Depois de um dia como ontem eu só queria mesmo era focar no trabalho. Estava animada com o projeto, estava me mantendo ocupada. Ana é um amor, está tão empolgada quanto eu, mas também, tudo que estou fazendo se passar ela e eu vamos ter um bom reconhecimento. Ana é francesa, filha de pai mongol (Mongólia), e mãe brasileira, ele era refugiado, ela era aeromoça, no aeroporto eles se conheceram, depois disso vivem até hoje. Conheci um pouco da vida dela enquanto trabalhamos em vídeos chamadas.
Ana:- Iai vai tomar café comigo ou não?
Stela:- Olha...
Ana:- Quando brasileira fala Olha...
Stela:- Eu não quero ser rude, mas estou sem fome!
Ana:- Me acompanha?
Stela:- M...
Ana:-Por favor!
Fez uma cara que não tive como dizer não. Fomos até uma padaria pertinho da empresa. Lá conversamos mais um pouco, ela me contou que a mãe sempre a falar português, tanto a ela quanto seu pai. Depois de um tempo, me sentia tão bem, conversar com ela, tão vivida, conhecia vários países e falava cinco línguas diferentes. Ana tem cabelos longos, olhos puxados, pele tão branquinha, acho puxou o pai, tinha muitos traços asiáticos, mas o sorriso e olhar era de menino travesso.
Stela:- Vamos? Tenho muitas coisas para ajustar!
Ana:- Vamos sim, tenho muito trabalho também, muito obrigada por ter vindo!
Stela:- Pour rien!
Ana:- Olha só! Comme elle est belle!
Stela:- Não exagera!
Saímos rindo em direção a empresa, lá trabalhamos o dia inteiro e nos divertimos.
- Bom dia meninas, alguém quer se juntar a nós no barzinho hoje?
Stela:- hoje não vai da!
Ana:- Pra mim também não!
O homem fechou a porta, trocamos olhares e caímos na risada.
Stela:- Hoje é quarta-feira, essas coisa num são geralmente na sexta?
Ana:- Aqui, como tem gente de todo lugar, as pessoas tem um código, quando mais de um topar, pode ser qualquer dia, se mais de um topar eles vão!
Stela:- Legal! Mas tenho alma de 60 anos!
Ana:- Se for como minha mãe, acho que seria bem animada!
Stela:- Bem o contrário, primeiro se não tomo café fico com dor de cabeça, não gosto de comer tarde, só café antes de dormir, depois do almoço também, a única coisa que tenho de jovem é a capacidade de passar a noite em claro, mas com minha garrafa de café!
Ana:- Sua vida se resume a café?
Stela:- Não tinha pensado nisso! (Rimos)
Ana:- E seu marido, também é assim?
Stela:- Marido?
Ana:- A aliança na mão esquerda é de casada não?
Stela:- Ah! É...Bem... é complicado!
Ana:- Complicado?
Stela:- Não é marido, é mulher, só que no momento não é nada!
Ana:- Nossa! Tá bom, desculpe, não quis ser indelicada!
Stela:- Tá tudo bem!
Ana:- Tem dois provérbios muito bons pra você.
Stela:- Manda aí!
Ana:- O primeiro é: Saiba bem o que te leva adiante e o que te retém, e escolha o caminho que te leva a sabedoria. Na verdade essa é uma frase de meditação Buda. Gosto muito dela e me ajuda bastante. O outro é um provérbio, que diz: A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional. Não importa o que você passou, nem o que foi feito, a dor já aconteceu, agora mesmo que tudo venha a tona, você escolhe sofrer. A primeira dor só passa se você não alimentar o sofrimento!
Stela:- Poxa!
Ana:- Gostou?
Stela:- Sim, você acertou em cheio!
Acho que deixei transparecer que estava triste, ela levantou me abraçou, ficou na minha frente e sorriu.
Ana:- Vamos trabalhar? Você fica mais bonita trabalhando!
Senti meu rosto queimar. Virei na direção meu computador e voltei ao trabalho. Ela levantou me deu um beijo na bochecha e voltou a sorrir.
Stela:- Vamos trabalhar?
Ana:- Você é minha preferida!
Ficamos ali trabalhando, tínhamos ótimas ideias e o projeto estava ótimo, só faltava falar com a responsável pela robótica e estávamos com tudo pronto. Já eram 19h e ficamos de finalizar depois de amanhã, amanhã estamos de folga. Ana disse que por tudo está adiantado nada mais justo. Estava indo até o ponto de ônibus quando ela passou por mim no carro.
Ana:- Quer uma carona?
Stela:- Não! Imagina, eu moro pertinho e minha mulher tá vindo!
Ana:- Então tá bom, vou indo, tenho compromisso, até mais!
Stela:- Até!
A rua era movimentada, bem iluminada, mas mesmo estando longe do Brasil, tem costume que vira raiz na gente. Estava sentadinha no ponto, quanto uma moto vem diminuindo a velocidade, meu Deus, nessa hora baixou a Brasileira do subúrbio e falei, fodeu. A moto parou na minha frente, e nem correr eu podia.
- Saberia me informar onde fica o condomínio Gatineau?
Finalizou tirando o capacete.
Stela:- Tá de sacanagem?