A Maldição de Morgana - 1° Capítulo

Um conto erótico de Ana do Diário
Categoria: Heterossexual
Contém 4892 palavras
Data: 16/09/2024 17:51:01
Última revisão: 17/09/2024 10:18:25

Roma, 1962: A noite de verão na cidade, era densa e abafada, como se a escuridão sufocasse o local. Os becos estreitos entre os prédios antigos guardavam segredos que o sol nunca tocaria. Morgana, de 28 anos, tinha uma silhueta esguia e uma postura altiva enquanto caminhava devagar por um desses becos, os saltos ecoando suavemente sobre o calçamento incomum. Ela sabia que estava sendo seguida, mas seu coração tinha coragem tão imponente quanto sua beleza.

Morgana, 1,65 cm de altura, atraía a atenção de todos. Seus cabelos longos e negros como a meia-noite, caindo em cascata sobre seus ombros, cobrindo seu lindo rosto. Seus olhos verdes, grandes e profundos, emanavam uma aura de mistério e tragédia, seus lábios eram cheios e pintados de vermelho escarlate. Ela tinha um corpo irresistível que atraía os homens por onde passava.

No entanto, havia algo errado naquela noite tenebrosa. A pessoa que a procurava não um cliente. Ele não era o tipo de homem que só desejava seu corpo. Ele desejava algo mais profundo, algo obscuro e inquebrantável. Giovanni, o capanga de um cruel mafioso, a seguia com passos rápidos e um olhar frio e predatório.

Quando Morgana finalmente se virou para encará-lo, já era tarde demais. O beco era um labirinto sem saída.

“Non mi piace quando mi seguono di nascosto,” disse ela, com um leve sorriso, embora sua voz denunciasse a inquietação.

(“Não gosto quando me seguem às escondidas.”)

Giovanni sorriu de volta, mas era um sorriso cruel, sem calor ou humanidade. “Non si tratta solo di te, Morgana. È una questione di affari,” ele respondeu, aproximando-se lentamente.

(“Não se trata só de você, Morgana. É uma questão de negócios.”)

O coração da prostituta acelerou quando ela deu um passo para trás. Parecia que o ar no beco estava mais pesado, como se todo o mundo tivesse conspirado contra ela. Morgana tinha ouvido sobre o que Giovanni fazia com as mulheres ousadas que não pagavam a máfia da região. Ela sabia que sua sorte estava para se esgotar.

“Posso pagarti di più,” disse ela, tentando manter o controle.

(“Posso te pagar mais.”)

Giovanni balançou a cabeça, como quem reprova um menino. “Non è una questione di denaro.”

(“Não é uma questão de dinheiro.”)

O capanga rapidamente avançou. A lâmina fria entrou em seu abdômen antes que Morgana pudesse reagir. Seu corpo foi congelado pelo choque inicial, e tudo ao seu redor ficou em silêncio por um instante. Ela tentou gritar, mas não conseguiu.

“Non avresti dovuto metterti contro di me,” – “È da tanto che non paghi la mafia, queste strade hanno un padrone. Non volevo farlo, ma ho seguito gli ordini del capo. – Sussurrou Giovanni em seu ouvido, retirando a faca com um gesto rápido e limpo.

(“Você não deveria ter se colocado contra mim.”) – (“Você não paga a máfia há muito tempo, essas ruas tem dono. Eu não queria fazer, mas cumpro as ordens do chefe”)

Morgana caiu de joelhos, o sangue quente escorrendo de sua ferida e cobrindo o chão de pedra sob ela. Enquanto sentia sua vida se esvaindo, seus olhos arregalados fixaram-se no céu escuro. Como sempre, ela estava sozinha, e o frio da morte começava a cobri-la.

Com o último suspiro, seu corpo desabou no chão.

Giovanni guardou a faca no casaco e desapareceu na escuridão sem olhar para trás, como se nada tivesse acontecido. Ele não tinha ideia – ou talvez não tivesse ideia – de que algumas almas não desaparecem tão facilmente. Algo além do corpo de Morgana permanecia nas pedras enquanto seu sangue secava. Giovanni não percebeu algo, mas logo sentiria em breve.

A prostituição continuou, não em corpo, mas em espírito. E o destino que lhe foi imposto seria tão cruel quanto sua vingança.

O vento frio começou a soprar pelo beco, e qualquer pessoa atenta poderia dizer que ouviu um sussurro suave de uma voz feminina:

“Non è finita...”

(“Não acabou… “)

Morgana caiu no chão, o corpo inerte em uma poça de sangue, mas sua alma ainda estava viva, pulsando de medo e confusão. Ela não conseguiu entender o que havia ocorrido. Seu corpo não a permitiu entrar. Ao olhar para baixo, percebeu que ainda estava lá, sua forma corpórea fria e imóvel, juntamente com seu espírito preso naquele beco escuro, o que a deixou chocada.

“Per favore, qualcuno mi aiuti!”

(“Por favor, alguém me ajude!”)

Ela gritou, mas o som desaparecia no vento da noite. Ninguém dava ouvidos. Ninguém a observou. Em desespero, ela olhou para uma janela que começava a se abrir lentamente e estendeu a mão para ela. Um rosto enrugado e olhos cansados de uma velha senhora observavam a cena com medo e curiosidade pela fresta da janela. A jovem prostituta pensou por um momento que havia sido vista quando o olhar da senhora cruzou o de Morgana.

“Signora! Aiuto!”

(“Senhora! Ajuda!”)

A velha não fez nada. Como se ela fosse invisível, seus olhos passaram diretamente pelo espírito de Morgana. O impacto disso a atingiu violentamente. Ninguém podia mais a ajudar porque ela estava morta. Uma lágrima solitária escorreu por seu rosto, mas ela percebeu que mesmo isso não era verdade. Era apenas a reminiscência de uma emoção, uma lembrança de um dia em que estava fora.

Um número maior de pessoas começou a aparecer nas janelas e nos becos. Embora os chochos preenchessem o ar, Morgana apenas sentia uma sensação de vazio crescendo. Enquanto observavam seu corpo sem vida, as vozes se misturavam em murmúrios indistintos.

Alguns estavam surpresos, outros estavam apenas curiosos. Há aqueles que balançassem a cabeça e disseram: “Ela era tão linda, só mais uma que se foi...”

“Guardate, povera ragazza,” disse uma mulher que passava pelo beco escuro. (“Olhem, pobre garota.”)

Morgana tentou correr desesperadamente para aquela voz, mas seus pés estavam presos ao chão. Ela permanecia aprisionada naquele estado de terror. A prostituta se sentia cada vez mais insignificante à medida que tentava chamar a atenção de outras pessoas. Era como se estivesse desaparecendo gradualmente, sufocada pelo desespero de ser ignorada por todos.

Foi então que o som de sirenes ecoou pelas ruas de Roma. Duas viaturas pararam abruptamente na entrada do beco, e dois policiais saíram apressadamente, iluminando o local com suas lanternas. Morgana assistiu, impotente, enquanto eles se aproximavam de seu corpo.

‘È morta,” disse um deles, após verificar o pulso de Morgana.

(“Ela está morta.”)

O outro policial assentiu com a cabeça, balançando o rádio em suas mãos. “Avvisiamo l’ospedale, ma non c’è molto da fare.”

(“Vamos avisar o hospital, mas não há muito a fazer.”)

Morgana estava observando a cena como uma observadora distante, incapaz de processar, presa entre o mundo dos vivos e o além. Sua mão passou através dele como fumaça, apesar de ela ter tentado tocar um policial. Sua mente foi dominada pelo pânico. O que exatamente estava acontecendo? Por que motivo ela não conseguiu se deslocar?

O corpo de Morgana foi colocado em uma maca improvisada pelos policiais e enviado para a ambulância que estava esperando na rua principal. Quando chegaram ao hospital, onde seu corpo foi levado rapidamente para uma sala de emergência. Os médicos tentaram, por obrigação, fazer algo. O desfibrilador foi preparado, e tentaram reanimá-la, mas todos sabiam que era tarde demais. O médico, cansado, balançou a cabeça em um sinal silencioso de desistência.

No beco, Morgana, em pé ao lado da poça de sangue, gritava em silêncio. “Io sono qui! Per favore, aiutatemi! Non voglio morire!”

(“Eu estou aqui! Por favor, me ajudem! Eu não quero morrer!”)

Mas nada aconteceu. Sua voz não era mais do mundo dos vivos.

À medida que o local foi se esvaziando, ela aceitou finalmente a verdade cruel: sua alma estava destinada a ficar parada naquele beco, exatamente onde sua vida foi tirada.

Os dias se transformaram em semanas e, posteriormente, em meses. O corpo de Morgana foi enterrado em uma cerimônia simples, melancólica e silenciosa. Muitas pessoas não vieram. Só suas colegas de trabalho, que viviam nas sombras e nas margens da sociedade, como ela. Nenhuma família, nem amigos reais. Apenas mulheres que compartilhavam a mesma dor em silêncio, todas sabendo que o destino de Morgana poderia facilmente ter sido o delas.

Seu espírito ficou aprisionado no beco, exatamente onde sua vida foi brutalmente ceifada. Ela tentou várias maneiras diferentes para se libertar, gritando, pedindo ajuda, mas era como se estivesse presa a correntes invisíveis. Aquele ponto entre a vida e a morte, Morgana, ou o que restou dela, permanecia estancado enquanto o mundo prosseguia.

Durante meses, ela assistiu a rotina do beco se repetir, os transeuntes indo e vindo, ela viu de tudo, até pessoas transando próximo dela sem perceber sua presença. Ela os observava, tentava tocá-los, implorava por ajuda, mas ninguém a ouvia. Era como um pesadelo eterno do qual não conseguia despertar, mas então, em uma noite particularmente sombria, algo mudou.

Os relâmpagos que rasgavam as nuvens iluminavam o céu de Roma, e o som dos trovões ecoava pelas ruas estreitas. A forte chuva transformou o beco em uma corrente de água e lama. Morgana permanecia inerte enquanto observava a confusão que a rodeava, sem perceber que algo estava prestes a ocorrer.

Um estrondo assustador ecoou pelo beco e, em um instante, um raio furioso caiu do céu e atingiu seu espírito exatamente onde estava preso. A descarga elétrica tinha o mesmo efeito físico que Morgana não sentia desde que morreu. Por um instante, seu espírito brilhou como uma luz densa, iluminando o beco. Ela gritou de susto, não de dor.

Morgana ainda estava lá quando o clarão desapareceu, mas algo em seu espírito havia mudado. Sua alma sentia uma energia estranha, como se aquele raio tivesse liberado algo desconhecido. Ela não sabia o que era, mas sabia que havia mudado. Havia algo diferente, uma esperança que ela não conseguia descrever, pela primeira vez desde sua morte.

Na manhã seguinte, quando os primeiros raios do sol iluminaram a cidade, as ruas voltaram a ser cheias de pessoas. O beco voltou à sua rotina normal, com as pessoas passando apressadas, sem saber onde o corpo de Morgana havia sido encontrado há meses. Como de costume, ela observava e tentava conversar com as pessoas que passavam, mas ninguém ouvia.

Mas uma jovem mulher apareceu naquela manhã. Donatella tinha 19 anos e tinha um ar de inocência e curiosidade, mas um olhar com preocupações muito maiores do que sua idade sugeria. Morgana logo percebeu a tristeza em seus olhos azuis, cujos cabelos castanhos estavam presos de forma desleixada.

Donatella passou distraída pelo beco, como se estivesse pensando em muitas coisas ao mesmo tempo. Como sempre, Morgana estendeu a mão para a jovem, quase sem esperança, mas desta vez, algo diferente aconteceu. Uma onda de energia percorreu o corpo de Donatella quando a alma da prostituta tocou seu braço, e o espírito de Morgana sentiu algo que não pode ser descrito: uma força incontrolável a puxou para dentro de Donatella.

Morgana gritou, mas ninguém ouvia. Sua alma foi sugada para dentro do corpo da jovem mulher em um piscar de olhos. Era como se todo o mundo ao seu redor tivesse se desmoronado e se reconstruído. Morgana abriu finalmente os olhos quando a sensação parou. Embora não fossem seus, eram os de Donatella. Ela piscou repetidamente, tentando entender o que havia acontecido. Sentia o corpo da jovem ao seu redor, seu coração batendo rápido e sua respiração acelerada. Era como estar na prisão e monitorar cada movimento da garota.

“Che cosa...?” murmurou Donatella, atordoada, olhando em volta com uma expressão confusa.

(“O que...?”)

Morgana tentou falar, mas a voz não saiu. Ela estava dentro do corpo da jovem. A sensação era intimidante, mas também libertadora. Morgana sentiu pela primeira vez desde sua morte que tinha poder sobre o mundo, ainda que de maneira imprevisível.

“Donatella...” sussurrou Morgana, sentindo a mente da jovem, tentando se conectar a ela. “Io sono qui. Sono Morgana.”

(“Eu estou aqui. Sou Morgana.”)

Donatella não a escutava. Ela apenas sentia algo estranho em seu corpo, como se alguém invisível estivesse observando seus pensamentos e emoções. Além disso, Morgana sentiu pela primeira vez em meses uma sensação de esperança: uma chance de vingança, redenção e, possivelmente, encontrar a paz.

Morgana enfrentou uma batalha silenciosa e feroz nos dias após a posse de Donatella. A prostituta logo percebeu que ter controle total sobre o corpo da jovem era difícil. Donatella não podia nem mesmo entender o que estava acontecendo porque sua mente e sua consciência resistiam à presença intrusa. Morgana conseguiu afetar apenas alguns gestos, como um olhar desviado e um movimento discreto das mãos.

Ela sentia o controle aumentar com cada dia, centímetro por centímetro, como se estivesse aprendendo a operar uma máquina industrial. Foi um período de doze dias de intensa luta física e mental. Donatella começou a se comportar de forma estranha, o que seus pais e irmão notaram rapidamente.

Eles perceberam mudanças sutis no comportamento da jovem, como um olhar mais distante, ações que não eram suas, risadas inoportunas ou respostas incompreensíveis: “Stai bene, Donatella?” perguntou sua mãe, certa manhã, observando a filha com olhos preocupados.

(“Você está bem, Donatella?”)

“Sto bene, mamma...” (“Estou bem, mamãe...”). Respondeu Donatella, mas a voz parecia vaga, como se ela estivesse apenas repetindo o que sua mente esperava que dissesse.

Luca, seu irmão, também notou algo diferente. Embora Donatella sempre tenha sido uma jovem alegre e reservada, agora havia uma sombra que ele não conseguia distinguir. Ele comentou com o pai certa noite, mas ninguém conseguia explicar o que estava acontecendo. Havia apenas uma sensação de que algo estava profundamente errado.

Donatella sentiu que a disputa era feroz. Ela não conseguia compreender os momentos de perda de controle, os pensamentos e as emoções que não pareciam pertencer a ela. Por vezes, tinha imagens na mente de rostos e lugares que nunca havia visitado. Como sombras espreitando por trás de uma cortina, essas memórias se sobrepunham às de Morgana.

Morgana teve finalmente o controle na décima segunda noite. Ela estava preparada. Nessa noite, Morgana se levantou da cama em silêncio dentro do corpo de Donatella, quando todos na casa já estavam dormindo. Vestiu-se de maneira vulgar, deixando transparecer a sensualidade que Donatella não conhecia. Através daquele corpo jovem, era Morgana que revivia seu passado.

Ela saiu de casa tranquilamente, com a adrenalina correndo por suas veias – ou, mais precisamente, pelas veias de Donatella. A chuva fina caía em Roma, refletindo as luzes das ruas no asfalto molhado, criando um ambiente obscuro. Morgana tinha uma ideia exata de para onde ir.

O Bar.

Aquele lugar era um poço decadente frequentado por prostitutas, mafiosos e todos os tipos de pessoas perdidas na vida. Morgana havia passado muitas noites lá, mas agora ela estava de volta.

O cheiro forte de tabaco e álcool inundou a sala com vozes e risadas abafadas. As luzes vermelhas e amarelas criavam um ambiente sufocante e sombrio. Morgana enxergava rostos que conhecia tão bem através dos olhos de Donatella.

Algumas prostitutas que haviam vindo ao seu funeral estavam ali, sentadas nas mesas ou encostadas no balcão, como se nada tivesse mudado desde sua morte. Elas riem, falavam com os clientes e bebiam como se a noite fosse infinita. Morgana também viu alguns de seus antigos clientes, homens que um dia haviam pago para fodê-la até a exaustão, e outros que haviam sussurrado promessas insignificantes e mentiras sujas.

Ela foi tomada por uma onda de tristeza e lembranças. Tudo lá era tão familiar, mas também tão distante. Ela estava lá agora, porém, não como Morgana, mas como Donatella, uma jovem virgem que nunca havia pisado em um lugar como esse.

Morgana sentiu os olhares sobre ela enquanto caminhava até o balcão. O corpo de Donatella atraía a atenção, mas havia algo nos olhos dela que assustava quem olhava demais de perto. Alguma coisa estranha, quase sobrenatural. Morgana pediu um copo de vinho, o que parecia estranho para Donatella. No entanto, a jovem não tinha mais autoridade. Agora, Morgana era quem tomava todas as decisões.

A ex-prostituta, agora no controle do corpo de Donatella, sabia exatamente o que fazer. Ela havia seduzido muitos homens antes, muitas vezes sem sequer precisar de palavras, apenas com um olhar, um gesto ou um leve toque. E naquela noite, Vincenzo seria o primeiro alvo da sua nova existência. Um homem perigoso, envolvido com o submundo romano, e também um dos responsáveis por seu destino trágico.

Vincenzo não pôde evitar se aproximar quando seus olhos cruzaram os de Donatella. Ele não sabia por que algo o atraía naquela jovem. Era o olhar dela, cheio de mistério e poder, algo que ele não conseguia entender, mas que o fazia querer se envolver mais.

“Posso offrirti da bere?”, perguntou ele, já certo de que a resposta seria afirmativa.

(“Posso pagar sua bebida?”)

Morgana controlou os movimentos de Donatella e sorriu sensualmente, um sorriso cheio de confiança que não pertencia à jovem tímida. Enquanto Vincenzo pedia outra rodada de vinho, ela entregou o copo vazio ao bartender, fazendo um aceno suave com a cabeça. No canto do bar, longe dos olhares curiosos, eles se sentaram em uma mesa.

“Come ti chiami?” – (“Qual é o seu nome?”), perguntou Vincenzo, analisando cada detalhe do rosto de Donatella.

Morgana não mediu esforços. Embora estivesse acostumado a responder a essa pergunta com naturalidade, ela era agora outra pessoa. Sem dizer nada, ela tomou um gole de vinho e olhou para ele com olhos profundos, dizendo: “Donatella,”, ela finalmente respondeu, com a voz suave e cheia de sedução, sentindo o controle absoluto sobre cada palavra. Mas dentro daquele corpo, outra consciência se agitava. Donatella, a verdadeira, estava confusa, perdida no caos de emoções e sensações que Morgana forçava dentro dela.

Eles conversaram por alguns minutos, mas as palavras de Morgana eram planejadas para seduzir Vincenzo. Ela o observava com cautela, aguardando a oportunidade. Vincenzo, sempre o astuto, tentou manter o controle, mas o olhar de Donatella o desarmava.

“Devo confessare,”, disse ele, inclinando-se um pouco para mais perto, “mi ricordi qualcuno. Qualcuno che... non vedo da molto tempo.” - (“Devo confessar, você me lembra alguém. Alguém que... não vejo há muito tempo.”)

Morgana permaneceu com o olhar fixo e um sorriso misterioso nos lábios. Embora ele tentasse lembrar, não era suficiente. Ela se levantou lentamente e olhou para ele sem dizer nada mais. Vincenzo percebeu rapidamente. Após pagar a conta, ele conduziu Donatella para fora do bar pelas ruas estreitas, onde a luz amarelada dos postes projetava sombras dançantes sobre os paralelepípedos molhados. Seu apartamento ficava a poucos passos, quase ao lado do bar.

O Apartamento

Morgana sentiu que sua vingança estava próxima quando entraram no apartamento. O cheiro de cigarro impregnava o ar, a mobília era antiga. Parecia que o mafioso, que sempre parecia ter total controle sobre as coisas, relaxava em sua própria terra. Ele acendeu um cigarro e ofereceu um à jovem, Morgana não recusou, fumou com o seu algoz.

“So che vuoi essere qui,”, ele disse, suas palavras repletas de uma confiança arrogante, enquanto olhava para ela com um olhar malicioso.

(“Eu sei que você quer estar aqui.”)

Morgana apenas se aproximou dele, mantendo o controle sobre o corpo de Donatella. A jovem real estava em pânico, apesar de saber exatamente o que estava fazendo. Nunca havia experimentado nada como aquilo, e seu corpo, agora sob o comando de Morgana, estava prestes a experimentar uma experiência íntima e inesperada.

Morgana, quer dizer, Donatella, o beijou com uma intensidade controlada. A prostituta, usava toda a sua experiência para guiar os movimentos da jovem. Vincenzo, pego de surpresa pela sedução súbita, a puxou para mais perto, sem imaginar que a mulher que o beijava não era realmente quem ele pensava.

Morgana estava totalmente sob controle quando eles se mudaram para o quarto. Ela era familiarizada com os gestos e toques e sabia como controlar o mafioso. No entanto, o terror real estava se desenvolvendo no corpo de Donatella. A jovem estava ciente de todos os toques e respirações, mas não conseguia tomar controle sobre isso. Estava fechada dentro de si mesma, assistindo impotente como Morgana explorava seu corpo de uma maneira que ela nunca teria permitido.

Donatella teve sua primeira experiência sexual muito diferente do que ela poderia ter imaginado em uma situação em que a jovem não tinha controle sobre seu próprio corpo. Ela estava presa dentro de si e sentia tudo ao seu redor como um espectador aterrorizado, mas incapaz de agir. Agora, Morgana controlava todos os seus gestos e palavras, e a jovem, tomada pelo espírito da mulher assassinada, foi arrastada para uma situação que nunca quis experimentar daquele jeito.

Quando Vincenzo a levou para o quarto, as paredes do apartamento abafavam o som da cidade e o cheiro de cigarro e álcool impregnava o ambiente. Donatella nunca havia estado em um lugar como esse, e ela teria fugido se estivesse ciente disso, mas Morgana estava totalmente sob controle.

O criminoso não ficou parado. Ele puxou Donatella para si, seus lábios encontrando os dela com uma fome que Morgana sabia perfeitamente como lhe dar. A intensidade do beijo fez a vagina de Donatella umedecer tanto dentro quanto fora. Um tremor de medo com excitação ocorreu. Ela estava ciente de tudo. Cada toque, cada pressão nos lábios, mas ela não podia recuar. Morgana, por outro lado, era completamente consciente do que estava fazendo. Cada movimento com a mão, cada gesto meticuloso, foi planejado visando atrair e controlar o mafioso.

Morgana assumia o controle total, controlando os toques e entregando-se ao ato que Donatella nunca teria desejado, enquanto Vincenzo explorava o corpo da jovem, as mãos deslizando por suas curvas. Morgana sentia algo paradoxal dentro do corpo da jovem italiana: o poder de controlar, mas também a vulnerabilidade de viver em um corpo puro, embora emprestado.

O toque de Vincenzo na jovem, fazia a alma de Morgana se excitar dentro do corpo de Donatella. Com uma impaciência animalesca e seu olhar predatório. Ele arrancou as roupas dela e examinou cada parte do corpo da jovem, agora exposta a ele. Embora sentisse o peso do corpo do mafioso sobre ela, Donatella estava perdida e incapaz de gritar ou resistir.

As emoções que a dominavam eram uma mistura de vergonha, pavor e confusão, todas combinadas com a impotência que a mantinha prisioneira dentro de si. Donatella sentia o coração batendo rapidamente. Ela nunca havia sido tão maltratada, e o medo a dominava, como se estivesse em um pesadelo. Mas a sensação de estar sendo usado por Vincenzo e Morgana, cada um comandando seu corpo como uma marionete, era o pior aspecto.

Donatella sentiu uma onda de terror tomar conta de seu corpo quando ele a deitou sobre a cama, o colchão afundando sob o peso de ambos. Vincenzo não era gentil com ela, impulsionada pelo desejo e poder que sentia sobre ela. Morgana, por outro lado, permanecia indiferente e calculista, e aquela interação a levou a se aproximar ainda mais do homem que teve um papel em sua morte.

Donatella foi devastada quando Vincenzo finalmente a penetrou brutalmente. Ela nunca havia sentido uma dor tão forte. Era como se algo estivesse sendo rasgado dentro dela; ela quis gritar, mas sua voz estava sufocada pelos gemidos de Morgana. Embora o corpo de Donatella tentasse se adaptar ao invasor, sua mente gritou em agonia. Para Donatella, a experiência deveria ter sido um momento de descoberta e intimidade, mas acabou se transformando em um ato de violência silenciosa.

Era apenas mais um encontro, mais uma vitória para Vincenzo. Ele estava totalmente alheio ao caos mental de Donatella. Morgana apenas observava, gemendo e esperando o momento certo para agir enquanto o pênis grosso se movia dentro dela com força, brutalidade e impaciência. O mafioso penetrou Donatella centenas de vezes, e ela só desejava que aquilo acabasse, que o tormento terminasse.

O tempo parecia se arrastar, porém, a crueldade de Vincenzo chegou ao fim. Ele ejaculou feliz dentro da jovem italiana, como se tivesse conseguido algo significativo, mas não sabia que o verdadeiro jogo estava apenas começando.

Em vez disso, Morgana esperou e o observou enquanto se deitava ao lado de Donatella. A jovem ficou destruída por dentro, sua vagina, que antes era virgem, agora sangrava. A dor era insuportável, mas o que a devastaria ainda mais, era a sensação de ter seu corpo violado não apenas por Vincenzo, mas por alguma força sobrenatural, que o havia utilizado para seu próprio objetivo.

A Vingança.

Donatella permaneceu imóvel ao lado de Vincenzo, o corpo cansado e dolorido sobre o colchão áspero após a brutal ação. A respiração dele, pesada e relaxada, sugeria que já começava a tomar conta de um sono profundo. A jovem, ainda nua, sentia o frio na pele suada ao seu lado, mas só podia esperar, refém da vontade de Morgana.

A confusão e o desespero continuavam a dominar os pensamentos de Donatella. Ela se sentia invadida, e sua mente clamava por ajuda. No entanto, nenhuma dessas emoções conseguiu parar Morgana, que permanecia serena e calculista, esperando a hora certa para agir.

A prostituta esperou pacientemente que Vincenzo relaxasse totalmente. Sua respiração lenta e contínua indicava que ele havia finalmente caído em um sono vulnerável e profundo. Morgana esperava isso há pelo menos sete meses.

Morgana guiou silenciosamente o corpo de Donatella para se levantar. A jovem sentiu o peso do ato sexual nas pernas, mas Morgana as forçou a se mover, ignorando sua dor. Donatella não tinha outra opção. Seus pés descalços tocaram suavemente o chão frio sem fazer barulho. Ela olhou uma última vez para Vincenzo, que estava deitado de costas, roncando ligeira e totalmente distraído com o futuro que se aproximava. Donatella foi para a cozinha com o espírito de vingança de Morgana. Apenas a luz fraca da lua que entrava pelas janelas iluminava o ambiente. Donatella caminhava de forma leve, a força de Morgana acelerava seu coração, mais do que sua própria vontade.

A italiana abriu cautelosamente uma gaveta, tentando evitar fazer ruídos. Com sua mão direita trêmula e suada, ela passou por vários utensílios até encontrar o que ela queria: uma faca afiada de lâmina longa e brilhante. Morgana sentiu o peso da vingança na mão de Donatella e a segurou firmemente. Naquele momento, o brilho frio do metal parecia ecoar a frieza da alma de Morgana, e a lâmina refletia a luz fraca da lua.

Donatella manteve o controle, mas seu pavor aumentava. Embora ela estivesse ciente do que estava prestes a acontecer, ela não poderia fazer nada. Ela queria gritar e parar, mas sua própria voz estava em si. Era como estar presa em um pesadelo e não conseguir acordar. Por outro lado, Morgana experimentou a sensação de submissão com cada passo de volta ao quarto de Vincenzo, e a faca que segurava na mão representava sua vingança.

Ela se movia silenciosamente, como uma sombra, até chegar ao lado da cama. Vincenzo respirava profundamente e totalmente vulnerável, ainda adormecido. Morgana sentiu que havia uma chance última de apreciar o que estava prestes a fazer. Ela levantou a faca com firmeza e precisão enquanto se inclinava sobre ele. Não havia dúvida. Vincenzo seria o primeiro a pagar por sua morte e a faca seria o instrumento de sua vingança.

Morgana fez Donatella descer a lâmina. Com um golpe rápido e preciso. A faca atingiu o coração de Vincenzo. Seus olhos se abriram em choque, tentando entender o que estava acontecendo, enquanto seu corpo se contraiu violentamente e um gemido gorgolejante saiu de sua garganta. Embora ele olhasse para Donatella, via apenas uma jovem inocente que havia levado para a cama. Donatella tinha um olhar sombrio de maldade nos olhos.

“Ti ricordi di me, figlio di puttana? Sono io, Morgana, che muoio e vado all'inferno.”, sussurrou Morgana através dos lábios de Donatella, em um tom baixo e ameaçador.

(“Lembra de mim, seu filho da puta? Sou eu, a Morgana, morra e vá para o inferno…”)

Embora Vincenzo tentasse levantar, seu corpo já começava a perder força. Enquanto sua alma, lentamente, deixava seu corpo, o sangue jorrava do ferimento, manchando os lençóis. A chuva suave do exterior se misturava com o som de sua respiração entrecortada.

Implacável e incapaz de resistir, Morgana fez a jovem puxar a faca de volta e golpeou o mafioso com a mesma precisão uma, duas, três vezes até que ele estivesse morto. Cada golpe era um grito de sua vingança, uma liberação do ódio e do rancor que havia acumulado desde o momento de sua morte.

Quando finalmente se afastou, o corpo de Vincenzo estava imóvel, o sangue espalhando-se pelo colchão em uma poça escura e espessa. Morgana, ainda mantendo o controle sobre Donatella, sentiu uma onda sombria de satisfação atravessar seu corpo. Ela olhou para a faca em suas mãos, agora ensanguentada, e depois para o cadáver de Vincenzo.

Após matar Vincenzo enquanto ele dormia e manter o corpo de Donatella sob seu controle, Morgana pegou todo o dinheiro na carteira do mafioso. Em seguida, levou a jovem para o banheiro e a fez tomar banho, limpando todo o sangue do corpo.

Donatella se vestiu com as mesmas roupas que havia usado para seduzir o mafioso e saiu do apartamento, deixando o corpo ensanguentado na cama. Sob a chuva da madrugada, Donatella controlada por Morgana, caminhou de volta para sua casa sem levantar suspeitas, feliz com a vingança consumada e pensando na próxima vítima.

Em breve, um capítulo inédito.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 48 estrelas.
Incentive Ana do Diário a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.
Foto de perfil de Ana do DiárioAna do DiárioContos: 22Seguidores: 74Seguindo: 1Mensagem Meu nome é Ana do Diário, e aos meus 32 anos de idade, carrego uma vida repleta de experiências que moldaram quem sou hoje. Ser mãe de um filho é uma das bênçãos mais preciosas que já recebi, e encontro nele uma fonte inesgotável de amor e inspiração. Desde muito jovem, descobri minha paixão pela escrita. Sou uma escritora amadora, mas minhas palavras têm o poder de transportar os leitores para outros mundos e despertar emoções profundas. Minha mente é um caldeirão de ideias e minha imaginação corre livremente em cada página que escrevo. No entanto, nem sempre foi fácil trilhar esse caminho. Antes de seguir minha vocação literária, enfrentei obstáculos como ex-garota de programa. Essa fase da minha vida me proporcionou uma visão única sobre o mundo e me ensinou a valorizar cada oportunidade de transformação e crescimento pessoal. Acredito que é fundamental abraçar nossa história e aprender com ela. Minhas experiências passadas me deram coragem para desafiar estereótipos e quebrar tabus. Por meio da minha escrita, busco empoderar outras mulheres e combater o estigma social, compartilhando histórias de superação e força interior. Ser mãe é uma dádiva que me impulsiona a ser a melhor versão de mim mesma. Meu filho me ensina diariamente sobre a importância do amor incondicional e da dedicação. É por ele que enfrento os desafios da vida com coragem e determinação, lutando para criar um mundo melhor para ele e para as futuras gerações. Hoje, sou uma mulher resiliente e destemida. Uso minhas palavras como uma arma poderosa para inspirar e motivar os outros. Cada linha que escrevo é uma expressão autêntica do meu ser, uma voz que desafia limites e derruba barreiras. Acredito que, mesmo nas adversidades, podemos encontrar beleza e crescimento. Minha jornada é um testemunho vivo disso. Sigo em frente, compartilhando minha história de superação, mostrando que é possível transformar as dificuldades em triunfos e escrever cada capítulo da vida com coragem, esperança e amor.

Comentários

Foto de perfil genérica

O sobrenatural não me diz nada, encarnações e outros delírios não passam de ficção. Se o conto é assumidamente ficção (será, não duvido), o que interessa é a qualidade da narrativa e isso parece estar assegurado. Vamos ver até onde corre a imaginação da autora.

1 0
Foto de perfil de Ana do Diário

Caro leitor; Obrigada pela leitura e comentário. Quero corrigi-lo em um ponto. Em momento algum, escrevi que esse ou outros contos compartilhados eram de histórias verídicas. Não sei da onde você tirou essa ideia. Se um dia, eu falar da minha vida e das minhas experiências sexuais, os comunicarei. Boa tarde.

1 0
Foto de perfil genérica

Esta nossa diferença de português é tramada... Eu disse que não duvido que o conto não passa de ficção. "Será, não duvido" afirmei eu, logo assumo que sei que o "relato" é ficcionado. E por isso referi a expectativa quanto à sua imaginação, que reconheço fértil e portanto presságio de uma boa "novela". Juro que vou tentar "abrasileirar" o comentário, para ser melhor entendido. Continue.

1 0
Foto de perfil de CarlinhaP

Tô boquiaberta com o seu talento em criar textos, essa estória promete.

1 0