A republica dos Machos (38)

Um conto erótico de Yuri
Categoria: Homossexual
Contém 1541 palavras
Data: 07/09/2024 13:33:30

XXXVIII

Eu fui sozinho. O bairro de Maicon era afastado da cidade mas durante o dia havia mais de uma forma de chegar. Usei o bom e velho moto táxi que me deixou em frente ao portão de metal preto.

Ao saltar da moto com o celular na mão fui em direção a campainha. Apertei o botão e disse:

- Maicon, por favor, precisamos conversar - falei olhando para a câmera - e a coisa é séria.

Eu mostrei as imagens do corpo de Adriano que havia no meu celular e que logo todos veriam nas telas de suas televisões em casa. O portão destravou sem mais demora.

Mesmo assim eu sozinho não podia abri-lo porque só podia ser feito com chave. Frederico sem camisa e vestindo um short tactel florido em estampa azul veio em minha direção.

Sua pele branca e os bicos dos peitos rosas, era um fofurinha. Os gominhos da barriga e o peitoral embora sem uma sombra de pelos era bem definido. Mas a ideia de que aquela fofurice toda escondia uma assassino, esfriava meu sangue.

Era essa ideia fixa que não saía da minha cabeça que me conduzira com tanta urgência de volta aquela casa.

- Olá Yuri, - ele disse - há quanto tempo hein?

Eu não tinha a menor intenção de parecer cordial. Porque meu receio era ter meu nome mais uma vez envolvido em um escândalo.

Na sede do jornal em que trabalhava as pessoas olhavam para mim de forma enviesada por causa do vídeo, pouca gente sabia que no vídeo era o Adriano porque seu rosto estava censurado. Mas com as investigações em torno da morte...

Ou seja, eu tinha envolvimento com aquele nojento do Adriano, e a situação toda me implicava ainda mais.

Por isso fui direto ao assunto.

- Frederico, o que você queria dizer quando me falou que você mesmo ia resolver aquela questão envolvendo o Maicon e o Adriano hein?

Ele respirou fundo deslizou as mãos pelos bolsos do short e inclinando o torso para trás, moveu os lábios para baixo.

- Não faço ideia do que você está falando.

- Como assim não faz ideia?

Ele pousou as mãos brancas de unhas e cutículas meticulosamente cortadas sobre o portão e encaixou uma chave. Ao abri-lo deixou espaço para que eu passasse mas um frio na espinha me impediu. Eu olhei em volta e não havia vivalma em canto nenhum.

"Se esse cara me mata ninguém nem sonha que vim para cá", pensei e dei um passo para trás. Aliás, eu não tinha visto o Maicon, a última vez foi na faculdade e havia semanas.

- Venha, - ele disse - você parece tenso. Eu estava limpando a piscina.

- Não tem funcionários para isso? - perguntei.

- Pois é, - ele disse - meu primo e eu vivemos em um estado de contingencia de gastos sabe. Nem carro temos mais.

Eu engoli saliva e enviei uma mensagem para o Duval antes de ultrapassar os portões da casa. Mandei o endereço também. Copiei a mensagem enquanto andava com o Frederico às minhas costas e enviei para Betão e Fabrício, "melhor prevenir".

Tudo continuava do jeito que eu lembrava desde a primeira vez em que estive ali, chegamos a área da piscina, e o Maicon estava deitado em uma das espreguiçadeiras. Óculos escuros, chapelão na cabeça, e um tipo de robe em volta do corpo.

- Ele está bem?

- Claro, - Frederico disse - você estava se cagando de medo não foi? Eu vi nos seus olhos.

Ele disse caminhando em minha frente em direção a piscina estava tocando uma música ao fundo.

Frederico fez a gentileza de abaixar o volume e dizer com orgulho que se tratava de uma fantasia para piano de Schubert, era tocada a duas mãos disse sorrindo felicíssimo.

Maicon olhou para mim e respirou fundo engolindo uns goles de alguma coisa que havia em uma xícara ao alcance de sua mão.

- Oi... - falei.

- Oi Yuri, - ele disse - desculpe me esquivar de você.

Enquanto a gente conversava Frederico segurando uma enorme haste com uma peneirinha em uma das pontas passava pela água da piscina.

- Não faz mal - eu disse - mas o que tenho para falar é algo bem grave Maicon.

- Não mais grave do que o que aconteceu comigo naquela noite... - ele disse e continuou - Frederico foi me encontrar no exato local onde você encontrou aquilo que me mostrou agora há pouco pelas câmeras. Sim, eu sei Yuri, eu sei de tudo.

- Meu deus Maicon isso é muito grave - falei.

- Ele me estuprou - Maicon abaixou os óculos - eu tive dois afundamentos de íris por causa daquele miserável. Adriano me espancou e se não fosse ele, se não fosse Frederico eu teria morrido.

- Eu não sabia - falei - desculpe. Oh meu amigo, me perdoe.

Eu segurei as mãos dele me agachando próximo. Os olhos de Maicon estavam oblíquos.

- Eu estou enxergando mal, perdi sessenta por cento da visão esquerda, e vinte da direita. Você não tem culpa de nada Yuri, foi tão vítima quanto eu mas não lamento o que aconteceu aquele desgraçado.

Eu respirei fundo observando o Frederico passando a rede pela água cristalina enquanto movia a cabeça de um lado para o outro.

- Agora que sei, - falei a ele. - Nem eu meu amigo, nem eu...

Ainda assim estava com o temor renovado de que aquilo tudo resvalasse em mim de alguma forma. Não queria estar envolvido e no entanto estava até o pescoço.

Dobraram o número de carros de polícia pela cidade. Em cada esquina havia uma viatura. Os números de executados triplicou. As vezes eu acordava, ensopado em suor, sonhando que estava sendo preso.

Eu comecei a trabalhar cada vez mais. Mas o caso do Adriano era o foco principal. Sempre que surgia algum indício novo, lá estávamos nós, esperando por mais misérias.

Minha hora de lazer além das aulas de fotografia que eram como consultorias a um grupo de fotógrafos de um ateliê renomado no centro da cidade. Eram as horas com Duval.

- Vocês estão namorando? - Juarez nos perguntou.

Eu e o Duval trocamos olhares e não respondemos.

- É o que tá parecendo... - Juarez continuou. - A putinha aposentou foi?

- Qual é Juarez? - Duval disse severo. - Vai ofender agora?

- Ah, então estão mesmo... - e começou a gritar pela casa. - Aé galera, temos um casal novo na casa.

Naquela mesma noite com a nuca no braço de Duval e o queixo em seu peito. Eu perguntei:

- Estamos namorando?

Ele uniu as sobrancelhas, coçou a barba do rosto, suspirou e olhou para cima, com a mão livre contou:

- Transamos quase todo dia, - ele disse. - Dormimos juntos quase todo dia. Tomamos banho juntos quase todo dia. Eu não estou fazendo essas coisas com mais ninguém. Estou saciado. E pensando em você mais do que o que deveria. Desgraça! Acho que estamos sim.

Ele veio para me beijar e senti seu coração pulsando mais vivo dentro do peito assim como o meu batia mais forte. A constatação de que estávamos juntos mesmo mudava um pouco as coisas, pelo menos dentro da minha cabeça.

- Mas você e o Lulu... - falei.

- Ele é um amigo, - Duval disse. - Não vou mentir e você mesmo viu a gente junto. Ele me curte bastante.

- Eu te vi? - me fiz de cínico.

- Viu sim, seu puto, - ele sorriu. - Mas o Lulu tem um defeito muito grande, ele sufoca, prende a gente.

Eu senti que o clima estava pesando um pouco e mudei de tom:

- Pensei que eu era o único cara que você ficava - falei - sempre foi tão machão...

Ele sorriu e puxando meu queixo rosnou:

- Eu sou machão caralho!

Ele enfiou a língua dentro da minha boca e desceu a mão por meu peito puxando minha perna para que eu montasse sobre seu pau. Eu não pensava em nenhum dos meus problemas quando pulava naquela rola porque era como pular num pula pula.

Eu acordei com um envelope ao lado da minha orelha na cama. Duval havia saído de madrugada para assumir um plantão.

- Chegou agora, - Betão disse apontando para o envelope. - Acho que vou ter que mudar de quarto hein? Você e o Duval não saem mais daqui.

Eu peguei o envelope e havia o timbre da polícia militar no logo em cima. Rasguei o papel.

- Aqui diz que preciso me apresentar na delegacia... - falei baixo.

Betão puxou o papel da minha mão.

- Que porra Yuri, o que você andou fazendo?

- Juarez está em casa? Ele é formado em direito não é? - perguntei.

Betão sacodiu os ombros e gritou para o corredor pelo nome de Juarez.

- Não sei se ele vai conseguir te ajudar - Betão disse - mas se for coisa simples acho que sim. Mas se a coisa ficar séria meu irmão é criminalista.

- Acho que não vai ser pra tanto é só para prestar esclarecimentos.

Eu liguei para o Maicon avisando que eu tinha recebido uma intimação. Ele implorou para que eu não falasse nada sobre o sequestro naquela noite. Mas tudo em mim dizia que o correto era abrir o jogo com a polícia.

Eu mandei uma foto do documento de intimação para o Juarez que respondeu rápido:

"- Deve ser por causa do vídeo mesmo Yuri, relaxa, e responde o que eles perguntarem."

Juarez disse em áudio. O problema era que eu não ia contar tudo "e se essa merda se virar contra mim depois? que situação de merda!"

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