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Acordei com o quarto banhado pela luz suave da manhã, mas o peso ao meu lado na cama não estava mais lá. Guilherme tinha saído, e minha cabeça foi inundada por uma onda de pensamentos. Será que ele estava confuso? Será que a noite passada tinha sido demais pra ele? Eu sentia um medo crescente, algo que eu não conseguia controlar.
Levantei devagar, ainda tentando processar tudo. Não queria pensar no pior, mas era inevitável. Tomei um banho rápido, deixando a água morna tentar levar embora parte da preocupação que estava crescendo em mim. Enquanto a água caía sobre mim, eu ficava revivendo a noite anterior, cada toque, cada palavra. Tudo tinha sido tão intenso, tão... certo. Mas e agora?
Saí do banheiro, enxugando o cabelo, e me deparei com Guilherme voltando ao quarto. Ele parecia exatamente o mesmo de sempre, com aquele sorriso relaxado, os olhos brilhando de maneira descontraída.
Guilherme - Bom dia, dorminhoco. - Disse ele, abrindo um sorriso. - Tava te esperando levantar pra gente ir ao mercado comprar umas coisas pro acampamento.
Minha tensão se dissipou um pouco, mas o nó no meu estômago ainda estava lá. Eu tentava interpretar cada gesto, cada palavra, procurando algum sinal de arrependimento. Mas ele parecia exatamente como sempre foi.
Tomamos café, e após isso fomos até o carro rumo a cidade, durante o caminho ele resolve falar sobre.
No mercado, enquanto a gente escolhia as coisas, Guilherme começou a falar sobre a noite anterior, e eu quase prendi a respiração, esperando pelo que ele ia dizer.
Guilherme - Sobre ontem, foi incrivel, curti muito. -Dizia ele olhando pra frente mas não conseguia ver seus olhos por causa do óculos escuro.
Eu me virei para ele, tentando ver se ele estava realmente sendo sincero.
Eu - Você... não se arrependeu? Nem ficou confuso?
Ele riu, um riso suave que me fez sentir mais tranquilo.
Guilherme - Confuso? Não, cara. Eu tô mais certo do que nunca. E arrependido? Nem de longe.. Foi melhor do que eu imaginava.
Aquelas palavras me deram uma sensação de alívio que eu nem sabia que estava precisando tanto. A noite anterior não tinha mudado o jeito dele comigo, só tinha intensificado o que a gente já sentia. Eu sorri, me sentindo mais leve do que antes.
Guilherme - Chegamos, finalmente. - Disse ele parando o carro dentro do estacionamento do mercado.
Descemos e fomos as compras. Guilherme estava animado para acampar na cachoeira que tinhamos acampado da última vez, ele tinha curtido muito aquele lugar. Compramos comidas, lenha, e até mesmo um gerador de energia em um depósito ao lado do mercado.
Guilherme - Carregar celular, ligar uma lampada dentro da barraca, vai que entra algum bicho.
Eu - hahahah ta certo.
Compramos tudo que precisava, até mesmo o que não precisava haha e fomos para casa. Quando chegamos não havia ninguem em casa, pelo menos na provavelmente meu pai e Cintia estavam no andar de cima.
Estávamos na cozinha, eu e Guilherme, organizando as coisas para o acampamento. O barulho dos potes, das facas e dos sacos plásticos preenchia o ambiente enquanto eu tentava focar nas tarefas. Guilherme, claro, estava com aquele jeito leve, rindo das piadas que ele mesmo fazia e me provocando de leve.
De repente, enquanto eu cortava algumas frutas, senti Guilherme se aproximar por trás. Antes que eu pudesse reagir, ele passou os braços ao redor da minha cintura, me puxando contra ele. A princípio, o toque me pegou de surpresa, e meu corpo ficou tenso por um segundo. Mas logo relaxei, sentindo o calor dele contra mim.
Guilherme - Ow deixa eu ver você fazendo pra aprender - Disse ele no meu ouvido com o rosto encostado no meu ombro, enquanto eu tentava não deixar o nervosismo tomar conta. Estar assim, tão próximos, depois de tudo que rolou na noite passada, ainda era novo pra mim. Guilherme, no entanto, parecia completamente à vontade.
Foi então que, no meio daquele momento, eu ouvi o som da porta da cozinha se abrindo. Meu coração disparou. Quando olhei, lá estava Cíntia, parada na entrada, segurando uma cesta de pães, os olhos levemente arregalados de surpresa.
Cintia - Ah, desculpa interromper, meninos... Só vim pegar uma coisa aqui, Disse ela, tentando disfarçar um sorriso, mas dava pra perceber o quanto estava se divertindo com a situação.
Eu me afastei de Guilherme tão rápido que quase derrubei a faca da bancada. Meu rosto queimava de vergonha, e eu mal conseguia encarar Cíntia.
Guilherme - A sem problemas, atrapalha nada não, tia - Guilherme disse, com aquele jeito despreocupado, soltando uma risadinha, sem nem ao menos se mover do lugar. Ele parecia achar graça em me ver completamente sem jeito.
Cíntia, por outro lado, fingiu que não viu nada. Pegou o que precisava e saiu da cozinha, mas não antes de dar uma piscadinha e dizer, “Se precisar de mais ajuda pra arrumar as coisas, é só chamar.”
Quando ela saiu, fiquei lá, parado, ainda tentando recuperar o fôlego e processar o que tinha acabado de acontecer.
Eu - Você... você tá doido, Gui?- Perguntei, virando pra ele.
Guilherme - Ah, relaxa, André. Ela já deve ter desconfiado de tudo faz tempo. - Disse ele disse, rindo, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Eu não sabia se ria ou se ficava ainda mais envergonhado, mas de uma coisa eu tinha certeza, foi engraçada toda a situação.
Terminamos tudo e fomos descansar, Guilherme estava pensando em ir para a cachoeira por volta das 15h00 e eram umas 12h30, almoçamos e fomos deitar um pouco.
Guilherme - Ow sua barriga é bonita. - Disse ele dando leves toques na minha barriga.
Eu - Para tenho cosquinha... hhaha
Guilherme - Cosquinha? Cócegas né? hahahh esse sotaque
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Quando chegamos à cachoeira, Guilherme não perdeu tempo. Assim que saiu do carro, começou a tirar a roupa como se fosse a coisa mais natural do mundo, ficando só de cueca. Eu observei de longe, ainda no banco, tentando disfarçar o sorriso que se formava no meu rosto. Ele sempre foi assim, despreocupado, leve. Era uma das coisas que eu mais admirava nele.
O sol batia de leve em sua pele, e, por um segundo, fiquei ali, apenas olhando suas pernas grossas e peludas, seu peito definido, um pacotão naquela cueca preta. Guilherme virou pra mim e soltou uma provocação sem nem precisar me encarar.
Guilherme - Vai ficar me olhando ou vai me ajudar?
Aquela frase me arrancou de volta pra realidade. Eu ri baixinho e saí do carro, ainda meio perdido na cena.
Eu - Já tô indo, calma aí. - Falei, indo direto pro porta-malas e começando a organizar as coisas. Enquanto isso, ele já estava esticando as hastes da barraca.
Enquanto eu ajeitava nossas mochilas e as coisas que trouxemos, dava umas olhadas disfarçadas pra ele. Guilherme tava ali, concentrado, sem se preocupar com nada. Cada movimento parecia natural, como se ele pertencesse àquele lugar, àquele momento. E eu... eu estava preso entre organizar as coisas e admirar aquele lado dele que me encantava tanto.
Guilherme - Acho que vamos sobreviver essa noite na selva, hein? - Ele disse, terminando de montar a barraca com um sorriso de satisfação, quebrando o silêncio.
Eu não consegui evitar uma risada.
Eu - Olha, esse sabe armar uma barraca.
Guilherme - Aqui ó barraca que tu quer - Disse ele apertando o pal por cima da cueca
Nossos olhares se cruzaram. Foi rápido, mas intenso. Naquele instante, o barulho da cachoeira ao fundo parecia amplificar tudo entre nós. O dia tinha começado como uma viagem qualquer, mas, naquele momento, eu sabia que seria muito mais do que isso.
Eu - Não posso revelar.
Guilherme - hahaha bobo - Disse ele me dando um beijo na cabeça e indo até a água.
Liguei o gerador de energia e conectei o rádio, tocava um R&B dos anos 2000, abri uma latinha de cerveja e joguei outra para Guilherme.
Guilherme - Bom eu já ligar a churrasqueira elétrica e preparar uns tira gostos né.
Eu - Compramos um monte de carne pra isso né, BORA COMER.
Guilherme - Bora!!!
Após comermos, pegamos algumas bebidas e nos sentamos perto da cachoeira, admirando a vista. O sol já começava a se pôr, tingindo o céu com tons de laranja e rosa, de fundo tocava um pop bem baixinho. Guilherme estava quieto, algo raro para ele. Ele olhava para o horizonte, como se estivesse reunindo coragem para dizer algo.
Eu fiquei em silêncio, respeitando o momento, mas a curiosidade começou a me incomodar. Era incomum ver o Gui tão sério assim. Quando finalmente ele falou, a voz saiu baixa, mas firme.
Guilherme -Tem uma coisa que eu preciso te dizer, André.
Meu coração acelerou instantaneamente. Me virei para ele, esperando. Ele respirou fundo, ainda sem me olhar, os olhos fixos na água da cachoeira.
Guilherme - Sabe... T udo isso aqui, o que a gente tem vivido... não é só amizade pra mim. Eu achei que fosse no começo, tentei entender o que sentia, mas não dá mais pra esconder.- Ele finalmente me olhou, os olhos claros mais intensos do que nunca.
Eu - Gui.. Eu..
Guilherme - Eu sou apaixonado por você.
Aquelas palavras me atingiram com uma força que eu não esperava. Eu já sabia, claro, ou pelo menos imaginava, mas ouvi-lo dizer em voz alta fez tudo parecer mais real, mais profundo. Ele continuou, como se tivesse medo de parar.
Guilherme - Eu sei que pode parecer confuso, mas não é pra mim. Desde aquela noite, tenho pensado nisso, e a única certeza que tenho é que, quando a gente voltar pro Rio, eu vou lutar por isso. Vou lutar pra gente ficar junto, pra gente ser mais do que apenas amigos.
Minha cabeça estava a mil, mas o que dominava era uma felicidade silenciosa, algo que eu nem sabia que esperava ouvir até aquele momento. Sem pensar duas vezes, me aproximei dele e coloquei a mão em sua nuca, puxando-o para mais perto.
Eu - Eu também tô nessa, Gui, - Sussurrei, sentindo meu peito aquecer. - E a gente vai dar um jeito de fazer isso funcionar, juntos.
Ele sorriu, o sorriso de sempre, aquele que me fazia sentir que tudo ficaria bem. E, pela primeira vez, senti que a nossa conexão estava completa. Não era mais sobre dúvidas ou incertezas; era sobre nós dois.
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