Assim que ela se afastou, a Andressa me encarou e falou:
- Tutu!? Que mané Tutu é esse, amor?
- Sei lá.
- Deve ser Tutu, de Túlio, de Tutu de Feijão… é tudo gostoso de comer! - Falou uma loira cujo nome esqueci, mas que estava sentada praticamente ao nosso lado.
- Que comer o quê, meu! Sou espada, ninguém me come não! - Falei, dando uma risada.
[CONTINUANDO]
Todas riram e uma ruiva com cara de intelectual, puxou um assunto, tentando desvendar porque os homens falam que comem as mulheres se são elas que tem os três buracos que engolem as linguiças deles. O pior é que o assunto rendeu! Logo, ela e a Mara, a outra intelectual do grupo começaram a teorizar, provocando uma verdadeira discussão bastante divertida. No final, chegaram à conclusão de que havia sido uma indevida apropriação do termo pelo patriarcado arcaico, visando diminuir a relevância da mulher no embate sexual:
- Você não concorda, Tu-Túlio? - Perguntou a ruiva, chamada Valeska.
Fiquei um momento em silêncio, olhando para a carinha invocada da Andressa e pensando em como não me queimar, porque qualquer resposta poderia ser mal interpretada. Decidi ser político:
- Para mim, não importa quem come quem, desde que ambos tenham prazer.
A Andressa agora me encarava com curiosidade e entendi de imediato o motivo. Perguntei então, meio encabulado:
- A resposta não ficou boa, né?
- Depende. Desde que você não comece a dar ao invés de me comer, por mim está tudo bem.
As gargalhadas ecoaram longe. Ficamos de papo e após uma hora aproximadamente, os homens voltaram. O Valentim veio me pedir desculpas e a Andressa lhe passou um sermão violento. O mais leve das palavras foi “irresponsável”. Xingamentos? Foram vários!
O dia transcorreu sem maiores novidades. Comemos, bebemos, nadamos, bebemos, bebemos mais um pouco e no final do dia já tinha marmanjo dormindo abraçado a um cupinzeiro num canto perto do pomar do sítio. Sem grandes novidades, o romântico ser ecológico era o Celão, bêbado igual um gambá. Os casais decidiram por maioria dar uma parada na “bebelança”, para tomarmos banho e descansarmos para o baile temático daquela noite.
Acabamos ficando eu, Alvarenga, Marmita e Silvano para trás, para dar uma limpada rápida e organizar o espaço para logo mais. Conversávamos sobre vários assuntos, bebericando, quando a Adriana retornou:
- Túlio, a Dre quer falar com você lá no quarto e disse que tem que ser agora.
- Tá. Só vou terminar rapidinho aqui e…
- Fica tranquilo, cara. - Interrompeu-me o Marmita: - Vai lá que a gente dá conta!
Ela pegou no meu braço para me acompanhar casa adentro. No curto trajeto, assim que nos afastamos alguns passos do Alvarenga, passou a falar:
- Olha só... Poxa, Túlio, ela tá louquinha para brincar. O que está faltando para você liberá-la de vez? É o Valentim? Não gostou dele? E não venha me dizer que “não”, que eu te vi com a Ale. Sei que você também está afim.
Ignorei praticamente tudo o que ela disse para dizer um “Ele parece simpático…”, fazendo ela quase me xingar:
- Só!?
- Quer que eu diga mais o quê, Adriana? Que ele é lindo, maravilhoso, um sonho?
- Ué!? E não é?
- Pra mim não! O cara quer foder a minha mulher…
Ouvi um sermão quase repetitivo dos mesmos e mesmos argumentos, mas não os enfrentei. Chegamos à frente da porta do nosso quarto e ela deu dois toques, dizendo que havíamos chegado. Lá de dentro, uma outra voz, muitíssima conhecida por mim disse que poderíamos entrar. Adriana abriu a porta e entramos, mas sem fechá-la, avisou:
- Dre, eu vou ali me arrumar para a noite, ok? Fiquem à vontade aí e… Ah, Túlio, pensa com carinho no que eu te falei. Cara, você só tem a ganhar!
- Dri, eu só quero conversar um pouco com o Túlio, para esclarecer algumas coisas, tá? Depois a gente se encontra… - Retrucou a Andressa no meu lugar.
Adriana saiu do quarto e fechou a porta atrás de si. Só então pude olhar com um pouco mais de atenção para a minha esposa e notar como a Andressa estava ainda mais linda. Diferente do que eu esperava, ela estava apenas com um robe de cetim preto, sentada em frente a um espelho se maquiando:
- Não vai descansar um pouco, amor? - Perguntei.
- Estou bem, amor. Quero me adiantar aqui para não ser a última a chegar.
Deitei-me na cama e ela começou a falar sem parar, dizendo que estava gostando muito das companhias e se divertindo demais. Perguntei:
- E aquela impressão ruim, passou?
- Sabe que passou! Acho que devia ser alguma bobeira minha. Sei lá… - Olhou então para mim, sorrindo: - E você com a japinha? Ficaram só naquilo?
- Trocamos umas palavras agora há pouco, mas nada demais...
- E não quer?
- Andressa, Andressa, Andressa… Você sabe que o meu medo não é pelo agora, mas pelo depois.
Ela se levantou de onde estava e veio se sentar na beirada da cama, próxima a mim. Pegou na minha mão e perguntou:
- Do que você tem medo, Túlio? De eu deixar de te amar?
- Não sei, mas o risco existe. Olha o caso da Fernanda e do Mark.
Ela me encarou por bons segundos em silêncio e no final sorriu:
- Bobo! Acho que esse risco não existe, mas se você quiser só manter o nosso acordo, por mim está tudo bem.
- É!? E se na hora você quiser ir além? - Perguntei.
- Querer, eu quero, já te falei isso, mas não farei nada sem estarmos totalmente de acordo. Fica tranquilo. - Então deu um sorriso malicioso, piscando: - Mas, ó… não diga que eu estou liberada novamente porque eu posso acreditar, hein?
Sorri e ela gargalhou da própria piada, voltando a se maquiar. Eu acabei cochilando. Acordei não sei quanto tempo depois com ela me mandando aprontar para a festa. Quando olhei para a Andressa, meu queixo foi ao chão. Ela estava simplesmente deslumbrante, vestindo justamente a camisolinha preta rendada e transparente, cuja calcinha mal cobria a sua rachinha na frente e atrás era totalmente engolida pela sua linda bunda. Eu a olhei de cima a baixo várias vezes sem saber o que dizer e ela me perguntou:
- Estou tão indecente assim?
- Ahhhhh, está! Muito!
- Credo, amor! Quer que eu troque?
Eu não queria causar um embaraço ou cortar o clima descontraído que havia entre a gente e, afinal, um pouco de exibicionismo não era nada perto do que já havíamos experimentado:
- Não precisa, amor, você está linda. Só não sai do meu lado! - Falei, fazendo-a rir: - Quero ser o primeiro a comer.
Ela gargalhou alto e falou um simples “safado” para mim. Tomei uma ducha rápida e coloquei o meu pijama, um simples conjunto de short e camisa de botões de mangas curtas, de uma malha bem molinha e macia. Por fim, meus chinelos e estava pronto.
Ela para diminuir um pouco a carga de sedução de seus trajes, colocou uma pantufa amarela de patinho que adorava usar em casa. Eu encarei aquilo e ela disse:
- Exatamente essa a reação que eu espero: incredulidade…
Aproximei-me dela e já senti um perfume marcante, mas um pouco diferente do que ela estava acostumada a usar. Ela notou a minha confusão e me encarando com aquelas duas jabuticabas, ali emolduradas pelos seus lindos cabelos negros ondulados, perguntou:
- O que foi, amor? Você parece meio... perdido.
- Não, é que… tirando as pantufas, você está linda, amor! Tem certeza que quer descer?
- Ué! Eu pensei que a gente quisesse! Não quer mais?
- Olha só, amor... Depois de te ver assim, fiquei na dúvida.
- Só por isto aqui!? - Disse, passando a mão sobre o corpo e eu me aproximei, sendo contido por suas mãos: - Calma, amor, fica calmo! Vamos fazer assim: eu vou terminar de me arrumar, a gente vai lá fora e curtimos com eles, todos juntos. Se estiver tudo bem para todos e tiver que rolar, vai rolar, senão a gente curte sozinhos. O que acha?
Ouvimos dois toques na porta e a voz da Adriana ressoar, perguntando se podia entrar. A Andressa autorizou. Assim que ela entrou, já foi encarando e elogiando toda a produção da minha esposa, chegando a bater palminhas de felicidade, mas assim que seu olhar se fixou nas pantufas da Andressa, que soltou uma gargalhada das boas, ela a encarou e falou:
- Sério isso!? Pantufas?
- Eu adoro! São tão macias…
- Isso que é cortar uma mega produção pela metade… - Disse a Adriana, balançando negativamente sua cabeça: - Bem, vamos descer? A galera já começou sem a gente.
Descemos e já demos de cara com quatro cordas de lâmpadas que iam da área externa da casa até o rancho, iluminando todo o quintal central, onde também ficava a piscina. Nos enturmamos com todos e começamos a beber, conversar, analisar as produções de todos e só depois de um tempo encontramos o Celão peladão, balançando a sua jiboia de estimação. Ao ver o nosso olhar de incredulidade, já foi avisando:
- Esse é o meu pijama! Só durmo pelado.
- Não vou dançar com você. Sai pra lá! - Disse a Andressa, segurando firme no meu braço.
- Que é isso, baixinha? Vem curtir o negão e o seu preto aqui. - Ele falou, dando uma balançada na cobra.
- Nem a pau, Juvenal! - Ela retrucou.
A situação em que ele se encontrava não era única, pois logo vimos mais uns quatro vestidos com o mesmo “modelito”. O Valentim que surgiu um tempo depois, vestia uma simples cueca “slip” branca, quase transparente, mas ainda dentro “dos conformes”. O mais excêntrico de todos foi o Alvarenga que surgiu quase peladão; “quase” porque usava uma espécie de gaiolinha que mantinha seu pau enjaulado a cadeado. Vendo que nós o encaramos de olhos arregalados, deu uma debochada risada de si mesmo e fez o mesmo movimento do Celão, sem conseguir balançar nada e ainda falou:
- Adriana que me deu. Disse que é para garantir que eu não apronte. Vê se pode?
Eu não sabia o que dizer, nem a Andressa, por isso apenas nos entreolhamos, surpresos e um pouco constrangidos. Coube ao Celão quebrar o gelo, vindo até o Alvarenga e dando dois “petelecos” com os dedos na sua gaiolinha, falando horrores que iria fazer com sua mulher ainda naquela noite. O pior é que o Alvarenga parecia curtir tudo aquilo, algo que realmente eu não conseguia entender.
Alguns casais começaram a dançar e a regra da noite anterior foi novamente estabelecida: casais casados poderiam dançar apenas uma música juntos, depois não mais pelo restante do baile. Assim que terminamos de dançar a nossa música, fomos sentar numa mesa para beber um pouco. Logo, Riva e Mara vieram nos fazer companhia, ele vestido num pijama de mesmo estilo do meu e ela em um baby-doll de cetim vermelho. A Andressa começou a reclamar com ela sobre essa regra de casados não poderem dançar mais que uma música juntos e a Mara respondeu:
- Não pode dançar lá na pista, mas nada te impede de dançar aqui atrás da mesa.
Após bebermos um pouco e depois que o Marmita e a Belinha chegaram, ousamos dançar uma música atrás da mesa. A Adriana parecia um “bedel”, fiscalizando a todos em toda parte, tanto que quando nos viu, veio como uma abelha nos repreender. Assim que explicamos que não estávamos desobedecendo a regra, ela parou o baile para corrigir essa falha. Vencidos pela maioria, tivemos que desistir de continuar dançando juntos.
Voltamos a beber e conversar. Pouco depois, surgiram o Silvano e a Alexandra e também se sentaram à mesa conosco. Nossa conversa já durava bons minutos quando o Celão veio tirar a Andressa para dançar:
- Não vou! Você tá pelado.
- Eu durmo assim.
- Parabéns para vocês dois aí. - Ela insistiu apontando para o pau dele: - Mas eu não vou ficar me esfregando nesse bicho aí não. Vai que ele acorda.
O Celão ainda insistiu por bons minutos, mas nada dela concordar. Ele viu então a Marcela dando sopa na beirada da pista improvisada e foi tirá-la para dançar. Ela ainda deu uma bela conferida nele antes de aceitar, mas acabou topando. Nem cinco minutos haviam se passado e o Valentim surgiu, convidando a Andressa para dançar. Depois de uma rápida olhada para mim, vendo que eu não me importei, ela aceitou e foram para o meio da pista. Quase que imediatamente a Alexandra deu um beijo no marido e veio se sentar no meu colo. Eu a encarei surpreso e olhei para ele que apenas sorriu, fazendo um meneio de acordo com a cabeça:
- Vamos dançar? - Ela me pediu com uma vozinha rouca.
- Ué!? Va-vamos! - Concordei, gaguejando.
Alexandra, nissei, vestia um belo modelito que parecia um robe com motivos orientais, feito de ceda. Estava impressionantemente bela, mas não parecia confortável e perguntei na maior sinceridade:
- Você dorme… assim!?
- Não gostou?
- Não é isso… É lindo, mas não parece muito confortável.
- Na verdade, eu o uso mais quando quero seduzir o Osvaldo.
- Osvaldo!? Quem é Osvaldo?
- O meu marido! O Marmita…
Dançamos duas músicas, todas lentas, aliás, parecia que o DJ havia esquecido os outros ritmos em casa, porque só tocava lenta, romântica, música para se dançar grudadinho mesmo. Nós estávamos conversando a toda e sobre tudo, mas num momento em que ela me mostrava algo dentro do rancho, meu olhar cruzou com a Andressa, aos beijos com o tal Valentim. Eles, embora ainda na pista, já não dançavam mais, apenas balançando lentamente, enquanto as suas línguas bailavam dentro das suas bocas. Respirei fundo e desviei o olhar, afinal, era o combinado:
- Vamos lá pegar um pouco? - Alexandra resgatou-me dos meus pensamentos.
Apenas me deixei guiar e fomos para o Rancho, praticamente passando do lado da Andressa que sequer me viu, pois estava de olhos fechados, totalmente envolvida pelo beijos e carícias do Valentim. Entramos no rancho e vimos ali um tal de Ruan, um dos solteiros, debruçado sobre uma imensa melancia. A Alexandra me avisou:
- É quase um ritual fazer uma dessa em cada baile. A turma aqui costuma chamar de melancia atômica.
Em minha época na faculdade, eu já havia me deparado com algo parecido, só não tão grande como aquela. O Ruan já havia retirado, batido e coado a polpa da melancia, tendo reservado apenas o suco. Na casca da melancia, ele fez um buraco e adaptou uma torneirinha para facilitar o escoamento do produto. Só então encheu de gelo, retornou o suco da melancia e agora misturava vodca, cachaça, vinho, Campari, leite condensado e algumas especiarias que, quando perguntei o que era, ela só me disse:
- É a alma da festa em pó, meu amigo. Cê vai curtir pra caraio! Guenta aí…
Olhei desconfiado para a Alexandra, já me recusando em experimentar e ela cobrou o Ruan que apenas falou:
- Tem gengibre, canela, cravo-da-índia, pimenta e noz-moscada, mas não falo a quantidade de cada uma: Isso é segredo meu!
Vendo que eu seguia curioso, ele completou:
- Relaxa! É só para animar e aquecer essa galera aí.
Assim que ele terminou, tirou uma primeira sangria, experimentou, fez uma careta, colocou mais um pouco de leite condensado e experimentou novamente, agora aprovando. Depois me passou um copo e disse:
- Experimenta e fala o que acha.
Experimentei e quase não voltei de uma rápida viagem à lua. Quando o encarei novamente, a única coisa que consegui dizer foi:
- Vou ficar na minha cervejinha mesmo…
As pessoas começaram a se alternar na torneirinha da melancia. A Andressa logo chegou com o Valentim e pegou um copinho, fazendo uma careta, mas sendo convencida de que a partir do segundo copo melhorava. Ela não terminou o primeiro, escondendo-o atrás de mim enquanto reclamava da bebida. Não adiantou, pois logo a Adriana veio com outro copinho e o ofereceu com um baita sorriso, garantindo que estaria mais ao seu gosto, docinho. A Andressa o experimentou e pareceu ter aprovado.
Voltamos a dançar e a toda hora eu alternava as parceiras. Pedi uma trégua quando dançava com a marombeira Marcela para beber uma cerveja e, pasmem, havia acabado. Agora só nos restavam as bebidas de dose e aquela suspeitíssima melancia atômica. Passei a beber apenas refrigerante, mas logo este também acabou. Decidi ir atrás da Andressa para alertá-la para diminuir com as bebidas. Acabei encontrando-a aos beijos com o Valentim na primeira coluna atrás do rancho da churrasqueira e ainda tive que ouvir reclamação dele quando pedi para conversar com ela. Por sorte, ela ainda continuava do meu lado e lhe passou um sermão sobre dever respeito para mim.
Assim que ele saiu, claramente contrariado, expliquei a questão das bebidas e ela me disse que já havia diminuído o ritmo há algum tempo, mas que iria se fiscalizar ainda mais. Acabamos indo assaltar a geladeira da Adriana para bebermos uma água, praticamente escondidos de todos que seguiam se entregando àquela celebração à Baco sem medo ou limite algum. Sentamo-nos numa mureta da área da casa, um pouco distante dos demais e ela me perguntou:
- Você está bem, amor?
- Estou... Está tudo bem.
- Tá chateado comigo, né? Não fiz nada demais. Só estávamos nos beijando ali e…
- Calma, calma… Relaxa! Sei que não fez nada demais. Eu só queria te pedir para ficar às vistas. Eu não me sinto confortável quando você some.
- Desculpa. Eu vou… farei isso. Acho que acabamos indo parar ali depois da última música, mas foi sem querer, nem me toquei que você não estava por perto. Desculpa mesmo.
A Marcela e a Belinha surgiram de braços dados de dentro da casa, carregando algumas sacolas e nos convidando a segui-las para perto do rancho onde seria realizado um bingo:
- Bingo? - Perguntou a Andressa, surpresa.
- É! Bingo, ué!? Aquele jogo de cartela. Você sabe o que é, não sabe? - Perguntou ainda mais surpresa a Marcela.
- Sei. É que… bom… eu não imaginava. - Disse a Andressa.
- Eu tenho uma loja de artigos esportivos e lingerie no Center Norte. Decidi fazer uma brincadeira e sortear alguns brindes. - Explicou a Marcela e após uma gostosa risada, completou: - É um belo de um “merchan”, não é?
Levantamo-nos e as seguimos. Elas me pediram para levar as sacolas, enquanto convidavam os demais que encontravam pelo caminho. Logo, todos estavam sentados, aguardando ansiosamente as cartelas, mas a Marcela teve outra ideia:
- É o seguinte, gente: Trouxe vários brindes, mas quero pedir que vocês comprem as cartelas por um valor irrisório, tipo vinte e cinco reais cada, para podermos juntar algum dinheiro para não deixar tudo arder nas costas do Alvarenga. A gente já sabe que a Adriana abusa dele, não é justo que a gente faça o mesmo, né?
Todos concordaram e comprei duas na primeira rodada. Uma coisa que notei é que o grupo era muito unido e parecia realmente disposto a adotar aquela ideia, dividindo as despesas com o Alvarenga. Foram três rodadas sem ganharmos nada, nem ficando na “boa”. Entretanto, na quarta rodada, “binguei”, ganhando um lindo conjunto de espartilho e meia calça vermelha. A Andressa ficou eufórica, mas a Alexandra resolveu cutucá-la:
- Vermelho é cor de amante, Túlio. Esquece de mim não…
A Andressa a encarou boquiaberta e assim que se refez da surpresa, falou com um sorriso malicioso nos lábios:
- Eu sou mais que amante, queridinha, sou a esposa, a mulher, a amante e até a puta dele, tá? - E abraçou a “prenda”: - Esse é meu e ninguém tasca!
Voltamos a jogar, mas a sorte passava ao lado da nossa mesa e não ficava. Foram várias rodadas nas quais a Marcela distribuiu lingerie, espartilhos, tanguinhas, cuecas, artigos de malhação. Ao final, contabilizaram quase sete mil reais, que seriam suficientes para fazer, pelo menos, mais uma ou duas festas. A Belinha, que havia ganhado um lindo e minúsculo conjunto de lingerie branco, sugeriu que todas as felizardas fossem vestir os seus mimos para apimentar um pouco mais a noite. A Marcela, esperta e já imaginando que nem todas e todos seriam sorteados, avisou que tinha mais algumas peças disponíveis em seu carro e que estaria disposta a vendê-las pelo preço de custo, com isso conseguiu levar quatro azaradas e dois azarados até o seu carro, e ainda ganhar algum. Essa é uma comerciante para quem tiro meu chapéu. As mulheres concordaram, mas a Andressa ficou meio sem jeito, olhando para o mimo e para mim:
- O que você acha? Devo? - Perguntou, olhando para o presente.
- Mas escandaloso que a sua camisola não é… - Respondi, sorrindo.
Ela me encarou por uns segundos e sorriu:
- Devo! Já volto. - Disse e se levantou, indo para dentro da casa.
Todas praticamente sumiram, deixando apenas alguns homens para trás. Após uns cinco minutos, elas começaram a surgir novamente por ali, vestidas em lindas peças de lingerie e outras de academia. A própria Marcela surgiu vestida numa lingerie “strap-on” preta de parar o trânsito, não que a peça fosse deslumbrante, mas vestida naquele corpão sarado, ficava fora do normal. Ela naturalmente notou os olhares deslumbrados dos presentes e já foi falando:
- O que? Não gostaram?
Celão, sempre ele, se levantou e foi até ela, rodopiando aquele corpão e a parando com a bunda virada para a gente, dando uma olhada nas nossas caras e fazendo uma cara divertida para depois falar:
- E não gostar de um rabo desse de que jeito!? “Gostcho Muitcho”!
Terminou num leve tapa na raba que, de tão malhada, quase não balançou. Ela também não ficava para menos:
- Tira a mão do produto, negão! Se quiser, tem que comprar.
- Oxi! Leilão!? Boa! - Gargalhou e nos encarou: - Senhores, vamos começar os lances? Por esta bela raba, quanto me dão? Vou iniciar com um lance mínimo de cem reais.
- Cem reais!? Ah, vá tomar no teu cu, negão! Por cem reais, nem desço a calcinha. - Resmungou a própria, dando uma risada.
- Duzentos! - Gritou um solteiro num canto.
- Trezentos! - Falou o Alvarenga.
- Cê não, Alvarenga! Cê não pode. Se a Adriana te escuta, o couro come. - Falou o Marmita e emendou: - Dou quinhentão, mas já vai pagar um boquete para mim agora. O resto, eu como depois.
- Mas é mesmo um filho da puta, hein?... Já tá querendo levar marmita pra casa. - Resmungou o Valentim num outro canto, calado até então.
Todos deram risada e a Marcela parou a brincadeira, afinal, já estavam extrapolando. As mulheres começaram a voltar, uma mais linda e sensual que a outra. Algumas, inclusive, deram uma aprimorada na maquiagem, para ficarem ainda mais chamativas. Logo, a Andressa retornou, envolvida no seu robe de cetim preto, também com uma maquiagem mais insinuante, mas com uma expressão meio acanhada:
- O que foi? - Perguntei.
- É… a peça é meio indecente. - Ela resmungou baixinho.
- Mais do que a camisolinha!? - Perguntei, surpreso.
- Ah é! Olha só. - Disse e abriu o robe na minha frente, de uma forma que apenas quem estivesse atrás conseguiria ver.
Ela não estava brincando. A meia calça sete oitavos vermelha e rendada em si não era nada demais, mas o espartilho era totalmente transparente nas laterais e a renda fazia um desenho pegando dos seios até a altura do umbigo, num formato de coração, prendendo-se às meias calças com tiras elásticas. O que, entretanto, destoava bastante era a calcinha, minúscula e de renda transparente na frente que nada escondiam dos seus pelos pubianos bem escuros. Curioso, virei-a para mim e levantei o robe para ver a sua bunda, como esperado estava praticamente nua, com uma tira elástica perdida entre as nádegas. Era quase uma nudez explícita. Por fim, um scarpin vermelho de salto médio para alto, dava o toque final. Fiquei boquiaberto:
- Amor, fala alguma coisa? - Ela me pediu.
- Fala, caralho, senão eu falo! - Disse o Celão atrás de mim.
- Sai daqui, Celão! Isso é papo de marido e mulher. - Resmunguei, olhando por sobre o meu ombro na sua direção.
- E comedor, ué! Eu sou o quê, então? - Ele brincou, mas ainda insistiu: - Dressinha, hein!? Nóóóóóó… Esquece do pai não!
Voltei a minha atenção para a Andressa que, novamente de frente, ainda aguardava uma resposta minha:
- Nossa! Você está… está linda, amor! - Falei, gaguejando.
- Eu vou trocar. Tô parecendo uma biscate! - Cochichou no meu ouvido.
- A decisão é sua. - Concordei: - Faça o que te deixar mais à vontade.
- O problema é esse, né? Tô à vontade demais! - Ela falou com um sorriso nervoso nos lábios.
Naquele momento, a minha vontade era de pedir que permanecesse daquela forma, afinal, não era tão mais escandaloso que a camisola. Além disso, ela estava deslumbrante e seria a mais bela entre as belas daquela noite. Antes que eu pudesse formular o pedido, a Adriana surgiu, vestida numa linda lingerie preta e vendo a Andressa coberta com um robe, já foi reclamando:
- Ahhhh… não! O que é isso? Você ganhou uma puta lingerie linda e vai ficar coberta até o pescoço? Não, senhora, pode ir tirando!
Outras pessoas começaram a fazer coro e a Andressa tentou se justificar, mas sem conseguir se fazer ouvir. Coube a mim pedir licença e respeito à vontade dela, fazendo eles se calarem, o que criou um clima um pouco mais pesado:
- Pelo menos, mostra pra gente. Deixa a gente ver se ficou tão escandaloso assim. - Pediu a Marcela.
A Andressa me encarou e eu dei de ombros, falando:
- Repito, a decisão é sua! Mas se a minha opinião vale de alguma coisa, você está linda.
Ela suspirou fundo, olhando para todos ao seu redor. Apesar de não parecer tranquila, também não queria ser a estraga prazeres e surpreendendo a todos, pegou as minhas mãos e colocou sobre o laço do seu robe, dizendo:
- Meu marido decide!
Naturalmente, todos começaram a falar, pedir, implorar, brincar, me azucrinar de tal forma e com os mais variados argumentos que não tivemos, eu e a Andressa, como evitar as gargalhadas. Decidi brincar. Passei a puxar a ponta do laço do robe, como se fosse desatá-lo, para depois arrumá-lo novamente. Eles iam à loucura e me xingavam sem parar. Em certo momento, desatei o laço, mas mantive um nó. Então quando todos pensavam que eu ia desatá-lo, peguei as duas pontas da tira e fiz um outro laço, dando um nó cego e falando:
- Nada disso! Esse aqui vai ficar só para o prazer do papai.
Os xingamentos, risadas e brincadeiras se amontoaram ainda mais. Coube ao Celão me desmentir:
- Para o papai e o amigo aqui que teve o prazer de ver esse corpinho mal vestido, né, Dressinha? Aliás, muito bem vestido…
Foi aí que a zoação aumentou exponencialmente. Olhei para a Andressa que tinha os olhos marejados de tanto rir e, tomado por um desejo de ser mais do que eu era, desatei um dos nós, olhando para ela que parou de rir no mesmo instante. Logo após desatei o outro nó, mas me mantive segurando a frente do robe, fazendo todo um suspense:
- Porra, Túlio, abre logo isso aí, meu! - Gritou o Valentim alguns metros atrás de mim.
Não gostei da forma como ele falou e pela cara com que a Andressa o encarou, ela também não, tanto que segurou o robe e se sentou no meu colo. Todos o encararam e passaram a repreendê-lo pela forma que falou. Após bons segundos sendo malhado, ele pediu desculpas, se justificando:
- Eu já tava de pau duro por ela antes, agora tô quase gozando de ansiedade. Alivia um pouco, vai!?
Olhei para a Andressa e perguntei:
- Quer tirar?
- É melhor. Pelo menos, acaba essa cobrança.
- Então tira! Se você não ficar à vontade, troca depois.
Ela se levantou novamente, voltando a colocar as minhas mãos sobre o seu robe e eu me levantei, abrindo-o de frente para mim, deixando o meu corpo bem colado ao seu e a puxei pela cintura, colando-o ainda mais. Nossos olhos se buscavam e a beijei, passando a alisar o seu corpo. Ainda com os lábios grudados, fui mudando minhas mãos de lugar até chegar em seus ombros, desvestindo-a daquele robe. Nosso beijo só terminou quando ela já não estava mais coberta e o primeiro comentário, claro, foi do Celão:
- Morram de inveja, meros mortais. Apenas o Túlio e o papai aqui tinham visto essa Ferrari sem cobertura antes. - Gargalhou em seguida.
Assobios surgiram de toda a parte, seguidos de alguns “gostosa”, “safada”, “topo fácil”, “eu quero, hein”, etc., etc. O Valentim se aproximou ainda mais, ficando ao nosso lado e pediu se ele poderia dar uma “voltinha” nela:
- Meu amigo, o único que dá voltinha na minha Ferrari sou eu! - Falei, lembrando da brincadeira do Celão e a rodopiei rapidamente à sua frente: - Os caroneiros ainda estão sendo avaliados.
O Celão, que estava pouco atrás de mim, deu uma gargalhada das mais debochadas possíveis, passando a tirar sarro da cara do amigo. Depois, grudou no meu ombro, dando dois tapinhas no meu peito enquanto falava, sem tirar os olhos da Andressa:
- É por isso que eu gosto de vocês. Essas tiradas são ótimas!
Por fim, deu um novo beijo no rosto da Andressa e saiu do rancho, rebolando sozinho enquanto voltava para a pista de dança. Logo, outros casais se dirigiram para o mesmo lugar e o Valentim voltou a convidar a Andressa para dançar. Ela o encarou por alguns segundos, meio em dúvida e respondeu:
- Vamos, mas não agora. Vou ficar um pouco como Túlio.
- Só uma dança, por favor.
- Depois. Primeiro, o meu marido; depois, o meu amante. - Ela falou, piscando um olho para mim.
- Pelo menos, já virei amante na teoria… - Resmungou enquanto seguia rumo à melancia atômica.
Eu a encarei e ela não esperou sequer que eu falasse:
- Só estou brincando. Não vai me dizer que levou a mal, né, Túlio?
- Não estou bravo com você. Só acho que esse cara está abusando um pouco e é melhor não ficar dando tanta trela. Ele já está agindo como se tivesse algum direito sobre você e você ainda me vem e fala isso!? Agora é que ele vai ficar se achando…
Ela me encarou em silêncio por alguns segundos e disse:
- Você está certo! Vou dar uma esfriada no Valentim. Eu já reparei que ele tem tido algumas atitudes com você que não lhe agradaram… na verdade, nem a mim. Deixa comigo, amor. Vamos só tentar nos divertir, ok?
Voltamos para junto de um grupo e logo o Valentim voltou para perto, convidando a Andressa para dançar, mas ouviu um claro e sonoro não, seguido de um “e se não melhorar os seus modos, não dançamos mais!” Ficamos ali conversando com o casal Riva e Mara por um bom tempo, bebericando lentamente um copo de melancia atômica até que o Celão e o Valentim se aproximaram novamente e após nova negativa da Andressa para um convite do Valentim, o Celão a convidou e ouviu um sonoro sim. Foi até legal ver a cara inconformada do Valentim que parecia já estar dando o jogo como ganho. Ver o Celão pelado se esfregando todo na minha esposa não me agradou muito, menos ainda quando trocaram um beijo de leve. Entretanto, ver a cara do Valentim se roendo de ciúmes dela, me fez dar boas risadas, mas que logo também me fizeram ficar cabreiro, afinal, quem ele era para ter ciúmes dela.
Após duas danças, a Adriana e o Alvarenga fizeram uma roda no meio da pista e começaram a falar sobre como estavam felizes com a oportunidade de reunir tantos amigos queridos num momento tão importante de suas vidas para desfrutar daquela linda amizade:
- E de um pouquinho mais! - Falou o Alvarenga.
- Sim, sem dúvidas, meu corninho do coração. Gostaríamos, inclusive, de compartilhar com todos vocês uma novidade. - Todos se entreolharam por alguns segundos, sem entender e ela após conseguir toda a atenção, continuou: - Eu… estou… grávida!
Todos foram cumprimentá-los, sem exceção. Num certo momento, alguém, não sei quem, brincou que agora só faltava descobrir quem era o pai, mas a Adriana não se apertou e respondeu:
- Isso não interessa! É o corno que criará. Seja do Valentim, do Celão, do Silvano ou de quem for, é o Alvarenguinha quem será o papai. Só torço para não vir pretinho, senão será meio complicado explicar lá na família…
- Não interessa, amor! Já sou o marido mais sortudo e serei o melhor pai do mundo. Garanto!
- Inclusive, gostaria de pedir uma salva de palmas para o novo casal de amigos que agora faz parte desse nosso grupinho muito gostoso: Andressa e Túlio. Salva de palmas para eles, pessoal.
Todos deram uma salva de palmas bem efusiva e nós agradecemos com movimentos de cabeça. A Andressa inclusive nesse momento vinha em minha direção e foi interrompida pela Adriana que a segurou pelo braço:
- A gente, eu e o Alvarenga, nós queríamos também convidá-los para serem os padrinhos da criança, Dre. Aceitam?
A Andressa a encarou com olhos arregalados, surpresa com o convite e me encarou. O Alvarenga veio na minha direção e me puxou para o centro da roda. A Andressa me encarava e eu a ela sem saber o que responder, mas para não deixar o clima chato, acabamos aceitando:
- Maravilha, meus queridos, muito obrigada! Tenho certeza que isso só irá nos aproximar ainda mais e…
- Peraí! Quer dizer que eu perdi a minha loirinha? - Falou o Celão, interrompendo-a.
A Adriana deu uma sonora risada e falou:
- A Andressa irá assumir o meu posto muito em breve, meu tiçãozinho tesudo!
- Opa! Já tô mais que satisfeito. Segue a festa. - Falou o Celão dando uma balançada em sua jiboia.
A Andressa a encarou e não poupou:
- Tá louca!? Vou dar para ele não!
- É brincadeira, sua boba. Relaxa! Vou continuar dando para aquele safado. Li em algum lugar que algumas mulheres ficam ainda mais taradas quando estão grávidas e me conhecendo como eu conheço, acho que sou uma dessas.
O Alvarenga me abraçava sem tirar um sorriso do rosto e a Adriana então ousou, perguntando para a Andressa:
- Posso te pedir um presente?
- Que presente?
- Eu queria que você… - Então me encarou: - Que vocês perdessem o medo de vez e entrassem de corpo e alma em nosso grupo. Mais em corpo, porque a alma já faz parte, todos gostaram de vocês e vocês parecem estar se dando bem com todos.
- Sim! Isso é…
- Obrigada! - A Adriana interrompeu a Andressa e falou: - Mais uma última coisa, meus amigos, hoje a Andressa entrará de cabeça em nosso grupo, com as bençãos e concordância do Túlio. Então, que seja mágica essa sua primeira vez.
O Valderrama, o mais calado até então, soltou uma pérola:
- Ué! Se é a primeira vez, deveríamos fazer um leilão e dar o resultado dele como presente para o bebê.
- Adorei a sua ideia, Val, vamos leiloá-la!
Eu encarei a Andressa que parecia estar dopada, tomada por uma indignação que não parecia ter tamanho com aquela proposta bizarra. Após alguns segundos em que a Adriana começou a organizar o formato da brincadeira, a Andressa explodiu:
- Cê tá louca, Adriana!? Que porra de ideia de merda é essa de me leiloar, cara? Esquece disso ou a gente vai se desentender, e feio!
[CONTINUA]
OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO SÃO FICTÍCIOS, MAS OS FATOS MENCIONADOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL PODEM NÃO SER MERA COINCIDÊNCIA.
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