Fim do Inferno.
Paula acordou lentamente no dia seguinte, piscando seus olhos para se adaptar à luz suave que entrava por uma janela pequena. Ela estava deitada em uma cama simples, coberta por lençóis amarelados e o forte cheiro de desinfectante. Ainda confusa, sua mente começou a lembrar dos eventos da noite anterior como flashes de um pesadelo interminável. Ela sentia dores em todo o seu corpo, e sua pele ainda estava marcada pelos marginais.
De repente, a porta do pequeno quarto abriu-se. Um homem de pele escura e baixo entrou, trazendo uma bacia de água morna e panos limpos. O nome dele era Senhor Adélio. Sua expressão era preocupada, mas seus olhos brilhavam com uma gentileza inesperada, uma luz humana que Paula não havia visto há muito tempo.
“Você está acordada… “ele disse em um tom baixo, quase sussurrado, como se não quisesse assustá-la. “Descanse, você está em segurança agora.”
Paula estava cansada e sua garganta seca, apesar de tentar falar. Ela sentiu uma onda de gratidão silenciosa, mas também de medo e confusão e apenas conseguiu acenar com a cabeça. Quem era esse indivíduo?
Adélio cuidou dela com carinho durante a madrugada. Ele havia limpado cuidadosamente suas feridas, limpando o sangue e a sujeira com panos molhados, tentando evitar tocar suas cicatrizes mais doloridas. Ele passou a maioria da noite em silêncio, pensando em como tirá-la de lá. A imagem de Paula no telejornal local permanecia em sua mente: uma mulher declarada desaparecida, que tinha se tornado o foco de uma caçada policial. Seu instinto foi mais forte quando viu Beterraba, Neguinho e a gangue de Trator arrastá-la pelos becos da favela; sabia que ela estava em perigo. Decidiu agir.
Quando finalmente conseguiu a chance, ele entrou na casa, e a resgatou enquanto todos estavam no baile funk, carregando-a nos braços para o seu barraco, com a maior atenção possível. Ele não poderia deixá-la ali. No amanhecer, ele a observava, preocupado com o que deveria fazer a seguir. Ele sabia que ela precisava ser entregue às autoridades, mas como poderia confiar em qualquer um, quando os traficantes estavam por toda parte? Além disso, havia um mistério no olhar de Paula que o intrigava. Ela parecia perdida, não apenas pelo trauma físico, mas como se sua alma estivesse à beira de um precipício.
“Você precisa de ajuda... da polícia,” disse Adélio, sentando-se em uma cadeira ao lado da cama. “Eu vou te levar até eles, mas precisamos ser cuidadosos. Essa favela está cheia de olhos.”
Ainda sem forças para responder, Paula caiu novamente na cama, fragmentando suas memórias dolorosas da noite. No entanto, ela se sentia segura perto daquele homem por algum motivo. Ele não parecia ter intenções ruins, e seu coração sentiu um pouco de esperança pela primeira vez em muito tempo.
Adélio olhou para a janela enquanto pensava em sua próxima ação. Embora o dia começasse a brilhar, a ameaça continuou. Trator e sua gangue certamente procurariam Paula de casa em casa assim que souberem que ela estava desaparecida. No caso de Adélio, não havia tempo para perder. Ele não sabia que sua decisão poderia mudar a vida de Paula e sua própria. A decisão de sair do anonimato e enfrentar os traficantes para salvá-la poderia ter consequências significativas, e o destino de ambos agora dependia de como agiriam nas próximas horas.
Adélio se levantou, decidido, enquanto os primeiros raios de sol iluminavam o quarto. Ele foi obrigado a agir quando o momento estava próximo. O senhor colocou suavemente a mão no ombro dela e sussurrou: “Eu já volto, descanse mais um pouco, moça”. Logo estará longe daqui. Eu juro.”
Ao retornar, Adélio acordou a advogada, apesar do desconforto que sentia em todo o corpo, Paula, ainda fraca, aceitou a ajuda de Adélio. Com as sandálias velhas e o chapéu de palha cobrindo parte de seu rosto, eles caminharam pelas ruelas da favela. O som do baile parecia tão longe quanto sua vida anterior. Adélio estava atento a cada movimento ao seu redor e continuou andando rápido, guiando-a pelos becos estreitos com a habilidade de quem sabia todos os atalhos daquele local.
Eles passaram por algumas figuras perigosas, rostos conhecidos de Paula, como Neguinho e Bafo de Cebola, mas, graças ao disfarce improvisado e à discrição de Adélio, ninguém a reconheceu.
O coração de Paula batia forte a cada olhar que recebia, temendo que a qualquer momento alguém a pegasse pelos braços, revelando sua identidade. Mas, para sua sorte, os traficantes estavam distraídos, ocupados com o baile que ainda animava a comunidade.
Finalmente chegaram à Kombi velha, Adélio abriu a porta traseira e ajudou Paula a subir com cuidado. Ele rapidamente a escondeu em meio ao caos, cheio de papelão, latinhas de alumínio e fios de cobre. Ele fechou a porta com um rangido suave e disse: “Fica aí, fique quieta e não se mova”.
Embora o motor da Kombi estivesse desgastado pelo tempo, ele ligou com um ronco alto. Adélio a conduziu pelas ruas estreitas da favela com calma de quem não queria levantar suspeitas, e rapidamente eles cruzaram as fronteiras daquele território perigoso.
O caminho para a liberdade de Paula transcorreu com sucesso. Adélio dirigiu até os arredores de uma delegacia com muita cautela. Ele sabia que não poderia se arriscar a entrar com ela por dois motivos. O primeiro era que ela atrairia muita atenção, e o segundo era que os informantes observavam tudo, até mesmo nas instituições que deveriam ser consideradas seguras.
“Agora é com você, moça” ele disse, abrindo a porta traseira da Kombi. Paula, ainda tremendo e com os pés doloridos, desceu com dificuldade. Seus olhos encontraram os de Adélio por um instante, e ela viu uma sinceridade naquele homem que a havia resgatado sem pedir nada em troca.
“Obrigada... por tudo, moço”, murmurou Paula, a voz ainda fraca, mas cheia de gratidão.
Adélio permaneceu silencioso e balançou a cabeça. Ele sabia que aquele era o fim de sua relação com ela. Paula tirou o chapéu de palha de sua cabeça e o entregou, respirou fundo e começou a caminhar em direção à delegacia com passos trôpegos.
Ao se retirar, Paula sentia o peso de tudo o que havia experimentado nos últimos dias, como dor, trauma, humilhação e principalmente, o início de algo que poderia ser uma chance de retomar o controle sobre sua vida. Adélio ficou de olho até que Paula desaparecesse na esquina. Esperou mais um pouco, assegurando-se de que ela estava segura, antes de voltar para a Kombi e desaparecer pelas ruas da cidade, com a sensação de que havia feito a escolha certa.
Quando Paula se apresentou na delegacia, exausta e visivelmente abalada, os policiais imediatamente reconheceram a gravidade da situação. A advogada desaparecida, envolvida em um caso que já havia chamado atenção nacional, estava finalmente ali, diante deles.
O delegado de plantão, Plínio, não perdeu tempo e contatou a polícia de São Paulo. O delegado Ronaldo, responsável pelo caso, foi informado da aparição e avisou prontamente os familiares mais próximos: Thiago, o marido. Elizabeth e Olavo, os pais de Paula.
O toque insistente do telefone despertou Thiago, hospedado em um hotel em São Paulo. Seu coração acelerou quando ouviu sobre Paula. Ainda em choque, ele mal conseguiu processar as informações antes de ir para a delegacia. Beraldo, o delegado de plantão, o recebeu com seriedade na delegacia e explicou os detalhes do resgate de Paula.
“Um milagre, em meio ao caos, ela foi resgatada de uma situação horrível por um catador de recicláveis e transportada para a delegacia.”, disse o delegado.
Quando ela foi internada em um hospital no Rio de Janeiro, a confirmação de que Paula havia sido abusada foi devastadora. Ao realizar os exames, os médicos notaram sinais de trauma físico e mental. Ainda chocada, Paula se lembrava de pedaços dolorosos dos dias anteriores, mas sua memória estava confusa. Seu trauma a havia deixado confusa, e os flashes de memória apenas piorava sua agonia.
Após receber as primeiras informações do delegado de plantão, o Beraldo, Thiago não ficou parado. Ele chegou direto ao aeroporto e pegou o primeiro voo para o Rio de Janeiro.
O pensamento de reencontrar Paula depois de tudo o que ela havia passado o deixava nervoso e ansioso. Ele estava ciente de que a mulher que ele amava havia sofrido graves feridas, e a ideia de que ela estava passando o consumia. Enquanto o avião cortava os céus em direção ao Rio de Janeiro, Thiago não conseguia afastar o peso de suas emoções. Sabia que, ao reencontrar Paula, a vida deles nunca mais seria a mesma.
O arquiteto, sabia que o próximo passo seria o mais difícil de sua vida: lidar com o que Paula havia se tornado e encontrar uma maneira de ajudá-la a se recuperar. Thiago chegou ao Rio de Janeiro com o coração apertado e a cabeça carregada de ideias negativas.
Após o desembarque, ele pegou um táxi e se dirigiu diretamente para a delegacia onde Paula havia se apresentado. A ansiedade aumentava a cada minuto, e o trajeto parecia não ter fim. Ao chegar à delegacia, o delegado Plínio o recebeu e, com um semblante grave, informou a cruel realidade que Thiago tanto temia: Paula havia sido violentada por vários homens no Complexo da Maré. Thiago sentiu a notícia como um soco no estômago. Ele foi consumido pela revolta e pela noção de que sua esposa havia sido submetida a tal crueldade.
“Eu vou acabar com esses desgraçados”, murmurou ele com raiva. Ele pensou que a única resposta possível era vingança contra os marginais.
No entanto, o delegado, que tinha experiência do local, deixou claro: “Se você entrar na Maré, vai sair morto.” Para quem não conhece, aquele lugar é um labirinto de morte. Deixa a justiça trabalhar.”, disse Plínio. Thiago, apesar da raiva pulsando em suas veias, sabia que o delegado tinha razão. Mesmo assim, o sentimento de impotência era quase insuportável. Sem outras opções, ele aceitou a escolta policial e entrou na viatura que o levaria ao hospital Getúlio Vargas, onde Paula estava internada.
O arquiteto entrou no hospital apressado, com pulso acelerado e respiração pesada quando chegaram. A cena que viu da esposa quando foi conduzido para o quarto, o quebrou por dentro. Ela estava deitada na cama, os olhos fechados, adormecida devido aos remédios que havia tomado. Ainda que não tivesse ferimentos consideráveis, o rosto dela parecia refletir o peso de tudo o que havia passado.
Thiago se aproximou lentamente, sentou-se ao lado da cama e agarrou a mão da esposa. Era difícil entender que a mulher que ele tanto amava e com quem compartilhava tantos momentos alegres, havia sofrido tanta agressão. Parecia que as lembranças de seu casamento, da lua de mel e de tudo o que passaram juntos eram distantes e quase inexistentes.
Ele não conseguiu conter as lágrimas que caíam silenciosamente em seu rosto. Eu estou aqui, minha querida... “Estou aqui”, ele sussurrou enquanto apertava suavemente a mão de Paula. Mesmo sabendo que ela não podia ouvi-lo naquele momento, ele prometeu que faria de tudo para ajudar a esposa a se recuperar, mesmo que isso significasse lutar contra todas as sombras que agora pairavam sobre eles.
Ainda tendo sofrido os chutes dos traficantes durante o baile, Cleiton rapidamente pegou suas roupas, objetos e fugiu da favela, com medo e a certeza de que nunca mais voltaria a àquele lugar. A favela agora era perigosa para ele. Ferido tanto fisicamente quanto emocionalmente, ele decidiu desaparecer, deixando para trás a casa, alguns móveis e todo o caos que havia causado.
Horas depois, Paula finalmente acordou no hospital Getúlio Vargas. Ao ajustar-se à luz suave do quarto, seus olhos abriram-se lentamente. Primeiro, viu Thiago sentado ao lado dela e segurando sua mão. A confusão inicial rapidamente se transformou em reconhecimento, e seus olhos começaram a escorrer lágrimas.
Sem dizer nada, ela apertou firmemente a mão de Thiago. O reencontro foi repleto de emoção: fortes abraços, beijos suaves e lágrimas que ambos mantiveram desde o início daquela provação. Ainda enfraquecida, Paula sentia tanto o alívio de estar ao lado de Thiago quanto o peso do que havia sofrido.
O arquiteto, com os olhos vermelhos de chorar, a segurava como se ela fosse desaparecer a qualquer momento. A dor que sentia por vê-la assim era insuportável, mas ele sabia que aquele era o primeiro passo para o começo da recuperação. “Eu estou aqui... eu nunca vou te deixar,” ele sussurrava no ouvido dela, enquanto ela retribuía o abraço com a pouca força que lhe restava.
Pouco depois, Paula deu o depoimento ao delegado Plínio. Ele era consciente de que o testemunho dela seria essencial para o avanço das investigações e para a identificação dos responsáveis.
Paula, mesmo atordoada e começou a contar como foi parar no Complexo da Maré. Ela relembrava fragmentos dos momentos vividos, mas sua memória estava confusa quando se tratava de Cleiton. Ela mencionou “Daniel” em vez de Cleiton quando tentou lembrar o nome do homem que a levou inicialmente para a Maré. Embora não tenha sido cometido deliberadamente, esse erro dificultará as investigações, que agora se concentravam em uma pista falsa e atrasaram a busca pelos culpados.
Elizabeth e Olavo chegaram ao hospital, ansiosos para encontrar Paula. O reencontro foi muito emocionante, especialmente para Elizabeth, que se aliviou ao ver a filha viva e correu até ela e a abraçou forte. As lágrimas de mãe e filha se misturavam enquanto Elizabeth acariciava os cabelos de Paula, agradecendo a Deus por aquele momento. Embora fosse um pouco mais distante e com reservas devido ao episódio anterior no apartamento da advogada, Olavo ainda estava emocionado ao ver a filha viva. Ele se aproximou e a abraçou com força, sem dizer nada.
Apesar da dor, da confusão e do trauma que ainda pairavam no ar, aquele momento representava um ponto de esperança para todos. Paula, cercada por aqueles que a amavam, começava a entender que, por mais difícil que fosse, ela não estava sozinha. Thiago, Elizabeth, e até Olavo estavam ao seu lado. E, juntos, iriam enfrentar o que viesse pela frente.
Após a emocionante visita a Paula no hospital, Elizabeth e Olavo saíram do quarto para comprar roupas novas para a filha, que estava apenas vestindo as roupas hospitalares. Vários jornalistas e fotógrafos aguardavam informações sobre o estado de saúde de Paula no lado de fora do hospital. Eles cercaram o casal, ávidos por detalhes, mas Elizabeth e Olavo, ainda abalados e querendo proteger a filha de mais exposição, evitaram falar com a imprensa. Sem dizer uma palavra, apressaram-se em pegar um táxi e partir.
O destino era um centro comercial próximo, onde eles rapidamente compraram roupas confortáveis e um par de tênis para Paula, que se recuperava do trauma. Elizabeth escolheu roupas bonitas e confortáveis, preocupada com o bem-estar de sua filha. Olavo, mais calmo, a acompanhava, ainda absorvendo tudo. Após a breve compra, retornaram ao hospital.
Paula, ainda frágil, foi levada por Thiago, ao banheiro no quarto para um banho, algo que parecia um pequeno luxo depois de tudo o que havia acontecido. Ao ligar a água morna, ela limpou não apenas a sujeira física, mas também a carga emocional e mental que estava grudada em sua pele. Quando saiu, vestiu as roupas e tênis, sentindo-se um pouco mais aliviada e mais próxima de sua identidade anterior.
Pouco tempo depois, o Dr. Tadeu fez sua última visita. Ele deu alta a Paula após avaliar seu estado físico. Ainda assim, deixou claro que o acompanhamento psicológico seria necessário para que ela se recuperasse. Paula, Thiago, Elizabeth e Olavo saíram do hospital sem falar com a mídia. Eles entraram em um táxi e foram escoltados por uma viatura que os levou até um hotel em Ipanema, onde puderam descansar longe da atenção dos jornalistas.
Paula, Thiago, Elizabeth e Olavo voltaram para São Paulo na manhã seguinte. Devido ao peso das últimas 24 horas, o voo foi tranquilo.
Nos dias seguintes, a rotina de Paula mudou drasticamente. Após uma nova consulta com um médico, ela começou a tomar um coquetel de medicamentos para evitar possíveis doenças sexuais, constante do que havia acontecido no Complexo da Maré.
Além disso, a advogada tomou a decisão de se consultar com um outro psicólogo. Optou por Karina, uma psicóloga mulher que poderia ajudá-lo a lidar melhor, porque se sentia mais desconfortável. A situação psicológica de Paula, por outro lado, revelou-se muito mais séria do que todos esperavam.
Depois disso, a nova psicóloga de Paula, que tinha um diagnóstico complicado, chamou Thiago e seus sogros. A colisão do acidente causou danos a uma região sensível do cérebro de Paula, causando o transtorno dissociativo de identidade, uma condição rara. Isso ajudou a explicar as significativas mudanças no comportamento da advogada.
De um lado, Paula era a mulher doce, carinhosa, dedicada — a esposa quase perfeita que Thiago sempre conheceu e amou. Mas em outros momentos, algo se despertava nela. Ela se transformava em uma pessoa completamente diferente: sedutora, impulsiva, e com desejos que não correspondem à sua verdadeira personalidade.
Thiago começou finalmente a entender as traições, comportamentos impróprios e falta de caráter da esposa. O resultado desse diagnóstico, agora fazia sentido. Era como se duas Paulas vivessem no mesmo corpo, e a versão sedutora poderia tomar o controle a qualquer momento. Esse diagnóstico não só explicava o passado recente, mas também lançou uma sombra sobre o futuro.
Thiago sabia que seu amor por Paula não havia mudado, mas sua vida agora parecia muito mais complicada ao lado dela. Cada dia seria uma batalha contra o imprevisto, sem saber qual versão de sua esposa estaria ao seu lado. Ele precisaria tomar uma decisão: se estava disposto a lidar com a nova realidade ou se estava disposto a abandonar o amor que ainda sentia.
Paula se tornava cada vez mais intensa e ninfomaníaca nas noites, tornando a situação quase insustentável para Thiago. Ela tinha um desejo avassalador que não podia ser controlado, e ela exigia sexo várias vezes seguidas, desgastando o marido física e emocionalmente. A cada três ou quatro dias, o arquiteto já sabia o que esperar, e a única maneira de tentar evitar essa necessidade, era tomar cuidadosamente remédios para relaxar. Ainda assim, Thiago estava tendo dificuldade em lidar com a experiência, pois lutava entre o amor que sentia pela advogada, e a dor de viver com essa dualidade constante. Thiago acreditava que os remédios eram a solução para controlar os impulsos incontroláveis de Paula. Toda vez que a versão ninfomaníaca dela se manifestava, ele administrava a medicação, sentindo-se aliviado ao vê-la adormecer e, pelo menos por algumas horas.
Mas o arquiteto não sabia que esses medicamentos apenas retardavam o inevitável. A verdadeira face sedutora de Paula não desaparecia — ela simplesmente esperava por outro momento.
Paula, A Predadora.
Na primeira vez que ela o traiu, após toda aquela confusão, Thiago havia saído para o trabalho, acreditando que tudo estava sob controle, Paula se levantava lentamente da cama. O efeito dos remédios já havia passado, e, mais uma vez, aquela chama insaciável dentro dela começava a crescer. A advogada se banhou por um tempo considerável, como se estivesse removendo os últimos sinais de normalidade de sua pele.
A seguir, ela decidiu que sua lingerie ideal seria um conjunto de renda vermelha refinado e provocante. A advogada estava vestindo uma saia curta que destacava suas curvas, além de uma blusa decotada que deixava à mostra uma parte de seu busto sedutor. Paula finalizou o visual com um batom vermelho, que ressaltava ainda mais sua aura irresistível, calçando sapatos de salto alto.
Paula saiu do apartamento com a chave do carro na mão e dirigiu até uma área da cidade, deixou o veículo em um estacionamento pago e, em seguida, pegou um ônibus, uma espécie de jogo sexual.
Quando ela subiu no ônibus com passos calculados, a advogada estava consciente de que, entre os olhares dos passageiros, havia alguém que a desejava. Embora vários homens a observassem, seus olhos rapidamente se fixaram em um em particular: um homem com pele escura, sentado ao fundo que a observava cuidadosamente.
Paula se aproximou e se sentou ao seu lado, sorrindo provocativamente. Parecia que ele estava hesitante, mas claramente atraído. Ela esfregou sua perna direita na perna do homem, e deslizou sua mão sobre a perna dele, o suficiente para quebrar qualquer resistência que ele pudesse sentir. A advogada fez isso com um toque casual. Até então, o homem parecia estar calmo, começou a respirar mais rápido. Paula sussurrou em seu ouvido:
“Por que não vem comigo na próxima parada?”.
O convite implícito era cheio de promessas. O homem acenou a cabeça sem pensar. Os dois desceram juntos quando o ônibus parou, guiados pelo desejo e quase sem falar.
Um motel de quinta categoria os aguardava após uma caminhada de algumas quadras. Paula puxou-o pela mão, olhando para ele com clareza, apesar de sua incerteza. Paula foi rápida ao entrar no quarto com o amante. Sob a luz do ambiente, jogou a bolsa em uma cadeira e começou a tirar as roupas lentamente. A luxúria atordoou o homem, que a seguiu com os olhos, incapaz de resistir à atração que ela exalava. Paula se aproximou e puxou-o para a cama.
Eles transaram com uma intensidade primitiva, seus corpos unidos em um ritmo voraz. O homem não acreditava na mulher que estava diante de si. Paula, com seus 1,70 de altura, e seu aspecto mais atraente, estava totalmente descontrolada e se entregava ao prazer sem reservas. Ele a chupou toda e a fodeu em diferentes posições, incluindo de quarto no sexo anal. Foram ao menos, 40 minutos, divididos em duas transas. Ao ejacular no rosto dela, Paula rapidamente foi se limpar. Vestiu-se com a mesma tranquilidade, e deixou o homem sozinho no quarto de motel, ainda tentando recuperar o fôlego.
Enquanto dirigia de volta para casa, Paula sentia-se satisfeita. Mais uma vez, sua outra personalidade havia tomado as rédeas, e o que Thiago nunca imaginaria era sua esposa, continuava à espreita, sempre pronta para emergir na próxima oportunidade.
Em outra situação, numa tarde quente, o sol castigava a cidade e Paula, mais uma vez, sentia o despertar da outra parte de si. Thiago havia saído cedo para o trabalho, e, mesmo após a dose habitual de remédios que ele insistia em lhe dar, a chama dentro dela não tinha sido apagada — apenas adormecida por algumas horas. Mas agora, o desejo estava pulsante, incontrolável.
Esta vez, a advogada estava vestida com uma blusa fina, que deixava e, uma saia curta seus ombros à mostra. Ao perambular de carro pelas ruas da cidade, ela não sabia para onde ir, até que uma obra em andamento em um bairro afastado chamou sua atenção.
Ela observava os três com um olhar predatório enquanto estacionava o carro em frente à casa ainda em construção.
A advogada desceu do carro com passos sensuais, com o vento quente jogando seu cabelo para trás, e o brilho em seus olhos deixava claro que não estava ali por acaso. Os três pedreiros ficaram com a impressão de que ela era a dona da casa. Em particular, eles pararam o que estavam fazendo para olhá-la, abandonando as ferramentas no chão, enquanto seus olhos acompanhavam cada movimento da mulher que se aproximava. Os olhares curiosos, começavam a se voltar para ela, porém, se transformou em olhares desejosos e rapidamente se fixaram nela.
Paula chegou perto dos três, seus olhos fixos neles. Ela não disse uma palavra, mas seu corpo falava por si. Com um sorriso provocante, ela mordeu levemente o lábio e deu um passo mais próximo, suas mãos correndo pelos braços fortes e suados de um dos pedreiros. Eles se entreolharam e ficaram surpresos com a coragem daquela mulher que havia surgido do nada.
No entanto, Paula fez um sinal rápido para que a seguissem para a parte interna da obra, onde a casa oferecia uma barreira de privacidade. E lá, a sedução, o jogo começou! O nome deles não foi perguntado pela advogada. Enquanto os homens se aproximavam, com respiração pesada e mãos ávidas, ela levantou a saia e revelou a lingerie que mal conseguia esconder sua vagina.
Rivaldo José, um dos pedreiros, começou a se aproximar da advogada. Ele a observava com desejo, sem saber o que ela queria. Alto, de pele escura, musculoso e com o rosto suado debaixo do capacete preto, a esperou agir. Paula não disse uma palavra, mas o olhar que trocou com ele foi suficiente para fazer com que ele largasse a pá que segurava. Ela o puxou com um sorriso malicioso para uma mesa de madeira pequena, (onde os trabalhadores colocavam suas marmitas para comer). Paula deitou-se de costas contra a mesa e insinuou abrir as pernas, fazendo com que Rivaldo José, ainda confuso, se aproximasse dela.
Paula abriu rapidamente as pernas, revelando sua intimidade, levantou-se, desceu da mesa, desabotoou a calça de Rivaldo e chupou o membro com urgência, colocando o pau do pedreiro toda na sua boca. Após algum tempo. Ela virou de costas sobre a mesa. O pedreiro estava sem palavras e apenas a penetrou por trás na buceta, gemendo de alegria, ao mesmo tempo que, ela rebolava com movimentos rápidos e intensos para satisfazê-lo. Rivaldo mal conseguia se manter de pé, respirando ofegante, a golpeando com brutalidade. O pedreiro chegou ao ápice em cinco minutos e ejaculou dentro dela. Paula ria, ainda com fome de sexo.
Antes que pudesse se recuperar, os outros dois pedreiros, Antônio e Betão, atraídos pela risada e gemidos dela, se aproximaram. Paula não hesitou, o desejo dentro dela ainda estava longe de ser saciado.
Um gesto leve com os dedos, ela chamou um dos pedreiros para foder. Antônio, o mais jovem e impulsivo dos três. A intensidade foi ainda maior com ele, virando-a de costas para uma pilha de tijolos, ele tirou as calças e a puxou contra si. Paula segurou-se enquanto o novinho a penetrou com força, agindo rápida e violentamente.
O corpo da advogada saltava de cada estocada, e os dois gemeram enquanto o som dos corpos ecoava pelas paredes de concreto inacabadas. Enquanto Paula gemia e o incentivava com movimentos sensuais e palavras sussurradas, Antônio mal conseguia controlar o ritmo, seu desejo pela estranha, tomando conta. Agarrado ao quadril e ao seio esquerdo da advogada, ele finalmente gozou na buceta dela e a soltou rudemente.
Betão, o mais velho e alto dos três, observava tudo de perto, seus olhos cheios de excitação. Quando chegou sua vez, ele foi o mais rude e intenso dos três. Com pressa, ele puxou Paula para o chão, deitando-se sobre o corpo dela em uma lona azul espalhada no chão. Ali, Betão, explorou cada parte do corpo da bela, com a boca e as mãos ásperas, sujas e calejadas. Ele lambeu os seios suculentos de Paula, a fez mamar no pau grande. Ela se entregou totalmente a esse homem corpulento, se arqueando em resposta.
A advogada incentivou-o a ir mais fundo após ser penetrada de quatro em seu anal. A relação sexual entre eles era quase uma dança, com suas trocas de movimentos cada vez mais intensas até que Betão, no ápice, ejaculasse dentro da bela mulher.
Quando tudo estava concluído, os três pedreiros ficaram exaustos, com seus corpos suados e cansados. Por outro lado, Paula levantou-se lentamente, vestindo o vestido, e sem olhar para trás, ajeitou o cabelo e saiu da obra toda suja e gozada, deixando os homens atordoados e sem palavras.
A advogada entrou no carro, ainda mais satisfeita, e dirigiu de volta para casa, onde sua outra faceta, mais tranquila e controlada, aguardava o momento de ressurgir.
Entre o Desejo e a Resignação.
Haviam passado alguns meses, desde que Thiago começou a perceber que os medicamentos não eram suficientes para controlar os impulsos incontroláveis de Paula. Ela contava sobre as traições por conta própria. Em vez de procurar uma solução definitiva ou confrontá-la. Ele já não via mais Paula como antes. A mulher que amava estava presa entre dois mundos, e ele, sem forças para lutar contra, decidiu ceder. Se não podia vencê-la, então faria parte disso.
Era uma noite comum, e Thiago estava sentado no sofá do apartamento, aguardando com resignação, outro amante da esposa que chegaria em poucos minutos. Não era a primeira vez que isso acontecia, era a décima nona vez, mas a cada nova visita, ele se acostumava, ainda que agora não houvesse mais surpresa, apenas aceitação. Ele havia se tornado cúmplice daquela parte de sua esposa, permitindo que os desejos dela tomassem conta da vida deles.
Quando o interfone tocou, Thiago levantou-se, abriu a porta do apartamento e encontrou um homem maior que ele, forte, com um sorriso de canto que sugeria que sabia exatamente o que aconteceria.
O amante da vez, se chamava Gabriel, não trocou muitas palavras com Thiago; havia um acordo financeiro entre eles. Era como se estivessem seguindo um ritual já conhecido, cada um desempenhando seu papel. Ao pegar a grana da mão de Gabriel, Thiago diz: “Ela está esperando por você no quarto,” disse ele, a voz calma, quase fria.
“Beleza, vou dar um trato nela, principalmente naquele cuzão.”, disse o cliente sorrindo, olhando nos olhos tristes de Thiago.
Thiago deu um passo para o lado, permitindo que Gabriel entrasse. O homem passou por ele sem olhar para trás, caminhando diretamente para o corredor que levava ao quarto.
Paula o esperava no quarto. Ela estava linda, cheirosa e deitada na cama com os cabelos soltos caindo sobre os ombros, vestindo uma lingerie preta rendado transparente. Seu olhar era predatório e convidativo. A transformação que tomava conta dela nesses momentos era visível; a Paula que esperava por Gabriel não era a mesma pessoa que Thiago conhecia. Era uma pessoa diferente, alguém que ansiava por algo que ele não podia mais oferecer, não todos os dias.
Gabriel fechou rapidamente a porta do quarto e se aproximou da cama. Enquanto ela o puxava para perto, Paula sorriu, seus olhos brilhando de desejo. Ele a beijou com intensidade, as mãos grandes e firmes deslizando por seu corpo, examinando cada centímetro de sua pele com familiaridade. Em resposta, Paula suspirava, entregando-se totalmente àquele momento.
Thiago permanecia na sala e ouvia os sons abafados do quarto enquanto Gabriel a despia lentamente. O arquiteto fechou os olhos por um momento, tentando se afastar, mas sabia que sua aceitação era o que permitia que tudo continuasse. Paula gemia de prazer a cada toque de Gabriel. Ela se arqueava sob ele e puxava-o para mais perto, seus corpos se encarando. As mãos dele apertavam suas coxas enquanto os beijos percorriam seu peito e pescoço, deixando um rastro de desejo por trás.
Após mamar no pau do amante, Paula gemia mais alto a cada movimento das estocadas rápidas e fortes de Gabriel. Seus corpos se moviam ao mesmo tempo, um crescendo em relação ao outro. Ela puxava-o para si, arranhando as costas dele, como se quisesse absorvê-lo por completo. O som pesado de respiração, misturado com os gemidos e o ranger da cama, preenchia o quarto e fora dele.
Eles transaram por trinta minutos, e em várias posições, inclusive anal de quatro e por cima do amante. Mas, o clímax chegou para Gabriel. Com uma onda de intensidade, o cliente, quer dizer, o amante, murmurou algo próximo ao ouvido de Paula, e ela respondeu com um sorriso abrindo a boca, e colocando a língua para fora, os olhos ainda brilhando com o fogo que parecia ser capaz de acender. A questão é, que Gabriel gozou na boca de Paula, e ela engoliu o esperma dele.
Após, eles ficaram deitados lado a lado por alguns minutos, a respiração ainda acelerada, os corpos entrelaçados. Do lado de fora, o arquiteto ouviu o silêncio retornar ao apartamento. Sabia que logo Gabriel sairia do quarto, se vestiria e deixaria o apartamento, como fez todos os outros amantes.
“Gostei da sua esposa, amigão? Fodi ela toda e gozei na boca dela.” “Semana que vem, estou de volta.”, disse Gabriel sorrindo, antes de deixar o apartamento. Thiago, sentado sozinho no sofá após a partida do amante da esposa, sentiu o peso de sua realidade cair sobre ele como uma onda de dez toneladas.
A cada respiração, o vazio ao seu redor parecia se expandir. Ele olhou para o interior do quarto, onde sua esposa estava deitada na cama com o rosto e a boca cheio de sêmen, se perguntou em que ponto ele havia perdido o controle. Em que momento o amor que ainda nutria por Paula se transformara em uma aceitação dolorosa e passiva pelo resto da vida, daquilo que ele jamais poderia entender ou mudar?
Sua mente vagava, repetindo a mesma pergunta que o atormentava todas as noites: Será que eu ainda posso salvar o que resta de nós, ou já me tornei cúmplice do abismo que a consome?
Fim.