Pela manhã, o céu de Boston estava cinzento e levemente nublado, o vento frio outonal soprava pelas ruas, balançando os galhos das árvores que ladeavam o caminho para a universidade. Elias atravessou o campus movimentado, passando por grupos de estudantes que discutiam animadamente, em direção ao lugar onde Ju Jingyi, uma chinesa, estudante de medicina, costumava passar suas manhãs, uma lanchonete pequena e aconchegante, cheia de luz natural que entrava pelas grandes janelas de vidro. Após algumas horas de busca, ele finalmente a encontrou.
Ju Jingyi estava sentada em um canto, parcialmente escondida pela luz suave que entrava pelas janelas. Seu cabelo longo e preto estava preso em um rabo de cavalo alto, algumas mechas soltas emoldurando seu rosto de traços delicados, mas expressivos. Ela usava óculos de armação fina, que refletiam a tela do laptop à sua frente, onde estava imersa em um jogo online. Sua pele era clara, quase translúcida, e os olhos escuros concentrados no monitor pareciam ignorar tudo ao redor. Ela vestia um moletom oversized cinza e jeans rasgados, misturando conforto com um toque de estilo despojado.
Elias se aproximou, esforçando-se para parecer descontraído.
— Oi, eu sou Elijah Zimmermann — disse ele com um sorriso amigável — Sou um aluno visitante, e estava procurando um lugar tranquilo e…
Jingyi ergueu os olhos do laptop por um breve momento, analisando Elias com uma expressão fechada, antes de voltar sua atenção para o jogo
— Não estou interessada — respondeu ela secamente, os dedos nunca parando de clicar nas teclas com agilidade impressionante.
Elias não se deixou intimidar e tentou outro ângulo.
— Você está jogando um RPG, né? Eu gosto muito desses jogos também…
Jingyi soltou um suspiro audível, ainda sem desviar o olhar da tela.
— Legal para você, mas eu não estou jogando para fazer amigos — disse ela com um tom cortante — Se você quiser sentar em algum lugar e ficar quieto, vá em frente. Caso contrário, pode ir embora.
A agressividade inesperada de Jingyi pegou Elias de surpresa. Ele estava acostumado com um certo nível de resistência, mas a barreira que ela ergueu parecia ser de outra ordem. No entanto, ele manteve o sorriso, embora agora forçado.
— Só pensei que talvez pudéssemos trocar algumas dicas. Quem sabe você possa me ensinar algumas estratégias.
Ju finalmente desviou os olhos da tela, franzindo a testa.
— Eu não estou aqui para ensinar ninguém — retrucou ela, visivelmente irritada — Se você quer aprender, vá procurar um tutorial online como todo mundo.
Elias percebeu que precisaria de uma abordagem muito mais cuidadosa e estratégica para conseguir se aproximar de Ju Jingyi. Sua personalidade, uma fachada hostil e protetiva, escondia algo que ele ainda precisava desvendar. Mas Elias sabia que sua missão dependia de sua capacidade de quebrar essa barreira e ganhar a confiança dela. Ele recuou um pouco, decidindo que seria mais prudente dar um passo atrás e observar por um tempo, estudando seus movimentos e interesses. Se afastou da mesa de Ju Jingyi, tentando disfarçar a frustração que sentia. Conforme saía, ele aproveitou que Jingyi estava concentrada demais no jogo para espiar por cima do ombro dela. Ele notou o jogo que ela estava jogando: um RPG de fantasia online, cheio de gráficos detalhados e missões complexas. Mais importante ainda, conseguiu ler o nickname que ela usava, uma combinação única de caracteres e um ícone de dragão. Esse detalhe era a peça chave para a nova estratégia que ele planejava.
Com uma nova ideia em mente, Elias deixou a lanchonete e caminhou apressadamente pelas ruas de Boston até encontrar uma loja de eletrônicos. Dentro da loja, ele foi direto ao setor de computadores e, após uma rápida pesquisa, comprou um laptop, completo com todos os acessórios que ele precisaria para executar o plano. Graças ao apoio financeiro do Governo Global, ele não precisou pensar duas vezes antes de gastar o dinheiro, sua missão era a prioridade.
Quando Elias voltou ao hotel, carregando o laptop novo ainda na caixa, Natalia estava no lobby, observando com curiosidade enquanto ele atravessava o saguão. Ao vê-lo, ela arqueou uma sobrancelha, claramente intrigada.
— Pensei que estaria na universidade a essa hora. Conseguiu encontrar a garota? — perguntou ela.
— Ju Jingyi é mais difícil do que eu pensei. Ela não vai se abrir com uma conversa casual. Então, vou tentar algo diferente.
Natalia o seguiu até o quarto e o observou desembalar o laptop.
— E qual é o plano?
— Ela estava jogando um RPG online — explicou Elias, conectando o laptop à rede Wi-Fi do hotel e iniciando a configuração — Pelo que eu percebi, ela passa muito tempo nesse jogo. Se eu conseguir me infiltrar nesse mundo e chamar a atenção dela, posso encontrar uma maneira de quebrar o gelo e me aproximar sem a resistência inicial.
— Então você vai passar o dia inteiro jogando?
— Mais ou menos — respondeu Elias, já baixando o jogo e criando uma conta — Não é só jogar. Preciso adquirir habilidades, desenvolver meu avatar e subir de nível para estar à altura dela e ganhar algum respeito no jogo. Só então ela pode começar a me notar. É como construir uma reputação do zero, mas no mundo virtual.
Elias deu um sorriso de canto, enquanto os gráficos do jogo surgiam na tela, transportando-o para um universo cheio de criaturas místicas e paisagens épicas.
— Preciso ser bom nisso, ou ela nem vai me dar atenção.
Elias passou o dia inteiro focado no jogo, desenvolvendo seu avatar com cuidado e dedicação. Ele completou missões, enfrentou desafios e interagiu com outros jogadores, tudo com o objetivo de construir uma presença sólida e confiável no ambiente virtual. A cada hora que passava, ele se aproximava mais da possibilidade de interagir diretamente com Ju Jingyi no jogo, sabendo que esse seria o primeiro passo para ganhar a confiança dela e cumprir sua missão.
O cansaço já pesava sobre Elias quando ele finalmente alcançou o nível prata com seu personagem. Os olhos ardiam pela luz da tela e as mãos estavam cansadas de tanto manipular o teclado e o mouse, mas precisava dar o próximo passo. Era o momento de entrar em contato com Ju Jingyi dentro do jogo e tentar quebrar as barreiras que ela havia erguido ao seu redor.
Elias abriu o chat de busca e digitou o nickname que havia visto mais cedo. Lá estava ela, destacada com um símbolo de diamante ao lado do nome, um status muito além do que Elias havia alcançado. A diferença de nível já indicava o quanto ela havia se dedicado ao jogo, e ele sabia que não seria fácil impressioná-la. Ele enviou uma mensagem direta, escolhendo cuidadosamente as palavras para parecer amigável, mas também respeitoso.
ELIAS: Ei, vi você jogando hoje mais cedo. Seu personagem é incrível. Quer se juntar para uma missão? Podemos formar um bom time.
A resposta veio quase instantaneamente, e não foi nem um pouco acolhedora.
JU JINGYI: Não tenho tempo para amadores.
A frieza cortando como um Guan Dao.
Elias sentiu a frustração borbulhar dentro dele, mas manteve a compostura, tentando uma abordagem diferente.
ELIAS: Talvez você possa me dar algumas dicas? Estou tentando subir de nível rápido, e você parece ser a melhor por aqui.
Mas a próxima mensagem dela foi um desafio inesperado:
JU JINGYI: Se você quer mesmo aprender, me enfrente. Vamos ver o quanto você aguenta.
Elias sabia que não tinha chances reais contra alguém no nível diamante, mas aceitou o desafio. A batalha foi rápida e brutal, Ju Jingyi atacava com precisão e estratégia, cada movimento calculado para maximizar o dano. Ele tentou se defender, lançando feitiços e golpes que pareciam insignificantes contra as habilidades de alto nível dela. Em questão de turnos, ele foi derrotado, sua barra de vida despencando a zero com um golpe final que parecia mais uma humilhação do que um simples combate.
Respirando fundo, Elias enviou uma mensagem.
ELIAS: Você é realmente boa. Nunca vi alguém jogar assim.
Mas a resposta veio com a mesma rispidez cortante:
JU JINGYI: Se não pode lutar, não me faça perder meu tempo.
O desdém dela foi a gota d'água. Irritado, Elias digitou apressadamente uma resposta:
ELIAS: Não me admira que você seja essa pirralha que ninguém quer por perto. Sua arrogância espanta qualquer um.
E sem esperar por uma resposta, ele deslogou do jogo, fechando o laptop com mais força do que pretendia. O eco do clique ressoou pelo quarto silencioso, enquanto Elias se jogava na cama, esfregando as têmporas na tentativa de acalmar a dor de cabeça que começava a se formar novamente.
Natalia entrou no quarto poucos minutos depois, encontrando Elias ainda deitado, encarando o teto com uma expressão tensa.
— Como foi? — ela perguntou, percebendo de imediato que algo tinha dado errado.
Elias soltou um suspiro exasperado.
— Foi um desastre. Ela é impossível. Nem mesmo no jogo consegui me aproximar. Ela é a personificação da Muralha da China. Ela está pronta para atacar o tempo todo, mesmo quando eu só queria conversar.
Natalia sentou-se na cama e deu uma risada.
— Você deve está perdendo o jeito.
— É, talvez — Elias murmurou, fechando os olhos e tentando se acalmar — Mas essa garota… Ela é um verdadeiro desafio.
— Descanse — disse Natalia notando a exaustão no rosto de Elias — Amanhã é um novo dia, e podemos tentar algo diferente.
Elias assentiu, permitindo que o cansaço finalmente o dominasse. Mas, mesmo enquanto fechava os olhos, a imagem de Ju Jingyi continuava a assombrar seus pensamentos, uma adversária difícil em mais de um sentido, e um desafio que ele precisaria superar, de um jeito ou de outro.
Na manhã seguinte, Elias voltou à lanchonete da universidade no mesmo horário. Ju Jingyi estava absorta com o olhar fixo em sua xícara de café, quando seu olhar cruzou com o de Elias. Ela era completamente diferente da Jun Jingyi do dia anterior. Ele estava na fila para fazer seu pedido no balcão e com cautela, se aproximou da garota, ciente de que qualquer movimento em falso poderia destruir essa pequena janela de oportunidade. Ela continuava a evitar seu olhar, fixando-se na xícara de café como se esperasse encontrar respostas no fundo da porcelana.
— Foi você no chat ontem à noite, não foi? — Ela perguntou, a voz saindo baixa e pesada, como se as palavras lhe custassem um esforço enorme.
Elias assentiu, observando as expressões no rosto dela, tentando decifrar o que se passava por trás daquele olhar carregado de culpa. Ju Jingyi, no entanto, manteve-se fechada, claramente em intensão de admitir qualquer erro. Elias percebeu a tensão no ar, mas decidiu usar aquele momento a seu favor.
— Sim, era eu — respondeu, mantendo o tom calmo e amigável.
Ele se apresentou formalmente, estendendo a mão de forma amigável, esperando quebrar o gelo.
— Elijah Zimmermann, sou aluno visitante — disse, esboçando um sorriso que tentava ser genuíno, mas que também refletia a sua intenção de suavizar a situação.
Ju Jingyi hesitou por um instante, mas acabou apertando a mão dele, ainda que de forma rápida e sem olhar diretamente para ele.
— Ju Jingyi — murmurou, recuando em seguida e voltando a se concentrar no café.
Elias, sentindo que a primeira barreira tinha sido parcialmente vencida, apontou para a cadeira à frente dela.
— Posso me sentar? — perguntou, deixando a iniciativa com ela.
Ju Jingyi deu de ombros, ainda emburrada, mas não o impediu.
— Tanto faz — respondeu com um ar de desdém, embora sua voz tivesse perdido um pouco da dureza inicial.
Elias se acomodou, tentando relaxar e dar um tom mais leve à conversa.
— Você realmente joga bem — comentou — Não é nenhuma surpresa que esteja no nível diamante.
Ju Jingyi finalmente levantou o olhar, curiosa, embora ainda com uma expressão cética.
— Talvez eu tenha exagerado ontem — admitiu, sua voz finalmente mais branda — É só… complicado.
Elias acenou com a cabeça, respeitando o espaço dela sem pressionar por mais detalhes.
— Eu entendo — disse ele — Às vezes, as coisas simplesmente saem do controle. Principalmente quando se é estrangeiro, vindo de uma cultura totalmente diferente.
Ela soltou um suspiro, claramente dividida entre manter sua postura defensiva e permitir que essa nova interação continuasse de forma mais leve. Elias aproveitou o pequeno avanço e sorriu.
— Sabe, seria bom ter alguém com quem conversar. Quem sabe podemos jogar juntos algum dia?
Ju Jingyi levantou uma sobrancelha, ainda não completamente convencida, mas menos resistente do que antes.
— Vamos ver — disse ela, deixando no ar a possibilidade, enquanto finalmente dava um gole em seu café morno.
No hotel, Elias passou o dia inteiro focado em seu laptop, imerso no jogo. A tela piscava com os gráficos vibrantes, e cada conquista no jogo parecia um pequeno degrau em direção à confiança de Ju Jingyi. Ele estava determinado a se destacar, e, antes de anoitecer, havia subido seu avatar para o nível ouro, o que o colocou um passo mais perto da elite do jogo.
Quando o céu já estava tingido de laranja pelo pôr do sol, Elias fechou o laptop, exausto, mas satisfeito com o progresso. Ele se jogou na cama, olhando para o teto, refletindo sobre as novas memórias confusas do sonho de algumas noites atrás. O latejar em sua cabeça havia diminuído, mas a sensação de deslocamento temporal ainda o incomodava.
Uma batida suave na porta o tirou de seus pensamentos. Ele se levantou, passou a mão pelos cabelos e abriu a porta, esperando ver um serviço de quarto ou alguém do hotel, mas foi surpreendido pela visão de Natalia, que estava parada à sua frente, elegantemente vestida em um conjunto preto discreto, com um blazer bem cortado e calças sociais que moldavam sua silhueta. Um crachá pendurado no pescoço completava o visual profissional.
Elias arqueou as sobrancelhas, surpreso e curioso.
— Natalia? O que é isso? — Ele perguntou, apontando para o crachá que exibia o logotipo de um outro hotel.
Natalia deu um meio sorriso, entrando no quarto de Elias e fechando a porta atrás dela.
— Consegui um emprego — disse ela, enquanto pendurava o casaco na cadeira — É um hotel de luxo aqui perto. Eles precisavam de alguém que falasse outros idiomas. Fiz uma entrevista rápida e me contrataram.
Elias olhou para ela, admirando sua iniciativa.
— Mas… Por quê? — ele perguntou, ainda tentando entender a razão por trás daquela mudança repentina — Estamos no meio da missão. E você…
— Elias — ela o interrompeu — nós não podemos mais voltar para o futuro que conhecíamos — ela disse, a voz firme, mas com uma nota de vulnerabilidade que Elias raramente via nela — Estamos presos aqui, e você sabe disso tanto quanto eu. Precisamos começar a construir algo para nós. Precisamos de dinheiro, de estabilidade… de uma vida nova.
— Faz sentido — Elias admitiu, se sentando na cama e olhando para o laptop, que ainda exibia a tela do jogo — Nossa realidade mudou tanto…
— Não é como se tivéssemos escolha. Precisamos encontrar um jeito de sobreviver, de nos encaixar nesse novo mundo.
Ela ajustou o blazer com um gesto rápido.
— Agora, continue jogando. Você precisa atingir o nível platina se quiser impressionar Ju Jingyi.
Natalia se preparava para sair, mas Elias sentiu que havia algo mais a ser dito. Ele se levantou da cama e se aproximou dela, com uma mistura de seriedade e curiosidade no olhar.
— Natalia — ele chamou, fazendo-a parar e olhar para ele — O que vai acontecer… depois de tudo isso? Quero dizer, quando a missão acabar, quando estivermos finalmente livres do que nos trouxe até aqui… O que faremos?
Natalia respirou fundo, os olhos fixos nos dele, refletindo uma mistura de incerteza e uma rara vulnerabilidade.
— Não sei — ela admitiu, com uma sinceridade que era incomum para ela — Eu penso nisso o tempo todo, mas a resposta não é simples. Acho que, talvez, possamos começar de novo. Tentar viver… uma vida normal, ou o mais próximo disso.
Elias estudou seu rosto, percebendo a complexidade por trás de suas palavras. Assim como ele, ela estava lutando para se ajustar a essa nova realidade. A ideia de um futuro estável era algo que ambos nunca tinham tido a chance de experimentar.
— Você realmente acredita que podemos ser normais, depois de tudo o que passamos?
Natalia deu um sorriso pequeno, mas sincero.
— Talvez não normais. Mas podemos ser algo diferente, algo melhor do que fomos antes.
Elias assentiu, absorvendo suas palavras. Um silêncio confortável se instalou entre eles, preenchido apenas pela presença compartilhada. Ele então se lembrou de uma promessa que Natalia havia feito no passado, uma que ainda assombrava suas interações.
— Você disse que me mataria se eu falhasse na missão — disse, sua voz carregada de um misto de seriedade e uma leve tentativa de alívio cômico — Você realmente faria isso?
Natalia ficou em silêncio por um momento, o peso da pergunta pairando no ar. Ela desviou o olhar, como se ponderasse as várias respostas possíveis, antes de finalmente encontrar os olhos de Elias novamente.
— Quando eu disse isso, acreditava que o futuro dependia de cada ação nossa. Que qualquer desvio significaria o fim do que estávamos tentando proteger — Ela deu um passo mais perto, a expressão agora mais suave, mas ainda intensa — Mas agora… Não sei se conseguiria. Não depois de tudo que passamos juntos.
Elias sentiu um aperto no peito ao ouvir aquelas palavras. Natalia era uma mulher de convicções firmes, alguém que ele sempre considerou inflexível em suas resoluções. O fato de ela estar agora expressando dúvidas, mostrando uma vulnerabilidade que raramente deixava transparecer, o fez perceber o quão profunda era a conexão que eles compartilhavam.
— Nós somos os únicos que sabem o que realmente passamos — ele disse suavemente — O que significa estar aqui, vivendo uma realidade que nem deveria existir.
Natalia assentiu, os olhos fixos nos dele.
— Exato. E acho que é isso que nos torna… diferentes. Temos algo que ninguém mais tem. Algo que nos conecta de uma forma que outras pessoas nunca entenderiam.
Por um breve momento, ambos ficaram ali, apenas olhando um para o outro, compartilhando um entendimento silencioso que ia além de palavras. Elias queria dizer mais, queria expressar a sensação de que, apesar de todas as incertezas, ele encontrava um tipo de consolo na presença dela. Mas, antes que ele pudesse falar, Natalia se afastou suavemente, quebrando o contato visual, mas com um pequeno sorriso que indicava que, de alguma forma, eles estavam na mesma página.
— Agora… — Natalia disse, recuperando um pouco do seu tom usual e confiante, enquanto ajeitava o blazer e o crachá — … você tem um jogo para vencer. Não se distraia.
Elias riu baixinho, acenando com a cabeça.
— Sim, senhora.
Ela abriu a porta, mas antes de sair, olhou para trás uma última vez, seus olhos brilhando com um misto de determinação e algo mais profundo, algo que Elias ainda estava começando a entender.
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O saguão do hotel estava movimentado naquela tarde, com hóspedes entrando e saindo, o som dos saltos batendo no chão de mármore ecoando suavemente pelo ambiente. Natalia, elegantemente vestida em seu uniforme, ajustava o crachá enquanto caminhava pelo lobby. Ela estava focada em seus afazeres, tentando manter a mente ocupada e longe das preocupações com a missão. Ao se aproximar da recepção, uma das recepcionistas, uma jovem com um sorriso ansioso, se virou para ela.
— Natalia, você poderia me ajudar? Há um homem esperando ali — ela disse, gesticulando discretamente para a área de espera — Ele fala russo, e eu… bem, não consigo entender quase nada do que ele diz.
Natalia seguiu o olhar da recepcionista e avistou o homem sentado em uma poltrona próxima à grande janela de vidro que dava vista para a rua movimentada. Ele era loiro, alto e musculoso, vestindo um terno escuro que não conseguia esconder sua postura militar. A revista que ele folheava parecia minúscula em suas mãos enormes.
À medida que Natalia se aproximava, sentiu um frio inesperado subir pela espinha. Quando o homem abaixou a revista e seus olhos azuis e frios de desprezo se encontraram com os dela, Natalia congelou