Abro o Google Notícias e clico na primeira manchete que me chama a atenção.
São Paulo – O estado de São Paulo entra nesta segunda-feira (15) na fase emergencial (antes chamada de fase roxa) da quarentena, após registrar a pior semana de toda a pandemia, com 2.548 mortes ecasos confirmados de covid-19, em sete dias. Assim, todos os serviços administrativos de empresas devem ser feitos em home office e haverá toque de recolher das 20h às 5h. A medida vai valer até o próximo dia 30, devido ao iminente colapso no sistema de saúde no estado.
Fase Roxa, puta que pariu. O Dória tá querendo me foder, só pode.
Desconto minha raiva no WhatsApp. Um grupo chamado Robôs do Mito.
Escrevo textão. O corretor do celular me fode. Tá tudo errado. Foda-se, mando assim mesmo.
Eu não era partidário do Bolsonaro, mas preciso descontar minha raiva do Dória em algum lugar e o pessoal daqui recebe meu veneno de braços abertos.
Por falar em veneno, onde está o mijo de fada?
Rio da minha própria piada.
Foi-se o tempo em que eu me encontrava com os amigos no bar pra contar piadas presencialmente.
Hoje é tudo por escrito. No máximo um áudio mandado em um grupo. Fica azul quando ouvem, mas eu acabo enxergando tudo verde.
Já faz meses que eu vi aquela notícia no UOL. Meses desde que a tal Fase Roxa deveria ter terminado.
A faca que a entidade feérica me deixou continua lá.
Eu a pego de vez em quando. Imagino a cara do Dória fodendo suas putas naquele vídeo vazado. O olhar de horror quendo me vê com a faca erguida e a incrível satisfação de perfurar sua cara safada enquanto a porra jorra de meu pau ereto na boca das suas putas.
Estou ofegante. Meu pau está duro. Essa fantasia assassina sempre me deixa assim.
Abro o armário e lá está ela. A garrafa verde. Cheia até a boca de novo.
Cambaleio até a sala e preparo o ritual.
Dizem que esse rito foi inventado na Checoeslováquia porque eles não tinham a bebida original e o mijo verde deles realmente tinha gosto de urina, então o fogo ajudava a disfarçar.
“Bebo pra ficar ruim. Fosse pra ficar bom, eu tomava remédio”.
Rio de novo. O isolamento tá me fazendo falar sozinho.
E é por isso que eu bebo. Pra ter companhia.
A minha garrafa não veio da França, nem tampouco da Chéquia. Não senhor, ela veio da Romênia, a terra dos vampiros. E por lá eles não tem essa frescura aqui do Brasil, onde só pode cinquenta e quatro porcento de teor alcóolico. Não, senhor. Lá eles seguem a fórmula original: artemisia, anis verde e funcho são a Santíssima Trindade. A planta recebeu a bênção e o nome de Artemis, a deusa da caça e senhora das bestas. Os anglófonos chamam de grand wormwood, a planta de La'anah, o anjo caído de Apocalipse 8:11.
Pego o copo de Pontalier. Sempre bom observar o rito clássico antes de ir para a variação tcheca.
Equilibro nela a colher perfurada.
O sorriso me aflora no rosto e a ereção se torna quase dolorosa.
Dois cubos de açúcar, mergulho a colher no líquido esmeralda, risco um fósforo e o batizo os cubos no fogo.
Aqui eu recito a primeira parte da invocação, falo das chamas infernais de La’anah, menciono Artemis, etc.
Depois que os cubos estão bem flambados, abro a torneira do water drip e a água gelada completa o rito, turvando o líquido verde.
Pelo fogo e pela água eu a invoco.
Quando a água enche o copo, eu chego a salivar, pensando em sua bolsetinha.
Eu viro o copo num só gole.
Lá pela nona dose, eu sinto a familiar ânsia de vômito. Como um homúnculo, ela emerge da minha garganta. Seus bracinhos finos empurram minha mandíbula em um ângulo impossível e a putinha alada nasce das minhas entranhas.
Antes ela era bem diminuta, agora ela tem o tamanho de um gato grande.
Como sempre, ela abre suas perninhas e me chama com o dedinho.
Mal minha língua toca suas partes, ela urina seu veneno em minha boca ávida.
O mundo rodopia.
Eu estou no chão sujo agora.
Ela força sua bolseta contra meu pau, ela se abre e me queima todo. A dor e o tesão me deixam louco e logo eu estou puxando seus cabelos e metendo minha pica em sua pequena xoxota empalando ela sem dó.
Como sempre, ela se banha em minha gala. Meu pau queimado de ácido cospe porra e sangue que se mistura ao seu suor esverdeado.
Minha terrível fada verde sorri. E me aponta a faca.
Eu a coloco em um prato e esquartejo seu corpinho, devorando sua carcaça como quem come um frango.
Logo, ela está dentro de mim de novo. Nascida de mim, morta por mim.
Caio de novo no chão, convulsionando. Mergulho no Delírio Verde, a Corte Esmeralda da minha nova deusa.
Lá renasço como um elfo, orelhas pontudas, longos cabelos negros e uma vara descomunal entre as pernas.
Fodo minha rainha no trono, perante toda a corte.
Gozo na carinha dela. E ela me sorri.
Acordo no mesmo beco de sempre.
A faca banhada de sangue e uma ressaca infernal.
O cadáver de um mendigo me encara. Pego o cobertor fétido e me retiro dali.
A fada verde, minha rainha e deusa, guia meus passos de volta para casa.
Cada vez que sucumbo ao delírio verde, demoro mais para voltar.