(2007) A Partida de Handebol

Da série Diário de Ramon
Um conto erótico de João Ramon
Categoria: Gay
Contém 2101 palavras
Data: 12/09/2024 08:36:18
Última revisão: 12/09/2024 09:15:19

Em 2007, no meu primeiro ano do curso de direito, eu estava tentando me encaixar. Era um cara de 18 anos, vindo do interior, que nunca tinha ficado com ninguém e dividia apartamento com Vinícius, um estranho para mim, sobrinho da amiga de minha mãe, que havia passado no mesmo curso que eu e se tornou meu colega de sala.

Eu era um altão magrelo, com 1,80m de altura, branco com a pele lisinha, ainda com os traços da juventude. Aos 18 anos nunca tinha ficado nem me envolvido com ninguém. Eu tinha beijado algumas meninas nas festas de rua que eu ia com meus amigos no ensino médio, mas nada além de um beijo rápido. Eu era estudante de escola pública e naquele ano a lei de cotas ainda era um debate, por isso, eu tive que estudar triplicado para conseguir uma vaga na universidade, indo para a escola pela manhã, fazendo cursinho a tarde e estudando à noite, quase nunca tendo tempo para sair ou namorar. Minha família nunca implicou por eu não namorar, se orgulhava de ter um filho estudioso que queria ser advogado. Eles me apoiavam, quando uma vizinha comentava que nunca me viu ficando com ninguém e que eu era o único no meu grupo de amigos que nunca teve uma namorada, minha mãe me defendia, dizendo que não era momento de namorar e que eu estava focado nos estudos.

Essa era apenas metade da verdade, a outra metade é que eu realmente nunca senti atração por nenhuma menina que conheci. Eté entrar na faculdade eu também não sentia tanta atração por meninos, mas hoje, aos 35 anos, relembrando minha relação com meus amigos do ensino médio, acho que eu já fui apaixonado por um ou dois deles, mas confundia o que eu sentia com uma grande amizade de irmão; não passava por minha cabeça de jovem do interior que eu estaria interessado romanticamente ou sexualmente por um amigo meu.

Quando entrei na faculdade comecei a me entender aos poucos. A quantidade de pessoas abertamente LGBTQI+ que eu conheci logo no primeiro ano fez com que eu entendesse o que sentia, mas não o suficiente para me aceitar ou começar a querer ficar com meninos, eu me questionava se era realmente isso que eu queria, que eu sentia, se era certo, se eu deveria tentar.

Todos os dias eu ia para a UFS de ônibus com Vinícius, ele era um cara divertido, comunicativo, nerd, medindo 1,90 m e pesando mais de 135 Kg. Ele era um cara muito atencioso, até com estranhos, lembro que nas primeiras semanas ele vivia perguntando se eu precisava de algo ou queria alguma ajuda, já que eu ainda não sabia cozinhar e ele preparava almoço e janta para nós dois. Em pouco tempo nós viramos grandes amigos e eu conheci a namorada dele, a Nanda, uma menina ⅓ menor que ele, em altura e largura, mas duas vezes ainda mais legal e comunicativa, ela também tinha passado na UFS, mas no curso de Química Industrial.

O curso de Química Industrial era pela manhã, mas Nanda tinha entrado em um grupo de atletas da universidade incentivada pelo seu primo que já não era mais calouro. Quando nossas aulas terminavam ou quando o professor faltava, eu e Vinícius íamos para a quadra nos encontrar com Fernanda, esperar seu treino acabar para voltarmos juntos para casa pois, quase todos os dias, Nanda dormia lá, no quarto de Vinícius. Já no segundo período da faculdade essa tinha se firmado como nossa rotina, ir para a aula, esperar Fernanda na quadra, voltar para casa juntos, nós três.

Certa vez, ainda nesse mesmo ano, quando chegamos na quadra, Nanda não estava treinando. Ela estava sentada na arquibancada com suas colegas de equipe, assistindo o treinamento de handebol masculino.

– Os meninos vão jogar nos Jogos Universitários próximo mês – Nanda nos explicou – aí reservaram a quadra para treinar, nosso treino ta sendo mais cedo pois a prioridade é deles.

– Isso é errado – reclamou Vinícius – porque eles não reservaram mais cedo, então?

– Não sei, mas para a gente não faz diferença, algumas meninas até preferiram porque como a maioria estuda pela manhã, elas não precisavam ficar aqui a tarde toda só esperando nossa vez de treinar.

– Que bom então – Comentei.

Sentamos ao lado de Nanda para assistir ao jogo. A arquibancada estava cheia, mais do que se esperava para um dia de treinamento para um campeonato universitário, era o treinamento do time reserva contra o titular. Eu queria ir embora, mas sentei para assistir mais pela insistência de Vinícius, que queria acompanhar a namorada e não demonstrava nenhuma vontade de sair dali.

No início meus olhos vagavam pelo ginásio, sem foco, distraído pelas conversas, risadas e sons da bola batendo contra o chão ecoando com os gritos dos jogadores. Eu tentava acompanhar o jogo, mas honestamente, para mim que nunca fui fã de esportes, parecia um caos com regras. Os jogadores corriam de um lado para o outro, arremessando a bola, com uma velocidade e força que eu não conseguia acompanhar direito.

Foi quando vi um jogador do time reserva. Não sei dizer se era o jeito que ele se movia ou o fato dele estar sempre sorrindo, como se tudo estivesse no seu controle, se divertindo enquanto corria, como se o jogo orbitasse ao redor dele. Cada passo, cada passe, parecia que era calculado com precisão, ditando o ritmo do jogo enquanto o time respondia suas ações. Ele fazia o jogo parecer fácil, tão fácil que eu acreditei que até eu poderia entrar naquela quadra e jogar.

Ele pegou a bola na lateral da quadra e por um momento o mundo pareceu desacelerar. Seu corpo se inclinou ligeiramente, os músculos tensos embaixo da camiseta do time, e em um movimento rápido ele disparou, passando a bola para seu companheiro e avançando para perto do gol, em uma ofensiva rápida, desviando de dois marcadores para receber a bola de volta e arremessar contra o goleiro. A bola passou voando acertando a rede, fazendo ela balançar, levantando gritos de toda a arquibancada, fazendo todos vibrarem.

E eu gritei junto. O cara era bom, muito bom.

A partir desse momento, meus olhos tiverem foco e eu fiquei com o olhar preso nesse jogador. Eu deveria estar prestando atenção no jogo como um todo, mas, por algum motivo que naquela época eu ainda não sabia, ele era tudo o que eu conseguia ver, mesmo quando ele não estava com a bola, era nele que eu prestava atenção. Não era apenas a habilidade – embora isso foi o que, de início, isso foi o que me chamou a atenção – era o jeito que ele controlava o time.

Houve um momento, depois de mais um ponto de tirar o fôlego, em que ele olhou para a arquibancada, seu olhar passando pelo público que o ovacionava. Eu não sei se ele realmente me viu, mas senti como se tivesse. Meu coração deu um pequeno salto, ridículo, mas inegável.

Continuei assistindo, agora mais focado, observando as jogadas com uma atenção que antes eu não tinha. A forma como ele se movia, a maneira como seus olhos brilhavam com a adrenalina, o sorriso discreto que surgia em seu rosto quando o time comemorava um ponto...Havia algo mais ali, algo que me puxava de um jeito que eu não sabia explicar.

A partida continuou, mas para mim, ela tinha ganhado um novo significado. Não era só sobre o jogo, sobre o esporte. Era sobre ele. O apito final ecoou marcando a vitória para o time reserva, 27 a 18, e eu, sem perceber, ainda está com os olhos grudados nele. Ele parecia mais relaxado agora, com as mãos no quadril, respirando fundo, retomando fôlego enquanto sorria e cumprimentava seus companheiros dos dois times ainda com a postura confiante com o sorriso discreto, cabelo bagunçado e o suor brilhando na pele morena. Parecia exausto, mas satisfeito.

Fiquei ali, perdido em pensamentos, quando percebi que ele estava se aproximando da arquibancada. Meu coração deu um salto inesperado. Ele estava vindo direto me minha direção.

Por um segundo – um segundo curto e constrangedor – achei que ele pudesse estar vindo falar comigo. Eu sabia que era impossível, mas me deixei sonhar e comecei a ensaiar o que falar e como parabenizá-lo pelo jogo. Cada passo que ele dava diminua a distância entre nós e eu não sabia o que fazer com as mãos, com meus olhos, comigo mesmo. Ele sorria para mim enquanto se aproximava.

Quando ele chegou, passou direto por mim, como se eu fosse apenas mais um aluno da arquibancada – e eu era – e abriu um grande sorriso para a pessoa do meu lado.

– NANDAAA!! – Ele gritou com a voz cheia de familiaridade e energia – Você viu? E ai o que achou?

– PRIMO!!! Claro que vi! Acho que agora eles te colocam no time titular, você arrebentou todo mundo naquela quadra.

Eu pisquei várias vezes processando a cena e tentando voltar a realidade. Esperei enquanto eles se cumprimentavam, rindo e trocando provocações sobre o jogo enquanto o nervosismo que eu sentia dava lugar a uma sensação de vergonha e constrangimento pelo que eu tinha pensado. Ele era o primo de Nanda, claro, o mesmo que incentivou ela entrar no clube de esportes da universidade, e eu aqui pensando que…deixa para lá, já narrei constrangimentos demais para um capítulo.

– Ah! Desculpa!! – Fernanda se virou para mim – esse é Lázaro, meu primo, e essas – agora para Lázaro – são as minhas colegas do clube de esporte e Ramon, o colega de quarto do Vini, e o Vini.

– Esse eu já conheço – disse Lázaro rindo e cumprimentando o namorado da prima – prazer! – disse ele ainda sorrindo, estendendo a mão para mim – gostou do jogo?

– Mandou bem lá na quadra – eu disse tentando parecer normal – o time joga bem junto.

Ele agradeceu com um sorriso modesto, mas eu não pude deixar de reparar no brilho dos olhos, como se estivessem felizes com o elogio.

Enquanto a gente conversava, o público ia se dissipando e os colegas de time de Lázaro se dirigiam para o banheiro. Nanda e Lázaro conversavam animados, íntimos, amigos, mas eu mal conseguia compreender as palavras a minha volta, minha mente estava presa naquela cena que se desenrolava na minha frente, por deus, o que estava acontecendo comigo?

– Estou indo, até mais para vocês – Lazaro tocou no meu ombro, me puxando para a Terra.

– Sim, vamos! – respondi nervoso e envergonhado, sem saber se era comigo ou com outra pessoa.

– Espere aí – Fernanda sorriu e olhou para Lázaro – Porque você não vem com a gente hoje? A gente combinou de comer alguma coisa na orla, você vem com a gente!

Lázaro hesitou por um segundo, mas antes que pudesse responder, seus olhos cruzaram os meus. Foi breve, imperceptível para todos os outros, mas eu vi, e naquele instante senti meu estômago revirar.

–Claro, estou dentro – disse ele – deixa eu só tomar um banho e tirar essa roupa suada.

O calor subiu de novo pelo meu corpo e meu rosto branco estava inegavelmente vermelho, tentei esconder o sorriso que se formava em meu rosto, mas meus músculos não me obedeciam.

Após o banho, fomos para o terminal de ônibus. Lázaro vinha conversando com Fernanda, como se fosse o dia mais normal do mundo. Mas para mim nada ali era normal. Eu nunca tinha sentido aquilo, aquela sensação, aquela ansiedade que me controlava e me deixava falando feito idiota.

Enquanto saíamos do ginásio, minha mente ainda ecoava com a lembrança dos olhares cruzados e daquele sorriso confiante. Eu sabia que estava prestes a passar mais tempo com ele, e a sensação de antecipação crescia a cada passo.

– Vamos para o D.I.A. e de la vamos para a orla? – Sugeriu Lázaro quando chegamos ao terminal da universidade.

– Não mesmo – Nanda discorda – você está todo limpo e cheiroso, mas eu estou aqui desde as 7 horas da manhã, vamos para a casa dos meninos para eu me arrumar e depois nós vamos para a orla.

– Vai ficar muito tarde para mim, ruim de voltar para casa depois.

– Você pode dormir lá em casa, besta – disse Vinícius – o Ramon tem um colchão reserva que os pais dele usam quando vem para cá.

– Isso – disse Nanda – aí a gente pode ficar lá sem pressa de voltar.

– Por mim tudo bem – até hoje não sei como deixei essas palavras saírem da minha boca.

– Então tá bom, vou só avisar para minha mãe que vou dormir na casa de amigos hoje – Disse Lázaro olhando nos meus olhos mais uma vez.

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Comentários

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Que conto. Continue, por favor.

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Vou continuar, semana que vem sai o capítulo 2, muita correria e eu não gosto de escrever de qualquer jeito.

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Muito bem escrito, amei, continua logoooo, faça capítulos maiores, eu msm ia amar

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Obrigado! Vou continuar sim, o próximo sai semana que vem. Vou testar um conto mais longo, para ver como se sai, juntar a parte 2 e 3 no mesmo conto.

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simplesmente sensacional, comecou maravilhosamente bem

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Deixou com vontade de mais, espero que continue logo!

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Provavelmente amanhã eu posto a continuação, se não for amanha, segunda feira.

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Cara, adorei essa prequel!! Hahaha to adorando conhecer melhor o Ramon 😜

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Contando outra parte da história, porque nem tudo é sobre Leandro.

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Adorei! Queria mesmo conhecer o Ramon fora daqui, mas como não tem como, eu me delicio com os contos. heheeh

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Vem novidade por aí, eita, a pegação pronta pra começar rs, aguardando os próximos capítulos;!

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