A Adriana surgiu pouco após dele, cumprimentando-me com um selinho na boca. Só então notei que a Andressa nos encarava com um sorriso meio invocado nos lábios e uma sobrancelha levantada. Fomos encaminhados a um dos quartos da casa e lá deixamos as nossas malas. Antes de sairmos a Andressa foi taxativa:
- Não me deixa sozinha, Túlio. Não estou com um bom pressentimento.
[CONTINUANDO]
- Você quer ir embora? Se quiser, a gente arruma alguma desculpa. Sei lá, a gente pode dizer que o Juninho teve um problema e tivemos que voltar.
- Não! Eu… vamos ficar mais um pouco. Talvez seja só impressão.
- Certeza?
- Não! Mas eu também não quero causar nenhum mal entendido, afinal, eles são amigos e também funcionários, né?
Ficamos. Após ela dar um “up” na maquiagem, pois queria se valorizar um pouco mais, saímos do quarto. Fomos cruzando com várias pessoas, sempre seguindo o som de música e chegamos ao quintal. Ali vimos que numa lateral da casa, ao lado de uma área coberta que servia de garagem, agora estava forrada de redes de balanço, pelo menos umas seis. Vimos também algumas barracas de camping montadas de um outro lado. Na piscina, alguns grupos nadavam, brincavam e conversavam, e todos nos cumprimentaram conforme nos aproximamos para seguir até o rancho da churrasqueira. Retribuímos a gentileza naturalmente. Ali no rancho, o Celão rebolava sozinho ao som de uma música do Aviões do Forró e quando viu a Andressa gritou:
- Aí, baixinha, essa é pra você!
Nem bem terminou de falar, veio rebolando para o nosso lado e a puxou pela mão. Ela me olhou por um instante, meio em dúvida, mas acabou se rendendo a simpatia do negão, deixando-se levar. Não posso negar que ele tinha uma certa razão, pois a música fazia jus a minha esposa:
“Essa morena
Mais gostosa
Que eu encontrei para amar
Quando passa
Para
Tudo faz a galera delirar!
Mexe a bundinha
faz dedinho na boquinha
Pega na minha mão
E vai na sua cinturinha
Vai descendo até o chão
Põe a mão na minha mão
e sobe, sobe, sobe
Que explodiu meu coração
Que explodiu meu coração
Gosto tanto de te ouvir dizer
Que sou teu gato
Gosto tanto de ver fazendo amor no carro”
Cheguei na churrasqueira, onde o Alvarenga me apresentou o Madureira, amigo seu de épocas escolares e que havia assumido a direção dos assados no dia. Serviram-me uma batidinha de coco e ficamos de papo. Só nesse momento estranhei uma ausência: a do Valentim! Não o vi em local algum e considerando o seu interesse pela Andressa, era de se esperar que, se estivesse no sítio, já estaria rondando a minha esposa. Preferi não perguntar para não criar uma imagem de interesse, tudo o que eu não precisava eram de expectativas. Minutos depois, a Andressa retornou, entrelaçando os dedos de sua mão na minha, mas sorrindo, embora um pouco descabelada:
- O Celão hoje tá impossível! Tive que sair correndo ou ele ia me amarrotar inteira.
- Quer? - Ofereci a batidinha.
- O Celão!?
- Não! Batidinha…
Ela ficou vermelha e deu uma risada, pegando e tomando um gole. Acabou se apossando do copo, sabendo que eu não curto muito bebidas doces. Fui até a geladeira e peguei uma lata de cerveja. Fomos então dar uma volta pelo sítio e pegamos o rumo do laguinho atrás da churrasqueira, nosso local favorito, pelo menos o meu, porque foi ali que ela pareceu despertar para o risco que o nosso relacionamento correu. Sentei no banquinho e ela no meu colo:
- Está mais tranquila? - Perguntei.
- Analisando…
- Analisando?
- É! Sei lá… Não sei dizer ainda, mas alguma coisa está… diferente…
- Quer conversar?
- Está tudo bem. Deve ser coisa da minha cabeça ou então foi o tanto que a Nanda me aconselhou. Sei lá… Vamos curtir nós dois, porque acho que isso nós merecemos, certo?
- Estou totalmente de acordo!
Trocamos um beijo bem gostoso que só não foi melhor porque uma voz nos assustou:
- Fala, casal!
Eu não precisava olhar para trás para reconhecer o interlocutor, mas ela já o olhava com uma certa surpresa no olhar, entretanto, diferentemente das outras vezes, não parecia muito feliz em vê-lo. Acabei me virando também somente para ver o Valentim se aproximando com um grande sorriso no rosto:
- Atrapalhei, né? Desculpa!
- Atrapalhou, né, Valentim! - Disse a Andressa com uma carinha invocada que se desmanchou num sorriso cordial: - Mas fica tranquilo. Terei muito tempo ainda para beijar o meu marido.
Ela se levantou e o abraçou, dando um beijo no rosto dele, por isso sendo cobrada:
- Poxa! Só no rosto?
- Claro que é só no rosto! Sou uma mulher séria e ainda estou na frente do meu marido, ué? - Ela retrucou, rindo.
- Então, pelas minhas costas, você beija ele, né? - Brinquei.
- Ah, bobo! Não foi isso que eu quis dizer.
- Vamos testar? Túlio, vira de costas! - Pediu o Valentim.
Eu sorri, olhando no fundo dos olhos da Andressa e me virei de costas. Entretanto, ela certamente surpreendendo o rapaz, disse um audível:
- Não, Valentim. Agora não!
Curioso, curiosíssimo aliás, virei-me na sua direção para ver que ele estava de frente para ela, mas ela estava com uma mão à frente da boca dele, impedindo o contato que ele pretendia fazer pelas minhas costas. Ele a soltou e deu um passo para trás, sorrindo, mas não se deu por vencido:
- Tá! Ainda é cedo. Mas quem sabe mais tarde, não é?
- Quem sabe… - Ela respondeu, voltando a me abraçar.
Ele saiu e voltamos às posições iniciais, comigo sentado no banquinho e ela sentada no meu colo. Então, perguntei:
- Não quis beijá-lo?
- Você sabe que eu quero, mas… - Fez uma pausa, pensando no que dizer: - Como ele mesmo disse, ainda é cedo.
- Você sabe que eu não teria ficado bravo com você só por um beijinho, não sabe?
- Sei, amor, afinal está dentro do nosso acordo, não é?
- Isso!
- Mas ainda assim não tive vontade. Estranho, né? Acho que eu estou tão bem com você que não que… Ah! Quer saber? Vamos curtir nós dois! O resto deixamos para depois.
Aquelas palavras eram música para os meus ouvidos. Ficamos ali namorando por bons minutos. Literalmente, perdemos a noção do tempo, tanto que fomos interrompidos com convites para nos juntar aos demais pelo Alvarenga, pela Adriana, pelo Celão e um outro que havíamos conhecido no dia, mas eu não me lembrava o nome:
- Jura! - Ela falou.
- Jurar? Jurar o quê?
- Não! O nome dele é Jura, aliás, é apelido. O nome dele é Jurandir.
- Já decorou até o nome, hein… Interessada? - Brinquei.
- Ah, demais! Você não viu o tamanho dele? Alto, forte, tem um jeito de safado… Acho que me apaixonei!
Dei uma risada da cara divertida que ela fez e ela riu junto. Então, conclui:
- Safado é o que não deve faltar aqui hoje, né?
Ela concordou com um movimento de cabeça e me convidou para entrarmos no rancho, pois o calor do Sol já estava incomodando.
Retornamos e sentamos numa mesa com um casal que estava só até então. Eles se apresentaram novamente como Rivonaldo e Silmara. O nome era difícil de entender e mais ainda de esquecer. A esposa começou a rir da nossa cara e explicou:
- Nomezinho complicado mesmo… Todo mundo o chama de Riva e eu até prefiro! Podem me chamar de Mara também. - Falava sempre com um belo sorriso nos lábios carnudos: - Não me lembro de vocês por aqui…
- Somos amigos da Adriana e do Alvarenga. Eu sou a Andressa e o meu marido é o Túlio.
- Ah! Vocês são os patro-migos deles… A Adriana já falou de vocês para a gente. Muito prazer. - Ela complementou.
- Rivonaldo… - Resmungou o Túlio, fazendo o cara rir alto.
- Pois é! Meu pai se chama Ronaldo e minha mãe, Rita. Eles misturaram o genoma e depois se acharam no direito de misturar os nomes… - Falou rindo também.
Passamos a conversar e eles nos contaram que eram médicos estabelecidos em Campinas. Acabamos criando uma boa afinidade com eles e praticamente passamos todo esse primeiro dia juntos, conversando, trocando ideias, tanto durante o churrasco, como depois na piscina e no começo da noite, quando inventaram de acender uma fogueira no pátio central, próximo à piscina. Ele era um branquelo, de cabelos cinzas e média estatura, mas de olhos bem azuis e ela uma loira de bunda e seios médios, praticamente da mesma altura do marido, com olhos castanhos claros. A forma física de ambos não impressionava, eram meio cheinhos, mas formavam um casal muito divertido, simpático e bem culto, e isso os deixava bastante charmosos e requisitados, pois vários vieram até a nossa mesa conversar com eles e através deles acabamos conhecendo mais intimamente outros dois casais, Silvano e Alexandra, e Marmita e Belinha, formando um grupo que se manteria coeso pela noite:
- Ah, gente, desculpa, mas eu preciso saber! - Falou a Andressa com um sorriso envergonhado no rosto: - Por que Marmita?
Os casais se entreolharam e riram da pergunta, mas o próprio Marmita, sorrindo, explicou:
- Eu comecei a frequentar o grupo quando ainda era solteiro. Então, eu era marmitinha de casal, entende?
- Entendi não… - Andressa resmungou, após me encarar em dúvida.
- Eu era… como posso explicar… eu servia linguiça para os casais, entende? - Ele insistiu, ainda sorrindo.
- Não só servia como também levava! - Falou o Silvano.
- Isso foi umas duas… três vezes só! - Retrucou o Marmita, olhando para a gente e se explicando para a Andressa: - É que o cara, quando é bonitão assim como o seu marido… Eu… sou meio bi, entende? Então, acabava rolando.
A Andressa ficou roxa com a resposta e caiu numa risada nervosa, levando todos a gargalhar, principalmente quando o Marmita insistiu:
- Mas depois que eu casei, virei espada! Né não, encardida? - Perguntou para a Belinha, sua esposa.
- Se você tá falando, né… - Ela deixou no ar, fazendo todos gargalharem mais ainda.
Ele era um moreno, alto e forte, de cabelo e barba cerradas bem pretos, mesma cor do olho. Já ela era uma mulata de olhos pretos e seios médios, mas dona de uma bunda grande e redondinha, talvez acentuada pela sua cintura fina, de altura aproximada à minha. Realmente, eles formavam um dos casais mais bonitos do sítio naqueles dias.
Já o Silvano e a Alexandra tinham corpos e alturas normais, ambos morenos, mas ela de ascendência japonesa. O que impressionava nela eram os seios, bem grandes, enquanto a cintura e a bunda seguiam um padrão mais “oriental”.
A certa altura da noite, os casais começaram a se embalar em músicas, talvez tentando criar um clima. Até mesmo eu e a Andressa nos aventuramos em trocar parceiros de dança e foi numa dessas, enquanto eu dançava com a Alexandra que ela me perguntou:
- Curti muito você, Túlio. Quem sabe não acontece da gente ficar juntos mais tarde? Assim mais… intimamente.
Expliquei rapidamente a nossa situação para ela que, surpresa, falou:
- Sério!? Eu nunca imaginaria que vocês ainda não eram do meio. Vocês estão tão tranquilos, tão entrosados com todos, que imaginei que já fossem experientes.
- Que nada! Somos curiosos, mas experiência, temos pouquíssima, quase nada.
- Gente, agora fiquei com mais vontade ainda. - Ela disse e riu, mas logo explicou: - Desculpa! É só uma brincadeira, mas tem o seu fundo de verdade. Caso tenha gostado de mim e se quiser… assim… ser iniciado, eu a-do-ra-ria!
Alexandra era realmente uma nissei muito bonita, tendo um rosto que lembrava uma boneca de porcelana. Seus olhos deixavam transparecer algo que me deixava muito excitado. Olhei de lado rapidamente e vi que a Andressa rodopiava na mão do Marmita, rindo de alguma coisa. Acabei me deixando levar e troquei um beijo com a Alexandra, nada muito intenso e ainda me justifiquei depois:
- Não é um sim, mas também não é um não! Vamos deixar acontecer, ok?
- Claro, querido! - Ela respondeu, beijando-me a boca novamente para depois encostar a cabeça do meu peito para continuarmos no embalo da música.
Uma pulga picou atrás da minha orelha e olhei na direção da Andressa. Acertei em cheio! Ela me encarava com olhinhos meio espremidos, fazendo uma expressão um tanto quanto invocada, mas que se desmanchou num lindo sorriso e num beijinho à distância, acompanhado de uma piscada de olho. Terminada essa música, quando novos casais começavam a se formar, menos o meu, pois a Alexandra não parecia disposta a me largar, pedi:
- Deixa eu dançar uma com a Andressa, Alexandra? Preciso conversar com ela e ver se está tudo bem.
- Para nós dois!? - Olhou-me com um sorriso nos lábios e uma esperança no coração.
- Para não haver mal entendidos!
Ela concordou e fui até a Andressa que já estava sendo envolvida pelos braços do Valentim, surgido sabe-se Deus lá de onde. Antes que eles dessem os primeiros passos, falei:
- Caríssimos, preciso ter um dedo de prosa com essa moça aí!
- Peraí!? A regra é clara: casal não pode dançar juntos! - Ele retrucou, sorrindo.
- Pois é! Mas você não ficará no prejuízo. Vou lhe ceder esta linda dama, enquanto saio da pista com a morena sorridente que não para de me encarar. - Falei, olhando para a minha esposa.
- Pô, Túlio, cara, sério!? - Ele resmungou.
- Deixa o casal, Valentim. Dança uma comigo. Depois, você convida a Andressa novamente. - Falou a Alexandra, praticamente tirando-a das mãos dele.
Comecei a dançar com a Andressa e já fomos interrompidos pela Adriana, que rodopiava com o Riva:
- Casalzinho que não respeita a regrinha da casinha fica de castiguinho na cadeirinha, e separadinhos…
- Amiga, dessa vez não vai dar: precisamos conversar! - Disse a Andressa, me arrastando para fora da “pista”.
Fomos para dentro do rancho. Peguei uma cerveja e ela uma batidinha de morango. Então, nos sentamos num canto, sozinhos, e ela começou:
- Antes que você pergunte… Sim! Eu vi, seu safado! - Disse com um sorriso no rosto.
- Devo pedir desculpa?
- Claro que não! Você não fez nada fora do nosso combinado.
- Certo…
- Tá querendo me dizer alguma coisa, Túlio?
- A Alexandra me convidou…
- Aham… Só ela?
- As outras se insinuaram, mas ela fez praticamente um convite mesmo.
- E o que você está querendo? Mudar as regras? Ser liberado?
- O que você acha? Estamos prontos?
A Andressa tomou um grande gole, olhando para a pista de dança, talvez pensando nas consequências daquela noite e após suspirar profundamente, falou:
- Eu já me sinto pronta há muito tempo, Túlio. De verdade! Mas optei por esperar você ficar pronto. Se você estiver e quiser ir adiante, vá sem medo. Eu… - Suspirou profundamente, olhando para o copo e continuou: - Eu não pensava que seria assim, você com outra. Juro que não! Eu imaginei que a gente seria um casal como o Alvarenga e a Adriana, mas depois que conhecemos o Mark e a Nanda, e depois esses outros casais aqui, vi que não seria justo te segurar para eu aproveitar. A não ser que você quisesse, mas acho que não é o seu perfil, né?
- Ser corno?
- É… - Disse fazendo um movimento de ombro ao mesmo tempo: - O meu corninho, mas sem humilhação. Só ser meu…
- Se for para ser corno, quero ser como o Mark, é… Como ele disse mesmo?... Ah é: um corno ativo! - Falei, dando uma risada.
Ela também riu e se levantou do meu lado, sentando-se no meu colo e me dando um beijo intenso, profundo. Ao final, ela me disse:
- Vou deixar a decisão nas suas mãos. O que você decidir, eu topo.
- Não! A decisão tem que ser nossa! - Retruquei.
- Eu já tenho a minha decisão: eu quero experimentar. Pelo menos, uma vez na vida, eu quero. Agora, estou deixando você dar o primeiro passo. Enquanto você não me disser “vamos”, eu não vou.
O que eu não queria acabou acontecendo: o peso recaiu todo novamente sobre os meus ombros. Infelizmente, eu já esperava por isso. A Andressa tinha uma certeza invejável do que queria, faltava eu me decidir para que aquilo acontecesse e o problema era esse, o medo das eventuais consequências. Acabei não confirmando, mas também não negando e voltamos de mãos dadas para junto dos outros casais. Assim que nos viu perto da pista, o Valentim e a Adriana, que agora dançavam juntos, vieram para perto de nós, ele para convidá-la e ela para me convidar. Quando eu já ia dando um selinho na Andressa para liberá-la, veio a surpresa da noite e ela recusou o convite:
- Mas por que não, Andressa!? - Perguntou o próprio Valentim, mais surpreso do que eu.
- Só quero curtir um pouco a noite com o Túlio, Valentim. Mais tarde, a gente dança um pouco. - Então ela se virou para mim e falou: - Mas se você quiser dançar com a Adriana, fica à vontade, amor.
Acho que a surpresa foi tanta para todos que a própria Adriana desistiu do convite, dizendo que preferia deixar os dois pombinhos arrulharem juntos um pouco. Acabou que não dançamos com mais ninguém e ficamos interagindo com os casais de amigos que fizemos nessa noite. Já entrando pela madrugada, notamos que alguns grupelhos já se formavam pelos cantos, alguns indo para barracas, alguns para cantinhos mais escuros... Demos a clássica desculpa de estarmos cansados e retornamos apenas nós dois para o nosso quarto. Como a festa seguia sem hora para acabar, acabamos transando, mas de uma maneira mais comedida, sem querer chamar a atenção de ninguém. Não sei a que horas a festa acabou, mas quando terminou a gente já dormia há algum tempo.
Acordei no dia seguinte sozinho na cama. Não foi a melhor das sensações, mas pelo número de pessoas na casa, eu também não acreditava que a Andressa estivesse fazendo algo de errado. Levantei-me, coloquei um calção, uma camisa básica e chinelos, descendo para a área social. Havia gente dormindo por todo lado: na sala, nos quartos, no corredor, até na despensa. A cozinha estava vazia e não vi sinal algum da Andressa. Quando ia saindo da casa, em direção à piscina, encontrei com a Belinha, vestida num biquíni amarelo microscópico. Ela veio me dar bom dia, espontaneamente com um selinho. Lógico que me surpreendi, mas o estrago já estava feito: o meu pau endureceu. Naturalmente, ela notou e sorriu, pedindo desculpas pela ousadia. Perguntei da Andressa e ela sem tirar um sorriso do rosto, falou:
- Ela tá lá no rancho, mas…
- Mas?... - Perguntei, curioso.
- Não, é que… ela… tá no colo de um dos convidados.
- Ah… - Respirei aliviado e expliquei: - Está tudo bem. Ela tem alguma liberdade para isso.
- Ah! Que bom! Fico feliz que já estejam se habituando.
Segui a caminho do rancho, cumprimentando quem eu encontrava. De longe, vi que a Andressa estava no colo do Valentim e ela, quando me viu, fez menção de se levantar, mas foi contida por ele que lhe disse alguma coisa. Ela não se deixou convencer e lhe deu um selinho, levantando-se e vindo toda serelepe na minha direção. Quando enfim se aproximou, abraçou-me e depois me olhou bem no fundo dos meus olhos com um certo receio. Eu a beijei e reclamei:
- Precisava me deixar sozinho na cama?
- Desculpa, amor, mas você estava dormindo tão gostoso que não quis te acordar. Prometo que não vai se repetir. Prometo. - Ela então mordeu levemente os lábios e disse: - Eu sei que você viu. Desculpa por isso também…
- Pelo selinho que deu nele?
- Por isso, mas também por eu estar no colo dele e por tê-lo beijado novamente, algumas vezes…
Respirei fundo, engolindo o meu orgulho de macho másculo hétero tradicional e sabendo que na noite anterior eu também havia beijado outra, nada falei. Ela sentiu uma certa tensão e somente ficou abraçada a mim. No final, fui sincero:
- Tá bom. Chifre trocado não dói: eu beijei, você beijou e está tudo dentro do combinado, não é?
- Você ficou chateado. Eu sabia…
- Acho que fiquei mais chateado por você ter saído de fininho para fazer isso, do que se tivesse feito na minha frente como eu fiz ontem, ou talvez até me avisado. Mas está tudo bem! Dentro do nosso combinado, não há o que reclamar.
- Sério?
- É claro! - Falei, mas questionei quase que imediatamente: - Por que? Rolou mais alguma coisa?
Ela suspirou profundamente e fez a cara mais culpada que conseguia para na sequência dar uma deliciosa risada e falar:
- Não, seu bobo, nada! Só fiz isso para ver a sua carinha. Já tomou café?
- Ainda não.
- Então, vem.
Puxou-me para o rancho onde havia uma imensa mesa de café com diversas guloseimas e produtos para os mais variados gostos. Ela me colocou sentado numa cadeira e sabendo do que gosto, começou a me servir. Por fim, sentou-se no meu colo e começou a comer junto, tratando-me na boca. O Celão, que estava ao lado do tal Jura, não perdeu a chance:
- De mim você não tratou com esse carinho todo, né?
- Isso aqui é por merecimento, Celão. Meu amor merece! - Ela retrucou, enfiando meio pão de queijo na minha boca.
- Merece isso e muito mais, né, não? - Ele retrucou e eu o encarei.
- Mais o que exatamente? - Ela insistiu.
- Ué! Ó só o tanto de mulher que tem aí... Libera o rapaz, Dressinha, deixa o menino ser feliz.
- Você não é feliz só comigo não, amor? - Ela me perguntou, tentando ser romântica.
Sorri de imediato, afinal, a sua pergunta era uma faca de dois gumes e decidi usá-la rapidamente. Engoli quase me engasgando com o quitute e perguntei:
- A pergunta é boa e a recíproca verdadeira! Você não é feliz só comigo não, amor?
Ela me encarou e sorriu timidamente, entendendo a invertida que eu lhe dera, mas não fugiu de respondê-la. Ao contrário, segurou o meu rosto, olhando bem no fundo dos meus olhos e disse:
- Sou a mulher mais feliz do mundo. Tive a sorte de ser encontrada e escolhida por um homem maravilhoso, ótimo profissional, pai de família espetacular e que amo de todo o coração. - Claro que abri um sorrisão, mas ela tinha mais para dizer: - Mas não vejo problema algum da gente se divertir com outras pessoas, desde que isso não cause problemas em nosso casamento, entendeu?
- Apoiado! - Gritou o Celão.
- Oxi!... De acordo! - Falou o outro, o tal de Jura: - “Exclusive”, tô aí se precisar de uma mãozinha ou de outra parte, né!?
- Entra na fila, Jura! Essa linda aí já tem fila de espera até 2030! - Falou o Celão, dando uma gargalhada das dele e brincando com a Andressa: - Nas primeiras colocações, estamos eu e o Valentim, né, não, Dressinha?
A Andressa riu da brincadeira sem tirar os olhos de mim e depois desdenhou:
- Só sei que o Túlio é o único com cadeira cativa. Dos outros, não sei nada…
Os dois começaram a gargalhar e se levantaram. Ao nosso lado, primeiro passou o Jura, depois o Celão que não queria se dar por vencido e se abaixou na direção da Andressa, dando-lhe um beijo na testa e dizendo:
- Cê é muito gente boa, Dressinha, gosto de você. - Depois olhou para mim e deu dois toques no meu ombro: - Aliás, de vocês dois! Curto demais brincar com vocês e espero que não levem a mal minhas piadas.
- Claro que não, Celão. - Disse a Andressa, beliscando a sua bochecha.
- Só não esquece do negão aqui quando se decidirem divertir um pouco mais.
A Andressa deu uma de suas risadas nervosas e negou com a cabeça, olhando instintivamente na altura da púbis do amigo. Depois disse:
- Ai, Celão, você é um amor, mas… né!? Não dá… Olha… Olha o tamanho disso!
Ele se abaixou olhando bem no fundo dos olhos dela e falou:
- Baixinha, o negão aqui é brincalhão, mas quando a coisa fica séria, sabe tratar uma mulher como ninguém. Me dá uma chance e te garanto que cê não vai se arrepender.
Depois de encará-lo em silêncio por alguns segundos, o máximo que ela conseguiu fazer foi dar outra risada, ainda mais nervosa, e dizer:
- Tá bom. Eu vou pensar com muito carinho no teu assunto…
Eles se foram e mais pessoas começaram a chegar para tomar café. Quando eu estava quase terminando, o Valentim entrou, olhou para todos os lados e me encarou:
- Você! - Disse apontando para mim e depois apontou para mais uns cinco homens ali: - Você, você, você, você e você. Vamos lá, moçada, bater uma bolinha. Sem desculpa. Vai. Só para diversão. Vamos lá, Túlio. A Andressa deixa você jogar bola, não deixa?
- Eu nem sabia que o Túlio jogava bola. - Me encarou, curiosa: - Você joga, amor?
Claro que eu jogava, só fazia anos que eu não colocava o pé numa pelota. Fomos para um descampado, onde alguns já haviam improvisado duas traves de bambus e ficamos fazendo umas brincadeiras de passe enquanto os demais convidados não vinham do rancho do café. Após alguns bons minutos, eles chegaram e separamos a macharada em dois grupos, um com cinco e outro com quatro. Nesse momento, uma moça forte, bombada, cria de academia, chamada Marcela, se ofereceu para completar o time. Como ela era mais forte que muitos dos homens ali, ninguém se opôs.
No meu time, ficamos eu, Marmita, Riva, Silvano e Jura. No outro, Valentim, Alvarenga, Marcela e dois solteiros com quem não cheguei a interagir muito na noite anterior e por isso não lembrava os nomes. A partida foi rápida, pelo menos para mim não durou mais do que dez minutos, tudo porque o filho da puta do Valentim deu uma entrada violenta que só não me estourou os joelhos porque quando vi que o choque era inevitável, tirei o pé do chão para não travá-lo, só recebendo a pancada. Sai no mesmo instante, carregado no colo pela Marcela que também saiu para equilibrar os times novamente, agora num “4 x 4”. Fui atendido pela Mara que foi taxativa no diagnóstico:
- Analgésico, compressa e muito carinho, dona Andressa.
- Mas eu vou sobreviver, doutora? - Brinquei com ela que caiu numa risada.
- Sobreviver!? Você já pode voltar a jogar se quiser. - E virando-se para a Andressa, falou: - Isso aqui é dengo, querida. Só dar uns beijinhos que sara!
Voltei para o rancho, mancando um pouco porque apesar do diagnóstico, doía um pouco, mas nem remédio tomei, preferi uma bela e estupidamente gelada cerveja. Ali no rancho, eu me senti um verdadeiro Marajá, rodeado por várias mulheres, uma mais bela que a outra. Por eu ser o único homem naquele momento e sofrendo da minha condição “debilitante”, todas se dispuseram a me dar um pouco de seu carinho. Foi hilário ver a cara da Andressa a cada aproximação mais ousada. Melhor ainda foi quando a Marcela se aproximou e perguntou se eu precisava que ela me levasse para algum lugar. A Andressa a encarou, mas a marombeira não amoleceu, falando ainda um simples “O quê?” com uma voz rouca e mais grave, que fez a Andressa murchar na cadeira.
Quando a Marcela me encarou novamente e piscou com um olho, sorrindo, entendi que era tudo uma brincadeira e aí abusei:
- Poxa, Marcela, acho que um banho viria bem a calhar…
- É pra já, meu gostoso! Vamos lá que eu te ensaboo inteirinho… - Disse e se abaixou como se fosse me pegar.
- Túlio!? - Falou a Andressa, surpresa.
Nós a encaramos e começamos a rir da cara que ela fez. A Marcela foi até ela e a abraçou, dizendo que era tudo uma brincadeira e como eu também ria, a Andressa entendeu ter caído numa pegadinha. Antes de nos deixar, a Marcela falou:
- Mas se precisar de ajuda mesmo, tô aí! É só pedir que eu me garanto, viu, Tutu?
Assim que ela se afastou, a Andressa me encarou e falou:
- Tutu!? Que mané Tutu é esse, amor?
- Sei lá.
- Deve ser Tutu, de Túlio, de Tutu de Feijão… é tudo gostoso de comer! - Falou uma loira cujo nome esqueci, mas que estava sentada praticamente ao nosso lado.
- Que comer o quê, meu! Sou espada, ninguém me come não! - Falei, dando uma risada e sendo seguido por quase todas.
[CONTINUA]
OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO SÃO FICTÍCIOS, MAS OS FATOS MENCIONADOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL PODEM NÃO SER MERA COINCIDÊNCIA.
FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DOS AUTORES, SOB AS PENAS DA LEI.