Lívia era o retrato da inocência, ou ao menos era isso que todos pensavam ao vê-la. Com apenas 18 anos, ela tinha uma aparência angelical — cabelos loiros que caíam em ondas suaves até os ombros e olhos claros que pareciam esconder segredos. Seus trajes eram sempre modestos, típicos de uma garota que frequenta a igreja batista com regularidade. Porém, por baixo da timidez e das roupas discretas, havia um corpo jovem e cheio de curvas que chamavam a atenção, mesmo que ela tentasse, sem sucesso, ocultá-las.
Ela morava com o pai, Cláudio, um homem de 50 anos que gostava de levar a vida de forma tranquila, quase desleixada. Apesar da diferença de comportamento, ele amava a filha e lhe dava a liberdade para ser quem ela quisesse. A madrasta, Regina, era uma presença forte na casa. Aos 40 anos, negra e com um porte elegante, ela exalava confiança em cada gesto. Regina era o oposto de Lívia em muitos aspectos: onde Lívia era recatada e tímida, Regina era extrovertida e segura de si. Elas se davam bem, mas havia um distanciamento natural, como se cada uma pertencesse a um mundo diferente.
Primeiro Encontro
Naquele dia, Lívia decidiu visitar uma pequena cafeteria perto da praia de Itanhaém. Era seu refúgio, um lugar onde podia ler em paz e observar o mundo ao redor. O café era acolhedor, com suas mesas de madeira clara e grandes janelas que deixavam a luz do sol inundar o ambiente. A música suave ao fundo contribuía para a atmosfera relaxante.
Sentada em seu canto habitual, com um livro nas mãos, Lívia mergulhou na leitura, mas não por muito tempo. Foi quando ele entrou. Gabriel. Ela não sabia o nome dele ainda, mas algo nele prendeu sua atenção. Ele tinha uma presença que não podia ser ignorada, um ar confiante e despreocupado que o destacava. Gabriel era diferente dos rapazes da igreja. Com 37 anos, ele parecia alguém que conhecia o mundo — e o mundo certamente o conhecia.
Gabriel era magro, mas tinha um corpo definido, como o de alguém que se exercita não por vaidade, mas por necessidade. Afinal, ele era bombeiro, e a praia de Itanhaém era seu território. Lívia notou a tatuagem na base do pescoço quando ele virou para fazer o pedido: "Guardião". A palavra parecia carregar um peso, uma história que ela não conhecia, mas que queria desvendar.
Ele não a notou de imediato, mas quando seus olhares finalmente se cruzaram, Lívia sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Os olhos de Gabriel eram castanhos, e eles a observaram por um instante, curiosos. Lívia baixou os olhos rapidamente, envergonhada pela intensidade do momento, mas não antes de perceber o ligeiro sorriso que ele lhe lançou antes de se virar.
Um Encontro na Praia
Dias depois, Lívia foi à praia, algo que não fazia com frequência. Havia algo de libertador naquele lugar, um contraste com a rigidez da igreja. Caminhando pela areia, ela avistou Gabriel à distância. Ele estava conversando com alguns colegas, rindo descontraidamente, mas o que realmente chamou sua atenção foi a visão dele em uma sunga preta.
Lívia sentiu seu coração acelerar e uma onda de calor tomar conta de seu corpo. Ela nunca tinha reagido assim antes a um homem, e a intensidade do que sentia a assustou e excitou ao mesmo tempo. O corpo dele era esguio, mas perfeitamente esculpido. A definição do abdômen era visível, cada músculo delineado sob a pele bronzeada. Gabriel se movia com uma naturalidade que a deixava hipnotizada.
Ela tentou desviar o olhar, mas era impossível. Sentia as pernas tremerem, o coração batendo forte como se quisesse escapar do peito. Era um sentimento novo, avassalador, algo que ela nunca tinha experimentado antes. Lívia se sentia uma espectadora de seu próprio desejo, uma emoção que até então estava escondida em algum lugar profundo dentro dela, despertando como uma chama.
Lívia se virou rapidamente, temendo que ele pudesse perceber o que ela estava sentindo. Caminhou de volta para casa, mas a imagem de Gabriel ficou gravada em sua mente. Aquele encontro casual na praia, a visão de seu corpo quase nu, a fizeram perceber algo sobre si mesma — um desejo que ela sempre reprimiu, agora despertando com uma força incontrolável. E, pela primeira vez, Lívia se viu desejando algo além das preces e dos sermões de domingo. Algo que ela não podia controlar, algo que a fazia querer maisA mãe de Lívia, Viviane, era como uma versão mais madura e vivida de Lívia. Se estivesse viva, teria 35 anos, mas uma foto dela ainda ocupava um lugar especial na casa. Nessa imagem, era possível ver as semelhanças quase assustadoras entre mãe e filha. Viviane tinha o mesmo cabelo loiro e ondulado, caindo graciosamente sobre os ombros, e os mesmos olhos claros que pareciam conter um oceano de segredos. Sua beleza era inegável, e, mesmo na foto, havia um brilho nos olhos que sugeria uma vida cheia de paixão e intensidade.
Ela era conhecida por ser doce e ao mesmo tempo uma força da natureza. Diferente de Lívia, Viviane era extrovertida e segura de si. Não havia uma pessoa que não fosse cativada por seu sorriso radiante e sua presença acolhedora. Ela possuía uma elegância natural que transcendia a idade, e muitos diziam que era uma mulher capaz de conquistar qualquer coisa que desejasse.
Embora tenha sido criada em uma família conservadora, Viviane não se deixava limitar. Ela era um espírito livre que sabia o que queria da vida, e sua independência era algo que Lívia sempre admirou. Talvez fosse essa liberdade interior que Lívia sentia falta e que a fazia se sentir tão reprimida às vezes, como se vivesse à sombra de uma mãe que ela nunca poderia ser.
A relação entre Cláudio e Viviane era algo que as pessoas costumavam invejar. Eles se conheciam desde a adolescência, e Viviane era a musa que inspirava Cláudio a ser uma versão melhor de si mesmo. Ela sempre o incentivava a seguir seus sonhos, a não se contentar com uma vida comum. Era essa vivacidade que Cláudio dizia faltar em sua vida depois que ela partiu.
Infelizmente, Viviane morreu jovem, deixando Lívia quando ela ainda era uma criança. Sua morte deixou um vazio que nunca foi completamente preenchido. Cláudio se afundou em seu próprio luto por um tempo, e foi Regina que trouxe uma nova luz à vida dele. Apesar da nova relação, ele nunca tirou a foto de Viviane da sala, e Lívia sempre sentiu uma presença quase fantasmagórica de sua mãe na casa.
Lívia cresceu ouvindo histórias sobre como era parecida com a mãe, não apenas fisicamente, mas também em sua natureza. No entanto, ela sempre sentiu que lhe faltava a coragem e a liberdade que Viviane tinha de sobra. Viviane era o que Lívia desejava ser, uma mulher que seguia seus desejos e não tinha medo de viver plenamente.
Essa constante comparação a fazia se sentir uma prisioneira de seu próprio corpo, tentando corresponder a uma expectativa invisível. Ela se perguntava, secretamente, se algum dia conseguiria encontrar aquela mesma chama dentro de si que sua mãe possuía, aquela que a fazia se destacar e viver sem amarras. Ao conhecer Gabriel, Lívia começava a perceber que talvez houvesse uma parte dela pronta para despertar, uma parte que ela herdara de Viviane, esperando pelo momento certo para se libertar.....
Primeiro Encontro e Atração
Era um domingo como qualquer outro para Lívia. Ela se preparou cedo para o culto da igreja batista, escolhendo um vestido azul claro que se ajustava ao seu corpo de forma sutil, destacando sua silhueta de forma discreta. O tecido leve balançava suavemente enquanto ela caminhava em direção ao templo, cumprimentando com um sorriso tímido os outros membros da congregação. Lívia tinha um lugar específico onde sempre se sentava, na terceira fileira, do lado direito do corredor. Era um local estratégico: perto o suficiente do altar para que pudesse acompanhar o sermão sem distrações, mas não tão próximo a ponto de chamar atenção.
A igreja estava cheia naquele dia, como de costume. As vozes se misturavam em um burburinho suave enquanto as pessoas se acomodavam em seus lugares, cumprimentando-se com abraços calorosos e apertos de mão. Foi quando Lívia o viu novamente. Gabriel estava lá, parado ao lado de um casal que era conhecido por sua exuberância. Ele estava vestido de forma simples, mas elegante, com uma camisa social branca e calça preta. Havia uma presença nele que destacava, algo que fazia com que todos ao redor parecessem perder o brilho. O perfume dele era inebriante, uma mistura de notas amadeiradas e um toque fresco, que chegava a ela mesmo à distância.
Os membros da igreja cochichavam entre si, curiosos sobre o visitante. O casal ao lado dele, conhecidos por sua tendência a se exibir, parecia estar fazendo de tudo para impressioná-lo, rindo alto e gesticulando de maneira expansiva. Gabriel, no entanto, parecia educado, mas pouco envolvido com o falatório deles. Ele olhou ao redor, como se estivesse procurando algo, ou alguém, e então seus olhos encontraram os de Lívia. Ela sentiu seu coração acelerar. Era como se o tempo tivesse parado por um momento, e todo o barulho ao redor se tornasse um mero sussurro.
Para a surpresa dela, Gabriel se dirigiu para onde ela estava sentada. Havia muitos lugares vazios nas fileiras à frente e atrás, mas ele escolheu o assento ao lado dela. Lívia sentiu um misto de nervosismo e excitação. Gabriel se acomodou ao lado dela com uma naturalidade que a fez sentir uma presença calorosa e um tanto perturbadora.
"Oi," ele disse, sua voz baixa e suave. "Eu sou Gabriel."
Lívia engoliu em seco, sentindo o perfume dele mais intensamente agora. "Oi," ela respondeu, tentando manter a voz firme. "Eu sou Lívia."
"Prazer em conhecê-la, Lívia," ele sorriu, e seus olhos pareciam brilhar com algo que ela não conseguia identificar. "Você frequenta essa igreja há muito tempo?"
"Desde que eu era criança," ela respondeu, se sentindo um pouco exposta sob o olhar atento dele. "E você? É a primeira vez aqui?"
Ele assentiu. "Sim, fui convidado por um casal," disse, indicando com um discreto movimento de cabeça o casal exibido que agora falava com outra pessoa. "Eles são... simpáticos."
Lívia não pôde deixar de sorrir. "Eles são bastante... receptivos."
"É um bom lugar," Gabriel comentou, olhando ao redor da igreja. "Calmo. Gostei disso."
A conversa entre eles continuou enquanto as pessoas ao redor tomavam seus assentos. Havia uma naturalidade na maneira como ele a fazia se sentir à vontade, algo raro para Lívia, que geralmente era reservada e tímida. Ela percebeu que ele a fazia rir, algo que poucos conseguiam. O culto começou, e eles ficaram em silêncio, mas Lívia sentia a presença dele tão próxima que mal podia se concentrar nas palavras do pastor.
Durante uma oração em pé, os fiéis fecharam os olhos e se concentraram em seus próprios pensamentos. Lívia, por um momento, deixou sua mente vagar, sentindo o braço de Gabriel roçar o dela. Não foi um toque planejado, parecia apenas o movimento natural de seus corpos próximos. Mas a eletricidade daquele simples contato fez com que ela sentisse um arrepio percorrer sua pele. Ela abriu os olhos por um instante, olhando de soslaio para ele. Gabriel estava de olhos fechados, uma expressão de paz em seu rosto, mas Lívia sabia que ele também sentira algo. Era como se a atmosfera ao redor deles tivesse mudado, carregada com uma tensão sutil, mas palpável.
Depois do culto, enquanto as pessoas se dispersavam, Gabriel se virou para ela. "Você vem sempre a esses encontros depois do culto?" Ele perguntou, referindo-se ao café e à conversa que os membros da igreja costumavam ter no salão social ao lado.
Lívia hesitou. Ela geralmente ia, mas naquele dia não tinha certeza se queria prolongar aquele momento. Ou se queria demais. "Às vezes," ela respondeu, tentando soar casual. "Você vai?"
"Se você for," ele disse, lançando-lhe um olhar que fez seu coração acelerar novamente. Era uma simples frase, mas dita de uma maneira que parecia conter algo mais. Uma promessa não dita, um convite a explorar algo além das paredes da igreja.
"Então acho que sim," ela respondeu, sentindo uma coragem inesperada crescer dentro dela.
Eles se juntaram ao grupo, mas continuaram conversando, envolvidos em seu próprio mundo. Havia uma química entre eles que era impossível de ignorar. Gabriel era charmoso, educado, mas havia uma intensidade em seu olhar que a fazia se sentir exposta e desejada ao mesmo tempo. E ela estava gostando disso mais do que estava disposta a admitir.....
Após o culto, Lívia e Gabriel se juntaram ao grupo no salão social da igreja, onde todos se reuniam para um café e uma conversa descontraída. Lívia estava acostumada com essas reuniões, mas naquele dia, tudo parecia diferente. A presença de Gabriel ao seu lado transformava o ambiente familiar em algo mais carregado, quase íntimo.
Eles encontraram um lugar para se sentar, e Gabriel continuou puxando conversa. Ele era um excelente ouvinte, fazendo perguntas que mostravam um interesse genuíno pela vida dela. Lívia contou um pouco sobre sua rotina, seus estudos e o quanto gostava da paz que a igreja lhe proporcionava. Ele a ouvia com atenção, e em seus olhos havia uma curiosidade que a fazia sentir-se especial.
"Você parece tão serena," ele comentou em certo momento, com um sorriso leve nos lábios. "Mas eu sinto que há mais em você do que aparenta."
Lívia sentiu seu rosto esquentar, surpreendida pela observação. "Não sei do que você está falando," ela disse, tentando manter a voz estável. Mas a verdade é que ela sentia que ele a enxergava de uma maneira que ninguém mais via. Como se ele pudesse perceber o turbilhão de sentimentos e desejos que ela mantinha escondidos sob a superfície.
Eles conversaram por mais um tempo, cada palavra trocada aumentando a tensão sutil entre eles. Lívia estava completamente envolvida, tanto na conversa quanto na presença dele. A maneira como Gabriel a olhava fazia seu coração bater mais rápido, e ela sentia como se estivesse flertando com algo perigoso, mas irresistivelmente atraente.
O tempo passou rápido, e quando Lívia percebeu, o salão estava começando a esvaziar. Gabriel se levantou, olhando para ela com um sorriso que parecia uma promessa silenciosa de que aquele não seria o último encontro deles.
"Foi muito bom conversar com você, Lívia," ele disse, a voz carregada de uma doçura inesperada. "Espero que a gente se veja em breve."
"Eu também," ela respondeu, tentando não soar tão ansiosa quanto se sentia. A ideia de vê-lo novamente a deixava em um estado de excitação nervosa.
Então, o casal que havia trazido Gabriel para a igreja se aproximou. A mulher, uma figura conhecida por ser extremamente vaidosa e um tanto provocativa, chamou Gabriel. "Vamos, querido?" ela disse, com um tom possessivo que não passou despercebido por Lívia.
Antes de saírem, a mulher deu um abraço em Gabriel. Não foi um abraço comum. Ela o envolveu com os braços de forma possessiva, colando o corpo ao dele. Gabriel correspondeu de maneira cortês, mas Lívia não pôde deixar de notar como a mulher parecia se demorar mais do que o necessário. Os rumores sobre ela eram conhecidos na igreja — diziam que ela era exibida, que seu casamento era mais uma fachada do que uma verdadeira união, e que o marido, sempre desinteressado, não se importava com as escapadas dela. Havia até mesmo boatos sobre sua infidelidade.
Lívia sentiu uma pontada de ciúmes tão intensa que a surpreendeu. Uma mistura de raiva e insegurança tomou conta dela ao ver aquela mulher se agarrando a Gabriel com tanta familiaridade. Era irracional, ela sabia, mas não conseguia evitar. A visão daquele abraço, daquele contato tão íntimo, fez com que seu coração apertasse de um jeito que ela nunca havia sentido antes. Era como se a mulher estivesse reivindicando algo que Lívia desejava secretamente.
"Até logo, Lívia," Gabriel disse, soltando-se do abraço da mulher e lançando um último olhar para ela antes de sair.
"Até," ela respondeu, tentando esconder qualquer traço de ressentimento em sua voz. Mas enquanto ele se afastava com o casal, Lívia percebeu que estava sentindo algo novo. Algo que ela não entendia completamente, mas que a consumia por dentro. Um ciúme possessivo, um desejo de ter Gabriel só para si, longe dos braços de qualquer outra pessoa, especialmente daquela mulher exibida.
Ela ficou ali, olhando enquanto eles saíam da igreja, um turbilhão de emoções se agitando dentro dela. Aquele encontro havia despertado algo profundo, uma fome que ela não sabia que existia. E, pela primeira vez, Lívia começou a entender que seu desejo por Gabriel não era apenas uma fantasia passageira, mas algo muito mais intenso e perigoso do que ela poderia imaginar....
Lívia não conseguia tirar Gabriel da cabeça após aquele encontro na igreja. A lembrança da conversa e da química que sentiu ao seu lado a acompanhava como um perfume persistente. Cada detalhe daquele dia estava gravado em sua mente, especialmente o jeito como ele a fazia sentir-se vista e percebida. Ela sabia que algo estava mudando dentro dela, um desejo que se intensificava a cada pensamento sobre ele.
Dias se passaram e, em uma manhã preguiçosa de segunda-feira, enquanto tomava café na mesa da cozinha, Lívia folheava um jornal local. Entre os anúncios e notícias, uma chamada em negrito chamou sua atenção: “Curso de Guarda-Vidas Temporários - Contrato de 6 Meses. Inscrições Abertas!” Ela ergueu uma sobrancelha, curiosa. Não era o tipo de coisa que normalmente a interessaria, mas algo a fez continuar lendo. “Instrutor: Gabriel Silveira.” O nome fez seu coração saltar.
Gabriel? O nome dele ali, no papel, tornou-se mais real, mais palpável. Ela sabia que ele era bombeiro na praia, mas não imaginava que ele estivesse envolvido em treinamentos. A ideia de vê-lo novamente, de estar mais perto dele, despertou uma ansiedade que ela não conseguia controlar. Lívia nunca havia pensado em ser uma guarda-vidas, mas o verão se aproximava e, com ele, a possibilidade de fazer algo diferente.
Sem pensar muito, decidiu se inscrever. Era uma decisão impulsiva, quase irracional, mas Lívia sentiu que precisava fazer isso. Talvez fosse uma maneira de se aproximar dele, ou talvez fosse apenas uma desculpa para sair de sua rotina monótona. De qualquer forma, ela sabia que não poderia deixar passar a oportunidade.
Primeira Aula na Praia
No dia da primeira aula, Lívia chegou cedo à praia. O curso aconteceria em um trecho isolado, longe da área movimentada onde os turistas costumavam ficar. Ela se sentia nervosa e um pouco fora do lugar, vestida com um maiô esportivo e um short curto. Os outros inscritos, a maioria mais jovens, pareciam animados, mas ela estava preocupada demais com o que aconteceria quando Gabriel chegasse.
Ela olhou para o mar, tentando se acalmar. O som das ondas sempre a tranquilizava, mas naquele momento, nem o oceano conseguia silenciar o turbilhão de emoções dentro dela. Foi quando o viu chegando. Gabriel caminhava pela areia com a mesma confiança de sempre, vestindo uma camiseta branca e uma bermuda preta, o corpo atlético em evidência. Seu olhar varreu o grupo rapidamente, até encontrar o de Lívia. Ele sorriu, um sorriso que parecia dizer que estava feliz em vê-la ali.
“Bom dia, pessoal,” Gabriel cumprimentou o grupo com sua voz firme e amigável. “Bem-vindos ao curso de guarda-vidas. Eu sou o Gabriel, e estarei com vocês nas próximas quatro semanas. Nosso objetivo aqui é prepará-los para agir em situações de emergência na água, mas também vamos trabalhar muito na resistência física e mental.”
Lívia o ouvia, mas sua mente estava focada em como ele parecia ainda mais atraente à luz do sol, o bronzeado realçando suas feições. Ela tentava se concentrar nas instruções, mas a presença dele a deixava atordoada.
Aulas Intensivas e Observações
Nas aulas de salvamento, Gabriel não usava mais a camiseta que costumava vestir no dia a dia. Ele se apresentava apenas de sunga, algo comum entre os guarda-vidas. Sua presença física era impressionante; a sunga deixava à mostra seu abdômen extremamente definido e suas pernas musculosas. Lívia tentava manter o foco nos exercícios e nas instruções, mas era difícil ignorar a visão dele tão à vontade, com a pele bronzeada brilhando sob o sol da manhã.
O curso era composto por trinta pessoas: vinte homens e dez mulheres. Entre as mulheres, duas em particular se destacavam por sua atitude provocante. Elas eram conhecidas por serem atiradas, especialmente em relação a homens mais velhos. Lívia as observava de longe, com uma mistura de curiosidade e desconforto. Elas faziam questão de se aproximar de Gabriel sempre que podiam, rindo alto e trocando olhares insinuantes.
“Você viu o instrutor hoje?” uma delas sussurrou para a outra, mas em um tom alto o suficiente para que Lívia pudesse ouvir. “Aquele volume na sunga... parece que ele está escondendo uma carteira ali dentro.”
A outra soltou uma risadinha. “Com certeza! Ou talvez algo bem maior do que uma carteira.” Elas riram novamente, sem tentar esconder o que estavam falando.
Lívia sentiu uma pontada de ciúmes e desconforto com os comentários. Ela sabia que não tinha direito de se sentir assim — afinal, Gabriel não era seu. Mas a ideia de que outras mulheres estavam tão atentas a ele, especialmente de maneira tão descarada, a deixava inquieta. Era como se um pedaço dela se partisse toda vez que ouvia aquelas piadinhas.
Durante os exercícios, as duas garotas encontravam maneiras de se aproximar ainda mais de Gabriel. Quando ele demonstrava técnicas na água ou ensinava sobre resgate, elas faziam perguntas aparentemente inocentes, mas carregadas de segundas intenções. Lívia observava de longe, tentando manter a calma, mas sentindo uma raiva silenciosa crescendo dentro dela.
Gabriel, por sua vez, parecia lidar com a situação com uma naturalidade desconcertante. Ele era profissional, mantendo uma postura firme e focada em seu papel de instrutor. Não dava abertura para flertes ou insinuações, mas sua indiferença só parecia incentivar as duas garotas ainda mais. Elas riam, cochichavam entre si e faziam comentários maliciosos, como se a falta de reação dele fosse um desafio a ser superado.
Apesar disso, Lívia notava que, quando ele olhava para ela, seu olhar mudava. Havia uma suavidade, uma atenção especial que ele reservava apenas para ela. Isso a confortava, mas também a deixava ainda mais consciente do interesse que sentia por ele, um desejo que crescia a cada dia.
Uma Caminhada Inesperada
As aulas continuavam intensas, e Gabriel exigia o máximo de cada participante. Nas sessões na água, ele mostrava as técnicas de resgate com uma precisão impressionante, mergulhando e emergindo com uma agilidade que impressionava. E, mesmo enquanto estava focado nas atividades, Lívia notava que os olhos dele ocasionalmente a procuravam, como se ele estivesse certificando-se de que ela estava bem.
No final da terceira semana, Gabriel sugeriu que todos fizessem uma caminhada ao longo da praia após o treino. Ele queria mostrar aos alunos as diferentes áreas da costa, explicando quais eram os pontos mais perigosos e quais exigiam mais atenção. O grupo caminhou junto por um tempo, mas aos poucos, as pessoas foram se dispersando, alguns cansados, outros preferindo ficar próximos ao ponto de partida.
Gabriel e Lívia acabaram ficando para trás, caminhando lado a lado na areia molhada. Ele parecia mais relaxado, menos como o instrutor severo que mostrava ser durante os treinos. Eles começaram a conversar sobre coisas triviais, mas a conversa rapidamente se aprofundou.
"Por que você se inscreveu no curso?" ele perguntou, quebrando o silêncio confortável que havia se instalado entre eles.
Lívia hesitou, olhando para o horizonte. Ela queria dizer a verdade, mas temia parecer tola. "Acho que eu queria um desafio," disse finalmente. "Algo diferente do que estou acostumada."
"E está conseguindo encontrar isso aqui?" ele perguntou, sua voz cheia de curiosidade genuína.
"Sim," Lívia admitiu, sentindo uma onda de honestidade tomar conta dela. "E... eu queria passar mais tempo com você."
Gabriel parou, virando-se para encará-la. Seus olhos se encontraram, e por um momento, Lívia sentiu que todo o mundo ao redor deles desaparecia. Ele parecia surpreso com a sinceridade dela, mas também havia algo mais em seu olhar — um entendimento, talvez até um reflexo do que ela estava sentindo.
"Eu também," ele disse finalmente, sua voz baixa e carregada de emoção. "Eu gosto de estar perto de você, Lívia. Mais do que eu deveria."
Ela sentiu seu coração acelerar com aquelas palavras. Havia uma intensidade no ar, uma tensão que pendia entre eles como um fio prestes a se romper. Gabriel era mais velho, mais experiente, e isso a atraía de uma forma que ela não conseguia explicar. Ele tinha uma visão mais madura da vida, algo que a fazia se sentir segura, mas também a fazia querer se entregar a algo mais profundo e perigoso.
Eles continuaram andando, a conversa fluindo naturalmente, mas agora havia uma nova camada de significado em cada palavra. Era como se estivessem explorando um território desconhecido, uma terra de desejos ocultos e emoções proibidas. Lívia sabia que estava entrando em um caminho sem volta, mas não podia — e talvez nem quisesse — parar. Gabriel era uma tentação irresistível, e ela estava pronta para se deixar levar, mesmo sem saber onde isso a levariaDescoberta da Conexão
À medida que os dias de treinamento avançavam, Lívia começava a notar pequenas coincidências que a deixavam intrigada. Gabriel parecia ter um conhecimento incomum sobre lugares que ela já havia visitado com sua madrasta. Certa vez, ele mencionou um café específico na cidade que ela e a madrasta costumavam frequentar. Outra vez, ele falou sobre uma exposição de arte que havia acontecido em um galeria local, e Lívia se lembrou de ter ido lá com a madrasta meses atrás.
Essas coincidências começaram a despertar a curiosidade de Lívia, mas ela tentava não dar muita importância a isso, focando em seu treinamento e em sua crescente conexão com Gabriel.
Foi durante uma de suas visitas à casa de Gabriel para uma aula particular, que Lívia fez a descoberta que mudaria tudo. Gabriel a convidou para tomar um café em sua casa após o treinamento. A casa dele era simples, mas bem arrumada, com uma decoração que refletia sua vida à beira-mar. Entre os móveis e as fotos na estante, Lívia notou uma moldura que a fez parar por um momento.
Era uma foto antiga, em preto e branco, de uma mulher com um sorriso familiar. Lívia olhou mais de perto, e a semelhança com sua mãe, especialmente na juventude, era notável. O rosto da mulher na foto tinha traços similares aos da sua mãe, um olhar vibrante e uma expressão que parecia conhecê-la bem.
“Quem é essa?” Lívia perguntou, tentando manter a calma enquanto olhava para a foto.
Gabriel, que estava na cozinha preparando algo para beber, se aproximou e olhou para a foto antes de responder. “Ah, essa é uma velha amiga da família,” ele disse com um sorriso. “Eu costumava frequentar a casa dela com meus pais quando era mais jovem.”
Lívia tentou processar a informação, mas algo estava fora de lugar. “Ela parece muito com alguém que eu conheço,” Lívia comentou, tentando esconder a inquietação. “Você não sabe o nome dela?”
Gabriel franziu a testa por um momento, pensativo. “Eu acho que o nome dela era... Patrícia. Não tenho certeza.”
O nome fez o coração de Lívia bater mais rápido. Patrícia era o nome da mãe dela. Ela se forçou a manter a compostura, mas por dentro, uma tempestade de confusão e traição estava se formando. A revelação de que a mulher na foto tinha uma semelhança tão impressionante com sua mãe era perturbadora. Ela tentava fazer a conexão, mas não conseguia entender como Gabriel poderia estar envolvido de alguma forma.
Conflito Interno
A partir desse momento, Lívia começou a perceber que talvez Gabriel não fosse apenas um instrutor de natação, mas alguém com uma conexão muito mais pessoal com sua família. A ideia de que ele poderia ser amigo de sua mãe, uma pessoa que ela havia perdido há anos, trouxe um misto de emoções conflitantes.
Ela não sabia como lidar com a situação. Sentia-se traída, não por Gabriel, mas pela própria confusão sobre a verdadeira identidade das pessoas ao seu redor. O sentimento de segurança que tinha ao lado de Gabriel agora estava manchado pela incerteza e pelo medo de descobrir mais verdades ocultas.
Cada vez que ele mencionava algo relacionado ao passado ou fazia referências a pessoas e lugares familiares, Lívia sentia uma pontada de angústia. Ela queria acreditar que era apenas uma coincidência, mas a evidência parecia sugerir o contrário.
Lívia estava dividida entre a curiosidade e o medo. A conexão que estava crescendo entre eles era real e forte, mas agora havia uma camada de complexidade que ela não sabia como desatar. A confusão e a sensação de traição a envolviam, e ela se via lutando para equilibrar o desejo que sentia por Gabriel com o desejo de entender a verdadeira natureza da conexão entre eles.
Naquele momento, ela sabia que tinha que enfrentar a situação, mas não sabia como. O mistério em torno de Gabriel e a foto antiga continuavam a assombrá-la, deixando-a com um sentimento de que a verdade, quando descoberta, poderia mudar tudoDescoberta e ConfusãoLívia estava confusa e preocupada após a conversa com Gabriel. O desejo que sentia por ele estava misturado com uma sensação crescente de traição. Sem saber como lidar com seus sentimentos e o crescente desentendimento, ela decidiu que precisava de um tempo para refletir. Ela chegou um pouco mais cedo do que o habitual para o treino, procurando um momento de paz antes que o curso começasse.
Quando ela chegou à área do posto de guarda-vidas, notou algo estranho. A esposa do casal da igreja, que havia sido tão próxima de Gabriel, estava saindo do posto com protetor nas coxas, uma cena que chamou sua atenção. O marido estava à espera no carro, e ela parecia estar tentando esconder algo, visivelmente constrangida.
Intrigada e desconfortável com a cena, Lívia decidiu entrar no posto para entender o que estava acontecendo. Ao passar pela porta, seu olhar caiu sobre um detalhe que a deixou perplexa: um preservativo usado estava no chão, ao lado de um pequeno armário. O cenário era desconcertante e dava a entender que algo íntimo havia ocorrido ali.
Sem saber como reagir, Lívia decidiu procurar Gabriel para esclarecer a situação. Ela ouviu o som do chuveiro vindo dos fundos do posto e se dirigiu na direção do barulho. Quando chegou perto, o som da água era intenso, mas ela não conseguiu se aproximar mais, preocupada com o que poderia encontrar.
Enquanto isso, em casa, a tensão estava crescendo entre o pai de Lívia e a madrasta. O pai, recém-chegado de uma viagem de trabalho, estava furioso ao descobrir que Lívia estava fazendo o curso. A discussão entre eles era acalorada e cheia de frustração.
“Eu não acredito que ela está envolvida com isso!” o pai exclamava. “Você devia ter impedido isso!”
“Eu já te avisei sobre os planos dela, mas você estava ocupado,” a madrasta respondeu com uma calma irritante. “É hora de superar o passado. A verdade é que o segredo da mãe dela não deve afetar o presente dela.”
“O que você quer dizer com isso?” o pai perguntou, claramente confuso e frustrado.
“O passado não deve continuar a influenciar as escolhas dela,” a madrasta insistiu. “A Lívia está fazendo suas próprias escolhas e precisa ter a chance de seguir em frente. E você deve aceitar que ela não precisa saber de tudo.”
Com o clima tenso em casa, Lívia decidiu sair para respirar um pouco, buscando um momento de clareza longe da discussão que acontecia. Ela estava dentro do posto de guarda-vidas, mas ao sair apressada, o chão úmido fez com que ela escorregasse, quase caindo. Antes que pudesse se recompor, ela ouviu uma voz familiar.
“Bruna! Olá, você chegou cedo hoje. Seu namorado vai vir ver a gente trabalhar antes do início do curso?” Gabriel perguntou, com um tom casual e amistoso.
Lívia, curiosa e com o coração acelerado, decidiu se esconder para entender melhor o que estava acontecendo. Observando discretamente, ela viu a mãe de Bruna, Bruna e o namorado dela entrando no posto. A cena a deixou intrigada e preocupada.
Ela se posicionou perto de uma janela para ouvir o que se passava lá dentro. O que ouviu a deixou ainda mais perplexa. As conversas eram carregadas de elogios e comentários íntimos. O namorado de Bruna estava falando de maneira carinhosa e sugestiva: “Vai, minha princesa, vou filmar você segurando esse cilindro. E não derrame nada de leite, não pode sujar o chão!”
Os elogios ao Gabriel e os comentários do namorado criaram um ambiente carregado de tensão sexual que Lívia não conseguiu ignorar. A intimidade e os elogios que ela ouviu revelavam uma relação muito mais complexa e provocativa do que ela imaginavacontinua