~ Eu fui muito má fazendo isso, mas sinto informar que não temos nenhum filho chamado Max.
- Posso fazer os exames necessários para saber se sou compatível? – Perguntei
- Eu também quero fazer – disse Juh
- Calma! – exclamou Carmem – Uma coisa de cada vez. Primeiramente, vocês querem dar continuidade ao processo? – Nos perguntou
- Claro que sim! – respondi
- Óbvio! – Disse Júlia ao mesmo tempo
Carmem finamente sorriu, e foi um alívio pois toda vez que eu olhava para ele e via aquele semblante tenso, sentia que uma notícia pior viria.
- Devo aconselhar vocês a não fazerem os exames por enquanto, pode ser visto como um conflito de interesse. Vocês chegaram longe e em um tempo relativamente bom. Não joguem tudo fora querendo apressar as coisas... – nos disse
Nós concordamos e foi marcado o primeiro dos três encontros que faríamos. Seria em uma praça, o segundo em nossa casa e com Mih, o terceiro a gente levaria ele para o tratamento e eu pedi uma consulta com o último médico que o atendeu para ficar a par de tudo. Se tudo ocorresse bem nas duas primeiras, ele já poderia sair com a gente para uma vida inteira juntos.
Quando chegamos na pracinha, já o avistamos de longe. Dessa vez ele tinha um pouco mais de cabelo, não tanto como na foto, e eu não sei se ele se sentia muito feliz com isso porque não parava de tentar ajeitar. Carmem estava ao seu lado e tentava fazer ele parar, mas Max era mesmo um furacãozinho e não parava quieto.
Fomos rindo e observando a cena, embora o nosso papo com ele no abrigo tivesse fluído da melhor forma possível, estávamos um pouco nervosas, mas era como uma ansiedade boa. A gente só queria chegar até ele logo.
Cumprimentamos Carmem, olhei para o menino bravinho que tinha os braços cruzados e um bico enorme na boca e disse: - Oi, lembra da gente?
Ele me olhou de volta e aquele sorriso lindo que eu já conhecia tomou conta do seu rosto.
- LEMBRO!!!! – respondeu animado
Carmem “nos apresentou” e ficou apenas observando de longe. Ele nos deu a mão e fomos conversando até o carro.
- Você sabe o porquê de estarmos aqui? – Perguntou Juh para ele
- Huuuuuum – senti pela primeira vez que ele ficou um pouco tímido – vocês vão ser minhas mamães? – Perguntou olhando para o chão
- A gente quer muitoooo isso! – disse Juh carregando-o e girando-o, eles riam e eu também
No carro nós fomos tentando saber o motivo dele estar bravo antes de chegarmos e mais uma vez era culpa do bendito cabelo.
- A tia Sandra sempre corta meu cabelo, eu não gosto. Hoje ela não estava e a tia Lia encheu disso aqui – ele pegou a mão de Juh e passou
- Parece que é gel – disse ela rindo
- Como você gosta do seu cabelo, Max? – Perguntei
- Você lembrou do nome que eu vou trocar quando crescer!!! – comemorou e me respondeu animado – Gosto bem grandão!
- Sabia que não precisa esperar crescer para trocar o nome? Quando a adoção acontecer, você poder escolher seu nome – falei e vi o semblante dele de surpresa pelo retrovisor
Chegamos na sorveteria e fizemos nosso pedido, o dele foi uma casquinha de chocolate que fez ele se lambuzar inteiro enquanto conversávamos sentados a beira mar.
A gente estava batendo um papo normal, simples, nos conhecendo aos pouquinhos. E acho que foi o que fez eu me apaixonar mais ainda. A gente não fez esforço, foi uma tarde natural e muito especial.
- Vão achar que te jogamos em uma poça de lama, olha a situação da sua camisa – falei e ele riu
Tinham algumas lojas por perto e eu vi um uniforme beeeeeeeeem vagabundo do Flamengo, não pensei duas vezes, assim que troquei a camisa dele, ele pediu: Posso colocar o short também?
E é claro que podia, carreguei ele indo a caminho do carro e falei: você é o flamenguista mais lindo do mundo inteiro, Max jogou a cabeça sobre meus ombros rindo e esticou um braço para Juh o abraçar também e ela disse: - Eu concordo plenamente com ela! – e o encheu de beijos
- Eu não quero ir embora, quero ficar com vocês – falou em um tom triste
- Olha, hoje foi só um passeio, no próximo você vai conhecer a sua nova casa e uma pessoa muito especial, nossa filha Milena – disse Juh para ele
- Que tem a mesma idade que eu? – Perguntou mais animado
- Isso, ela está doida para te conhecer, desejando tanto quanto nós duas a sua chegada – completei
Ele foi bem mais caladinho na volta, com a cabeça encostada em Juh, e a gente surtando internamente por aquele momento fofo e por tudo ter dado tão certo.
Desceu do carro grudado em Júlia, tanto os braços como as pernas cruzados nela. Carmem, que acompanhou todo o passeio em outro carro, perguntou se ele tinha gostado do da nossa companhia, Max confirmou e repetiu para ela que já queria ficar com a gente, só que dessa vez começou a chorar.
Sentamos com ele para acalma-lo e fomos conversando que não seria a última vez, que estava mais perto do que nunca e aos poucos ele foi cedendo, distraímos com o assunto da camisa fazendo ele mostrar a assistente social e deu certo, Max aceitou ir numa boa.
Em casa, nós abrimos um vinho para comemorar até Mih voltar da casa de Loren (o plano de meu pai tinha dado certo), ficamos ali criando os próximos cenários, imaginando como seria quando ele finalmente viesse morar com a gente.
Enfiei meu rosto em seu pescoço, dei um logo cheiro e falei em seu ouvido: - Finalmente tá acontecendo, gatinha
Juh sorriu e me beijou: - Finalmente, amor... - disse depois
Ouvimos batidinhas na porta e corremos porque minha filha nem imaginava quem ia aparecer em nossa casa daqui há alguns dias e nós estávamos ansiosas para contar.
- Tenho um notícia ótima para te dar - disse Juh para ela que se animou querendo saber o que era
- Seu irmãozinho vem te visitar! - falei
Consegui ver seu olho dilatar, seu pulmão encher e seu sorriso desacreditado se abrir. Em um grito ela explodiu de euforia pulando em cima da gente, e agora estávamos as três no chão.
Expliquei como seria, que o irmão dela viria passar a tarde e depois iria embora, comentei que a assistente social também vinha. Ela não gostou de nada do que eu disse.
- Por que ele não pode ficar? E por que uma mulher vai ficar vigiando? - Perguntou
- Porque é um período de adaptação, ele vem só te conhecer - ela abriu um sorriso
- A mulher vem para ter certeza que ele vai poder morar com a gente, que vamos cuidar dele direitinho, essas coisas... - disse Júlia e ela entendeu
- Então tenho que me comportar para ela deixar - falou pensativa
Eu confirmei rindo.
Durante a semana Juh me ligou do trabalho dizendo: - Amor, tá todo mundo me parabenizando pelo nosso filho...
- Milena... - falei
- Exatamente, acho que não tem problema, não é? Eu confesso que estou gostando... - disse-me
- É? Parabéns, mamãe! - falei rindo
- Parabéns para você também, mamãe! - respondeu rindo também
E finalmente chegou o dia do encontro dos dois, pensamos em apresentar a casa para ele, mostrar o quarto, dizer que ele poderia escolher como decorar, brincar na piscina e deixar os dois interagirem. Já sabia que eles tinham jeitos parecidos, extremamente animados, sorridentes, carismáticos, Mih é mais extrovertida mas ele não fica atrás, restava saber se iam gostar um do outro.
Carmem chegou e apresentou ele como João.
- É Max - consertou ele
Mih me encarou confusa e não disse nada
- Acho que estou intimidando, vou ficar de longe que é melhor - disse Carmem se afastando
Quando ela saiu, Mih abraçou ele e disse: - Eu sou sua irmãzinha, Milena
Max sorriu e a abraçou também dizendo: - Eu sou seu irmãozinho, o Max
- Você não pode se chamar Max - disse Mih bem baixinho com medo da Assistente Social ouvir - Max é o nome do cachorro do vovô José
- Filhaaaaa, - falei - ele que escolheu, é o nome dele - falei
- Mãe, meu irmão não vai ter nome de cachorro! - me respondeu
- É, eu não quero ter nome de cachorro, por que ninguém me avisou??? - perguntou o... João? Max?
- Calmaaaa - disse Juh
- Você poderia se chamar Kaique e o seu apelido pode ser Kaká! - sugeriu Mih
- Gente, nome não é brincadeira, não pode ficar mudando toda hora... - falei
- Eu já me acostumei a te chamar de Max - disse Juh
- Mamães, eu não vou ter nome de cachorro! - falou convicto
E... A gente se derreteu, pela primeira vez ouvimos ele nos chamar assim.
Juh me olhou e eu olhei para ela, foi impossível não soltar um riso besta
- Mãe, Kaique também é radical? - Perguntou para Juh
- É sim, filho - ela respondeu com os olhinhos brilhando
- Eu chamo a mamãe Juh de mamãe e a mãe Lore de mãe, se você quiser pode fazer igual a mim - disse Mih e o Kaique concordou
- Vou mostar nossa casa e seu quarto, vem - disse Mih correndo e ele foi atrás também correndo
- Meu Deus, amor, João, Max, Kaique... O menino já tá no terceiro nome - falei
- Ele chamou a gente de mamãe! disse Juh
- Sim! - concordei recordando e indo dar um beijinho nela
Preparamos um lanche porque eles já tinham descido e após comerem, fomos para piscina.
Foi uma tarde divertida, brincamos de bola, eles correram muito, rimos demais e chegando o horário de ir embora, Loren e Lorenzo apareceram, eu tinha combinado com eles.
- Oii, Max! - disse Loren
- É KAIQUEEEE! gritaram juntos e riram
Meus irmãos me olharam assim: ??????????
Mas não tinha o que fazer, sem chance se discussão... Milena escolheu o nome do irmão!
- Nós somos irmãos de Lore - falou Lorenzo
- Eles são nossos tios - disse Mih
E eles vieram dar um abraço no Kaká, em poucos minutos meu menino já voava, porque Lorenzo jogava ele sem parar para cima e ele estava amando porque gargalhava em alto e bom som.
Juh estava deitada na borda da piscina e Mih estava por cima dela, as duas olhavam e riam. Eu estava dentro da piscina e encostei nelas, minha filha imediatamente grudou em mim, me abraçando.
- Que abraço gostoso - falei enchendo-a de beijo
- Obrigada, mãe, eu amei meu irmãozinho - disse para mim
- Eu ia perguntar agora se você estava gostando - falei
- Ela também me agradeceu, e estava preocupada se se comportou direitinho - disse Juh rindo
- Fora chamar o antigo nome dele de cachorro... - comecei falando
- Mas mãe, é o nome do cachorro do vovô José, eu ia gritar Maxxxxx e ia vim meu irmão e o cachorro - argumentou
Impossível não rir, mas confirmei que ela estava se comportando bem. Na verdade, eu nem estava preocupada com isso, Milena só é espontânea (até demais) mas não me dá dor de cabeça.
Infelizmente deu o horário e precisamos nos despedir. Dessa vez não tínhamos uma criança chorando e sim duas. Mih queria que ele dormisse, Kaká queria ficar. Reforçamos o combinado que a gente fez e anunciamos pela primeira vez que seria a última vez que íamos nos despedir assim.
Carmem conversou conosco um pouco antes, disse que estava quase tudo certo, a sentença sairia na terça-feira e o registro já seria feito. A avaliação dela foi favorável, bastava só "bater o martelo".
Kaique já não ia para o abrigo e sim para um hotel, onde a gente pegaria ele para a sessão de hemodiálise. Lá, Sandra ficaria com ele.
Mih ficou meio xoxinha e pediu para dormir com a gente, deixamos mas só ela caiu no sono, Juh e eu estávamos enlouquecendo de tanta felicidade. O processo interminável estava finalmente acabando.
No dia do tratamento, infelizmente tivemos que nos dividir porque o médico tinha horário, eu fui ouvir o relatório e Juh ficou com Kaká. Higienizaram o braço dele, pesaram, aferiram a pressão, temperatura e ele sentou no colo da mamãe dele para iniciar.
Quando voltei, o bonequinho estava dormindo e minha muié chorava.
- Ei, gatinha, que foi? - Perguntei e dei um beijinho na sua testa
- Amor, tem duas agulhas enormes no braço dele - falou sussurrando para que nosso menino não acordasse - coitado!
- O caso dele é mesmo grave, mas ele não deixa transparecer. É um menino forte, nem toca no assunto. Vamos torcer para uma de nós duas ser compatível, caso contrário... Teremos que aguardar na fila, sem previsão alguma. - falei meio triste
Ficamos mais umas duas horas ali, e o gurizinho dormiu o tempo inteiro, acordou com um sorriso lindo olhando para a gente e perguntando: - Podemos ir para casa?
E sim, a gente podia.
Na saída, Sandra nos entregou "tudo" dele. As coisas de quando ele foi deixado no abrigo. Kaique não tinha documentação, mas a mãe biológica deixou escrito o dia do nascimento, o horário, a pesagem e as vacinas tomadas.
Quando bati o olho na data de nascimento e horário, tomei um susto. Levei as mãos a boca e entreguei imediatamente para Juh, que sorriu. Meus olhos estavam cheios de lágrimas... Tinha que ser ele, o Kaká tinha que ser nosso.
- Ele nasceu no mesmo dia que Mih - disse Juh
- Exatamente 12h depois - completei (e ela se orgulha muito em ser a mais velha)
Milena nasceu 04h da manhã e Kaique às 16h da tarde.
Dizem que eu sou muito cética, eu já fui muito mesmo, hoje sou bem mais tranquila. Nesse tempo aí, realmente, estava entranhado em mim e eu não consegui achar uma justificativa, um padrão. Kaká tinha que ser nosso filho e irmão de Milena.
Tenho dois leoninos em casa, mas nós brincamos que temos uma taurina (tem touro no ascendente, na lua e no sol) e um virginiano (tem virgem no ascendente, na lua e no sol). Até o mapa astral deles se completam, touro e virgem são compatíveis DEMAIS! Eu nem curto muito essas coisas de signos mas Juh sim, e quando ela me mostrou isso, foi impossível não achar fascinante.
Vocês acreditam em coincidências?
Obs1: Não temos um filho chamado Max porque o nome dele é Kaique 😂
Obs2: Agora dá para entender meu comentário no conto das Irmãs Ferreiras sobre irmãos que fazem aniversário no mesmo dia 👀