Danielle: Trans, Evangélica - Capítulo 11 - Conversa com Jesus

Um conto erótico de Rafaela Khalil
Categoria: Heterossexual
Contém 2709 palavras
Data: 20/09/2024 23:03:31

Danielle ouviu um estalar de dedos

— Oi — A voz de Priscilla chamou sua atenção

Estava na sala da psicóloga, havia explicado o que acontecera no encontro de sexta-feira e depois com Antônio

— Tudo bem? Você está bem dispersa, isso é por causa do comportamento do Marcelo ou do Antônio

A boca de Danielle se envergou levemente para baixo em sinal de tristeza

— Acho que os dois — Falou se arrumando na cadeira — Eu não sei

— Sabe sim Dani, me fala o que você pensa — Priscilla insistiu — Acho que é mais fácil falar do Antônio, o que você sentiu

— Eu, jurei pra mim mesma que não ia fazer mais isso com ele, por que ele é casado, é pecado — Pensou um pouco — Não que seja só pecado, é errado, a esposa dele…

— Mas você disse que ela sabia, como isso? — Priscilla disse

— Ela sabe, mas não é algo escancarado, aconteceu uma vez quando eles voltaram a morar perto de casa, faziam anos que eu não o via, ela estava doente e aconteceu

— Entendo — Priscilla observou e a deixou pensar

— Mas sabe o que me dói — Danielle disse pensativa — No Marcelo

— O que? — Priscilla perguntou curiosa

— Ele parecia ser um cara legal sabe, inteligente, nerd, bonito, grandão, por um minuto eu me enganei e achei que era uma pessoa normal, digna de ter uma vida normal — Os olhos dela se encheram de lágrima — As vezes eu me pergunto por que eu tenho que ser essa aberração da natureza — Falou com a voz abalada e as lágrimas escorrendo

Priscilla respirou fundo empática, deu um lenço pra ela e repousou a mão no joelho de Danielle

— Você não é uma aberração da natureza, você sabe — Priscilla falou e ficou pensativa — Aliás, você é evangélica, certo? Você mesma disse

— Sim, sou — Danielle disse limpando os olhos com cuidado para não tirar a maquiagem

— E sua transexualidade é aceita pela igreja? — Priscilla perguntou parecendo inocente

Danielle olhou séria por um segundo e explodiu em uma risada descontrolada, que em segundos se misturou com o choro, Priscilla ficou olhando e ela se controlou

— Sei nem por onde começar — Danielle disse

— A Bíblia, você segue? — Priscilla perguntou curiosa

— Dentro do possível sim — Danielle disse — Não é possível seguir tudo, mesmo pela minha condição e pela noção que eu tenho de Deus

— E que noção você tem de Deus?

— Eu acredito que Deus é amor, e por ser amor ele jamais iria querer que um filho seu, filha no caso de mim, sofresse mesmo sendo uma pessoa boa, só porque descumpriu regras que não são tão claras.

— Tá, eu não sei tanto da bíblia, mas vou falar o que conheço, se eu for ofensiva você me diz, ok? — Priscilla perguntou

— OK

— A Bíblia proíbe o homossexualismo, certo? — Priscilla perguntou curiosa

— A Homossexualidade Pri, Homossexualismo é uma doença e por definição não existe, use Homossexualidade por favor — Danielle disse assertiva

— Eu sabia, desculpe, Homossexualidade, é proibido na Biblia, certo?

— Sim, só entre homens, entre mulheres não tem menção — Danielle disse

— E você se encaixa onde?

— Biologicamente eu sou um homem, então, se eu me relacionar com outro homem teria que ser pecado

— E como você lida com isso na igreja, assume o pecado e continua?

— Não, eu não vejo esse pecado — Danielle respondeu tranquila

— Por que não? — Priscilla perguntou levantando uma sobrancelha — Não está claro?

Danielle se arrumou na poltrona de novo, e respirou fundo

— A Bíblia Pri, não é a palavra de Deus — Danielle disse tranquila

— Não é? Eu achei que fosse — Priscilla disse ressabiada

— Não, ela foi ditada por Deus para homens e esses homens de mais de dois mil anos atrás colocaram a compreensão deles, junto com sua cultura, costumes, anseios, medos, conhecimentos, entendimentos, conclusões e outras coisas, então não há garantia se esse trecho foi ditado por Deus, foi adicionado pela pessoa que escreveu ou foi uma falta de compreensão

— Mas aí nada na bíblia pode ser dito como confiável se pensarmos assim — Priscilla disse curiosa

— Exatamente, a bíblia tem que ser usada com um livro de guia moral de dois mil anos atrás, algumas coisas a gente usa para saber o que fazer, para ter alguma sabedoria, outras temos que ignorar mesmo

Priscilla sorriu

— Você é a primeira evangélica que eu vejo falando que tem que ignorar a Bíblia, todos os outros seguem à risca

— Ninguém segue à risca Pri, senão vai todo mundo preso, ninguém vende as mulheres da família por exemplo e lá ta escrito que pode fazer — Danielle disse — Ou que a filha pode se deitar com o pai

— Verdade — Priscilla disse — Eu não sou uma profunda conhecedora, mas eu sei que tem essas coisas — Pensou um pouco — Então, na sua concepção você não é homossexual?

— Sim, eu não sou homossexual — Danielle disse

— E como chegou a essa conclusão? — Priscilla disse

— Não foi rápido nem fácil, depois de apanhar muito como você deve ter percebido, eu chorei bastante e um dia tive um sonho — Danielle parou de falar abruptamente

Priscilla levantou a sobrancelha de novo

— Algum problema? — Perguntou quando viu a parada brusca

— É que daqui pra frente eu tenho medo de parecer uma doida, falei isso na igreja, como testemunho e as pessoas disseram que eu era maluca

— Aqui você pode falar, se eu achar que é maluquice eu vou te falar, combinado? — Priscilla disse assertiva

Danielle Sorriu, não haviam mais lágrimas

— Eu sonhei que estava num lugar, uma praça, isso a dez anos atrás e eu não era nada feminina, mas na minha visão eu já era bem feminina, usava vestidos, minha voz já era assim — Ela pensou um pouco — Mas eu tinha seios naturais maiores que os seus, falou tentando parecer bem humorada

Priscilla pegou nos próprios seios e os ajustou

— Entendo — Falou bem humorada

Danielle continuou

— Eu tava sentada no banco e chegou um homem moreno, barbudo, olho verde, cabelo preto com uma túnica branca

— Jesus moreno? — Priscilla perguntou

— É, eu já tinha a visão de como Jesus foi de verdade, não aquela visão dele loiro de olhos azuis e sim ele com cara de Árabe mesmo, como foi de verdade

— Entendi, bacana — Priscilla assentiu com a cabeça, pensativa

— Ele me chamou de Danielle e pediu para se sentar e conversamos

*** Sonho de Danielle***

— Danielle,tudo bem? — O homem moreno se aproximou

Danielle sorriu, sabia muito bem quem era, fez menção de se levantar

— Não se levante, posso sentar? — Ele perguntou com a voz serena

— Claro! — Ela disse rápido se afastando no banco

Ele se sentou, olhou para frente, parecia ver algo no bosque

— O senhor é… — Danielle ia perguntou para ele respondeu antes dela

— Sou sim e você? — Perguntou sorridente

— Eu não — Danielle respondeu

— E o que você é? — Ele perguntou

— Sou a Danielle — Ela disse confiante

— Tem certeza? — Ele perguntou com um olhar desconfiado

— Não, eu sou o Moisés — ela respondeu entristecida

— Engraçado, você muda de nome e fica triste — Ele disse parecendo confuso, se encostando no banco e encostando os cotovelos no encosto — Ninguém devia ficar triste ao falar o próprio nome, ele deveria ser motivo de orgulho, não acha?

— Acho — Danielle disse triste

— Meu nome por exemplo é Jesus — Ele disse sorridente

— Eu sei! — Ela falou animada

— Eu fico feliz quando me chamam por ele, às vezes fazem coisas erradas em meu nome e falam bobagens atribuindo a mim, mas eu não me abalo, eu sou o que eu sou, o que meu pai fez de mim

Danielle ficou olhando admirada

— Moisés? — Jesus chamou curioso

Viu o semblante dela se entristecer

— Eu — Ela respondeu murchando

— Danielle? — Ele insistiu e viu o semblante dela se iluminar — Vai ser Danielle então

— Obrigada! — Ela respondeu animada, esperou alguns segundos — Posso te perguntar uma coisa?

— Posso adivinhar? — Jesus disse sorridente

— Pode — Danielle respondeu retraída

— Você quer saber se um cachorro usasse calças ele usaria do meio do corpo para trás nas patas traseiras ou se ele usaria nas quatro patas, certo?

— Ãhn? — Danielle perguntou sem entender

Ele riu satisfeito

— Estou brincando — Alinhou o tronco no banco da praça e continuou — A sua questão é por que você nasceu assim, acertei?

— Sim, acertou, por que eu sou uma aberração — Danielle perguntou

Ele fechou a cara

— Eu acho ingrato da sua parte — Falou parecendo magoado

— Por que ingrato? — Danielle se surpreendeu com a resposta

— Todas as criações do meu pai… — Demorou um segundo e se corrigiu — Do nosso pai são perfeitas, são todas minuciosamente planejadas para cumprirem o seu papel no mundo, com você não é diferente, por que você chama a criação dele de aberração?

Danielle sacudiu a cabeça

— É por que eu nasci errado, eu não sou uma mulher de verdade, eu nasci um homem, mas me sinto mulher e todo mundo quer me matar por que eu digo que sou uma mulher

— E você é uma mulher? — Jesus perguntou curioso

— Não! — Ela disse — Mas eu quero ser!

— E querer ser uma mulher você acha que é ir contra o que Deus quer pra você? — Jesus perguntou — Lembrando que ele te fez homem

Ela sentiu uma dor no coração, estava mesmo indo contra Deus

— Acho — Danielle respondeu entristecida

— Não mente pra mim — Ele tocou no peito dela, do lado do coração — Eu to aqui dentro, eu sei a resposta de verdade

Ela respirou fundo

— Não acho que estou indo contra Deus, eu sei que estou certa — Danielle disse

— Então, por que está triste de fazer a coisa certa — Jesus disse

— É que ninguém concorda comigo, todos me batem, me proíbem, me chamam de louca, até me colocaram num médico para tentar me convencer do meu pecado e de que eu estou doente da cabeça

— Mas é sempre assim Dani, ninguém confia na gente, as pessoas só acreditam no que elas querem acreditar e ninguém está dentro da sua cabeça, você só convence quem quer ser convencido, ou você acha que pra mim foi fácil também — Perguntou curioso

— Mas o senhor é Jesus, todos te ouvem e acreditam no senhor! — Ela falou indignada

Ele ficou sério e mostrou as palmas das mãos

Ela olhou curiosa

— Isso aconteceu por que quase ninguém acreditou em mim, quem tinha o poder entre os homens na época não acreditou e eu fui condenado à morte

Ela ficou em silêncio com vergonha de ter falado aquilo, ele continuou

— Você tem mais sorte, eu vim para sofrer por você e por todos depois de mim, então você não precisa ser condenada à morte, mas só tem que tomar um cuidado

— Mas eu não estou fazendo errado sendo uma transexual — Danielle disse — Isso é pecado

— Você acha que é pecado? — Jesus perguntou

— Não — Ela disse revoltada

— Mas é pecado homem com homem! — Jesus disse indignado

— Mas eu não sou um homem! — Ela falou nervosa

Ele sorriu e apontou para ela com o dedo indicador dando uma piscadinha

— Essa é a resposta — O tom foi amigável

— Mas eu não entendo, por que me fazer homem para eu ter que sofrer para querer parecer uma mulher, por que ser uma mulher eu nunca vou ser — Danielle disse entristecida

— Cada um tem a sua jornada Dani, Deus não erra, ele escreve certo por linhas tortas e você está vendo sua linha como torta, mas está certa do ponto de vista de Deus — Ele fez uma pausa para ela pensar — Ser transexual, deixar de ser Moisés e se transformar nessa Danielle — Apontou para ela — É a sua jornada, ela diz respeito somente a você

— Minha jornada, quer dizer que eu tenho que fazer isso por que Deus quer? — Danielle perguntou

— Você é quem sabe, Deus fala com a gente, não com palavra, mas com sentimentos, ele dá o guia todos os dias, quando você se pergunta se aquilo é o certo ou o errado, quando você faz uma coisa por que ela tem que ser feita pelo bem de todos, não só daqueles que você conhece e ama, mas de todos mesmo, esse é o verdadeiro motivo de ser cristão, de ser uma filha de Deus

— E como eu sei que Deus fala comigo? — Ela perguntou com medo

— Como ele disse para você deixar de ser o Moisés e ser a Danielle? — Jesus perguntou curioso

— Eu não sei — Ela respondeu pensativa

— É isso Dani, não pense tanto, viva, faça o certo pelo certo, tudo bem você ser o que você é se não está fazendo mal a ninguém

— Mas eu faço mal ao meu pai sendo assim, ele sofre por isso — Danielle respondeu angustiada

— Nascemos sozinhos, como uma fagulha da consciência do senhor, nosso objetivo é evoluir como pessoas, como seres, seu pai tem a jornada dele, você a sua, viva a sua sem interferir negativamente na dele, preocupe-se com a sua jornada, somos seres coletivos quando necessário, mas intimamente individuais com missões individuais

— Minha missão então é ser a Danielle? — Danielle perguntou curiosa

— Sua missão é ser feliz, ficar em paz e transformar o ambiente à sua volta em um ambiente de paz, se conseguir contamine as pessoas com paz e amor e se isso tudo fizer bem para você, vai fazer bem para Deus também.

Danielle sorriu e deu um abraço nele

*** No Consultório ***

— Nossa, que bonito — Priscilla estava encantada com a história — Acho que entendo sua linha de raciocínio agora

— Que bom, minha jornada é servir meu Deus e viver minha vida sendo a Danielle, é a minha missão ser transexual, mostrar o amor que tenho para as pessoas para elas entenderem que eu e pessoas como eu tem o direito de serem felizes também

— Te entendo completamente e te parabenizo pela coragem de viver assim.

— Obrigada — Danielle disse satisfeita

— Bem, acho que deu nosso horário, te vejo na sexta-feira? — Priscilla disse

— Vê sim! — Danielle respondeu animada

Despedida-se e foram e ela foi embora, direto ao trabalho. Estava tranquila, mesmo com tudo o que havia acontecido a conversa com Priscilla, a lembrança do sonho com Jesus a fez esquentar o coração e manter a paz

“Tenho que ser feliz e fazer o bem” pensou sorridente dentro da máscara

Pegou o metrô em direção ao trabalho, ao sair da estação sentiu o aparelho vibrar no seu bolso, pegou para ver as notificações, haviam dezenas de chamadas não atendidas, mensagens de texto e voz, foi tomada por uma pequena crise de pânico, se encostou em uma lanchonete e começou a ler as mensagens.

Algo estava errado na empresa, as mensagens não diziam muito, havia um Áudio Armando

“Dani, sei que você está na terapia, assim que ouvir isso corre aqui para o trabalho, estamos com um problema grande”

Apertou o passo, a caminhada até o prédio era feita por três quarteirões e demorava cerca de dez minutos, mas ela fez em cinco, chegando esbaforida na recepção

— Bom dia dona Danielle — O Porteiro disse

— Bom dia! — Ela respondeu suada e ofegante passando o cartão na catraca, não funcionou

— Tá desligado, tá tudo fora do ar, passa por aqui — O Porteiro abriu a portinhola lateral e ela entrou correndo

— O Elevador não funciona — Ouviu o porteiro falando

Desviou o caminho, eram cinco andares a pé, naquele dia ela não usava mochila, o notebook estava no escritório, ela tinha apenas uma pequena bolsa a tiracolo, estava ansiosa, colocou o celular no bolso de trás e disparou escadas acima.

Chegou no quinto andar sentindo o suor na testa, no Hall de entrada ouviu muitas vozes, um barulho concentrado de pessoas conversando.

Passou pela multidão e encontrou a porta do escritório aberta, entrou, tudo desligado com exceção do computador do programador, ao aparecer na sala todos olharam para ela

— Dani — Armando chamou

— O que houve? — Ela perguntou apreensiva

— Fomos hackeados, sequestraram nossas redes — Armando falou sendo direto

Todos olhavam para Danielle esperando alguma resposta

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