Eu achando que o namoro falso iria proteger Kamila , mas na verdade colocou um alvo nas suas costas por minha causa. Era melhor eu resolver aquilo rápido. Fiquei olhando o reflexo do vidro que cercava o caixa e vi que os dois ficaram um bom tempo conversando e ainda escutei algumas risadas da Kamila. Graças a Deus o movimento começou e Kamila teve que ir atender algumas mesas. Eu tinha que arrumar um jeito de falar com ela e rápido. O tempo foi passando e Beatriz saiu do escritório e veio até onde eu estava. Quando ele chegou ela notou que eu não estava muito legal e me perguntou se eu estava bem, eu disse que sim. Falei que só estava um pouco indisposta. Ela falou que qualquer coisa era só chamar ela, que ela ficaria no caixa no meu lugar. Eu disse que se ela não se importasse eu queria que ela ficasse sim, mas só por uns minutos. Ela disse que tudo bem. Eu disse que só ia ao banheiro passar uma água no rosto e já voltava. Saí e fui ao banheiro, mas antes passei perto da Kamila e falei para ela ir ao banheiro o mais rápido possível. Ela provavelmente viu que era algo sério por causa da minha cara e pelo tom de voz que falei. Entrei no banheiro dos funcionários e logo ela apareceu. Eu fui direta com ela.
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Tamires: O que o gerente te falou que foi tão engraçado?
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Kamila: Ele só estava me contando umas piadas de garçonete. Eu achei engraçadas.
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Tamires: Pois eu não achei graça alguma e vou te explicar o que está acontecendo porque a porra da aliança no dedo dele não deve ser um empecilho para você.
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Kamila: Que isso!?! Ele só estava conversando comigo, não teve maldade alguma.
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Tamires: Só me escute por favor. Nossa amizade depende disso, ok.
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Quando falei isso ela se assustou e parou de me interromper. Contei a ela o problema que tive com ele. Como imaginei, ela nem se lembrava disso direito. Expliquei tudo a ela. Que ele estava com raiva de mim. Que para ele, ela era a minha namorada e com certeza ele estava se aproximando dela só para se vingar de mim. Contei para ela sobre o sorriso cínico que ele deu. Reforcei que ele era casado, era o gerente da lanchonete e isso poderia causar problemas para nós duas. Por fim lembrei ela da promessa que ela fez e falei que eu não tinha esquecido a minha. Que se ela aprontasse nossa amizade já era. Depois fiz questão de deixar claro que eu não tinha problema dela ficar com ninguém, mas eu estava implorando para ela ficar longe dele e de pessoas que pudessem nos causar problemas. Quando terminei de falar ela disse que tinha entendido e não iria me decepcionar. Eu dei um abraço nela e pedi desculpas por estar falando com ela daquele jeito. Que eu estava orgulhosa dela estar agindo bem até o momento, mas que eu estava realmente preocupada com aquela situação. Ela disse que era para eu ficar tranquila que ela não ia dar nenhum tipo de abertura para ele. Dei um selinho nela e agradeci ela por me entender.
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Voltei para o caixa um pouco mais aliviada. Mas ainda estava preocupada. Eu tinha motivos e não eram poucos, para não confiar totalmente em Kamila. Falei com Beatriz que eu estava melhor e ela podia ficar tranquila para voltar a fazer seu trabalho. Dei um belo abraço nela e agradeci pela ajuda. Daquele momento em diante eu fiquei o máximo possível de olho na Kamila. Não vi Henrique mais perto dela, mas na hora que ele foi embora ele foi até ela se despedir. Quando ele foi dar um abraço nela, Kamila se afastou e estendeu a mão. Ele apertou a mão dela e foi saindo meio contrariado. Claro que ele olhou para mim, mas eu fiz cara de paisagem e virei o rosto para outro lado. A vontade de devolver o sorriso cínico irônico foi grande, mas achei melhor não provocar ele. Eu só queria voltar a ter paz ali. Comprar uma briga com ele no momento não era uma boa ideia.
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Depois daquele dia vi Henrique tentando se aproximar de Kamila algumas outras vezes, mas sempre via ela sair de perto o mais rápido possível. Ela mesma me contou que ele sempre vinha com alguma conversa pro lado dela, mas ela não rendia assunto e sai de perto. Depois de alguns dias ela disse que ele nem falava mais com ela. O tempo foi passando e ele parou de me olhar com cara feia, porém não falou comigo nunca mais. Eu fiquei feliz por isso ter ficado para trás e principalmente por Kamila ter feito o que ela prometeu. Eu realmente estava orgulhosa dela e fiz questão de deixar isso claro para ela. Os meses foram passando sem nenhum grande problema. Nossa vida seguia e tudo parecia bem.
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Quando completei cinco meses que eu estava no trabalho, Cibele me ligou e disse que achava que não tinha mais motivos para eu continuar na lanchonete. Ela disse que Beatriz estava lá para ficar de olho em tudo e ela precisava me treinar para eu ficar no seu lugar no hotel. Ela disse que provavelmente iria trabalhar até seu oitavo mês de gravidez, mas depois iria ficar mais quieta, que iria sim no hotel, mas não queria ficar lá 12 horas do seu dia. Ela falou que iria deixar eu na lanchonete mais 15 dias e iria me levar para o hotel. Eu disse que estava por conta dela, onde ela me quisesse eu iria sem problemas. Assim ficou combinado. Quando contei para Kamila ela ficou meio triste. Me disse que não queria trabalhar longe de mim. Eu disse a ela que isso não iria durar, que eu iria tentar arrumar uma vaga para ela no hotel. Aí ela até se animou. Disse que seria legal, principalmente se o salário fosse melhor porque o da lanchonete era bem pouco. Ela até estava certa, era pouco, mas não para a função dela. Na verdade, acho que nenhuma lanchonete pagava melhor do que a que a gente trabalha.
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Depois dos 15 dias dei adeus ao meu antigo trabalho e fui para o hotel. No primeiro dia eu basicamente fiquei observando minha prima trabalhar. Ela ia me explicando tudo, cada detalhe e eu prestava muita atenção. No final do dia recebemos a visita do seu padrasto. Osvaldo era um homem sério quando se tratava de negócios. Eu já o conhecia, mas não tínhamos muita intimidade. Ele foi muito gente boa comigo e disse que se Cibele e sua esposa confiava em mim, ele iria confiar. Ele também disse que se eu me saísse bem o meu futuro estaria garantido. Eu o agradeci e disse que mesmo não merecendo ter uma oportunidade tão grande eu iria me esforçar o máximo para me sair bem. Ele deu um sorriso e disse que gostou do meu modo de pensar.
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No hotel eu não teria minha carteira assinada de início. Eu teria um contrato até o final do ano e quando vencesse poderia ser renovado ou não. Cibele disse o que tinha no contrato e pediu para eu ler com calma. Se caso eu quisesse eu poderia levar para casa, ler com calma e pedir auxílio a um advogado antes de assinar. Eu li o contrato e falei que para mim estava ótimo. Oswaldo pediu para eu esperar um momento antes de assinar. Chamou Cibele para conversar em particular. Eu achei que ele tinha mudado de ideia. A conversa durou uns 10 minutos e Cibele voltou. Osvaldo nem veio até onde eu estava. Só me desejou boa sorte de onde estava e saiu do escritório. Ali eu vi que pelo menos o emprego eu iria ter. Cibele disse que o padrasto pediu para ela alterar o contrato e meu salário. Ela disse que ele pediu para ela me pagar um salário integral para minha função. Ela iria alterar o contrato e me entregaria no outro dia. Eu disse que por mim tudo bem. Perguntei a ela porque ele tinha pedido isso a ela. Ela disse que era segredo e sorriu. Nem insisti no assunto, mas eu sabia que aquilo era muito bom para mim. O salário que eu iria receber já era muito bom, mas o salário integral seria incrível. Eu iria fazer a função da minha prima. Ou seja, eu iria ganhar o mesmo salário. Era muito dinheiro por mês.
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A noite quando Kamila chegou eu contei para ela e ela ficou muito feliz e me perguntou o valor, eu disse que ainda não tinha certeza, mas dei uma pesquisada e era uma boa grana. Quando falei o valor ela arregalou os olhos e depois me deu um abraço e disse que eu merecia. Conversamos sobre o assunto por um bom tempo, eu estava animada e ela também. Mas ela falou algo que meio que estragou o clima. Ela disse que infelizmente ela ainda iria continuar ganhando a mixaria de sempre na lanchonete. Eu mais uma vez falei para ela ter calma que as coisas para ela também iria melhorar. Ela disse que estava torcendo para isso e melhorou a carinha. Depois disse que eu podia levar ela em um motel de luxo no meu primeiro pagamento. Eu disse a ela que levaria sim.
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Nossos horários seriam diferentes agora. Eu já tinha pensado nisso, não teríamos muito mais tempo juntas. Pensando nisso, eu pedi a Cibele para eu ter folga na segunda. Queria poder passar pelo menos um dia com Kamila. Eu sabia que ela andava meio chateada por estar trabalhando sem eu e por estar ganhando pouco na visão dela. No outro dia assinei meu contrato e realmente eu iria ter um salário enorme. Cibele disse que eu poderia ter folga na segunda sem problemas. Eu fiquei muito feliz com aquilo. À noite consegui esperar Kamila chegar do trabalho e ela perguntou se eu tinha conseguido o trabalho para ela. Eu expliquei que eu não tinha falado com minha prima, que eu tinha acabado de começar no trabalho, mas eu falaria sim. Ela disse que tudo bem e abaixou a cabeça. Eu tentei animar ela, mas não funcionou muito. No outro dia falei com minha prima. Ela disse que assim que tivesse uma vaga ela me avisaria e Kamila poderia vir trabalhar no hotel.
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Não consegui esperar Kamila chegar a noite, mas mandei uma mensagem para ela avisando que tinha falado com minha prima e na primeira vaga que tivesse que ela pudesse preencher ela seria contratada. Os dias foram passando e Kamila sempre perguntava sobre a vaga. Eu sempre pedindo calma a ela. Eu conversava muito com ela nas nossas folgas e ela parecia entender melhor. Mas no meio da semana dava para notar que ela não estava nada feliz com aquilo. Eu queria poder fazer algo, mas o que eu podia fazer eu tinha feito. Eu já estava bem acostumada com meu trabalho. Já tomava algumas decisões sozinhas e em todas fui elogiada por minha prima. Com trinta dias de trabalho recebi meu primeiro pagamento e queria levar Kamila no motel. Era um domingo e quando saí do trabalho resolvi passar no trabalho da Kamila para conversar com ela e com Beatriz. Eu iria ficar lá até fechar e depois iria levar Kamila para passar a noite em um motel. Na segunda era nossa folga e queria levar ela para fazer umas compras. Quando cheguei na lanchonete não a vi. Fui falar com Beatriz e vi Kamila sair do escritório do Henrique, aquilo me ligou um sinal de alerta. Mas vi que ela estava com uma carinha meio triste. Quando ela me viu sua tristeza virou espanto. Ela veio rápido onde eu estava e me puxou de lado.
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Kamila: Por favor, não briga comigo. Eu só fui pedir um aumento a ele. Eu juro.
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Tamires: Tudo bem, mas para que pedir aumento se você vai trabalhar no hotel?
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Kamila: Vou? Vocês estão me enrolando há um mês. E você até agora só me vem com desculpas.
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Tamires: Ok. Essa vai ser a última. Me desculpe não ser dona do hotel e ter poder de resolver isso na hora que eu quiser. Sinto muito mesmo por te enrolar.
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Eu fiquei muito magoada com o que ouvi. Falei aquilo e sai dali. Kamila ainda me chamou, mas não dei atenção. Fui embora para longe, chamei um táxi e fui para casa triste com o que houve. Ingratidão é algo que me incomoda e muito. Eu não consegui dormir. O pior é que ela estava para chegar e eu não queria papo com ela. Levantei, tranquei a porta do meu quarto e coloquei meus fones de ouvido. Coloquei o volume no máximo. Eu só queria que aquela mágoa passasse rápido.
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Continua..
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Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper