Como planejamos, fomos à pousada dos meus sogros para passar as festas de final de ano por lá. É uma ótima forma de reunir todo mundo, matar a saudade e fazer coisas divertidas. É um lugar lindo, transmite uma paz absurda, passa uma vibe muito boa e recarrega nossas energias. Quando estamos juntos, óbvio que não fica tão calmo assim, mas o clima que aquele canto exala é único.
Apesar de me chamarem de puxa-saco da minha sogra por gostar da animação que ela fica quando a pousada está cheia de gente, todos amam e anseiam estar por lá. Meus pais e os pais da Sarah são os que vão com menos frequência, porém falam o restante do ano inteiro sobre o assunto.
Assim que chegamos, só estavam meu sogro e meu cunhado. Meus filhos correram para falar com o avô e já atacaram o Victor para irem ao haras montar a cavalo, e ele, logicamente, os levou. Ficamos na mesa conversando, esperando minha sogra chegar das compras, e o Sr. José nos contou que faria uma grande reforma ali e pediu a minha ajuda.
— Você poderia me dar uns conselhos, Lore? Não quero que perca o estilo rústico, mas estou pensando em uma iluminação mais moderna, com aquele sistema da clínica — disse-me.
— É uma ótima ideia usar o sistema de automação integrado; facilita muito a vida. O senhor terá o homem mais apaixonado por obras aqui por esses dias: meu pai. Tudo de inovador na clínica foi pensado por ele; com certeza vai adorar te ajudar nisso — respondi.
— Sou bastante desatualizado, como você já sabe, preciso mudar isso. Vai ser bom conversar com ele! — falou animado.
Juh estava com a cabeça no meu colo, quieta, só observando a nossa conversa, provavelmente ainda por eu ter que ir trabalhar, e eu fiquei fazendo leves carinhos em seu cabelo. Meu sogro percebeu que ela não estava normal e perguntou:
— O que foi que aconteceu, minha filha?
— Nada, pai... — respondeu subitamente, como se acabasse de perceber que se dessociou por muito tempo. — Só estou com dor de cabeça!
— Deve ter sido o percurso; quer um remédio? — perguntou preocupado.
— Não precisa, eu tenho, mas vou tomar um banho e descansar um pouco antes para ver se passa... — falou, levantando e depois dando um beijo nele.
Eu a acompanhei, ajudando a levar nossas coisas para cima. Quando chegamos no quarto, ela se jogou na cama e eu fui encher aquela mulher de carinho.
— Mentindo para seu pai? — perguntei enquanto cobria seu pescoço de beijos.
— Humrum... — confirmou, suspirando. — Mas só preciso descansar um pouco que fico bem.
— Tá bom, quer que eu fique aqui contigo? — perguntei enquanto ela cruzava os braços no meu pescoço, guiando-me para um beijo na boca.
— Isso é um sim? — perguntei, e Juh confirmou com a cabeça de forma meiga.
— Então minha gatinha quer um dengo? — ela confirmou da mesma maneira enquanto eu passava meu nariz no seu rosto, sentindo seu cheiro.
— Ou uma massagem para relaxar? — perguntei.
— Uma massagem com dengo! — respondeu, se desvinculando de mim e virando de costas.
Inevitavelmente, dei um tapa em seu bumbum; no susto, ela virou o rosto para mim, rindo, e apontou o dedo, me alertando: — Sem gracinhas, amor!
Eu a beijei em um sorriso e confirmei, provocando: — Claro, amor, só vou fazer o que você pedir!
Nós rimos e comecei a pressionar com os polegares, em movimentos circulares, seus ombros tensos. Tirei sua blusa para melhor contato e depositei diversos beijinhos por toda a extensão do seu corpo descoberto. Dei prosseguimento amassando os pequenos nós com a palma da mão em movimentos mais firmes. Quando cheguei na parte inferior das costas, notei que Júlia já dormia, mas continuei, dessa vez com ações mais leves, para que ela descansasse um pouco; ia fazer bem.
Deitei um pouco ao seu lado e fiquei observando aquela face angelical, da qual eu sou completamente apaixonada.
— Eu te amo tanto, amor! — falei, fazendo um carinho sutil no seu rosto, que agora tinha uma feição mais relaxada.
Desci para ficar com meu sogro e, em poucos instantes, minha sogra chegou do mercado. Dei um abraço nela e me juntei aos funcionários para ajudar a tirar tudo do carro. Ela estava extremamente empolgada e conversando bastante; meu sogro olhava para mim e dava pequenas risadas. Eu não podia encará-lo muito para não acabar gargalhando.
Perguntou pelos netos, por Juh e quando o restante do pessoal chegaria. Informei que Juh adormeceu, meus filhos estavam no haras e que, antes do anoitecer, com certeza a pousada estaria lotada.
Quando D. Jacira entrou para a cozinha, nós soltamos os risos que estávamos segurando.
— Que evolução! Eu não sei como você conseguiu... — disse-me.
— Tempo e adulação — falei, rindo. — Só falta ela ficar bem com Juh agora.
— A parte mais difícil já foi, creio que não vai demorar — respondeu-me.
Minha irmã chegou com meus pais, e enquanto eu matava a saudade deles, Loren foi entrando e perguntando por minha mulher. Avisei que ela estava descansando, para que não a acordasse.
— Sinto muito, ela disse que precisava conversar comigo e eu sou curiosa — e continuou o percurso, convencida.
Cheguei mais perto e pedi: — Bate antes, ela está sem blusa e é tímida.
Loren assentiu, adiantando os passos.
Logo todos chegaram: meu irmão, Sarah e seus pais. Já estávamos em volta da mesa quando avistei meus filhos retornando com Victor a cavalo; os dois estavam cobertos de poeira dos pés à cabeça, o que foi motivo de risadas.
Coloquei os dois encostados na parede e liguei a mangueira na direção deles, o que ocasionou um momento mais divertido para eles do que uma limpeza propriamente dita; na verdade, foi mais para tirar o grosso. Depois foram tomar o banho oficial no banheiro externo.
Enquanto isso, fui pegar as toalhas e as roupas. Assim que entrei no quarto, Júlia e Loren, que estavam entretidas em um papo, pararam de falar imediatamente e riram olhando para mim.
— Silêncio, que o assunto chegou! — falei, brincando.
Me aproximei de Juh e ela me deu um beijinho, dizendo que adorou a massagem e acordou bem melhor. Avisei que todos já haviam chegado e ela disse que já desceria.
Ao sair, falei rindo para provocar outros risos: — Bem que minha orelha estava ardendo...
Loren, Lorenzo e Juh têm uma amizade muito forte, vivendo implicando uns com os outros, e acho que isso só fortalece a relação que criaram. Como minha irmã mora bem próximo de nós e passou a última semana na casa dos meus pais, imaginei que estavam conversando sobre nosso pequeno conflito. Júlia odeia intromissões de terceiros no nosso relacionamento, então ela só conversa com Loren, que é uma boa ouvinte, confiável, conhece muito bem nós duas e não vai se meter em nada.
Pendurei as roupas e toalhas nos boxes de cada um e esperei eles saírem; estavam com um sorriso imenso no rosto, contando sem interrupções tudo o que tinham feito. Voltei para a mesa e agora eles tinham tudo que mais gostam: comida e bajulação de todo lado.
Todo mundo queria ver, conversar e apertar meus filhos. A cicatriz de Kaique virou atração e logo todos aprenderam que não era uma cicatriz, e sim uma marca de nascença radical.
— De onde vocês tiram essas ideias? — perguntou meu pai, achando cômico.
— Vem tudo da cabeça da Mih, ela pensa tudo — disse Kaká.
Logo Juh desceu com minha irmã, cumprimentaram a todos, e Milena, que estava morta de cansada, já se apossou do colo.
— Come antes de capotar, ok? — falei, e ela confirmou com a cabeça. — E é melhor capotar na cama, tá pesada que só... — Com isso, ela deu um sorrisinho.
— Que maldade, claro que o tio carrega você, meu amor — disse Lorenzo, indo beijá-la na testa.
— Bebê! — apontou Kaká, rindo de Milena.
— Ah, não... De novo não! — lamentei.
Mas Milena estava sem energia até para revidar a provocação, só se agarrou mais em Juh.
— Até parece que você também não é... — disse Lorenzo, pegando-o pelas mãos para girar.
— Se deixar, eles passam o dia inteiro discutindo isso... — disse Victor, rindo, provavelmente porque presenciou durante a tarde.
Fui colocando suco para os dois, enquanto Júlia distribuía o bolo. Era uma cena normal do nosso cotidiano, tinha uma conversa de fundo dos meus irmãos e cunhados, mas o restante das pessoas estavam em silêncio nos observando.
Quando notei, exclamei rindo: — Oxe! Assim eu fico sem graça...
— Vocês têm um entrosamento tão bom — disse a mãe de Sarah.
Meu sogro levantou, dizendo: — Eu sempre soube que você seria uma mãe incrível, filhinha — e a abraçou por trás.
— Ela é mesmo... — falei e dei um selinho nela.
— Nós somos! — me respondeu.
Depois de nos alimentar, naquele clima legal, permanecemos conversando. Lorenzo já tinha levado Mih para a cama, e Kaique permaneceu conosco, sentado no meu colo, mas também já estava arriado de sono.
Não sei como entramos no assunto, mas Kaká falou que tinha medo de dormir sozinho ainda, e a mãe de Victor disse: — Que nem você, filho!
— E só dormia no meio da gente, no canto não servia... — disse o pai dele um pouco bravo provocando alguns risos.
Eu senti que meu cunhado ficou desconcertado, porém, achei uma oportunidade perfeita para tentar ajudar meu filho a superar seu medo.
— Então, Victor — fui me aproximando de onde ele estava com Loren — põe seu sobrinho para dormir hoje... — de forma que só eles ouvissem, finalizei: — E conversa sobre, acho que vai ajudá-lo.
Ele assentiu com uma felicidade no olhar e foi, mas foram brincando até o quarto.
— O jeito que Kaká encontrou foi se refugiar na cama de Mih, acho exageradamente fofo, não tratamos como um problema, mas ele não pode viver com isso — falei para o restante na mesa.
— Eles são tão parceiros, é lindo de ver — falou minha mãe.
— Totalmente diferente dos seus filhos — disse, brincando para ela.
— Não é verdade, vocês são encrenqueiros, mas também se amam — disse meu pai.
Ficamos um bom tempo ali conversando, contando como estava sendo tudo com Kaique. Os pais de Sarah e os de Victor, que são os mais distantes de nós, ficaram impressionados quando fomos contando com mais detalhes sobre a adoção e o transplante.
Depois, Sr. José começou a conversar sobre a reforma. Meu pai já deu a ideia de colocar jipes e quadriciclos com guias para fazer trilhas até a cachoeira, para a tirolesa. D. Jacira, que não estava gostando muito da ideia, até se animou mais, porque isso com certeza atrairia novos clientes. Só sei que, quando nos despedimos, os pais de Victor também tinham sido envolvidos e estavam interessados em uma parceria com meus sogros para fazer passeios a cavalo da pousada para o haras, e lá promover outro tipo de entretenimento.
Chegamos às portas do quarto, e Victor estava sentado em frente ao das crianças. Pelo tempo, achei que ele tinha conversado com Kaká e ido deitar.
— Ué, achei que já estava no décimo sono. Como foi com ele? — perguntei.
— Kaká é ótimo — disse, passando a mão no rosto —. Conversamos bastante, falei que eu abraçava o travesseiro e assim ele fez.
Ele já ia saindo quando Juh segurou em seu braço e disse: — Fica com a gente até Loren voltar, ela ainda tá com seus pais.
— Cunhado, é um assunto superado pra ti, né? Eu deveria ter perguntado antes... Cê tá bem? — perguntei quando entramos.
— Não, tranquilo... Eu não tenho mais medo, só me tocou o jeito dele não ter receio em se expor, falar sobre e aceitar ajuda... Vocês estão lidando da forma certa... — falou com a cabeça baixa.
— Quer conversar? — perguntou Loren, entrando.
— Não tem nada de mais... — falou, com os olhos enchendo de lágrimas, mostrando totalmente o contrário — Eu só ouvia muita besteira por causa disso, diziam que era viadinho e que era frescura, um medo irreal... Só achei legal o jeito que vocês estão ajudando a superar...
— Por que nunca conversamos sobre isso? — perguntou Loren.
— Não sei, vida... Era um assunto esquecido... Foi ótimo ter voltado, principalmente eu podendo ajudar de alguma forma... Ele ficou todo animado quando fui contando minhas experiências... — disse com um sorriso.
O clima não pesou, depois se dispersou com a gente falando besteira e eles foram para o quarto deles.
— Não vale correr pra cama de seus pais hoje, Victor — zoou Lorenzo, que ia subindo.
Victor foi mais rápido que minhas palavras, mas não que minhas ações; acertei um tapa na cabeça do meu irmão.
— Não se preocupa, cunhado, vou me agarrar com sua irmã — disse, rindo e puxando Loren.
— Que filho da puta! — exclamou Lorenzo, mas de forma cômica.
— Você pediu por essa... — falei, dando um tchauzinho para todos.
Deitei com minha muié, que estava ansiando por carinho, toda dengosinha, querendo a minha atenção.
— Amanhã não desgruda de mim, por favor — disse-me enquanto eu namorava seu pescoço.
— Você vai enjoar do meu rosto, prometo — falei, rindo.
Dormimos mais agarradas que nunca!