Essa história que eu vou contar aqui não é só a coisa mais absurda que já aconteceu na minha vida. Na verdade, é a única coisa fora do normal que já me aconteceu. Sério mesmo, em 40 anos de vida, minha existência foi de uma monotonia sem tamanho. Sou aquele tipo de cara que passa batido. No trabalho, na vida pessoal, tanto faz — ninguém me nota, e para ser honesto, eu sempre preferi assim. Minha vida é uma rotina sem surpresas, mas também nada de ruim costuma me acontecer.
Eu fiquei careca antes dos 30, mas acho que mesmo se tivesse uma cabeleira de dar inveja, não seria suficiente para conquistar a mulherada. O fato de existir uma mulher no mundo louca por mim, minha esposa, Camila, não é nada mais, nada menos que um milagre, e apesar dela não ser uma beldade, eu nunca me iludi achando que poderia conseguir algo melhor. Não tenho do que reclamar. Minha família e meu emprego, mesmo longe de serem perfeitos, já estavam de bom tamanho para mim.
Eu trabalho numa pequena empresa com pouquíssimos funcionários. Quando entrei lá inclusive só tinha eu, o dono, Nelson, e o sobrinho dele, Ricardo. O Nelson era um cara mais velho que tinha feito a carreira inteira em grandes bancos, mas depois de se casar da rotina e falsidade do mundo das finanças, havia decidido empreender para, segundo ele, controlar o próprio destino.
O problema era que o destino não queria ser controlado. A empresa não ia nada bem, e ele ficava o dia inteiro reclamando disso. Nelson não tinha filhos, e ele tratava a empresa como o seu único legado para o mundo, tornando ainda mais dolorosa as dificuldades de empreender. Eu chegava até ter um pouco de pena dele, porque, apesar dele ser um cara super trabalhador, a empresa estava a beira da falência.
Ricardo não compartilhava em nada a dedicação e ética do tio. A profissão oficial dele era de herdeiro, e ele só estava na companhia porque os pais exigiam que ele tivesse um emprego fixo para continuar mandando sua mesada que cobria todos os gastos da vida luxuosa dele. Nelson até sonhava que um dia o sobrinho se interessaria pela oportunidade, e assumiria o papel de seu sucessor, continuando com o seu legado quando ele fosse finalmente obrigado a passar o bastão, mas o moleque era incapaz até de fingir se importar com a empresa do seu tio. As únicas preocupações na cabeça oca dele era ir todo dia para a academia e gastar a fortuna dos pais com idiotices.
Graças a todo esse cenário, eu morria de medo de ser demitido, por isso eu sempre mantinha meu currículo atualizado, temendo que um dia o Nelson não aguentasse mais e decidisse fechar as portas. Mas, como dizem, o azar de uns é a sorte de outros. A pandemia pode ter sido um pesadelo para o mundo inteiro, um verdadeiro inferno para quem perdeu familiares, mas, para gente, foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. O home office explodiu do dia para a noite, e a solução que a gente vendia começou a ser implantada em tudo quanto é lugar. O número de clientes quintuplicou, e, de repente, a empresa, que estava prestes a morrer, virou uma máquina de fazer dinheiro.
Esse período de bonança trouxe diversas mudanças. A equipe cresceu bastante para atender a demanda, e mesmo depois das contratações, ainda sobrou basante dinheiro. O Nelson resolveu abrir a carteira, dando uma verba para o sobrinho investir, tentando despertar nele alguma paixão pelo trabalho. Só que, a primeira coisa que o moleque fez com esse dinheiro, foi contratar uma secretária, para se livrar do pouco trabalho que ele fazia por lá — marcar reuniões e receber alguns clientes.
Foi nesse momento que a Amanda surgiu. Ela era uma moça bem novinha, com 24 anos, mas que, apesar da idade, tinha um ar de sofisticação que chegava a me intimidar. Eu não sabia ao certo de onde vinha essa sensação. Talvez fosse o cabelo negro, cortado na altura dos ombros, num estilo que lembrava aquelas donas de casa de programas de TV antigos. Talvez fossem as roupas, caras e impecáveis demais para alguém da idade e do cargo dela, o que me sugeria que ou ela vinha de uma família abastada, ou estava recebendo essas roupas de presente. Ou, quem sabe, a expressão sempre séria e o jeito direto de falar, que me fazia pensar duas vezes antes de pedir qualquer coisa para ela.
Eu não havia participado do processo de contratação, mas algo me dizia que o Ricardo não a escolheu por ser a mais qualificada entre os mais de 100 currículos que a gente recebeu. A verdade é que a Amanda era simplesmente uma das mulheres mais gostosas que eu já tinha visto na vida.
Só o som do salto agulha dela batendo contra o piso de taco do escritório já me deixava em alerta. Quando eu ouvia esse som, sabia que teria que me esforçar ao máximo para não ficar encarando a bunda dela na saia de couro apertada, que costumava usar, e acabar hipnotizado — ou pior, com um volume inconveniente nas calças no meio do escritório. Não sei se ela fazia de propósito ou se era natural, mas cada passo dela tinha um balançar exagerado de quadril, que funcionava como um pêndulo projetado para deixar qualquer homem por perto ensandecidos.
Eu evitava a recepção o quanto podia. Já que sou um cara alto, a diferença de altura entre nós ficava ainda mais evidente quando ela estava sentada, e assim, quando eu passava por lá, minha visão inevitavelmente caía direto nos seios dela, que eram a parte mais magnífica do corpo perfeito da nossa recém-contratada secretária. Ela sabia o que seu corpo provocava no sexo oposto, por isso exagerava no decote, disposta a usar seus dotes a seu favor.
Sendo a única mulher no escritório, a chegada de Amanda gerou um certo alvoroço. Ela virou o assunto principal nos almoços e nas conversas de bebedouro da firma. Eu confesso que, de um jeito irracional, a presença dela no escritório me incomodava mais do que eu gostaria de admitir. Eu era um dos que mais botava lenha nas fofocas quando o assunto era a contratação dela.
Não sei dizer exatamente o porquê. Talvez fosse o fato de eu ter idade para ser o pai dela e, ainda assim, me sentia diminuído perto dela. Isso, com certeza, era parte do problema, mas havia algo além. A existência de alguém como ela me tirava da minha zona de conforto, fazia com que eu desejasse ser alguém que, no fundo, sabia que nunca iria ser.
E mesmo que grande parte das fofocas que circulavam sobre ela serem obras de ficção, existia algo ali real, que manchava a imagem séria e de eficiência que Amanda queria passar. Depois de alguns meses, todo mundo já tinha sacado que ela estava se envolvendo com o Ricardo. Eles até tentaram disfarçar no começo, mas sabe como é — o escritório é pequeno demais para segredos durarem muito. Também, eles teriam provavelmente tido uma chance maior de manter o relacionamento fora dos holofotes se Ricardo não fosse um contador de vantagem compulsivo. Ele precisava que todo mundo soubesse o quanto ele era galã, e estava comendo aquela mulher maravilhosa.
Eu descobri do relacionamento dos dois em um dia que estava indo para a copa pegar meu décimo café do dia. Ricardo já estava lá conversando com um dos diretores recém-contratados, um cara que deveria ter a mesma idade dele, e assim Ricardo sentia maior necessidade de impressionar.
— Cara, essa imagem de séria da Amanda, é tudo fachada. — Ricardo disse, rindo. Dava para sentir um leve tensão no diretor, que olhava para ele buscando uma oportunidade de sair dali, enquanto eu, tentava o mais rápido possível terminar de encher minha xícara de café, fingindo desinteresse, como se não estivesse nem ouvindo o ele dizia. — Na real, a Amandinha é uma vagabunda de primeira.
Eu confesso que fiquei em choque ao ouvir isso. Aquele comentário era pesado demais para ser jogador no ar, até mesmo se considerasse quão fanfarrão era o interlocutor. Parei de prestar atenção no que eu estava fazendo, e a térmica que estava na minha mão escorregou, derramando café no chão da cozinha. Ricardo e o diretor pararam a conversa, e reconheceram a minha existência ali. Eles observaram um tempo o que eu faria para resolver a caca que eu tinha feio, mas logo Ricardo voltou a conversa:
— Sabe aquelas minas com “daddy issues”? É ela, mano! Muito ninfo. — Ele falava com uma confiança nojenta, como se estivesse revelando um segredo sujo e, ao mesmo tempo, se vangloriando por ser o cara que estava no controle da situação. — A nossa secretáriazinha é viciada em porra. Sério, ela tem algum problema. Acredita que ela me acorda de madrugada só para eu tomar meu leitinho?
O riso de Ricardo ecoava pela copa, mas nem eu e nem o diretor compartilhávamos. O cara novo até tentou disfarçar o desconforto, forçando um sorriso amarelo, mas estava claro que ele não sabia o que fazer com as informações que recebia. Eu continuava a limpar o café derramado, evitando contato visual com os dois, tentando sair o mais rápido dali.
<Continua>
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