A Cura - Parte 9

Da série A Cura
Um conto erótico de Fabio N.M
Categoria: Heterossexual
Contém 2474 palavras
Data: 12/09/2024 08:27:11

Elias soltou o telefone, o olhar fixo no chão de madeira do quarto enquanto sua mente corria para encontrar uma solução rápida. Ele sabia que teria que lidar com Alejandro de alguma forma, mas não queria colocar Emilia em perigo. Enquanto ponderava, Emilia voltou para o quarto, carregando duas canecas de café fumegante e um prato de torradas com ovos. Ela notou a expressão preocupada de Elias e franziu a testa.

— Está tudo bem? — ela perguntou, colocando a bandeja na pequena mesa de café.

Elias forçou um sorriso e se aproximou, segurando a mão dela.

— Temos um problema. Alejandro descobriu que estamos aqui, e ele está vindo para cá.

O rosto de Emilia ficou pálido, a insegurança retornando a seus olhos.

— Ele… ele está vindo aqui? O que vamos fazer?

Elias a puxou para mais perto, envolvendo-a em um abraço reconfortante.

— Eu vou lidar com isso, mas precisamos ser rápidos. Pegue suas coisas, vamos sair daqui.

Os dois rapidamente se vestiram e recolheram seus pertences, evitando a saída principal da pousada para não serem notados. Elias e Emilia ainda estavam a poucos quarteirões da pousada quando o som inconfundível de um motor potente começou a ecoar pelas ruas estreitas de Tequila. Emilia, que até então mantinha um semblante apreensivo, congelou ao ouvir o ronco do Porsche de Alejandro se aproximando. Seu rosto, antes corado pela adrenalina da fuga, ficou pálido, e seus olhos se arregalaram com o medo.

Alejandro manobrou o carro com agressividade, derrapando sobre o cascalho das ruas, e parou bruscamente em frente a eles. Quase no mesmo instante, uma van preta estacionou logo atrás, bloqueando qualquer rota de fuga. Os portões do inferno haviam se aberto, e o perigo estava ali, palpável. Antes que Elias pudesse reagir, dois homens saltaram da van e se aproximaram rapidamente. Com uma eficiência assustadora, agarraram Elias pelos braços e o empurraram para dentro da van.

Emilia gritou, lutando contra Alejandro, que a puxava para o Porsche.

— Alejandro, o que você está fazendo? Me solta!

— Eu disse para não confiar nesse cara, Emilia! — Alejandro gritou de volta, seu rosto contorcido em uma mistura de raiva e possessividade — Ele está tentando te manipular. Você não percebe isso?

Elias, sendo forçado para dentro da van, tentou resistir, mas os capangas o dominaram. Ele sentiu o impacto de um soco no estômago, fazendo-o perder o fôlego.

A porta da van foi fechada com um estrondo, e Elias ficou no escuro por alguns segundos, tentando se ajustar ao ambiente enquanto recuperava o fôlego. Dois capangas o encaravam, braços cruzados, bloqueando a única saída. A van começou a se mover, e ele podia sentir a estrada áspera sob as rodas.

Enquanto isso, no Porsche, Emilia estava presa no banco do passageiro, com Alejandro ao volante, acelerando pelas ruas sinuosas da cidade.

— Você não sabe no que se meteu, Emilia.

— O que você vai fazer com ele?

— Eu vou fazê-lo se arrepender de ter cruzado meu caminho.

Os carros pararam com um solavanco ao lado de um galpão abandonado, próximo ao pátio ferroviário. O lugar estava desolado, com paredes descascadas e janelas quebradas, um cenário perfeito para o que Alejandro havia planejado. Elias foi arrastado para dentro do galpão pelos capangas. Eles o amarraram a uma cadeira no centro do local, cercado por caixas velhas e maquinaria enferrujada. O cheiro de óleo e suor pairava no ar enquanto os homens começavam a sessão de espancamento. Com socos e chutes caíam sobre Elias sem misericórdia.

Alejandro assistia de perto, uma expressão fria e calculista em seu rosto, enquanto Emilia, visivelmente aterrorizada, estava sendo mantida ao seu lado, subjugada. Seu olhar alternava entre Elias, que lutava para permanecer consciente, e Alejandro, que parecia saborear cada momento de dor infligida.

Elias sentia os ossos protestarem, a dor pulsando em seu corpo, mas não emitia um som sequer, não daria a Alejandro essa satisfação. Quando finalmente decidiu que Elias tinha apanhado o suficiente, ele sinalizou para que os capangas parassem. Elias estava ensanguentado e respirava com dificuldade, mas ainda consciente. Caminhou até ele, com uma arma em punho, e olhou para Emilia com um sorriso cruel.

— Sabe, Señor Zimmermann… — Alejandro começou, a voz calma mas carregada de ameaça — Eu realmente achei que você era apenas um diretorzinho qualquer, mas agora vejo que você queria muito mais do que uma simples atriz para seu filme. E sabe o que acontece com quem toca no que é meu?

Alejandro caminhava ao redor da cadeira, como uma fera apreciando o agonizar da sua presa.

— Você acha que pode vir aqui, roubar minha mulher, e sair ileso? — continuou, destilando seu ódio em cada palavras — Eu poderia te matar aqui e agora, e ninguém jamais saberia. Você desapareceria, e Emilia… bem, ela precisaria aprender uma lição sobre lealdade e fidelidade.

Ele apontou a arma para Elias, o cano frio encostando em sua têmpora.

Antes que Alejandro pudesse continuar com suas ameaças, o toque estridente do celular de Elias interrompeu o momento. Alejandro deu um sorriso cínico ao ver o nome de Natalia piscando na tela.

— Ah, temos uma namoradinha, hein? Vamos ver como ela reage quando souber onde você se meteu — Alejandro atendeu, sua voz transbordando uma falsa cordialidade.

— Hola, Natalia, não é? Aqui é Alejandro, amigo do Elias. Ele está… um pouco ocupado agora, mas talvez eu possa passar um recado — Ele olhou para Elias, claramente satisfeito consigo mesmo, enquanto Natalia respondia do outro lado.

— Avisa que ele está muito encrencado, mas não tanto quanto você e seus cachorros.

Alejandro não notou uma figura esbelta e determinada entrando no galpão. Natalia avançou com confiança, desligando o celular, seus passos calmos e seu olhar fixo em Alejandro. Ela, com um leve sorriso no rosto, começou a se alongar, girando os ombros e esticando os braços. Alejandro finalmente se deu conta de que algo estava errado quando ouviu o som distinto de alguém estalando os dedos. Ele se virou, ainda com o celular colado à orelha, e encontrou Natalia o encarando com um sorriso frio e calculista.

— Espero não estar enferrujada.

— Ora, ora, o que temos aqui?...

— Solte ele, agora — ordenou.

— Não estou de bom humor para joguinhos. Pode sair daqui agora e esquecer essa cena, ou ficar e compartilhar do destino do seu namorado aqui.

— Eu também não para joguinhos. E, honestamente, tenho zero interesse em sair daqui sem ele.

Alejandro, ainda apontando a arma para Elias, tentou avaliar a situação. Ele não estava acostumado a ter suas ameaças enfrentadas com tanta indiferença. Apontou com a cabeça para os seus capangas, que já se posicionavam em alerta.

Com uma velocidade, Natalia avançou. Natalia não respondeu com palavras. Em vez disso, avançou com uma agilidade surpreendente, mergulhando na luta com uma precisão quase cirúrgica. O primeiro capanga que se moveu em sua direção foi rapidamente neutralizado com um chute no joelho e um soco bem colocado na garganta. O homem caiu como um peso morto. Alejandro ergueu a arma, mas Natalia fugia da mira com a destreza com que se movia. Ela desviou para o lado, esquivando-se de um outro capanga que tentou agarrá-la pelas costas. Com uma torção rápida, ela usou o próprio impulso do homem contra ele, arremessando-o contra uma pilha de sucata que desmoronou ruidosamente.

Alejandro disparou uma vez, errando por pouco. A bala ricocheteou em uma viga de metal, produzindo um estrondo metálico. Natalia, sem perder o ritmo, deu um chute giratório que atingiu o punho, fazendo a arma voar de suas mãos. A arma deslizou pelo chão e parou próxima à cadeira de Elias.

Alejandro, ainda tentou recuperar a arma novamente, mas Natalia foi mais rápida. Com um movimento fluido, torcendo o pulso dele. Alejandro gritou de dor, mas ela o empurrou com um movimento de ombro, e com um chute preciso o nocauteou.

Quando Natalia finalmente soltou Elias, os dois se voltaram para Emilia. Ela tentou dar um passo em direção a eles, mas suas pernas fraquejaram. Elias a segurou rapidamente, impedindo-a de cair.

— E-Emilia? — Elias chamou, o tom de sua voz mergulhando em preocupação.

Ele viu o olhar dela perder o foco por um instante, e foi aí que ele notou: seu vestido estava manchado de sangue, um círculo vermelho se espalhando lentamente na altura do abdômen. O tiro de Alejandro que havia ricocheteado, sem que eles percebessem, havia atingido ela.

— Não, não, não… — Elias murmurou, a voz falhando enquanto ele a deitava no chão.

Natalia, ao perceber a gravidade da situação, correu para o lado deles, sua expressão endurecendo enquanto tentava avaliar o ferimento.

Emilia arfava, seus olhos tentando focar nos de Elias, mas o pânico começava a se instaurar.

— E-Elias… d-dói muito… — Ela sussurrou, os lábios tremendo enquanto sua mão tentava pressionar o ferimento.

Elias segurou a mão dela, pressionando sobre a ferida na tentativa de conter o sangramento, mas o desespero começava a tomar conta dele.

— Vai ficar tudo bem, Emilia. Eu prometo. Vamos tirar você daqui.

Natalia já estava discando para os serviços de emergência, sua voz autoritária tentando agilizar a chegada de ajuda. Elias sentia o coração apertar ao ver Emilia ali, vulnerável e sofrendo por algo que ele sentia que poderia ter evitado. A culpa pesava em seus ombros, e o medo de perder Emilia apertava seu peito.

Alejandro, ainda no chão e imobilizado pela dor e pelo golpe de Natalia, olhou para a cena com uma expressão que oscilava entre satisfação vingativa e incredulidade. Mesmo vencido, ele havia conseguido causar estrago.

— Eles estão vindo — Natalia anunciou, desligando o celular.

Elias olhou para Natalia, seu rosto um misto de medo e determinação. "Nós não podemos deixá-la morrer. Não agora. Ela é importante… — Sua voz vacilou, mas ele manteve os olhos fixos em Emilia, que lutava para manter a consciência.

— Eu confio em você — ela murmurou, antes de seus olhos começarem a fechar lentamente, enquanto ouvia a sirene da ambulância ecoando ao longe.

*****

Elias estava sentado na beira da cama do hotel, a cabeça enterrada nas mãos, os ombros curvados em um peso invisível que parecia esmagá-lo. O quarto estava mergulhado em um silêncio tenso, interrompido apenas pela respiração pesada de Elias e o som suave do ar-condicionado. Natalia, do outro lado do quarto, o observava com uma mistura de sentimentos que oscilavam entre a preocupação genuína e um ciúme que parecia queimá-la por dentro.

— Elias — Natalia começou, tentando encontrar as palavras certas, mas o nó em sua garganta dificultava o tom firme que sempre usava — Emilia… ela é importante, mas você sabe que temos uma missão. Precisamos continuar… precisamos focar.

Elias ergueu a cabeça lentamente, os olhos vermelhos e marejados. Ele balançou a cabeça, sem conseguir pronunciar nenhuma palavra. A visão de Emilia no hospital, entre a vida e a morte, estava cravada em sua mente, um lembrete constante do fracasso que ele sentia. Ele não conseguia afastar a culpa, o medo de que a cura não fosse suficiente, de que ele a tivesse colocado em perigo sem necessidade.

Natalia deu um passo à frente, hesitante, suas próprias emoções confusas misturando-se à sua preocupação por Elias. Ela se aproximou dele, tocando de leve seu ombro, tentando transmitir algum conforto.

— Elias, escuta — ela disse, a voz mais suave agora, mas com uma ponta de urgência — Você fez o que tinha que fazer. Agora precisamos seguir em frente.

Elias fechou os olhos com força, como se estivesse tentando bloquear os pensamentos que o atormentavam. Natalia estava certa, que ficar ali se lamentando não ajudaria Emilia nem a missão.

— Eu… eu só queria que ela ficasse bem — ele murmurou, a voz se quebrando — Tudo isso… ela não merecia.

Natalia apertou o ombro dele um pouco mais forte, o ciúme queimando ainda, mas ela se forçou a empurrá-lo para o fundo.

— Eu sei — ela disse, tentando manter a firmeza — Mas você fez o que pôde. Agora, precisamos garantir que nada disso tenha sido em vão.

Elias finalmente olhou para ela, seus olhos encontrando os dela com uma mistura de gratidão e dor.

— Obrigado, Natalia — ele disse, a voz baixa, mas sincera — Eu não conseguiria sem você.

Natalia apenas assentiu, tentando conter o próprio tumulto interno.

*****

Elias acordou ofegante, o grito ainda ecoando em sua garganta. O quarto escuro do hotel de Boston parecia apertado, sufocante. Ele lutava para ajustar a respiração, enquanto as imagens do pesadelo ainda dançavam em sua mente. O som dos pneus derrapando, o vidro se estilhaçando, e o olhar vazio de seus pais no banco da frente. Ele sentiu um nó se formando em seu estômago, a sensação vívida do acidente, algo que jamais tinha vivido, mas que no sonho parecia tão real quanto qualquer lembrança que carregava.

Ele se sentou na beirada da cama, pressionando as têmporas com as palmas das mãos. A dor de cabeça estava de volta, latejando ferozmente, como se seu cérebro estivesse tentando se ajustar a uma realidade que não se encaixava perfeitamente.

Uma batida suave na porta o trouxe de volta ao presente. Ele se levantou devagar, o peso do sonho ainda sobre seus ombros, e abriu a porta. Natalia estava ali, a expressão preocupada, os olhos ligeiramente cerrados como se estivesse lutando contra sua própria dor de cabeça.

— Você gritou — disse ela, com a voz baixa — Está tudo bem?

— Foi… só um pesadelo. Foi tão real… — ele passou a mão pelos cabelos, ainda suando — Meus pais… eles morreram em um acidente de carro.

Natalia franziu o cenho, confusa.

— Mas… você me contou que seus pais morreram por causa do vírus.

Ele hesitou, as palavras travadas na garganta.

— Sim, eu sei. Mas no sonho, parecia tão… real. Como se tivesse acontecido de verdade.

Ele olhou para Natalia, buscando algum tipo de resposta em seus olhos, mas tudo que encontrou foi o reflexo de sua própria confusão. Natalia entrou no quarto, fechando a porta atrás de si.

— Você acha que… pode ser outra coisa? A dor de cabeça… ela voltou pra mim. E é a mesma dor de quando saímos do Rio — Ela se aproximou de Elias, observando-o atentamente — Pode ser que algo esteja… errado? Ou diferente?

Elias suspirou, esfregando os olhos cansados.

— Eu não sei, Natalia. Tudo parece… distorcido. Eu me lembro de uma coisa, mas o sonho parecia outra. Não faz sentido.

Natalia assentiu lentamente, processando o que ele dizia.

— Pode ser apenas o estresse. Tudo o que estamos fazendo, as viagens, a missão… É muita coisa para processar. Mas precisamos manter o foco.

Ela o observou por um momento e, tentando aliviar o peso da situação, colocou uma mão suave no ombro dele. Elias deu um sorriso fraco e agradeceu, mas o peso do sonho e a dor persistente eram difíceis de afastar. Ele voltou para a cama, tentando se convencer de que, pelo menos por algumas horas, conseguiria dormir sem as sombras de um passado que parecia se moldar de formas inesperadas.

AUTOR: Questão para a próxima série: Acham necessário um resumo do capítulo anterior no início de cada capítulo?

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Comentários

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Fabio eu tenho uma Teoria quanto a esse cena do Elias acordando de um pesadelo e dizendo que seus pais morreram de acidente de carro. Tô achando que o fato deles terem vindo ao passado está alterando a linha do tempo no futuro

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Caraca que capitulo sensacional! Muito bom. Quanto a sua enquete, acredito que não é necessário pois só dará mais trabalho a você .

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