Cap 2.0 - despedidas
Amigos, muito obrigado por todas as mensagens de incentivo e apoio. Graças a isso, continuarei postando esta série aqui no site.
Atendendo ao pedido de amigos próximos, achei melhor trocar o nome dos personagens principais. Victoria agora se chamará Amanda (Mandinha), e Fernando será José Carlos (Zeca).
Neste início de capítulo, ainda teremos os dois personagens principais se revezando na narração da história. No entanto, a partir do próximo, cada parte será narrada de forma exclusiva por um dos personagens, conforme antecipado no final do capítulo anterior
…….
(Amanda)
Não consegui falar sobre isso no meu último relato, mas agora vou compartilhar uma das experiências mais marcantes da minha vida: o show da banda do meu amor. Foi a primeira vez que o vi tocar ao vivo, e quero tentar capturar todas as emoções que invadiram meu coração naquele momento.
Estar lá, de frente para ele, com a guitarra nas mãos, executando músicas complexas com uma maestria que me deixava boquiaberta... A cada nota, meu peito se enchia de orgulho e uma alegria silenciosa se espalhava por todo o meu corpo. Eu o observava com olhos brilhando de admiração, como se ele fosse a única pessoa naquele palco. Na verdade, para mim, ele era. As músicas não eram fáceis de tocar, e saber disso só intensificava o meu sentimento de que ele era extraordinário.
Ao meu lado, estavam os pais dele. A expressão nos rostos deles era um reflexo perfeito do que eu sentia: olhos marejados, sorrisos tímidos e aquele brilho de orgulho que não se apaga. Eles pareciam estar tão ou mais emocionados que eu.
Porém, mesmo cercada por essa atmosfera de felicidade, uma pontada de tristeza silenciosa se infiltrou nos meus pensamentos. Não pude evitar pensar nos meus próprios pais. Nossa relação era tão superficial, tão fria. Apenas protocolos, gestos vazios. Ali, naquele show, essa ausência pesou ainda mais, e percebi o quanto essa distância emocional me machucava.
No dia seguinte, depois de voltar de carona com Naty de Campinas, fiz uma videochamada com Débora. Foi nela que finalmente abri meu coração sobre uma ferida que nunca cicatrizou, uma dor antiga, mas sempre presente. Débora me ouviu com aquela calma habitual, o tipo de compreensão que não julga, apenas acolhe. E quando ela mencionou a falta de afeto dos meus pais, algo dentro de mim se rompeu. A verdade, que eu sempre soube, mas evitava com todas as minhas forças, me atingiu como um soco no estômago. Não havia como negar: esse vazio, essa ausência, era a raiz de muitos dos meus fantasmas emocionais.
Foi nesse momento de clareza dolorosa que tomei uma decisão tão impulsiva quanto libertadora — e aterrorizante. Comprei uma passagem para Jaraguá do Sul, a cidade dos meus avós maternos, em Santa Catarina.
Avisar meus pais sobre a viagem foi quase um gesto automático. Eu sabia que estava pronta, mas essa afirmação não aliviava o medo. Eu estava prestes a enfrentar aquilo que tinha evitado por anos: o passado que deixei guardado, acreditando que a distância fosse o suficiente para me proteger dele.
Essa viagem era o primeiro passo na minha jornada de “renascimento”. Para seguir adiante eu precisava resolver as pendências, encarar os sentimentos que guardei tão fundo. Desta vez, não iria fugir. Débora, me deu o incentivo que eu precisava, e a urgência de me reencontrar fez o resto. A estrada era longa, mas as feridas eram ainda mais.
Durante a viagem, meus pensamentos eram um campo de batalha. Cada quilômetro percorrido me trazia mais perto de uma verdade que eu mal conseguia suportar. O rosto de Zeca apareceu na minha mente várias vezes, junto com a sensação amarga de rejeição que ele me deixou. Ele havia sido claro: não queria mais nada além da minha amizade, e aquilo me corroía por dentro, porque eu sabia que isso não era o suficiente para mim. Além disso, havia a certeza cruel de que, ao voltar para a faculdade, eu teria que encarar todos aqueles que me fizeram tão mal. Os antigos colegas, os olhares julgadores. Como poderia me sentir inteira novamente depois de tudo?
Tentei dormir, mas foi em vão. O sono, quando finalmente chegou, veio em forma de pesadelos, distorcendo minhas memórias e multiplicando meus medos. Não era um descanso, mas uma agonia mascarada, e eu acordei ainda mais cansada, a mente enevoada e o corpo pesado.
Provavelmente, a senhora ao meu lado na poltrona deve ter me julgado, silenciosa. Eu percebia suas olhadas discretas enquanto as lágrimas surgiam sem aviso, molhando meu rosto a cada meia hora, sem que eu pudesse contê-las. Em momentos de maior exaustão, eu murmurava entre o sono, palavras desconexas, lamentos talvez. O cansaço me vencia por breves instantes, mas mesmo nesse descanso forçado, meu corpo se revirava inquieto, preso entre a vigília e o pesadelo.
Quando finalmente cheguei à rodoviária de Jaraguá do Sul, o primeiro impacto da realidade me atingiu antes mesmo de descer do ônibus: nem meu pai, nem minha mãe vieram me buscar.
Fazia anos que eu não visitava a cidade, e, no entanto, eu estava ali, sozinha. Aquilo que deveria ser um gesto simples — uma recepção — se transformou em um gatilho imediato para minha ansiedade, como se a indiferença deles fosse um lembrete cruel de que eu nunca realmente pertenci àquele lugar, àquela família.
Durante toda a minha curta estadia na cidade, esses sentimentos me assombraram. Crises de ansiedade vieram e foram como ondas, e eu mal conseguia respirar. A cada esquina, cada rua desconhecida, cada memória mal resolvida, eu me via mais perdida, como uma criança abandonada em meio a um labirinto emocional que parecia não ter fim.
Sem muitas opções, decidi pegar um mototáxi até a casa dos meus avós. Enquanto a moto seguia pelas ruas da cidade, a brisa gelada cortava meu rosto, e o vento fazia meus cabelos soltos dançarem ao sabor do frio. De certo modo, aquele vento parecia ajudar. Ele me forçava a respirar fundo, como se dissesse que eu precisava de ar para o que estava por vir.
Quando cheguei ao destino, o motorista, com um sorriso leve, soltou uma cantada inocente. Respondi com um sorriso automático, algo que normalmente não faria, mas meu corpo parecia agir no piloto automático.
Na porta da casa dos meus avós, toquei a campainha e fui recebida por uma das minhas primas, a filha mais velha da tia Romanza, a irmã mais nova da minha mãe. Seu abraço caloroso trouxe um alívio momentâneo ao meu coração acelerado. Lá dentro, a mesa de café da manhã estava impecavelmente arrumada. O cheiro de café fresco misturava-se com o aroma de pães quentes, frios e frutas.
— E os meus pais? — perguntei, tentando parecer casual, mas sem conseguir esconder a ansiedade na voz.
O sorriso de Romanza murchou quase que instantaneamente. Ela se aproximou, sentou ao meu lado e segurou minha mão com força. O silêncio entre nós era denso, como se o tempo tivesse parado por um instante.
— Minha querida — ela começou, com a voz trêmula —, seus pais não me deixaram escolha. Eu preciso te contar algo que eles deveriam ter contado há muito tempo. Sua mãe... minha irmã...
(José)
Na manhã do dia 02, ainda eufórico por causa da minha primeira apresentação, fui acordado por batidas na porta. Era Amanda, pronta para se despedir. Ela voltaria para São Paulo de carona com Naty. Eu, por outro lado, pegaria o ônibus da banda.
Quando finalmente voltei para casa, não sei se por uma vontade inconsciente de me torturar, comecei a rever todas as fotos, vídeos e prints de conversas que tinha sobre a maldita viagem de Amanda. Cada detalhe sobre o envolvimento dela com Pedrão parecia me perfurar ainda mais. O ódio, quente e latejante, tomou conta de mim. Eu precisava fazer alguma coisa. Não só para proteger Amanda, mas para me sentir em paz comigo mesmo.
Decidi agir — o que, para alguém tão contido quanto eu, era raro. Fui direto para a academia onde treinava muay thai. Aquela academia tinha sido minha segunda casa por anos, e minha experiência em judô me fez ser respeitado ali. Já ajudei muitos lutadores a aperfeiçoar suas quedas e estratégias no MMA, mas, dessa vez, eu não estava lá para ajudar ninguém.
Pedi para falar com Gustavo, o líder da academia, em particular. Sem hesitar, despejei toda a história para ele, cada detalhe, cada mensagem.
Gustavo me ouviu em silêncio. Quando terminei, ele pegou meu celular e olhou as provas de que estava falando a verdade com seus próprios olhos. A princípio, parecia surpreso, mas logo senti que ele estava do meu lado.
— Cara... — começou ele, com um olhar sério. — Eu também quero dar uma lição no Pedrão.
— Agradeço, mas isso é algo que eu preciso fazer — interrompi sem gaguejar — Quero lutar contra ele, uma luta de verdade, com juízes, regras e todo o resto. Uma luta com cinco rounds, de cinco minutos cada. Assim, não corro o risco de ser atacado pelos amigos dele se fosse brigar com ele na rua.
Gustavo me olhou por um momento e pediu para eu esperar. Ele saiu da sala, me deixando sozinho com meus pensamentos. Meu coração batia rápido. Por um instante, pensei em desistir. Seria mais fácil simplesmente deixar pra lá.
Quando ele voltou, trouxe consigo dois outros lutadores e, também, professores de muay thai.
— Você conhece todos eles... — disse ele, apontando para os rostos familiares. — Cada um tem algo inacabado com o Pedrão. Eles vão te ajudar no que for preciso, tanto no treinamento quanto em garantir que ninguém interfira na sua luta. Eles também têm contas a acertar com aquele desgraçado. Aos poucos, vão te contar suas histórias conforme for confortável para eles.
Confesso que, ao sair daquela academia naquele dia, senti uma esperança que há muito não sentia — a esperança de que, enfim, eu conseguiria resolver o problema que era Pedrão. Mas, por mais que essa ideia trouxesse algum alívio, a realidade de manter tudo em segredo me deixava angustiado.
Eu conhecia bem meus amigos, especialmente Naty e Amanda. Sabia que, se contasse a eles, tentariam me impedir, me convencer de que a violência não era o caminho. E, talvez, eles tivessem razão.
Mas naquele momento, esconder o que estava prestes a acontecer parecia ser a única saída. Eu não me sentia confortável com isso, sentia como se estivesse traindo a confiança deles, mas não via outra opção.
A verdade é que aquela luta não era só sobre Pedrão. Era sobre mim. Sobre encontrar uma maneira de lidar com a raiva que crescia dentro de mim, de colocar fim à sensação de impotência. Era uma chance de retomar o controle.
Talvez a luta fosse minha única forma de finalmente respirar em paz e, assim, continuar com meu processo de “renascimento”.
(Amanda)
Depois que minha tia começou a falar absurdos sobre meus pais — principalmente sobre minha mãe —, fechei o rosto, incapaz de esconder o descontentamento e a revolta que me dominavam. Fazia anos que eu não aparecia por ali; sempre preferia viajar com amigos a visitar a cidade natal da minha mãe, uma tradição que meus pais nunca deixaram de seguir nessa época do ano.
Sem pensar muito, levantei e saí da sala, deixando minha tia falando sozinha.
Minha prima Isabele, que eu também não via há anos, percebeu o clima pesado e, sem dizer nada, pegou minha mão, me guiando até o quarto de hóspedes onde meu pai sempre ficava quando íamos visitar a família.
Desde que eles começaram a namorar, minha mãe dormia em seu quarto próprio quando estavam lá. Nunca entendi por que, mas mesmo depois de décadas de casamento, meus pais não dormiam juntos nessas viagens.
Quando entrei no quarto, logo notei a ausência da bagunça típica do meu pai. O ambiente estava impecavelmente arrumado. Antes que eu pudesse perguntar o motivo, Isa me abraçou com uma intensidade incomum. Com os olhos cheios de pena, ela disse que meus pais haviam se desentendido e que ele tinha ido para Londrina, para a casa do meu avô paterno, desde antes do Ano Novo. Eles decidiram não me avisar, para não estragar a minha viagem.
Naquele instante, uma onda de ansiedade me atingiu. Meu estômago se revirou. Será que o que minha tia Romanza estava dizendo era verdade?
Isa continuou segurando minha cintura, me encarando com um olhar firme, mas solidário. Preferi não prolongar a conversa e pedi que me deixasse sozinha. Ela não resistiu e ainda sugeriu que eu ficasse ali no quarto, ao invés de me juntar a ela, como eu costumava fazer quando visitava a casa.
Sozinha, meus pensamentos se tornaram pesados e dolorosos, mas o cansaço, acumulado após 48 horas sem dormir, foi mais forte. Acabei desmaiando no colchão, entregue a um sono profundo.
Fui despertada pelo som de uma discussão acalorada entre minha mãe e minha tia Romanza.
— Você é uma irresponsável! Sabia que sua filha vinha, devia ter ficado aqui para recebê-la! — gritava minha tia.
— Não se meta na minha vida! Se nem meu pai se mete, você também não vai! — retrucava minha mãe.
— Você não tem coração! Olha o que está fazendo com sua família!
Nesse momento, minha mãe avançou com a mão levantada, pronta para bater na cara da minha tia. Antes que conseguisse, gritei instintivamente, e ela parou ao ouvir minha voz.
— Ah, então a vadiazinha da faculdade apareceu... — disse mamãe, virando-se para mim. — Sabia que seu pai está sendo chantageado?
Senti o chão sumir sob meus pés. Minhas pernas fraquejaram, e eu quase desmaiei. Foi minha tia quem me segurou, seu corpo alto e forte sustentando o meu, que parecia prestes a desabar.
Tentei falar com minha mãe, mas as palavras não saíam. Meus olhos estavam cheios de lágrimas, e minha voz simplesmente não se fazia ouvir.
Minha mãe me olhou com desprezo.
— Eu não criei filha para ser garota de programa. Vou para a casa do meu primo Ronildo. Não quero você aqui. Fique no máximo até amanhã. Se desobedecer, não terá mais lugar na minha casa quando voltar para São Paulo.
Quis gritar, justificar, qualquer coisa. Mas minha voz estava presa, como se algo me sufocasse por dentro. Sem dizer nada, enxuguei as lágrimas e virei as costas para ela, voltando ao quarto onde estava antes.
Algumas horas depois, minha tia Romanza entrou sem bater. Trazia uma bandeja com bolinhos de chuva e um copo de refrigerante caseiro, feito pela própria família. Ela se sentou ao meu lado na cama e, sem ser invasiva, começou a conversar sobre o que havia acontecido naquela viagem desastrosa. Aos poucos, fui me abrindo, desabafando tudo que estava preso dentro de mim. A conversa com ela trouxe um alívio inesperado, uma calma que eu não sentia há tempos com mais ninguém da minha família.
Já me sentia um pouco melhor quando Isa entrou no quarto, vestida com um traje típico da colônia alemã.
— Prima, hoje tem uma festa alemã organizada pela família de uma amiga. Não estou te convidando, estou afirmando que você vai comigo! — disse ela, com um sorriso irônico e divertido.
Ri pela primeira vez em dias. Peguei o vestido que ela me trouxe, me levantei e o segurei em frente ao corpo, olhando para o espelho no canto do quarto. Fazia anos que eu não usava algo assim. Se eu já estava ali, por que não ocupar a cabeça com algo bom, nem que fosse por uma noite?
Depois de descansar mais algumas horas, fui atraída para fora do quarto pelo cheiro irresistível da comida da minha avó.
Ao chegar à sala de jantar, todos já estavam sentados, se preparando para a refeição. Todos, menos minha mãe. Os olhares dos meus avós, pesados e opressores, me fizeram sentir como uma intrusa em um momento que parecia reservado exclusivamente para a família. Fiquei congelada na porta, incapaz de decidir se deveria entrar ou sair.
Depois de alguns segundos paralisada, algo na minha mente me ordenou que me mexesse. Comecei a me virar, prestes a voltar para o quarto, quando meu avô me chamou:
— Amandinha, aonde vai? Não vai jantar com a sua família?
Eu fiquei sem palavras. Por dentro, eu queria me juntar a eles, mas a minha cabeça insistia em dizer que eu não merecia estar ali, que aquele não era o meu lugar.
Foi minha tia Romanza, mais uma vez, que me trouxe de volta à realidade. Ela pegou minha mão com firmeza e me puxou para sentar ao seu lado. À minha esquerda estava meu tio Álvaro, marido dela. À minha frente, Isa e minha avó, que me encarava com um olhar que parecia me julgar e condenar sem precisar dizer uma única palavra. Na cabeceira, meu avô, com seu sorriso caloroso e afável, o único que conseguia me dar algum conforto naquele ambiente.
O jantar foi tranquilo, como se todos tivessem feito um pacto silencioso para não tocar nos assuntos que poderiam me deixar ainda mais perturbada. Após a sobremesa — o melhor mousse de chocolate que comi em anos —, me retirei para tomar banho e me preparar para a festa que viria mais tarde.
Assim que entrei no chuveiro, comecei a chorar. Mas dessa vez, não era o mesmo choro sufocante de sempre. Era mais um desabafo silencioso, como se estivesse lavando um pouco da dor acumulada. Talvez fosse também um medo do que estava por vir quando eu voltasse para São Paulo — meus pais distantes, talvez separados, ambos me culpando pelos meus erros. E a faculdade... como eu voltaria para a faculdade?
Depois do banho, quase por instinto, liguei para o Zeca. Ele não era o melhor ouvinte, mas tinha um jeito pragmático que sempre me fazia enxergar as coisas de outro ângulo. Ele tentou me arrancar detalhes da conversa que tive com a minha tia, mas quando percebeu que eu desviava do assunto, mudou de tática. Começamos a falar sobre outras coisas, e, sem pensar, mencionei a festa para a qual eu estava me arrumando.
A reação dele foi impagável. Com uma leve gaguejada, ele me pediu:
— Por favor, faz uma videochamada quando você estiver vestida com o traje alemão. Eu preciso ver isso!
Ri com o jeito dele, tímido e meio atrapalhado, mas sempre com uma pitada de bom humor. Ele tinha um talento para me arrancar sorrisos até nas situações mais bobas.
Fiz um pouco de charme, me fazendo de difícil, mas ele sabia exatamente como pedir para me convencer. Quando finalmente coloquei o vestido, liguei para ele, e ainda mandei algumas fotos. Logo depois, enviei uma mensagem provocativa:
— Vê se não vai passar a noite toda batendo punheta por causa desse traje, hein? Seu taradinho lindo.
Ele respondeu com uma chuva de emojis, e por alguns instantes, senti que a felicidade estava voltando para mim. Talvez, só talvez, eu pudesse encontrar um caminho de volta para ser feliz. Aquela festa parecia ser o começo de algo novo.
(José)
Ver Amanda naquele traje alemão me deixou... bem animado. Ela estava deslumbrante. Parecia que a roupa tinha sido feita sob medida para ela. Seus cabelos loiros, a pele dourada pelos dias de praia no final do ano passado, e aqueles olhos azuis claros que brilhavam mais do que nunca. Ela era a personificação da beleza germânica, e aquela roupa só acentuava ainda mais sua sensualidade.
Depois de me mandar a videochamada e as duas fotos tiradas no espelho do banheiro, ainda brincou, me dizendo para não "me acabar" por causa do traje. Respondi, mantendo o tom de humor, mas a verdade é que o riso logo sumiu quando a realidade me acertou como um soco: o problema chamado Pedrão ainda estava lá, esperando para ser resolvido.
A gente tentou mudar de assunto, falando da festa para a qual ela iria, mas logo voltamos à questão da chantagem que o pai dela estava sofrendo. A situação já estava saindo do controle, e eu sugeri que ela tentasse conseguir provas da chantagem. Foi então que o assunto virou para os pais dela. Ela hesitava em me contar mais, e dava para sentir o quanto estava abalada. Para aliviar, voltamos a falar da festa e do traje.
Assim que terminei a conversa com Amanda, liguei para o Valdão, um dos professores de Muay Thai que tinham se oferecido para ajudar. Tanto ele quanto Bruninho tinham seus próprios motivos para querer acertar as contas com Pedrão.
Marcamos de ir até a minha antiga república, já que eu precisava pegar minhas coisas de lá, e assim começaríamos a colocar nosso plano de vingança em prática.
Na manhã seguinte, nos encontramos na academia. Fomos para a república no carro do Bruninho. Ficamos um tempo na rua, conversando e ajustando os últimos detalhes do plano. Eu estava numa mistura de sentimentos. Ansiedade, raiva e uma pontada de euforia, sabendo que, finalmente, iríamos fazer algo a respeito. Era como se cada passo me libertasse um pouco mais.
Quando entramos no apartamento, lá estavam Pedrão e Ramon, largados no sofá, apenas de cueca, como sempre. A provocação começou no segundo em que pusemos os pés na sala.
— Olha só, Ramon, o maior corninho da faculdade apareceu — disse Pedrão, com um sorriso debochado. — E trouxe mais dois corninhos com ele! Parece reunião de chifrudos! — Ele soltou uma risada escandalosa, e Ramon o acompanhou com uma gargalhada de puro desdém.
Valdão e Bruninho quase estragaram tudo ali mesmo. Foi difícil contê-los. Respirei fundo e, com puro ódio no olhar, gritei:
— Você vai pagar por tudo o que fez! Falei com o Gustavo, e propus uma luta com você na academia. Cinco rounds de cinco minutos. Vamos ver se você é tão valente sem seus capangas por perto!
Pedrão se levantou num pulo, cruzando a sala em minha direção. Ele me agarrou pela gola da camisa, erguendo o punho para me socar. Mas antes que ele pudesse me atingir, Valdão — um gigante de músculos, mais alto e mais forte que Pedrão — o pegou pelo pescoço e o prensou contra a parede com uma facilidade que me surpreendeu.
Bruninho, então, tirou o celular do bolso e mostrou um vídeo de Gustavo.
— Pedrão, aqui na nossa academia, mexeu com um, mexeu com todos. Não ouse encostar no Zeca ou em qualquer outro de nós. — A voz de Gustavo era firme no vídeo, deixando claro que Pedrão não tinha saída.
Gustavo então, já vestindo suas faixas e luvas de luta, deu alguns socos violentos no saco de areia enquanto encarava a câmera que o gravava antes de continuar.
— Você pode ser o garanhão da faculdade, mas no ringue, você sempre foi nossa "putinha".
Pedrão empalideceu, as mãos levantadas em rendição.
— Tudo bem... tudo bem. Eu aceito a luta. Não vou atrás dele, nem de ninguém.
Mas Valdão não estava satisfeito. Ele o pressionou a contar tudo o que tinha feito com a irmã dele. E Bruninho, com o olhar frio, perguntou sobre a noiva e uma prima distante.
Enquanto eles o interrogavam, fui para o meu quarto pegar minhas coisas. Mesmo lá, dava para ouvir a confissão humilhante de Pedrão. Os detalhes eram horríveis. Ele não tinha limites. Um verdadeiro psicopata que fazia tudo por diversão, sem pensar nas consequências. Quando voltei para a sala, Valdão e Bruninho estavam destruídos.
Pedrão me encarou com um sorriso desafiador.
— Tem certeza que quer lutar comigo? Você sabe que não tem chance.
Eu me aproximei, frio como nunca tinha sido na vida.
— Além de destruir a vida de todos, você ainda faz chantagem. Você é um criminoso.
Ele riu, com aquela expressão nojenta.
— Não é chantagem, Zeca. Eu só sei realizar os prazeres das minhas putinhas. E se você me desobedecer novamente e começar a sair com alguma garota, eu não apenas irei atrás dela como também de suas irmãs ou primas.
Valdão e Bruninho desmoronaram, mas eu continuei.
— Você usa o DCE para se aproximar das alunas, as manipula para se prostituírem...
— Eu não obrigo ninguém! — Pedrão me interrompeu, com um sorriso cínico. — Talvez eu prometa, induza, mas ninguém é obrigado a nada. Nem a sua Amandinha foi.
Isso me acertou em cheio, mas consegui manter a compostura.
— Vou adorar te humilhar no ringue — disse, me virando sem esperar resposta. — Todos vão ver o seu desespero.
Abri a porta, e saímos, deixando Pedrão para trás. Agora, só restava continuar com o plano.
(Amanda)
Quando chegamos ao clube particular da cidade, percebi que fui um pouco "enganada". Eu esperava algo menor, mais intimista. Mas o lugar estava lotado, com música alta e luzes piscando. Não era o que eu tinha imaginado.
Isa logo percebeu meu desconforto. Segurando minha mão de maneira firme, ela me olhou e disse com aquele sorriso convencido:
— Fica tranquila, prima. Apenas se divirta.
Esse era o meu problema. Eu queria me divertir, apenas me divertir…sempre com esse pensamento corroendo minha mente e o resultado disso... tudo acabou acontecendo do jeito que aconteceu.
Respondi ele de forma protocolar, apenas com um sorriso tímido, mas continuei retraída enquanto Isa me puxava para o meio de rodas conversas de seus amigos. Muitos amigos…
A verdade é que a timidez nunca foi meu forte. Não faz parte da minha personalidade. E depois de alguns copos daquele chope artesanal, me senti mais solta, conversando e até dançando.
Eu estava feliz. Não havia nada de errado em me soltar, certo? Pelo menos, foi o que pensei até Isa me apresentar Rebeca.
Eu nunca tinha sido atraída por mulheres antes, mas depois daquele dia com Naty e sua namorada, algo mudou. Me peguei observando as mulheres ao meu redor de forma diferente. Na própria viagem, houve momentos em que duas delas me deixaram inquieta, quase desejosa.
Rebeca começou a conversar comigo sobre coisas banais. Ela contou que era do Rio Grande do Sul e que estava ali para a festa, acompanhada de uma amiga que morava na cidade.
Ela tinha uma altura mediana, pele escura e olhos que pareciam ler meus pensamentos. Seus cabelos soltos emolduravam seu rosto perfeitamente, e aquele vestidinho curto que usava a tornava irresistível.
Houve um momento de silêncio entre nós, uma troca de olhares carregados de intenções. Logo, ela estava com o braço em volta do meu, rindo e conversando como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Cada vez que o braço dela roçava em minha pele, eu sentia uma corrente elétrica percorrendo meu corpo. Era quase impossível disfarçar a reação no meio das minhas pernas. E ela também não escondia.
A sorte foi que Isa me chamou de canto. Disse que iria embora com um carinha com quem estava ficando. Num primeiro momento, isso me irritou, mas logo fui convencida pela sua insistência.
No banheiro, enquanto retocávamos o batom, conversei com Rebeca.
— Você vai voltar com Isa? — perguntei.
Ela balançou a cabeça.
— Não, vou pra casa da amiga dela, que mora aqui perto. Fica tranquila, meus pais conhecem os dela. Vai ficar tudo bem.
Eu devia estar contrariada por Isa ter decidido tudo sem me avisar, mas, na verdade, adorei a ideia.
Quando voltamos para perto da festa, Rebeca pegou minha mão e me puxou em direção ao estacionamento. Foi nesse momento que um flash de memória de Alberto me atravessou — a minha virgindade, tomada por ele num estacionamento parecido com este. Lembro de como eu era uma menininha apavorada indo se entregar sem saber direto o que queria, mas, sim o parecia ser o que devia fazer.
Balancei a cabeça, afastando o pensamento. Eu precisava deixar essas lembranças para trás se quisesse realmente “renascer”, me libertar das lembranças de meu relacionamento com aquele crápula.
E então, foi o beijo de Rebeca que me trouxe de volta ao presente. Intenso, quente, arrebatador. No estacionamento daquele clube exclusivo, cercadas pelo silêncio da noite, tudo se tornou incrivelmente…perfeito.
Rebeca parecia ser experiente, e eu estava quase como uma virgem. Não foi por propósito, mas sim porque sua atitude e minha surpresa com tudo aquilo nos colocaram nesta situação.
Ela logo começou a passar a mão por todo o meu corpo, enquanto não desgrudava sua boca da minha. Após minutos nisso, ela já havia subido a sainha do meu traje e colocado minha calcinha para o lado, esfregando e apertando meu sininho.
Então, ela parou de me beijar, com uma maestria impressionante, enquanto não desviava o olhar, me fazendo permanecer olhando em seus olhos enquanto tirava seu vestidinho.
Voltamos a nos beijar até que ela desceu completamente o meu banco e me puxou para cima, abriu minhas pernas, tirou minha calcinha e começou a beijar e chupar o interior de minhas coxas.
Essa parte é extremamente sensível, e eu não conseguia controlar a altura dos meus gemidos. Um pouco afoita, puxei-a pelos cabelos.
— Por favor… por favor… eu preciso.
A safada apenas deu risada e fez o que praticamente implorei. Sua língua era introduzida no interior da minha PPK, e quando tirava, chupava e sugava a região como um todo.
O barulho que sua boca fazia, junto com o som da minha grutinha molhada, era baixo e único. Eu já não estava me aguentando; precisava dela, do foco dela em um lugarzinho específico.
Puxei sua cabeça, fiz ela olhar em meus olhos e pedi:
— Por favor… você vai me matar… eu tô precisando, juro… depois faço o que você quiser.
Ela então tirou sua calcinha, a última peça de roupa que faltava, e uma surpresa surgiu.
— Filha da puta! — gritei, espantada. Era um dos paus mais bonitos que me lembro de ter visto até hoje. Incrível que ele(a) me deixou tão aérea com seu beijo e todo o resto que realmente não tinha percebido.
Ela apenas riu da minha cara, se posicionou e meteu sem deixar eu falar mais nada. Confesso que, por um mínimo momento, fiquei com medo de não sentir prazer, por tudo que já sabem. Mas não foi o que aconteceu. Ele ficou por muitos minutos dentro de mim, com movimentos vigorosos, e no final tivemos um intenso orgasmo juntos.
Logo após gozarmos juntas, um sentimento de culpa se abateu sobre mim. “Não é possível que não consigo me controlar.” Acho que o hormônio do amor ainda estava presente em meu corpo, o que impediu que fosse ainda pior.
Ficamos deitadas sobre o meu banco até adormecermos de cansaço. Não sei quanto tempo se passou, mas lembro de ter acordado vestida novamente em frente à casa dos meus avós.
Rebeca acariciou meu cabelo e confessou:
— Muito obrigada. Sempre tive problemas quando tive que me revelar. Obrigada por ter continuado e por me deixar ter a noite mais maravilhosa da minha vida.
Apesar de toda a comoção da situação, acabei não respondendo o que Rebeca merecia. Não era por causa dela, mas sim pelo medo de ter cometido mais uma das muitas cagadas da minha vida. Me despedi timidamente e, ao entrar em meu quarto, liguei para o Zeca e contei tudo.
Ele começou a rir da minha cara e, ao perceber que eu estava preocupada, disse para eu relaxar. Não era porque eu estava bloqueando qualquer tipo de sentimento, mas sim porque sabia que isso fazia parte da minha jornada para me reencontrar.
Mais uma vez, agradeci a Deus por ter esse homem em minha vida, mas percebi que outra coisa o incomodava. Não vou relatar todas as conversas, mas, resumindo, ele me confessou seu plano de lutar contra Pedrão.
Na hora, uma angústia enorme preencheu meu coração. Implorei para ele não fazer isso. Ele desconversou e desligou, me deixando preocupada e ansiosa. Acabei pensando em voltar imediatamente para São Paulo.
Porém, após uma transa rápida e uma boa noite de sono, já não estava mais sob a ação exclusiva dos impulsos. Durante o café, percebi que minha vida teria grandes novas emoções e um novo rumo.
Zeca
Eu realmente fui fraco e não consegui evitar contar a verdade para Amanda. É como se ela soubesse exatamente como entrar na minha mente.
Talvez vocês estejam curiosos sobre como me senti quando Amanda me falou da sua aventura com Rebeca. A verdade é que fiquei feliz por ela. Ela estava buscando um recomeço, e, naquela época, a ideia de retomar algo com ela nem passava pela minha cabeça.
Voltando à minha realidade daquele momento, sem grandes preocupações, decidi focar toda a minha energia na luta contra Pedrão. No dia seguinte, depois de um café reforçado e um shake de proteínas, me encontrei com Valdão e Bruninho para um treino pesado.
Foram cerca de seis horas de treino intenso, com direito a aeróbico, musculação, técnicas de luta e, para fechar, um sparring no ringue com Valdão e Bruninho. Eles não pegaram leve. Quando cheguei em casa, meu rosto estava todo machucado, com o lábio superior cortado e sangrando, mas, mesmo assim, me sentia satisfeito. Eu estava em movimento, agindo, em vez de ficar parado e reativo.
Já de noite, prestes a dormir, recebi uma visita inesperada: Marcus. Fazia tempo que ele não aparecia.
Preferi falar com ele na sala. Sei que parece bobagem, mas ainda lembro da última vez que conversamos... não queria arriscar repetir aquela cena. Rsrs.
Ele estava sério, com aquele olhar intenso, já sentado no sofá. Sentei ao seu lado, e ficamos em silêncio por alguns minutos, nos encarando, até que ele finalmente falou:
— Você não acha que merecia pelo menos ser avisado? — disse sem raiva, mas com uma genuína preocupação nos olhos.
— Cara, eu preciso resolver isso pra conseguir seguir em frente — respondi, determinado.
Marcus riu, mas foi uma risada de deboche.
— Você não entende que ele já ganhou? Ele ainda está na sua cabeça, é o protagonista dos seus sonhos e pesadelos. E você, o que é pra ele?
Confesso que essas palavras me desmoronaram, me afogando em incertezas e inseguranças. Marcus percebeu e continuou:
— Vou viajar pros EUA daqui a dois dias. Vou preparar tudo pra quando você puder ir. Preferia que você não lutasse com ele, mas não quero que se reprima mais.
Fiquei paralisado, sem saber o que responder.
— A Naty conseguiu trocar a passagem dela pra viajar no mesmo dia que eu. Você vai estar sozinho pra resolver isso... mas me liga sempre que precisar. Estarei com você, mesmo quando fizer besteira.
Ele me deu um abraço antes de continuar:
— Resolva esses problemas. Você é mais esperto e melhor que ele. Quando você for pros EUA, quero que esteja focado.
Não soou como uma ordem. Parecia mais um desejo, algo que ele realmente queria pra mim.
Os dois dias seguintes passaram voando. Fiz questão de levá-los ao aeroporto para a despedida.
Todos pareciam crianças emocionadas. E eu me sentia mal, com um peso enorme de perda e solidão.
Lembrei que, na noite anterior, a Amanda informou que viajaria de que volta pra São Paulo naquela madrugada.
Sem ter com quem desabafar, liguei pra Fabi. Ela prontamente me chamou para nos encontrarmos na casa dela. Os pais dela ainda estavam dormindo.
Antes de sair, resolvi ligar e conversar com a Amanda. Foi uma conversa leve, ela me contou seus próximos planos, e fiquei surpreso, mas feliz. Ela parecia determinada a mudar e começar uma nova fase na vida. Mesmo à distância, me senti eufórico com essa perspectiva.
No dia seguinte, na verdade, novamente já quase de madrugada, fui ao aeroporto mais uma vez, para me despedir de um amigo. Dessa vez quem iria viajar era Amanda. E, embora fosse uma despedida, senti que nossa amizade havia se reconectado de forma profunda. Estávamos felizes e ansiosos pelos próximos passos. Por mais que fosse difícil, havia uma atmosfera positiva no ar.
Mas isso é apenas o começo... ainda temos muito para relatar…estamos começando definitivamente nossa jornada de “renascimento”.
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