Parou em frente ao prédio, respirou fundo, usava sua melhor roupa, uma saia social justa na cor chumbo combinando com o blazer e uma camisa social branca de pano bem fino mostrando seu sutiã creme por baixo.
Os cabelos brilhavam no sol, ela se viu no reflexo da portaria, o óculos escuro cobrindo parte do rosto
— Bom dia — O Porteiro disse e desviou o olhar para em seguida olhar de novo como se conhecesse — Dona Danielle? — A expressão dele era de incredulidade, parecia que tinha visto uma aparição
Ela sorriu e tirou o óculos, passou pela catraca com seu crachá verde e azul e entrou no elevador, haviam lonas em frente ao espelho, lamentou não poder se ver, pegou um espelhinho que trazia na bolsa e olhou seu rosto buscando por imperfeições na maquiagem.
Mesmo estando completamente cicatrizado ainda existiam marcas de inchaço e rouxidão que ela cobriu com uma boa maquiagem.
Chegou na recepção e viu a garota, namorada de Armando, ela olhou para Danielle e abriu a boca para dizer algo, mas não disse, Danielle sorriu
— Bom dia — Disse animada com a voz mais animada
Passou pelo corredor, algumas pessoas a olhando, notou as pessoas na sala de café olhando uma sob as outras, viu os programadores virando as cadeiras para ela.
Parou em frente a sua mesa, e colocou a bolsa na cadeira, tirou o óculos escuro.
— Bom dia — Disse sorridente
Ninguém respondeu a princípio, olhavam para ela com curiosidade, era uma pessoa nova, diferente, mas ainda assim todos a conheciam ou seria essa uma irmã mais nova?
— Danielle? — Ouviu a voz conhecida, Fábio a chamava do outro lado da mesa
— Bom dia Fabio — Ela respondeu com um sorriso triunfante
— Você — Ele exitou, não sabia o que dizer, Danielle desfez o sorriso parecendo preocupada
Por alguns segundos a insegurança bateu forte em Danielle o peito dela doeu, ela havia se visto, havia amado o resultado, ao ver dela estava perfeito, Fábio soltou o ar piscando incrédulo
— Você está incrível — Ele disse atônito e trazendo consigo uma enxurrada de elogios vindo dos outros funcionários
Ela sorriu e agradeceu a todos, Fábio deu a volta na mesa e se aproximou, sentou-se ao lado dela
— Uau — Ele disse olhando os detalhes do rosto dela.
Danielle agora tinha uma expressão perfeitamente feminina, maçãs do rosto protuberantes, queixo e maxilar afinados, testa fina tudo nela indicava que era uma mulher de nascença, a maquiagem não deixava que eles vissem as partes roxas e amareladas ainda em cura de seu rosto.
— Incrível — Fabio disse — Você parece uma pessoa completamente diferente, mas ainda assim é você, é como, é como…
Ele parecia não saber o que dizer
— É como o que? — Ela perguntou curiosa
— É como se fosse uma irmã sua, uma gêmea, mais nova, mais bonita — Fabio disse embasbacado
Ela sorriu contente
— Obrigada, mas sou eu mesmo, a mesma que salva vocês quando o programa de vocês dá pau em produção — Ela disse debochada
Os programadores riram, analisavam o rosto dela ao longe com curiosidade
— Gente, pode olhar, mas trabalhem vai — Ela disse brincando
Eles voltaram para seus afazeres, Fábio continuou do lado dela
— Está mesmo incrível, deslumbrante — Fábio disse baixinho
— Obrigadinha — Ela disse também baixinho
— Sua sobrinha não deixou eu te ver — Ele disse entristecido
— Sim, eu disse para ela não deixar ninguém me ver até eu ficar bem, não queria nenhuma visita me vendo destruída, fiquei bem ruim
— Por que não pediu ajuda? — Ele perguntou indignado
— Eu já tinha toda a ajuda que eu precisava, não precisava se preocupar, eu disse, sabia exatamente o que fazer — Danielle disse despreocupada arrumando os cabelos cortados num ângulo imitando uma letra V apontando para o fim de suas costas.
— E você não respondeu o celular, mandei algumas mensagens
— Trinta e duas mensagens não lidas suas e vários áudios, eu vi hoje — Danielle disse ainda baixinho
— Por que não me respondeu pelo menos para dizer que estava bem? — Fabio cobrou — Eu estava preocupado
Ela olhou para ele, queria falar algo como “Não te devo satisfação” mas viu o rosto dele de preocupação, tocou a perna dele
— Deixa eu ser dramática vai, queria mesmo que todos sentissem falta de mim, eu desliguei tudo de propósito, mas estou bem agora, eu juro.
Ele parecia magoado, ressabiado, se levantou pronto para voltar ao seu lugar, Danielle segurou sua mão
— Obrigada por se preocupar comigo tá? — Ela disse satisfeita
Ele concordou com a cabeça, e foi saindo, mas deu meia volta
— Ah, hoje o diretor vem aqui — Ele disse parecendo ansioso
— Ué, ele vai voltar? não veio no dia que eu operei? — Danielle disse sem entender
— Ele veio, você não estava e ele deu um esporro monstro no Wellington, isso foi bem legal — Alguns outros que ouviam a conversa riram da situação — Mas ele disse que queria ver você, te conhecer por que você ajudou muito no problema que tivemos
— Ele vem só pra me ver? — Danielle perguntou franzindo a testa e sentindo dor, fazendo uma careta imediatamente pelo movimento
— Pelo que entendi sim, então não dá para inventar outra cirurgia dessa vez, ele vem a tarde. — Fabio disse
— Hmmm — Danielle murmurou
Viu seus e-mails, algumas coisas para fazer, mas Fábio parecia estar cuidando de tudo, levantou-se e foi até a salda de Wellington, era uma sala de vidro com persianas, ficavam sempre abertas, ela bateu na porta
— Tem um minuto? — Falou olhando para ele
Wellington franziu o cenho tentando ver se se lembrava dela, durou dois segundos, mas ele se lembrou
— Ah — Ele falou quando entendeu quem era — Oh — Falou observando-a por inteiro — Entra — Disse parecendo assustado
Ela entrou e se sentou
— Ficou foda — Wellington falou quando a viu — Você parece uma mulher
Ela olhou para ele sem expressão e ele piscou forte e colocou a mão no rosto
— Não foi isso que eu quis dizer, que me referi — Ele falou mais foi interrompido
— Eu entendi, tudo bem, obrigada pelo elogio — Ela disse pensativa — Foi um elogio
— Foi, foi sim! — Ele respondeu atrapalhado — Tá muito bonito — Ele disse e se corrigiu — Bonita, bonita! você tá muito bonita!
— Obrigada — Ela disse — Estou voltando agora de férias, me disseram que o diretor quer falar comigo
— Sim, ele veio pra falar com você de outra vez, mas você abandonou o barco e me fez passar aquela vergonha — Wellington disse voltando ao seu costumeiro jeito mentiroso de ser
— Você sabia com antecedência que eu ia fazer essa cirurgia
— Eu não lembrava, te falei, muita coisa estava acontecendo, não tenho culpa — Wellington disse defensivo
— Lembrava sim, eu vi você conversando sobre mim, a hora que você me encontrou eu já estava na empresa — Mentiu, não queria expor Fábio que avisou sobre Wellington
Ele engoliu seco, se calou
— Enfim — Ela disse — Tem ideia do que ele quer comigo?
— Não, ele só quer falar com você, mas você tá sendo muito bem visto pela diretoria, então acho que ele vai te dar os parabéns, quem sabe colocar você como o novo gerente daqui.
— No seu lugar? — Ela perguntou curiosa
— Claro — Ele disse magoado
— Não tenho estômago pra tratar mal as pessoas — Ela disse sarcástica — Prefiro tratar mal bugs de computador
Ele fez uma expressão azeda
— Ele vem a tarde e vai te procurar — Falou tentando encerrar a conversa
— Ok, obrigada — Danielle disse se levantando — Tem alguma coisa prioritária para eu ver antes de começar a ver o que tem parado para eu resolver?
— Ve com o Armando, ele sabe das tarefas — Wellington disse e pegou o telefone da mesa discando algum número apenas para parecer ocupado
Ela saiu da sala
Olhou no canto do escritório, Armando estava lá, de cabeça baixa, parecia mexer na tela do celular.
Danielle respirou fundo e estalou o pescoço, na parte do escritório que ela estava o chão era coberto por carpete na cor chumbo, da cor do terno dela, onde armando ficava era um chão de aparência emborrachada.
“Vamos ver” — Falou para si mesma
Caminhou pelo corredor de chão emborrachado com madeira por baixo, nos ambientes de tecnologia aquele piso era muito comum, tinha mais ou menos trinta centímetros de altura do chão e era todo de madeira para que dezenas de cabos passassem por baixo para facilitar a ligação das máquinas
O que Danielle não esperava é ser o centro das atenções, mas seu salto produziu um barulho que fez com que todos observassem curiosos ela passando
“toc, toc, toc, toc, toc, toc” o salto dela produzia pequenos barulhos rítmicos enquanto ela andava pelo corredor com pessoas olhando, sentiu-se em uma passarela e ficou envergonhada, percebeu que rebolava ao andar de salto, mas não mudou o ritmo.
Armando só a viu quando ela estava próxima, fez a mesma expressão de Wellington, quando a reconheceu se levantou
— Dani? — Falou animado — Uau, você está maravilhosa
Se aproximou para dar um beijo no rosto dela, mas ela se afastou.
Não por que não queria que ele a tocasse… também era por isso, mas não só por isso, a verdade é que o rosto ainda doía e não estava completamente curado.
Nota da escritora: Tá bom, o rosto não doía, ela que não queria encostar nele mesmo, sabemos.
Esticou a mão em cumprimento
— Não toque no meu rosto, ainda dói — Ela disse séria
Ele pegou a mão dela e a cumprimentou
— Você está linda, de verdade, maravilhosa — Ele disse repetindo o elogio
Danielle resolveu ignorar
— Estou voltando agora, e a tarde provavelmente vou ter um compromisso, não sei quanto tempo vai levar, tem alguma tarefa urgente para eu ajudar ou posso seguir o que está na minha lista
— É…. — Armando olhou em volta, sentou-se no computador, deu uns dois cliques e olhou pra ela, fez um gesto para ela se sentar na cadeira a frente, ela sentou — Você está realmente incrível, não dá para saber que é a mesma pessoa
— Eu estava horrível antes? — Ela perguntou seca
— Não, não estava — Ele respondeu tentando se justificar
— Será que sua mãe me aceitaria como sua namorada agora? — Ela perguntou num tom sério
Ele olhou para ela animado
— Certeza que sim — Disse animado
— Você me aceitaria de volta como namorada? — Ela perguntou com um sorriso enigmático
— Claro! — Ele disse sorridente
— Mesmo eu sendo um traveco que transa com homem comprometido no estacionamento da empresa? — Ela perguntou sem alterar a expressão
— Você nunca vai esquecer isso né? — Ele disse chateado — Eu errei, me perdoa
Ela desviou o olhar
— Eu te amo Dani, eu juro — Armando disse baixinho
— Fala mais baixo, senão a sua namorada vai te ouvir — Ela colocou o dedo nos lábios ornados por batom vermelho escuro — Shhhhhhiiii
Ele ficou vermelho
— Não tenho tarefa pra você pode fazer as suas — Falou ressentido
— Obrigada — Ela se levantou, girou nos calcanhares e saiu caminhando novamente fazendo o “toc, toc, toc, toc” por onde andava.
Voltou à sua mesa, trabalhou até próximo a uma da tarde.
— Vamos comer? — Fábio parou do lado dela
— Ah… — Ela pensou um instante — Vamos sim, aqui no prédio mesmo?
— Vamos em outro lugar, inaugurar a nova você — Fábio disse sorridente
— Eu to com muita coisa, aqui dentro é mais rápido — Ela disse fazendo um beicinho de manhã e Fabio sucumbiu na hora
Comeram e conversaram, mais pessoas que o normal sentaram-se na mesa dela, perguntavam, olhavam, elogiavam e comparavam, Danielle teve que explicar o procedimento, disse que retiraram seu rosto e explicou todos os detalhes algumas vezes para as pessoas.
Ao voltar para sua mesa Danielle caiu no trabalho, ela gostava pois ficava imersa e viajava por mundos de algoritmos onde ela tinha total domínio, ao contrário da sua vida normal, ela não precisava se esforçar o tempo todo, ela havia nascido para ser aquilo, uma programadora.
Sentiu uma mão no ombro, era pesada e grande, a voz retumbante
— Você é a Danielle? — A voz grossa desconhecida a chamou atenção, ela se virou devagar, reconheceu-o da vídeo chamada, era Fausto o Diretor
Se levantou
— Senhor Fausto — Danielle disse se arrumando e esticando a mão para cumprimentá-lo
Mas ele empurrou a mão dela e deu-lhe um abraço, era um homem surpreendentemente grande.
Danielle não era uma pessoa pequena, tinha 1,78 de altura, mas simplesmente desapareceu no abraço forte daquele homem desconhecido, ficou esperando o abraço terminar, ele beijou seu rosto, ela sentiu um pequeno desconforto dolorido
— Muito obrigado — Ele disse sorridente — Sem o seu empenho e ideias para liderar nosso time quando precisamos não teríamos conseguido
— Eu, eu — Ela não sabia o que dizer
— Uma salva de palmas para a Danielle pessoal — Ele disse num tom de voz mais alto que ecoou pelo andar inteiro
Ela ouviu então palmas, Fábio bateu palmas primeiro, seus colegas de trabalho, administrativo, recepção todos batendo palmas para ela, Danielle queria se enfiar embaixo da mesa de tanta vergonha.
Havia falado em público para liderar o time e resolver os problemas, mas assim era diferente
— Que isso, eu não fiz nada de mais — Danielle disse envergonhada
Ele riu
— Vem, vamos pra sala de reunião conversar
Danielle se levantou devagar, sendo observada por todos e seguiu Fausto até a sala de reunião, quando entrou ele estava sentado e indicou um lugar para ela. Danielle se sentou e uma moça entrou trazendo água e oferecendo café, ambos aceitaram.
— Vou ser franco com você — Ele disse juntando as mãos — Você nos ajudou muito nesse problema, foi responsável direta por uma economia de milhões de reais para a gente
— Eu só fiz meu trabalho — Danielle disse envergonhada
— Não, você fez mais do que seu trabalho, eu queria saber o que você quer? — Fausto disse parecendo mais sério, tirando a expressão de amizade
— Eu só quero continuar a trabalhar aqui, não quero mais nada além — Danielle respondeu sentindo-se pressionada
— Seja franca comigo, você fez o trabalho de toda a gestão, creio que você deveria estar no luga deles, você concorda? — Fausto perguntou atencioso
— Não, eu sou uma técnica, eu sou programadora e não sei gerir pessoas — Danielle se defendeu
— Não foi o que eu vi e o que disseram, você liderou desde os programadores, passando pelo gestores e administrativos e até o pessoal da limpeza — Fausto disse evocando os acontecimentos do mês
Danielle não sabia o que dizer, ele estava certo, mas foi uma situação de necessidade extrema, ela fez aquilo para que as coisas funcionassem
— Aqui foi diferente — Ela respondeu pensativa e sem tanta certeza do que falava
— Você não quer o cargo de gerência ou supervisão técnica? — Fausto disse
— Eu não sei lidar com pessoas da maneira que você espera — Ela disse — Fiz aquilo por que tudo estava parado e eu sabia onde fazer, a consequencia foi todos me seguirem por que eu estava certa
— Não,você convenceu as pessoas de que você estava certa, ou você acha mesmo que a tia da limpeza sabia que você estava certa?
Danielle abriu a boca, mas fechou em seguida, não sou o que dizer
— Que você consegue eu não tenho dúvidas — Fausto disse — Agora a questão é se você quer
— Não quero — Danielle disse
— Calma, acho que meu trabalho aqui com você vai além de oferecer uma vaga, acho que você precisa pensar melhor em carreira e futuro — Ele disse ponderado — Como você se vê daqui a uns cinco anos? Ainda se vê programando?
— Eu quero me especializar mais, ainda me vejo programando, talvez mais para arquitetura — Danielle respondeu segura de si
— Entendo — Ele disse pegando a pasta que estava a sua frente e abrindo
Olhou por alguns segundos, leu e franziu a testa
— Moisés? — Ele falou com uma expressão enigmática, mas em seguida suas sobrancelhas se ergueram e ele completou — Entendi, desculpe
— Tudo bem — Ela respondeu vendo que ele estava vendo a ficha dela da empresa, leu por alguns instantes — Bem, não quero te deixar desconfortável então vou começar corrigindo seu salário
— Meu salário? — Ela perguntou sem entender, achava que não havia nada de errado com ele
— Sim, você é programadora Sênior, certo? — Ele disse curioso
— Certo — Ela respondeu mexendo no anel que estava em seu dedo
— Você ganha menos que dois Programadores Plenos — Ele disse
— É? — Ela perguntou curiosa, não sabia disso
— Sim, então vou colocar seu salário para o valor justo e te dou um bônus
— Não precisa de mais nada, só o justo mesmo — Ela disse sincera
Ele sorriu
— Humildade demais as vezes não é bom, eu vou ver com o RH, deixe isso comigo, em retribuição direta venha jantar comigo hoje — Ele disse voltando a sorrir
— Jantar? — Ela perguntou confusa
— Sim, um jantar de negócios, se você tiver namorado pode trazer ele também, é para falarmos do seu futuro, da empresa e comer bem
— Não tenho — Ela pensou por um segundo se tinha namorado, Armando estava descartado, era seu ex e a tinha feito passar por coisas ruins, mas Fábio queria muito ser promovido para namorado pois já podia ser considerado um tipo de ficante premium ou algo do tipo
— Não tem o que? — Fausto perguntou sem entender
— Namorado, eu não tenho namorado — Ela falou se completando
— Melhor ainda — Olhou no relógio — Tem um restaurante muito bom aqui, vamos sair às dezessete para não pegar trânsito, vamos no meu carro, pode ser? — Ele levantou-se da mesa indicando que a reunião havia acabado
— Pode sim — Ela respondeu sorrindo e se levantando
— Ah, você tem alguma restrição alimentar, é vegetariana? — Ele perguntou curioso
— Não, nada — Ela disse simplória
Cumprimentaram-se com um gesto de cabeça e ela voltou para a mesa voltando a trabalhar
Havia muita coisa para ser feita, coisas atrasadas, problemáticas, coisa que a equipe não havia feito direto e ela teria que checar e até refazer, ficou pensando no que ele havia dito sobre liderar e ser gestora no futuro
— E ae estranha? — Ouviu a voz de Fábio do lado dela
Olhou para ele com uma expressão séria, mas depois sorriu
— Oi — Respondeu
— Como foi o papo com o chefão? — Fabio perguntou curioso
— Eu ganho menos que os programadores plenos — Danielle falou pensativa
— Ganha é? — Ele perguntou pensativo
— É, talvez seja por que eu… — Ela se perdeu em pensamentos antes de terminar a frase
— Era gay né? Pagam menos para mulheres e pros gays — Fábio disse quase num devaneio
— É verdade isso então? Nunca achei que me pagassem menos por isso — Danielle perguntou parecendo ofendida — Sempre ouvi falar, estatística e tal, mas na verdade nunca tinha prestado atenção nisso de fato.
— Eu não sei mesmo, só falaram, mas nunca conferi de verdade — Fábio disse coçando a barba bem feita — Mas pensando bem, você passou do Gay pra Mulher né, se ambos ganham menos que homem você ganha menos vezes dois.
Ela olhou para ele confusa, reparou na barba bem feita, cabelo bem cortado, sorriu brevemente pela piada e depois virou o rosto para a tela do computador
— Gostei da barba e do cabelo, você está bonito — Ela disse constatando o que havia acabado de notar
— Que bom que reparou, arrumei pra você — Ele disse animado
Ela sorriu
— Eu notei, gosto assim — Falou carinhosa, mas sem olhar pra ele
— Topa um rolê hoje? — Fabio perguntou animado — Comemorar a nova Danielle?
— Hoje? — Ela respondeu pensativa, mas logo se lembrou — Ah, não posso, o Diretor que sair pra jantar
— Jantar? — Ele perguntou curioso, Danielle percebeu que um gesto diferente em Fábio, um temor
— É, Jantar, por que? — Ela perguntou olhando pra ele
— Por nada — A resposta dele foi curta e grossa, a expressão havia mudado, ficou introspectivo de repente.
— Eeehh,o que foi? — Ela chamou a atenção dele — Não vai dizer que está com ciúmes?
— Um pouco, mas não é isso — Fábio disse pensativo — Deixa — Começou a se afastar com a cadeira
Danielle pegou no braço da cadeira
— Não senhor, vem aqui e fala! — Ela virou-se de frente para ele, falavam baixo para ninguém ouvir — O que foi?
— É que ele tem fama só, nada de mais — Fabio disse
— Fama de que? — Danielle perguntou curiosa
— De comedor — Fábio disse sendo direto
— Você acha que eu vou dar pro cara no jantar mesmo? — Danielle entortou a boca
— Não acho, não disse isso, só estou falando da fama dele e de mais coisa — Fábio disse inseguro
— Que coisa? — Danielle perguntou curiosa
— Nada, deixa — Ele tentou sair novamente parecendo irritado
Ela o conteve segurando no braço da cadeira de novo
— Me fala, o que é! — Danielle insistiu — Você não vai sair daqui enquanto não falar
— Falam que que o negócio dele gigante e grosso e que come todas as garotas da empresa e elas ficam apaixonadas por ele — Fábio disse envergonhado
Danielle soltou a cadeira, ele se afastou.
Ela virou para o computador em silêncio pensativa e voltou a trabalhar como se nada tivesse acontecido.
O horário passou e próximo às dezessete ela viu Fausto fechar a sala de reunião, ele nem olhou para ela, mas ela não esperava que houvesse alarde, esperou ele sair e se levantou, pegou suas coisas, foi até Fábio e deu um papel para ele, não havia nada escrito no papel, apenas queria um motivo para ir até a mesa e falou no ouvido dele
— Eu não sou assim! — Falou ofendida
— Eu não disse — Ele iria se defender, mas ela se afastou rápido
Danielle saiu andando em direção à recepção, Fausto a esperava lá, ele a viu e ela entrou no banheiro. Retocou o batom vermelho escuro, não haviam retoques necessários na maquiagem em geral, arrumou o cabelo e saiu rápido
— Ótimo — Ele falou quando a viu, a garota na recepção namorada de Armando ficou olhando para os dois, o olhar dela era estranho, quase intrusivo.
Fausto colocou a mão no ombro de Danielle para guiá-la pela porta e desceram pelo elevador.
— Como vamos? — Danielle perguntou
— Bem, e você? — Ele respondeu sorridente
— Não, como vamos para o restaurante? — Ela riu da confusão dele
— Sim — Ele sorriu envergonhado — Vamos no meu carro, pode ser?
Ela hesitou um pouco antes de responder, ele percebeu
— Prometo que te devolvo inteira e intacta, não precisa ter medo de mim
— Eu não tenho — Ela respondeu sorridente, mas envergonhada
Desceram para o estacionamento e ele apertou o botão e ela ouviu o barulho do alarme e as luzes se acenderam, era um carro preto, baixinho largo e comprido, um tipo importado com o símbolo de argolas da Audi.
Ele parou na porta do passageiro e abriu para que ela entrasse, Danielle agradeceu com a cabeça, adorava aquelas gentilezas típicas de cavalheiros antigos e entrou envergonhada.
Por dentro o carro parecia maior que por fora, era largo, espaçoso parecia de alta tecnologia.
Fausto entrou e se sentou no banco do motorista, colocou o dedo no painel e tudo se acendeu, apareceu escrito “Motorista Fausto, boa tarde”
Uma luz correu da esquerda para a direita no painel como se tudo fosse uma única tela, Danielle acompanhou a luz que vinha para o seu lado e na ponta dela surgiu a frase “Coloque o cinto”, ela obedeceu.
A sua frente apareceu um painel com o desenho de um banco para regulagem
— Pode ajustar a sua preferência o assento aí — Fausto disse apontando para a tela que Danielle observava com atenção — Mas não vai invadir meu carro hein — Ele brincou
Ela sorriu e tocou com o dedo, o banco se ajustou para frente, ia para cima e inclinava
Fausto procurava algo no bolso, em seguida passou a procurar no carro e disse
— Esqueci em casa — Falou para si mesmo
— O que? — Danielle perguntou curiosa
— A Diretoria mandou te dar uma coisa, eu deixei em casa, não tem problema, depois eu passo lá e te dou antes de você ir embora
— Tudo bem — Danielle respondeu curiosa, mas não insistindo no assunto
O motor roncou baixo e poderoso, o carro se moveu de um jeito estranho, parecia muito mais forte que o normal, Danielle se lembrou dos poderosos e gigantescos motores dos caminhões que ela tanto amava na infância e que havia deixado de lado
“Quanto será que custa um trator?” — Ela divagou olhando para o painel
Fausto esticou uma nota de cinco reais para ela tirando-a do transe
Ela olhou para ele curiosa e pegou o dinheiro
— Cinco reais pelos seus pensamentos de agora — Ele disse sorridente
Ela corou
— É bobagem, deixa — Devolveu o dinheiro, mas ele não aceitou
— Você já pegou, os pensamentos são meus, me fala
Ela respirou fundo
— Vou parecer uma idiota, melhor não — Danielle disse pensativa
— Vai, estou curioso — Falou enquanto saiam do estacionamento e andavam pelas ruas antigas do centro de São Paulo
— Acredite ou não, eu estava pensando quanto custa um trator — Danielle falou se encolhendo no banco
— Um trator? Pensei que você estivesse pensando no carro, ou como funciona esse sistema aqui, talvez o sistema operacional — Fausto disse apontando para o painel
— Ah não, eu não costumo pensar muito em tecnologia, tento sair do trabalho quando saio do trabalho — Danielle se justificou
— Por que então um trator? — Ele perguntou sem entender
Ela respirou fundo
— Correndo o risco de parecer mais idiota eu vou falar — Ela tomou ar — Quando você ligou o carro eu lembrei que na infância eu era aficionada por caminhões, tratores e máquinas em geral, não sei por que disso, talvez por que pelo barulho eu entendi que esse motor é potente então a minha questão foi “Quanto custa um trator?”
Fausta estava atento ao trânsito, a expressão séria
— Que tipo de trator? De colheita? — Ele perguntou curioso
— Uma retro escavadeira, amarela, com a pá na frente e o bracinho atrás — Danielle explicou — Uma bobagem
— Nova? — Fausto perguntou ainda curioso
Ela entortou a cabeça pela quantidade de detalhes, ele pegou o celular e mexeu, ela ouviu um característico “tuuu” de uma chamada telefônica
— Fausto Tech máquinas agrícolas em que posso ajudar? — Uma voz feminina disse do outro lado da linha
— Oi Maria, meu pai ta aí? — Fausto perguntou à voz
— Oi Faustinho, ele tá sim, peraí — A mulher respondeu animada em seguida transferiu a ligação
— Fausto falando — A Voz de um homem de idade respondeu do outro lado
— Pai, boa tarde, tudo bem? — Fausto disse ao homem
— Oi Filho, tudo bem, como você tá? — O homem perguntou
— Estou bem, pai, uma questão rápida que estou em uma reunião, quanto custa uma retro escavadeira nova? — Fausto perguntou ao pai
— Ah filho, tenho uma boa aqui nova tá 450 mi — Ele respondeu
— Usada sai quanto? — Insistiu
— Tem uma que não tá aqui, mas o rapaz vai trazer, tem quatro anos de uso custa… — Ele esperou um pouco, parecia estar olhando em algum lugar, demorou uns segundos — 280 mil ele quer, por que, vai querer uma?
— Não, estava numa conversa aqui, talvez eu ligue pro senhor de novo para falar disso, depois falamos tá? — Fausto forçou a despedida do pai
— Tá bom filho!
— Beijo pai
— Beijo
Danielle ficou admirada com a conversa, eram muitas coisas, o Diretor era o Faustinho e seu pai era o Fausto verdadeiro, o Pai aparentemente trabalha com tratores e o respeito de um pelo outro deixou ela simplesmente apaixonada por alguns instantes
“Dani, foco, esse homem não é pra você”
Ela arrumou a postura no banco do carro
— Seu pai trabalha com trator? — Ela perguntou o óbvio
— Ele tem uma loja em Ribeirão preto, vende tratores sim, por isso achei curioso — Fausto disse pensativo — Você procurou sobre mim na internet?
— Não — Mentiu — Digo, procurei, mas não topei com nada de trator
— E o que achou sobre mim na internet? — Ele perguntou curioso
— Achei você dando palestra, discurso, ajudando, falando sobre negócios, nada que eu não esperasse
— Nada de site de fofocas? — Fausto perguntou levantando uma sobrancelha
— Sinceramente eu vi e não entrei, não é da minha conta — Danielle respondeu verdadeira
— Você é engraçada Danielle — Fausto disse com um olhar satisfeito
— Por que? — Ela perguntou curiosa
— Não é nada do que parece — Fausto concluiu
Ela murmurou
— E o que você esperava? — Ela perguntou curiosa
— Na verdade não sei, nunca me relacionei com uma Mulher Transexual — Ele disse
O silêncio reinou por alguns instantes
— Digo, desse jeito, conversar, falar abertamente — Ele completou a frase — Não como uma mulher bonita que eu gostasse
Novamente o silêncio reinou, ele tentou corrigir
— Não que eu goste de você — Ele disse pensativo e olhou para frente
Mais uns segundos de silêncio
— Posso recomeçar? — Ele disse parecendo frustrado
— Pode — Danielle disse achando engraçado
Ele tomou ar
— Eu achei que você fosse mais expansiva como as mulheres transexuais de filmes, livros e novelas, achei que você fosse fútil, mas pensando um pouco, você é programadora e das boas não faria sentido você ter uns pensamentos rasos, acho que meu pensamento é preconceituoso
— Um pouco — Danielle disse — Mas é normal, não se preocupe
Ele entrou em um estacionamento, era um shopping que Danielle já conhecia por ser de alto padrão.
Entraram no restaurante de nome espanhol, como ela não conhecia o cardápio ele escolheu um generoso pedaço de carne para ela, mesmo Danielle dizendo que não comia muito.
— Vamos de vinho Dani? — Ele perguntou na frente do garçom
— Mas eu não bebo — Danielle disse pensativa
— É uma ocasião especial — Fausto disse — Abre uma exceção
— Tá bom — Danielle respondeu introspectiva diante daquele homem
— Faz assim, me traz uma taça desse — Mostrou para o garçom no cardápio e pra ela traz algo para iniciante, suave
O Garçom pegou o cardápio
— Temos um Pinot Grigio que é excelente para começar — O Garçom disse
— Excelente, uma taça desse então — Falou vendo o garçom ir embora
— Você não bebe nada mesmo? — Fausto perguntou — Algum remédio
— Não, eu sou evangélica, não posso beber nada — Danielle respondeu se encolhendo na cadeira, como se tivesse vergonha
Danielle estava tomando remédios para dor da cirurgia, mas resolveu esconder esse detalhe.
— Evangélica? — Ela perguntou curioso — Mas você… É que… Como que.. Mas… — Ele gaguejou
Daniele esticou o braço por cima da mesa e colocou o punho fechado na cabeça dele em seguida abriu fazendo som de explosão com a mão
— Buuummm — Ela fez sorridente — Explodi sua cabeça agora
Ele riu divertido tomando um gole da água que havia chegado
— Explodiu mesmo — Bebeu um longo gole pensativo — Desculpe — Ele parou e olhou para ela por alguns segundos, analisou o rosto perfeito, delineado, olhos castanhos com sombras perfeitamente simétricas, cabelo escorrido escovado brilhante cobrindo as orelhas, o pescoço fino, nenhum traço de masculinidade, seios relativamente grandes constatando com qualquer sinal de lógica — Não faz sentido nenhum pra mim.
Danielle se encostou na cadeira, estava acostumada
— Pergunte — Ela disse receptiva
— Por que evangélica? Por que não budista, umbandista, espírita? tem tantas religiões que aceitam esse tipo de coisa — Fausto disse sem pensar
— Esse tipo de coisa seria uma Mulher Transexual? — Danielle perguntou
— Sim — Ele respondeu arrependido — Uma mulher transexual, na verdade — Ele pareceu frustrado — Eu tenho medo de falar algo e te ofender e essa não é minha intenção, mas eu tenho curiosidades
Danielle fez um sinal positivo com a cabeça, suave, não era uma pessoa que se ofenda fácil e gostavam sempre de tirar o elefante da sala.
Esticou a mão e pegou a taça de água que estava pela metade, a mesma que Fausto havia tomado, tomou a água em um só gole e virou a taça de ponta cabeça na mesa
— Vamos fazer assim, enquanto essa taça estiver virada você pode me perguntar qualquer coisa que quiser e eu juro que não vou me ofender, vou te responder qualquer coisa exceto quando isso invada demais a minha privacidade — Tirou a mão da taça e cruzou as pernas elegante olhando para ele esperando
— Como você pode ser gay e cristã ao mesmo tempo, na biblia diz que não pode homosexualidade
— Você conhece bem a bíblia? — Danielle perguntou
— Razoável, fiz primeira comunhão e grupo de jovens — Ele respondeu
— Então você é católico, certo? — Ela perguntou
— Certo — Fausto respondeu sem pensar
— 1 Samuel 18.1 — Danielle disse
— O que tem? — Ele perguntou curioso
— Leia — Apontou para o próprio celular — 1 Samuel 18.1, lê pra mim
Fausto pegou o celular e procurou o trecho
— "E sucedeu que, acabando ele de falar com Saul, a alma de Jônatas se ligou com a alma de Davi; e Jônatas o amou, como à sua própria alma” — Ele parecia confuso
— A biblia fala de homossexualidade sim, Deus permite o amor de qualquer jeito, parafraseando um pastor que me ajudou muito no passado — Danielle fez aspas com as mãos — “Jesus é um cara ótimo, cheio de amor, mas o fã-clube que é problemático”
Fausto riu das palavras dela
— Deus jamais proibiria qualquer tipo de amor — Danielle disse
Fausto estava pensativo quando Danielle o interrompeu
— Mas você errou em um ponto — Danielle disse com ar superior
— Qual ponto? — Fausto perguntou confuso
— Eu não sou homossexual — Danielle respondeu
Fausto pareceu confuso, mas não disse nada
Danielle bateu na taça virada ao contrário com uma marca de batom de Danielle na borda, ele viu e se lembrou do acordo
— Como não é homossexual? Você só sai com mulheres é isso? — Fausto perguntou curioso
— Não, eu só saio com os homens, agora quero que você olhe para mim e procure um homem — Ela disse abrindo os braços — Vê algum aqui?
— Não vejo — Ele respondeu assertivo
— Eu não sou um homem — Ela disse satisfeita
— Mas também não é uma mulher — Fausto disse abraçando a ideia do copo
Ela sorriu
— Mas eu nunca disse que era uma mulher, as pessoas dizem, eu sou o que sou, uma Transexual — Danielle disse — Não sou o meio termo entre homem e mulher, não estou em cima do muro nem no meio do caminho, eu sou outra coisa diferente dos dois, sou biologicamente masculina a alma que Deus colocou nesse corpo é feminina.
Ele batucou os dedos na mesa, parecia nervoso, mas sorriu
— Poucas pessoas conseguem me calar como você está fazendo — Ele disse parecendo satisfeito — Isso é desconfortável
— É por que você está num terreno que eu domino, na empresa você domina os negócios, esse assunto eu domino por que é a minha vida, estou nisso a décadas. — Danielle disse
— Faz sentido — Ele disse pensativo — E a igreja te aceita?
— A muito custo, como eu disse, o Fã Clube é bem difícil mesmo, a igreja eu vou para adorar meu Deus, não pelos adoradores — Danielle respondeu
— Mas não é mais fácil adorar em casa, ou simplesmente não adorar? — Fausto perguntou
— Não, a igreja é o templo construído para ele, lá eu me sinto bem, é um lugar dedicado, focado, de respeito, mas eu falo com Deus o tempo todo — Danielle disse assertiva
— E o que ele disse quando você decidiu que não queria mais ser homem? — Fausto perguntou de forma direta
Danielle sentiu uma pontada, mas não deixou transparecer
— Eu não decidi, eu descobri, sempre soube, foi no começo da minha adolescência que eu descobri que não era uma mulher, correr atrás de parecer uma mulher foi um processo natural, eu nunca pensei que estava deixando de ser homem e sim parecendo uma mulher — Ela respondeu direta
— E ele te fez errado então, foi isso? — Fausto perguntou — Deus errou com você?
— Não, Deus não comete erros, ele é atemporal, conhece o começo, o meio e o fim das coisas, o erro não faz sentido
— Então? — Fausto perguntou curioso — O que você é? Por que não nasceu como uma mulher
— É a minha jornada, o meu caminho criado pelo meu Deus, meu objetivo é ser feliz e fazer feliz, eu preciso através das minhas mudanças fazer as pessoas, principalmente os irmãos
— O Fã Clube — Fausto corrigiu
Danielle sorriu
— Sim, o Fã Clube, entender que o amor de Deus é incondicional para tudo e todos e eu sou uma prova viva do amor e de que Deus escreve certo por linhar tortas, a minha missão é ser feliz de um jeito que me agrade e agrade meu Deus e fazer o maior numero de pessoas possivel entender que eu sou filha de Deus também assim como eles
Fausto olhou para ela, parecia fascinado, pensativo
O Garçom chegou com o vinho
Fausto pegou a taça virada e deu para ele
— Traga outra dessa por favor — Deu ao garçom
Fausto sorriu e a conversa mudou instantaneamente, falaram de outros assuntos, trabalho, tecnologia, ele contou a ela algumas ideias que tinha para a empresa e onde ela poderia se encaixar, ele queria que ela tivesse um outro cargo, algo com mais confiança
Os pratos chegaram, eles comeram, beberam e depois recomeçaram, Danielle mal tomou sua taça inteira de vinho e Fausto pediu uma garrafa.
Quando Danielle olhou no relógio tomou um susto
— Meu Deus, são quase dez horas! — Ela falou assustada — Eu preciso ir para casa
Olhou no celular, havia várias mensagens da sua sobrinha
— Verdade — Ele olhou também
Decidiram pedir a conta, Danielle tirou o cartão de crédito, mas Fausto a impediu, ele iria pagar a conta, ela conseguiu ver o valor, eram quatro dígitos, ela sentiu seu coração bater forte, Fausto nem piscou quando pagou e deixou um dinheiro de gorjeta.
Chegaram ao carro
— Eu te levo em casa — Fausto disse, a voz estava um pouco mole
— Não, acho que você não está em condições — Danielle disse — É melhor chamar um taxi e deixar o carro aqui para pegar amanhã, eu vou de Uber
— Não, eu to bem — Ele disse de uma maneira que mostrava que não estava bem
— Onde você mora? — Ela perguntou curiosa — Acho que é melhor eu te levar em casa
— Aqui — Ele apontou para o prédio acima do Shopping
— Aqui? — Ela perguntou — No Shopping?
— É um prédio de apartamento, eu estou ficando nessa semana — Enfiou a mão no bolso e mostrou o cartão de entrada preso a um chaveiro com o simbolo da Audi — Mas eu to bem sim Dani, eu posso te levar em casa rapidinho e voltar, onde você mora?
Ela riu
— Moro em Guaianazes — Ela respondeu curiosa
— Onde é isso? — Ele perguntou cerrando os olhos
— É longe — Ela respondeu — Vai pra casa então que eu me viro
— Não, não pode, eu te peguei em casa e te levo em casa — Ele disse parecendo sonolento
— Você me pegou no trabalho — Ela disse sorridente
— Verdade! — Ele disse — Você não mora lá, né?
Ela riu divertida
— Não! — Mas pensou nisso — Mas se for fazer as contas passo mais tempo lá do que em casa mesmo
Ele segurou o rosto dela de forma carinhosa, mas com as mãos meio descontroladas
— Não pode trabalhar muito, você é muito bonita pra ficar socada num escritório — Ele falou aproximando-se demais dela
Danielle se afastou, ficou envergonhada e viu o segurança
— Moço, boa noite, meu amigo mora nesse prédio, como faz pra ele subir, eu não conheço — Perguntou ao segurança
— Boa noite — O segurança mostrou o elevador — Pega esse elevador e vai para o primeiro andar, lá os elevadores abrem com o cartão
Danielle pediu para Fausto ir com ela, mas ele estava irredutível, procurava a chave do carro
— Cadê a chave? — Ele perguntou
— Seu carro liga no dedo, na impressão digital — Danielle disse
Ele olhou para ela curioso
— É mesmo — Falou pensativo — Você é esperta!
Ela sorriu, pegou na mão dele e o puxou
— Vem — Saiu arrastando ele.
Danielle era uma moça alta, mas ele era maior ainda, a mão dele podia facilmente segurar o punho dela, enquanto andavam ela sentiu a mão áspera dele contrastando com um trabalhador de escritório, segurou em um dos dedos dele, era grosso, parecia um….
Soltou imediatamente quando um pensamento veio em mente, algo que Fábio havia dito
Entraram no elevador e foram ao primeiro andar, uma moça na recepção o chamou pelo nome e indicou o elevador para eles entrarem.
Danielle destravou o andar no painel com o cartão dele, em poucos segundos a porta se abriu sem nem parecer que havia se movido, um hall com apenas uma porta, ela encostou o cartão e ele abriu a porta.
O que ela viu a deixou paralisada, o chão brilhante parecendo marmore, colunas perfeitas, brancas, iluminação indireta, uma lareira, uma TV gigante, sofás enormes, era a casa mais luxuosa que Danielle havia visto.
— Chegamos — Ele disse animado abrindo a camiseta — Vai dormir comigo?
— O que? — Ela perguntou sem entender — Claro que não tá loco?
— Tem um chuveiro gostoso, você tem que conhecer — Ele pegou na mão dela
— Não Fausto — Danielle disse séria
Ele soltou
— Não to te obrigando não, só ia te mostrar — Ele parou e arrumou a postura — Não to te assediando, só quero que você veja essa casa, ela é linda
— Estou vendo, mas eu preciso ir realmente — Ela disse — Obrigada pelo jantar
— Ah, eu tenho que te dar o envelope! — Ele disse andando devagar, tá no meu quarto, espera aí
Ela viu ele andar com cuidado e subir as escadas do apartamento, até aquele momento ela não havia notado que eram dois andares.
Enquanto ele não voltava ela ficou olhando em volta, tudo muito bonito, detalhado, limpo e parecendo caro, quando passaram-se cerca de cinco minutos ela achou estranho
— Fausto? — Ela chamou, ele não respondeu, insistiu um pouco, mas não havia resposta
Pensou em ir embora, mas resolveu ir atrás dele, pensou que aquilo podia ser algum tipo de armadilha sexual, podia ser assim que ele transava com as meninas, algum tipo de arapuca
Subiu silenciosamente as escadas e encontrou a porta do quarto dele aberta, olhou devagar e o viu jogado na cama com um envelope negro na mão com uma etiqueta “Danielle”
— Fausto? — Ela se aproximou cutucando-o, ele resmungou como se estivesse em sono profundo
Ela pegou o envelope, seu nome completo estava nele, guardou-o na bolsa a tiracolo.
Fausto estava todo desajeitado, ela olhou e pensou em deixá-lo daquele jeito, mas não conseguiu.
Puxou o cobertor debaixo dele e o incentivou a se arrastar para o meio da cama, não tirou as roupas dele, apenas o cobriu e colocou a cabeça dele no travesseiro.
Ele pareceu despertar
— O Envelope — Falou para ela
— Eu peguei, tá comigo — Ela disse — Pode dormir, eu vou embora
Ele sentou-se na cama confuso, olhou em volta
— Eu apaguei, desculpa — Tentou se levantar
— Não precisa, pode ficar aí, eu consigo sair — Danielle o tranquilizou
— Eu to meio quebrado — Ele abriu a gaveta do criado mudo e pegou dinheiro, deu pra ela — Paga o taxi de volta
Ela recusou
— Não, pode deixar, eu chamo um aplicativo, não se preocupa
— Sério Dani, pega — Ele disse oferecendo
— Não — Ela recusou de novo — Obrigada, eu me viro, pode deixar
Ele ficou olhando pra ela
— Gostei de te conhecer — Ele se levantou e a abraçou
Ela aceitou o abraço, durou mais do que ela queria, sentiu uma pontada de medo, ele se afastou um pouco e deu um beijo no canto da boca dela, Danielle sentiu algo duro na suas calças roçando na altura do seu estômago, se afastou
— Ok, boa noite, nos falamos depois — Disse apressada saindo dali
Saiu rápido e pegou um carro de aplicativo até o metrô mais próximo e fez sua jornada de quase cinquenta quilômetros por transporte público.
Durante o caminho ficou pensativa naquela noite, naquele homem que não era nada do que parecia, naquele momento final, no beijo atrapalhado, na coisa dura que ela esperava que fosse um cinto, mas sabia que não estava a pressionando.
Chegou em casa quase uma hora depois, sentou-se na cama e tirou a bolsa, lembrou-se do envelope, pegou e abriu
Havia um papel dentro escrito “Cheque Administrativo” a quantia era de quase dez salários atuais dela.
— Jesus! — Ela disse ao ler
Havia uma carta agradecendo e parabenizando-a pelos serviços prestados em tempos de crise e explicando que aquele seria um bônus pelo trabalho.
Ela sorriu satisfeita
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Olá,
Eu não desisti de vocês, não desistam de mim.
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Um beijo e não deixem de escrever! 🐧
Rafa