem né “miga”, se não ia querer dar pra ele também. “Que horror Ana", disse Regina, fortemente constrangida, enquanto Ana se afastava em direção a uma mesa, próxima, com convidados.

Marcos se aproximou de Regina e, sem perceber a tensão crescente, chamou seu pai com entusiasmo:

— Pai, venha conhecer a nova amiga da mamãe!

Quando o pai de Marcos se aproximou, Regina sentiu um frio percorrer seu corpo. Ele estendeu a mão para cumprimentá-la, sorrindo educadamente, e disse:

— Prazer, José Daniel.

Naquele instante, Regina gelou. Ela mal conseguia acreditar no que estava vendo. Aquele homem que estava agora à sua frente, de forma tão casual, era o mesmo estranho que, tempos atrás, ela havia deixado entrar em seu antigo apartamento. Ela não acreditava que o desconhecido, com quem ela, numa noite de luxuria e fantasia, se entregara as loucuras do sexo, era o pai de Marcos e marido de Ana.

Tentando manter a compostura, Regina apertou sua mão, enquanto seu coração batia acelerado, cheia de medo do que aquilo poderia significar.

Após o aperto de mãos com Regina, José Daniel se afastou rapidamente, dividido entre a satisfação de ter reencontrado aquela mulher, com quem viveu uma noite de amor inesquecível, e a preocupação com as possíveis consequências desse encontro inesperado.

Enquanto Regina tentava processar o tumulto de emoções e queria desesperadamente desaparecer dali, a ex-esposa de Marcos entrou no salão de festas, trazendo o aniversariante, que estava sendo ansiosamente aguardado pelos parentes e amigos. Com a chegada da criança, todos os olhares se voltaram para o pequeno Enzo, e a atenção do grupo foi completamente direcionada para a celebração.

Vendo a oportunidade de sair discretamente, Regina aproveitou o momento em que a festa se concentrou na chegada do aniversariante. Sem chamar a atenção, ela se retirou do salão, saindo a francesa e desaparecendo na confusão da festa.

Regina não podia acreditar na armadilha que o destino havia preparado para ela. Ao chegar em seu apartamento, ainda em choque, a realidade se tornou insuportável. Ela tinha feito sexo com todos os membros da família de Ana.

Primeiro, um momento de loucura com José Daniel, um estranho até então.

Um esbarrão no carrinho de supermercado de Ana culminou com uma amizade colorida, com muito sexo e revelações.

Depois, o inesperado envolvimento com Marcos, o filho de Ana.

Agora, diante de tudo que aconteceu, Regina se sentia presa em uma teia de segredos e paixões que poderia explodir a qualquer momento, ameaçando destruir tudo ao seu redor.

Desligou o celular, deitou na sua cama, com um travesseiro sobre a cabeça, como que querendo entrar num buraco e desaparecer.

—Tanto Marcos quanto Ana, depois de algum tempo, começaram a perceber a ausência de Regina. No meio da agitação da festa e com o foco voltado para o aniversariante, inicialmente ninguém notou seu desaparecimento. Porém, conforme os minutos passaram, Marcos olhou ao redor e notou que Regina não estava mais ali.

— Cadê a Regina? — ele perguntou casualmente a Ana, tentando disfarçar a preocupação.

Ana, por sua vez, também havia percebido o sumiço da amiga, mas escolheu não demonstrar suas emoções. O incômodo que sentia desde a chegada de Regina se intensificava. Sem responder diretamente, ela apenas deu de ombros, tentando ignorar a sensação de que algo maior estava acontecendo por trás daquela ausência.

Ana foi tomada por um sentimento de culpa e arrependimento. O comentário que sussurrou ao ouvido de Regina mais cedo, em meio à sua raiva e ciúmes, agora parecia um erro. A ausência repentina de Regina na festa só aumentava sua angústia. Conforme a comemoração chegava ao fim e as pessoas começavam a se dispersar, Ana sentiu que não podia deixar as coisas como estavam.

Sem dizer nada a Marcos ou a José Daniel, ela aproveitou o momento de distração e escapou discretamente. Seu coração estava pesado, e cada passo em direção ao apartamento de Regina parecia carregar a incerteza do que iria encontrar. Quando chegou à porta, Ana respirou fundo antes de bater, desejando poder consertar o que estava quebrado entre elas.

Depois de insistir por alguns minutos, Regina finalmente abriu a porta de seu apartamento. Seu rosto estava amassado, como se tivesse dormido por horas, claramente tentando se esconder do turbilhão de emoções e dos acontecimentos da festa.

— Preciso falar com você, — disse Ana, sem rodeios. — Deixa eu entrar.

O tom incisivo de Ana deixou Regina sem muitas opções. Ela sabia que não poderia evitar essa conversa para sempre. Respirando fundo, abriu a porta por completo, permitindo que Ana entrasse. O silêncio entre as duas era carregado de tensão, enquanto ambas sabiam que aquele momento poderia mudar tudo.

Ana, com o coração pesado, pediu desculpas pelo comentário que havia feito durante a festa. Regina, desconfortável, respondeu com uma tentativa de minimizar a situação:

— Esqueça isso, está tudo bem — disse, parecendo não dar muita importância ao ocorrido, embora seu corpo revelasse o contrário.

Ela esfregou as têmporas, visivelmente incomodada, e comentou:

— Estou com muita dor de cabeça. Podemos conversar melhor em outro momento?

Ana, tentando se redimir, ofereceu ajuda:

— Tem algum analgésico aqui? Posso pegar pra você.

Regina indicou com um gesto vago para o sofá:

— Na minha bolsa, deve ter algo lá.

Ana foi até a bolsa de Regina e começou a procurar pelo remédio. Enquanto revirava o interior, seus dedos encontraram um objeto inesperado: um cartão de visitas. Ao virar o cartão, o choque a paralisou. O nome impresso era familiar demais. Era do seu marido, José Daniel.

O sangue de Ana ferveu instantaneamente. Seus olhos se encheram de raiva enquanto se virava bruscamente para Regina, segurando o cartão.

— Você já conhecia o José Daniel? — ela perguntou, possessa, sua voz carregada de incredulidade e fúria.

Regina ficou pálida, sem saber como responder naquele momento, ciente de que tudo estava desmoronando de uma vez só.

Regina ficou momentaneamente paralisada ao ver o cartão nas mãos de Ana. "O que aquele cartão estava fazendo ali?" ela se perguntou, até que a memória a atingiu como um raio. Lembrou-se do breve encontro que teve com José Daniel no metrô, quando ele, de forma casual e quase despretensiosa, jogou o cartão em sua bolsa aberta, e desde então ela o havia esquecido ali. Regina jamais havia feito uma ligação entre o homem estranho com quem teve aquela noite de sexo e o marido de Ana, pois sempre se referiam a ele como "José". No cartão, o nome em destaque era "Daniel", o que tornava impossível para Regina fazer a conexão na época.

Tentando manter a calma diante da situação que escapava do seu controle, Regina olhou para Ana, visivelmente abalada, e disse:

— Eu não conhecia seu marido... quer dizer, eu não sabia que ele era seu marido. Ele foi aquele estranho que eu convidei para fazer sexo comigo, no meu antigo apartamento, muito antes de eu saber qualquer coisa sobre ele ou sobre vocês.

Ana, incrédula, ficou pálida. Suas pernas tremiam e, sem forças para continuar de pé, ela se sentou no sofá, ofegante. As palavras de Regina ecoavam em sua mente, e ela tentava assimilar a revelação. O choque de descobrir que a amiga havia tido um envolvimento com José Daniel — seu marido — era insuportável. A dor da traição e da mentira a sufocava, enquanto a realidade desmoronava ao seu redor.

Regina, tomada pelo nervosismo e pelo peso do que acabara de acontecer, ligou rapidamente para Marcos.

— Sua mãe está aqui no meu apartamento, ela... está passando mal, — disse Regina, tentando manter a voz firme.

Marcos não hesitou e foi imediatamente até o apartamento de Regina, levando José Daniel consigo. Quando os dois chegaram, o cenário que encontraram era tenso. Ana estava sentada, visivelmente abalada e ofegante, enquanto no chão, ao lado de seus pés, repousava o cartão de visitas de José Daniel. Ele imediatamente reconheceu o cartão e, sem perder tempo, apressou-se em tirar Ana dali antes que ela dissesse algo que expusesse toda a situação.

— Vamos, Ana, vamos sair daqui, você precisa de ar fresco, — disse José Daniel, pegando Ana gentilmente, mas com firmeza, conduzindo-a em direção ao elevador.

Ana, ainda cambaleante e em estado de choque, mal conseguia resistir, deixando-se levar pelo marido. Enquanto José Daniel a ajudava a sair do apartamento, Marcos, confuso com a cena, se aproximou de Regina, tentando entender o que tinha acontecido.

— O que foi isso? O que aconteceu com minha mãe? — ele perguntou, preocupado.

Regina, tentando manter a compostura, respondeu rapidamente:

— Nós estávamos conversando, e ela começou a passar mal de repente. Não sei o que houve... mas acho que é melhor ela descansar.

No elevador, enquanto José Daniel tentava acalmar Ana, ela começou a sentir-se ainda mais fraca. Suas pernas não a sustentaram mais, e em um instante, desmaiou nos braços do marido. O pânico tomou conta de José Daniel, que imediatamente chamou Marcos.

— Ana desmaiou! Precisamos levá-la ao hospital, agora! — exclamou, com a voz carregada de desespero.

Marcos, sem hesitar, correu até o carro com o pai e rapidamente colocaram Ana no banco de trás. Em poucos minutos, já estavam a caminho do hospital, com a tensão no ar. Regina observava da janela do apartamento, angustiada com o que poderia acontecer a seguir.

No hospital, Ana foi levada com urgência para atendimento, e enquanto aguardavam notícias, José Daniel e Marcos permaneciam aflitos, tentando entender o que teria causado tamanha crise em Ana.

Apesar da angústia e da corrida contra o tempo, José Daniel e Marcos jamais saberiam o que realmente aconteceu naquele apartamento. Tudo o que restaria seria o mistério envolto nos últimos momentos de Ana com Regina.

Cerca de uma hora após darem entrada no hospital, um médico de olhar grave se aproximou. Com uma expressão séria, ele trouxe a notícia que nenhum dos dois estava preparado para ouvir:

— Sinto muito, fizemos tudo o que pudemos, mas Ana não resistiu e faleceu.

As palavras do médico atingiram José Daniel e Marcos como um golpe. O choque foi instantâneo, e a dor da perda tomou conta de ambos, enquanto tentavam processar o que havia acabado de acontecer. O peso da culpa, as perguntas sem resposta e os segredos escondidos no apartamento de Regina ficariam para sempre na escuridão, selados pela partida inesperada de Ana.

A notícia da morte de Ana explodiu na cabeça de José Daniel como uma bomba. Em meio ao choque e à dor, sua mente o levou de volta ao momento no apartamento de Regina. A imagem do cartão de visitas, caído no tapete, surgiu com clareza em sua mente, como se fosse um sinal de que algo estava profundamente errado.

Sem poder evitar, ele começou a conectar os pontos: o cartão, a expressão de Ana ao vê-lo, seu colapso logo em seguida. Uma relação quase automática se formou em sua cabeça. "Será que ela descobriu?", ele pensou, o peso da culpa crescendo em seu peito. José Daniel se perguntou se a revelação do encontro com Regina teria sido a causa do colapso repentino de Ana, algo que ele nunca poderia confirmar, mas que o atormentaria para sempre.

Cada vez mais perturbado, José Daniel sentiu o peso da tragédia cair sobre ele, sabendo que os segredos que mantinha estavam agora ligados, de forma irremediável, à morte de sua esposa.

Marcos, em total desespero após receber a notícia, disse com a voz trêmula:

— Eu vou ligar para a Regina... preciso entender o que aconteceu. Talvez ela saiba de algo.

Mas antes que ele pudesse pegar o telefone, José Daniel o desencorajou de forma firme, colocando a mão em seu ombro:

— Não, filho. Esse não é o momento. O que aconteceu foi uma fatalidade. Você sabe que sua mãe fazia tratamento com um cardiologista há tempos. Não podemos colocar isso nas costas de ninguém.

Marcos, ainda abalado, hesitou. O raciocínio do pai fazia sentido, mas a urgência de saber mais sobre os últimos momentos de Ana o deixava inquieto. José Daniel, por outro lado, estava desesperado para enterrar os segredos que poderiam vir à tona. Mantendo a calma aparente, ele olhou nos olhos do filho, tentando convencê-lo de que era apenas uma tragédia de saúde, enquanto internamente lutava contra o pavor de que a verdade pudesse emergir a qualquer momento.

José Daniel, ainda tentando manter o controle da situação, respirou fundo e disse a Marcos com voz baixa e pesada:

— Informe a moça... avise a Regina e os parentes, amigos próximos. Eles precisam saber.

Marcos, com lágrimas nos olhos, assentiu, embora sentisse o peso esmagador de ter que dar essa notícia terrível. Ele pegou o telefone com as mãos trêmulas e começou a discar os números, começando por Regina. Enquanto isso, José Daniel permaneceu em silêncio, cada vez mais atormentado pelo medo de que, ao informar Regina, segredos enterrados pudessem vir à tona.

Ele sabia que a morte de Ana traria ondas de luto, mas também de perguntas. E cada uma delas o deixava mais próximo da verdade que ele desesperadamente tentava esconder.

Ao receber a notícia, Regina sentiu como se o chão lhe faltasse. Suas mãos tremeram enquanto segurava o telefone, e seu corpo murchou, incapaz de processar o que estava ouvindo.

— Como pode uma coisa dessas? — murmurou, quase incrédula. — Estávamos conversando normalmente, e de repente ela começou a sentir falta de ar... foi então que te chamei. Coitada da Ana, — continuou Regina, a voz embargada pela emoção.

Marcos, do outro lado da linha, permaneceu em silêncio, sentindo o peso das palavras de Regina. Ela, ainda tentando assimilar a notícia, concluiu com tristeza:

— Meus sentimentos, Marcos. Me avise sobre o velório... que notícia horrível.

Ao desligar, Regina ficou parada, como se o mundo tivesse parado junto com a chamada. A morte de Ana trouxe consigo uma onda de dor e culpa, e ela mal conseguia lidar com a confusão de emoções que se misturavam dentro dela.

O enterro aconteceu na tarde do domingo, em uma atmosfera densa de dor e silêncio. Familiares e amigos de Ana se reuniam ao redor do caixão, compartilhando olhares tristes e abraços de consolo. Regina estava em um lado, distante, quase perdida em seus próprios pensamentos, enquanto José Daniel estava do outro, segurando o braço de Marcos, que estava devastado.

Em um momento, os olhares de Regina e José Daniel se cruzaram. Houve um instante de entendimento mútuo, um silêncio pesado entre eles. Ambos sabiam, no fundo de suas almas, que carregavam parte da responsabilidade pela morte de Ana. Aquele olhar profundo, cheio de culpa e arrependimento, parecia selar um pacto de segredo. Nenhuma palavra foi dita, mas o sentimento era claro: suas ações, de maneiras diferentes, tinham contribuído para o fim trágico de Ana.

O caixão foi baixado, e com ele, as esperanças e os segredos de uma vida que jamais poderiam ser desfeitos.

FIM

Veja os outros contos da série:

Título: Prazer além das cortinas

Título: Prazer além das cortinas (2)

Título: Prazer além das cortinas (3)

Título: Prazer além das cortinas (4)

Título: Prazer além das cortinas (5)

Título: Prazer além das cortinas (6)

Título: Prazer além das cortinas (7)

Título: Prazer além das cortinas (8)

Título: Prazer além das cortinas (9)

Título: Prazer além das cortinas (10)

Título: Prazer além das cortinas (11)

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 6 estrelas.
Incentive Jotha Elle a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Este comentário não está disponível