Estações - Capítulo XIII: O OUTONO NO CERRADO

Da série Estações
Um conto erótico de Teça
Categoria: Lésbicas
Contém 1622 palavras
Data: 08/09/2024 11:38:46

No Cerrado, o outono pinta a paisagem com uma paleta de tons quentes, enquanto a brisa fresca suaviza o calor do verão. As gramíneas douradas se estendem até onde a vista alcança, e as árvores se despem de suas folhas em um espetáculo de amarelos e vermelhos vibrantes. Os rios, que antes corriam cheios, agora diminuem, se preparando para um longo descanso. As criaturas do Cerrado ajustam-se a essa nova realidade, seus sons e movimentos revelando uma resiliência silenciosa. A secura do outono é um prelúdio para a renovação que as chuvas trarão, um ciclo perpétuo de transformação e esperança. O Cerrado, com sua beleza austera e majestosa, aguarda pacientemente o retorno das águas, prometendo a continuidade de sua rica tapeçaria de vida e a eterna dança das estações

Ao chegar em nossa casa logo voltamos ao trabalho, sabíamos que faltava pouco para a fazenda estar bem e queríamos isso. Porém em poucas horas que estávamos ali ouvimos o irmão de Fernanda chegar para resolvermos as últimas questões sobre a fazenda, nos sentamos e em poucas horas tínhamos resolvido tudo. Na parte judicial estava quase resolvido, tinha apenas uma última audiência e estaria tudo resolvido.

Já estávamos a 3 anos ajudando com as questões da fazenda, as coisas com os pais de Fernanda não tinham mudado muito. Por outro lado Gisele e Fernanda se tornaram grandes amigas, eram bem mais que tia e sobrinha, se falam diariamente. Sabia que estava fazendo bem para Fernanda, mas não era substituta de sua mãe que ainda fazia muita falta. Mas em uma noite algo mudou, estávamos vendo um filme na nossa casa quando ouvimos batida na porta, ao abrir me deparo com os irmãos de Fernanda.

Oi Bianca, nosso pai faleceu teve uma parada cardíaca, nossa mãe está no hospital por causa de um desmaio de quando soube da notícia. A gente queria dar a notícia a Fernanda.

Claro, entrem, ela está na sala.

Ao contarem para Fernanda percebi seu choro e a abracei, eu estava ali do lado dela como ela esteve para mim quando meu pai se foi. Fomos ao hospital, deixei Fernanda lá e eu e um de seus irmãos fomos resolver as coisas do velório. Com tudo resolvido fui ao encontro de Feh, e ela estava aos prantos no hospital, achei que o pior tinha acontecido com sua mãe, mas estava enganada. Me aproximei e acalmei-a ficamos ali por quase uma hora com um abraço e um choro abafado.

Feh, quer falar o que aconteceu?

Minha mãe está bem, mas ela disse que depois de hoje não me quer perto da fazenda mais, e que eu sou uma vergonha para ela e meus irmãos.

Fernanda agora soluçava em meio ao choro, resolvi levá-la para casa, mas antes eu precisava fazer algo antes que eu me arrependesse. Me levantei e fui em direção ao quarto de Dona Teresa.

Dona Teresa, eu sei que a senhora não gosta nenhum pouco de mim ou aprova minha relação com sua filha, mas quero deixar bem claro que você está afastando de sua vida a pessoa que é um brilho inextinguível, uma força da natureza que transforma o ordinário em extraordinário. Essa mulher, sua filha, moveu montanhas para salvar a fazenda, tem duas formações e uma extrema inteligência e paixão por tudo o que faz. Ela ama muito a família e sempre fez tudo para ser o orgulho da senhora e de seu esposo. Se a senhora não consegue ver isso acima da sexualidade dela, quem perde é você, assim como perdeu sua irmã que a propósito é um ser humano maravilhoso e cheio de luz. Espero que a senhora reflita, pois acaba de perder o esposo e enxotar a filha ao mesmo tempo. Passar bem.

Sai dali ser dar direito a resposta e levei Fernanda para casa, em casa após um banho ela dormiu em meu peito, o velório e enterro seriam na manhã seguinte e eu tinha que estar bem para ela, mas não tirava da cabeça tudo o que havia acontecido. Decidi organizar a nossa possibilidade de saída da cidade, estava na hora de deixarmos a fazenda na mão dos irmãos de Fernanda.

Na manhã seguinte fomos ao velório e dona Teresa nem nos olhava, após o enterro já em casa decidi conversar com Fernanda sobre sairmos dali.

Feh, meu amor. Eu acho que depois de tudo devemos seguir nossos caminhos, ficamos aqui na cidade apenas para ajudar seus pais, a fazenda já está estruturada, o que acha de voltarmos a Sintra, ou nos mudarmos para Madrid? Ontem eu descobri que estão necessitando de um historiador de arte no Museu do Prado e em Sintra o Museu de Artes de Sintra precisa de um segundo curador. Claro que nos dois casos você também poderá trabalhar como advogada e eu já havia recebido ofertas nas duas cidades também.

Bibi, parece que você leu a minha mente, me conhece tão bem que parece mentira. Então em Sintra temos família, mas preciso de novos ares, vamos para Madrid eu amei meus dias lá, viver lá seria um sonho para mim.

Certo meu amor, eu já imaginava essa ideia então mandei seu currículo para o museu ontem a noite e já temos a oferta, basta você ler o contrato e aceitar a proposta. E quanto a mim, já tenho minha oferta para administrar a filial da galeria em que trabalho atualmente.

Eu te amo, como você pode pensar em tudo tão rápido. Tudo será perfeito.

Eu também amo você, e só pensei nas suas possibilidades.

Conseguimos nos mudar com 15 dias que havíamos decidido onde iríamos trabalhar e morar. Durante os primeiros meses passamos por adaptações de linguagem, costumes e aclimatação, mas quando percebemos já parecia que estávamos ali a anos. Fernanda se tornou referência tanto nas artes quanto no direito, e eu passei a produzir minha próprias peças ao mesmo tempo que trabalhava na filial da loja que estava em Sintra, consegui fechar um acordo de trabalhar 4 dias da semana, então normalmente na segunda eu me dedicava a minhas artes e o restante da semana era responsável pela loja.

Durante 4 anos Fernanda e eu estávamos em completa sincronia, tanto vida pessoal quanto profissional. Passamos a cuidar de nossos corpos fazendo musculação e yoga, o corpo de Fernanda estava incrível como nunca antes, e cada vez mais insaciável na cama, sempre tivemos momentos incríveis juntas. Mas no último ano as coisas deram uma mudada, acredito que 18 anos juntas deixa tudo mais frio devido a rotina. Fernanda não tinha tempo pois o museu estava com uma nova ala, e eu estava com uma expansão da filial e exposição de minhas peças em uma galeria. Mal nos víamos e quando acontecia estávamos sempre cansadas, não tocava Fernanda a quase cinco meses.

Minha exposição iria para o Brasil em um mês, passaria por todas as capitais brasileiras. Mas minha mãe pediu para eu fazer uma exposição em nossa cidade natal, eu achei que seria bom para nós e poderíamos ver de perto a empresa da família que já estava maior do que quando minha mãe foi para Portugal. Eu ficaria 40 dias no Brasil com a exposição e depois Fernanda viria para termos nossas férias nas praias brasileiras. Minha vida sexual estava igual ao outono no cerrado, seco, eu esperava que com as férias tudo ficaria melhor.

O que eu não esperava era ver Gabriela novamente. 19 anos e ali estava na minha frente, meu primeiro beijo e primeira mágoa. Ao olhar nos seus olhos eu me lembrei de como seus traços eram marcantes e em poucos segundos percebi como ela havia se tornado uma mulher de presença marcante e de beleza extraordinária. Ela me abraçou, e aquele abraço caloroso de Gabriela despertou algo adormecido em mim. Eu não tive sentimentos por ela, pelo menos não a via como mais que amiga, porém aquele toque me fez recordar o beijo que havia sido bom, e ao mesmo tempo o sentimento de ter tudo gravado. Me afastei dela.

Bianca, eu preciso me desculpar com você, mas não tive oportunidade, você se foi antes de eu entender o quanto errado aquela gravação foi. Quando recebi a notícia de que você estava na cidade resolvi te procurar, precisamos conversar muito.

Gabriela, não acho que seja preciso, já superei o que aconteceu.

Mas eu não, olha Bianca, eu não tinha certeza na época, mas desconfiava que poderia gostar de mulheres, e meus amigos fizeram piadas sobre eu sempre escolher você e os estudos para ficar com eles. E um dia, aquele maldito dia, se esconderam no meu armário sem eu saber, eu realmente queria lhe beijar, mas você correu, e meu pesadelo começou quando Tiago saiu do armário e disse que eu tinha sido perfeita e iria mandar o vídeo para todos. Eu estava sem chão e não sabia o que fazer. Acabei decidindo não falar com você naquele fim de semana, e na segunda o idiota do Tiago tinha espalhado o vídeo. Eu passei dias esperando você voltar à escola, mas nem sinal seu. Ouvi uma professora dizer nos corredores que você havia se mudado, então eu sabia que eu tinha errado muito com você.

Gabriela, aquele beijou abriu as portas da minha sexualidade e a destruiu tão rápido quanto. Eu fui para outro país, estudei muito e me tornei alguém melhor do que eu poderia esperar, encontrei uma companheira para a vida e estou bem.

E onde está ela? Nem aliança você está usando, talvez o relacionamento não esteja tão bem. Me deixa te lembrar daquele beijo?

Antes que eu pudesse dizer algo senti seus lábios em contato com os meus, e talvez pelos sentimentos do passado me vi retribuindo aquele beijo. Até ouvir uma voz conhecida me chamando.

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Comentários

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Teçá, que reviravolta! Achava que, pela mágoa da Bianca lá no início, haveria de fato algum tipo de situação forte, mas jamais que fosse outro beijo. Surpreendente! Ansioso pela continuação...

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Só me faltava essa para arrebentar com Fernanda de vez 😔

Só espero que isso não separe o casal para sempre e Bianca consiga ver o erro que cometeu e consiga o perdão da Fernanda 🙏🏻

Foi triste, mas foi um ótimo capítulo Teça. Parabéns 🤗👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

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Poxa as coisas vão ficar bem ruins, principalmente para Fernanda que perdeu o pai, foi expulsa pela mãe e provavelmente viu esse beijo. Posso estar enganada e não foi ela, mas mesmo assim as coisas vão ficar bem ruins para ela.

Muito bom como sempre Teça!

Já anciosa pelo próximo rsrs

Parabéns!

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