Cap 21 – Um dos melhores amigos do antigo dominador aparece
A ida no fórum foi tranquila, acabou que o encontro com o cliente foi remarcado, mas o clima péssimo se estendeu durante o dia. Logo, a noite, Jonas levou um esporro sem precedente de Alexandre. Frederico, sim, o amigo dominador de Adriano, era filho de um dos melhores amigos de Alexandre. Jonas disse que iria se desculpar com ele o quanto antes e que isso não iria se repetir. Alexandre queria de todo jeito saber o que aconteceu entre eles mas Jonas não disse.
Todo o ocorrido foi péssimo, lembrou-se Adriano e sentiu um aperto no peito. Não conseguia entender o que acontecia e mesmo tendo ocorrido tudo que ocorreu ainda sentia muita vontade de estar com ele. Queria beijar ele, tocar no corpo dele, sentir-se dominado por ele. Naquela noite ficou acordado pensando em Adriano e acabou sonhado com ele, se lembrando da ultima vez que transaram e como se sentiu quando estava sendo dominado por ele. Acordo com pau duro e acabou batendo uma até adormecer novamente.
No dia seguinte, no horário de almoço, havia decidido comer algo rápido e voltar para o trabalho. Trabalhar era sua escapatória para todas as coisas ruins que vinha sentindo. A tristeza e a solidão. Um pau grande e grosso também ajudava, mas não dava para transar todo dia, então o trabalho era seu refúgio.
Estava tomando um café e uma cafeteria chique próximo ao escritório, o olhar desanimado se perdia na rua movimentada ao lado de fora e ninguém menos que Frederico apareceu do nada surpreendendo Jonas.
- Ola Jonas!
- Ah meu Deus! - reclamou Jonas olhando o homem.
Frederico estava usando calça social preta, camisa de social branca com uns dois botoes abertos. Estava calor e talvez, por esse motivo estava sem o terno ou a gravata. Ele era muito bonito de fato. Algo em torno dos trinta e oito anos, um metro e noventa de altura. Era musculoso e charmoso.
- Posso? - questionou ele olhando a cadeira.
Jonas suspirou.
- Se eu disser não você não vai se sentar do mesmo jeito - disse oferecendo café.
- Verdade - disse ele sentando-se pegando o cardápio. - Não precisava me tratar com toda aquela frieza, seu segredo está seguro comigo.
- Meu segredo? - perguntou Jonas franzindo a testa.
- Sim, que é uma puta vagabunda de macho - disse olhando fundo nos olhos de Jonas, o rosto com um ar de sarcasmo.
Jonas suspirou.
- Você deveria me agradecer – disse Jonas dando um gole no café.
- Eu? por qual motivo? - perguntou Frederico.
- Por eu ter guardado o seu segredo.
Frederico deu uma gargalhada alta e isso chamou atenção de algumas pessoas próximas.
- Qual você acha pior, falarem que eu sou um macho dominador fudedor de cu - disse ele baixo. - Ou que você é um submisso barato que é feito de mulherzinha por outros machos. Lembro vem de você desfilando de calcinha para todos.
Jonas não respondeu prontamente, o rosto quase corou ao se lembrar. Mas logo disse.
- Eu acho que eu sou um ninguém. Formei há alguns anos e não tenho nada a que perder. No fundo as pessoas não ligam para mim - disse Jonas dando os ombros. - Já você, digamos que a história sobre você seja: “filho de um dos advogados mais bem sucedidos do estado está envolvido em orgias sadomazoquistas. Entre as praticas estão a simulação de estupro, tortura, privação de sentidos e dogplay (um fetiche onde um dos parceiros finge ser um cachorro)”.
Frederico recuou levemente.
- Isso não é totalmente verdade - disparou Frederico.
- Somos advogados, você aparentemente muito bom inclusive, sabemos que a verdade e conveniente e as pessoas escolhem no que querem acreditar - disse Jonas dando ombros. - É um país homofóbico Frederico, os danos a sua imagem seriam irreversíveis - finalizou dando um gole no café. - Você deve ter muitas pessoas que te invejam, seria um prato cheio para eles.
Frederico ficou em silêncio.
- Por esse motivo é você quem deveria fica despreocupado pois não contei seu segredo e não eu, pois as pessoas acreditariam em mim, eu sou ótimo em contar histórias.
Não é mesmo?
Jonas se sentiu feliz pois pode notar que Frederico recuou. O ar prepotente no rosto dele sumiu brevemente. E ele era muito bonito, sua beleza era muito hipnotizante. Logo Frederico abriu um sorriso mostrando todos os dentes.
- Você é um submisso interessante! Adriano não estava errado quando sentiu sua perda – disse ele voltando o olhar para o celular. - Ultima vez que encontrei um submisso no fórum ele passou mal e não conseguiu ficar na audiência, a pressão dele caiu - disse Frederico. - Achei injusto, ele estava indo representar a empresa que havia processado a minha cliente. Geralmente o pessoal fica surtado quando acontece coisas assim. Achei que tinha ficado surtado também.
- Eu não sou esse tipo de submisso - disse Jonas. - Um rapaz idiota e com autoestima baixa que aceita tudo calado, tenho um amor-próprio e inteligência - disse Jonas confessando para si mesmo que isso não era de todo verdade. Tinha a autoestima baixa, aceitava tudo calado, se sentia idiota e vinha tomando decisões não muito inteligentes. Mas ao menos sabia mentir.
- Se você está dizendo - disse fazendo o pedido ao garçom alguma coisa. - de qualquer forma, acredito que meu segredo esta guardado com você - disse com ironia.
Jonas não respondeu.
- E quanto pretende voltar? O Adriano sente sua falta.
Jonas não respondeu e a pergunta lhe pegou de surpresa. Ele foi direto ao ponto. Focou no seu café e fingiu que Frederico não estava mais ali e um silêncio incômodo surgiu.
- Vai me ignorar novamente? - questionou ele.
- O que você quer de mim Frederico? Pelo amor de Deus! Só queria tomar meu café.
- Você está falando comigo hoje, fizemos um grande avanço – disse Frederico.
- O Alexandre pediu que falasse com você e te pedisse desculpas – disse Jonas se lembrando. - Desculpe pelo comportamento grosseiro, não irá se repetir – disse Jonas com nojo nas palavras.
Frederico achou graça.
- Faz tudo que o Alexandre pede sem questionar? - perguntou achando segurando o riso do pedido de desculpas forçado.
- Faço tudo que ele pede questionando cada palavra que ele diz - respondeu Jonas respirando fundo.
Frederico riu.
- Se quer mesmo saber, ele disse que você é uma boa pessoa, apesar de tudo isso ai - disse Jonas.
Frederico achou graça.
- E o que mais o Alexandre disse?
- Sinceramente, que faríamos um ótimo casal - disse de forma sarcástica. As palavras pegaram Frederico de surpresa. De fato a afirmação pegou até mesmo Jonas de surpresa. De fato o chefe havia dito que apesar de Frederico ser rico, mimado e prepotente, se achar melhor que todos e ser muito bonito, era uma boa pessoa. Eu acabei tirando essa parte para o conto não ficar mais longo do que já está. - Ele disse que eu deveria pensar em ficar com você por que apesar de rico, playboy e várias outras coisas você é uma pessoa boa.
- Ele...
- Sabe se voce é gay? Sabe sim - disse Jonas. - Aquele velho sabe de tudo de todos.
Frederico pareceu um tanto desconcertado. Ficou sem palavras por alguns segundos e isso deixou Jonas satisfeito. Frederico era o tipo de pessoa prepotente que se julgava melhor que todos. Bastava ver pelo jeito de falar, a forma de se impor, os sorrisos e a cara de deboche constante.
- E você acha que faríamos um bom casal? - perguntou Frederico voltando a achar graça de tudo.
- Ah com certeza, se fosse para eu parar em um hospício! - respondeu Jonas de forma irritada.
- E por que não? Seria um ótimo namorado, te daria presentes, sexo de qualidade e ta fazia submisso ainda – disse ele. - Deve lembrar, minha rola e grossa, imensa. Do jeito que putas como você gosta.
Jonas olhou para ele e não respondeu. Imaginou que seu rosto responderia por si. Porem Frederico riu.
- Vou indo! - disse Jonas se levantando.
- Antes Jonas - chamou Frederico. - Pensa em voltar a falar com o Adriano, ele sente sua falta. Ele comentou esses dias que você não quer mais falar com ele.
Jonas suspirou irritado.
- Nos anos que fico com homem sempre procurei dominadores. E todos são iguais. Adriano e você não são diferentes. Não respeitam os outros, fazem o que entende e qualquer tipo relação se resume a isso. Destroem o emocional já fudido dos submissos e depois os descartam. Relacionamentos altamente tóxicos. Depois ficam pagando de coitado falando “ele não quer falar mais comigo”.
- Eu não concordo com isso - disse Frederico visivelmente ofendido. O ar cheio de sarcasmo foi tomado de tal forma que seu semblante mudou. - Eu não sou assim.
- Não? Não foi você que quebrou o braço do seu submisso e depois ameaçou ele quando ele quis ir na policia? - questionou Jonas.
Aquilo pegou Frederico de surpresa de tal modo que ele recuou na cadeira.
- Não foi assim que ocorreu, foi um acidente – disse Frederico ofendido. - Tarick não devia ter te contado isso.
- Não pode acontecer acidentes, a gente confia nosso corpo e mente a vocês – disse Jonas percebendo que estava ficando irritado. - Eu mesmo fiquei na porra um lugar perigoso, fui assaltado e agredido.
- Eu entendo que devemos zelar pelo psicológico e pela integridade física dos submissos, mas acidentes acontecem – disse Frederico. - Não é porque deu errado com você que do errado com todo mundo. Jorge foi imprudente com você te colocou em risco, eu jamais faria isso. Não tome a sua vivência como a vivência de todos.
- Disse o cara que quebrou o braço do submisso e depois usou do poder aquisitivo para ameaçá-lo – retrucou Jonas.
Frederico mordeu a língua.
- Isso foi um acidente e você não entende a história. Hoje somos amigos. Não coloque a sua péssima experiência na conta de todos – disse Frederico irritado.
- Será? Nunca conheci um dominador que preste – disparou Jonas. - Todos mentem, enganam, deixa o submisso cheio de esperanças e depois fazem algum tipo de sacanagem
- Isso não verdade, isso está mais para o caráter da pessoa do que pelo fato de gostar de dominar alguém. Mas o que vejo é que você Jonas espera um conto de fadas como muitos submissos por ai. Um dominador que vai atender suas necessidades emocionais e físicas, resolva seus problemas você mesmo. Acho que você está se esquecendo o papel de um dominador e o papel do submisso nesse tipo de relação.
- Será que estou mesmo? Não é porque é uma relação BDSM que precisa ser baseada em enganação e mentira.
- Adriano não é o tipo de homem que mente, você é ingênuo e criou coisas na sua cabeça. O que o Jorge fez foi errado, sinceramente não gosto dele, mas não me coloque na conta das suas péssimas experiências.
- Vai ficar nessa ai de colocar a culpa nas minhas vivência? - disse Jonas. - Se quer mesmo saber Jorge fez o que idealizei na minha cabeça centenas de vezes, o problema foi a forma que Adriano conduziu tudo. Chegasse para mim e falasse de maneira aberta: eu quero que você fiquei com o Jorge. Talvez eu ate aceitasse. Agora fazer tudo por debaixo dos panos. Você acha isso certo? Se sim isso somente prova o que venho dizendo.
- Essa discussão é inútil - disse Frederico parecendo cansado e irritado.
- Também acho!
Os dois ficaram em silêncio. Ambos evitando o olhar. Jonas olhando o próprio café, indignado. Estava puto com Adriano e acabou estressando com Frederico, que também merecia porque estava envolvido naquilo tudo. Mas tinha de se relacionar bem com Frederico. Eles ficaram juntos pelos próximos dias e Alexandre queria muito que o problema desse cliente se resolvesse. Devia muito a ele. Agora um sentimento se arrependimento tentava se apossar do seu coração ainda irritado. Mas não conseguia controlar a raiva dentro de si. A vontade era de bater em Frederico.
- Para que essa cara de bravo meu Deus! - disse Frederico rindo. - Gente, ja passou! não precisa deixar essa testa franzida ou essa cara de bravo olhando o café como e fosse atacar ele!
- Ah pronto! - Jonas percebeu que a testa estava franzida. Tenteou"desfranzir" a testa mas estava tão irritado que não conseguiu.
Frederico riu baixo, tentando conter o riso.
- Inferno! - pestanejou jonas sorrindo.
- Olha ele sorrindo olha laaaa que fofo - disse Frederico rindo.
Jonas grudou os lábios com todas as forças que tinha mas a boca simplesmente sorriu sozinha.
- É tão lindo sorrindo - disse Frederico de forma meiga - mesmo com a testa ainda franzida e querendo me bater!
- Cada centímetro do meu corpo quer te bater Frederico! - disse Jonas respirando fundo, tentando não sorrir.
- São poucos centímetros no seu caso - avaliou Frederico, com uma das mãos no queixo.
Jonas voltou o olhar sério para Frederico.
- Não precisa ficar nervoso comigo -disse Frederico apressado. - É baixinho e lindo, o que mais tem por ai e gente alta e feia – disse tentando evitar uma nova discussão. - E concordo com algumas coisas que você disse, alguns dominadores passam do ponto. De fato algumas verdades são meio difíceis de engolir. Mas não tudo, você exagera em alguns pontos. Se te passei a impressão errada, eu peço que me desculpe. Eu sempre respeito e protejo os meus Subs. Aconteceu sim alguns erros no percusso e eu me arrependo muito disso, mas não tem como mudar o passado.
- Protege?! - perguntou Jonas com ar irônico.
- Sim, sou forte - disse mostrando o bíceps de um dos braços achando graça. Seus braços eram enormes, não tinha como negar. Foi possível ver o músculo contraído mesmo com a camisa social branca de manga longa.
- Ah tanto faz! - disse Jonas fingindo desinteresse. - Deixa eu ir embora. De todo modo me desculpe pela forma que te tratei aquele dia. Diga ao Alexandre que pedi desculpas, até logo!
Frederico sorriu.
- Vou dizer que ajoelhou e pediu perdão! - disse Frederico.
- Se disse isso ele vai achar que eu te mamei e isso não é bom – disse Jonas.
- Acho que consegue mesmo em pé! - disse Frederico pensativo.
- Eu não sou tão baixinho assim! - disse Jonas irritado. - Até logo!
- Até, Jonas!
CAP. 22 – Um encontro Inesperado.
Naquele fim de tarde ele acabou por voltar até a estação onde a moça que trabalhava na roleta havia lhe dado uma passagem para ele ir embora. Por mais que fosse praticamente irrisório o valor da passagem, queria retribuir o favor.
- Lembra de mim – perguntou olhando a moça, que sorriu em resposta.
- Claro, lembro sim. Está melhor?
- Estou sim – disse Jonas – Ele tirou o valor da passagem do bolso e devolveu a ela. Junto entregou seu cartão. – Queria te agradecer, aquele dia havia sido assaltado e você pagou a passagem para mim. Estava totalmente sem dinheiro, muito obrigado! – disse entregando o dinheiro e o cartão. – Sou advogado, se precisar de qualquer coisa pode me procurar!
Meio constrangida ela pegou o dinheiro.
- Esse valor e tão pouquinho... não precisava se incomodar – disse ela.
- Não tem como, você foi muito gentil comigo – disse Jonas. – Se não fosse você não sabia como iria embora daqui.
Um grande fluxo de pessoas passava pelo metrô naquele momento. Algo em torno das vinte horas. A moça então agradeceu e voltou ao trabalho. Jonas respirou fundo, cansado, e foi até uma lanchonete próxima. Estava com fome, um pastel e um caldo de cana cairia bem.
Sentou-se em uma das cadeiras de frente para a entrada e começou a comer. E foi entre o fluxo de pessoas, o vai e vem de um lado para o outro que viu ele passando. Seu coração travou dentro do peito, acho que teria um enfarto no momento. Seus olhares cruzaram no mesmo instante na forma que voltou o olhar que estava constrangido.
Isso mesmo... Jorge. Primeiramente ele ficou olhando, depois respirou fundo e entrou na lanchonete.
Jonas se sentiu desconfortável no exato momento. Imponente, o homem alto e corpulento puxou uma cadeira e sentou-se de frente para ele. Usava o uniforme de onde trabalhava, uma camisa social branca, calça social preta e sapato. Estava com alguns botoes abertos mostrando um pouco do peito musculoso.
- Oi... – disse ele. – Boa noite! Podemos conversar?
Jonas olhou o pastel, estava tão gostoso, mas de repente seu estomago não queria mais nada. Ardia em raiva e… tesão. Isso o deixou irritado, ele tinha algum problema de cabeça, não tinha condição. Aquele homem era muito atraente e também, não foi a aparência ou o sexo que o fez ficar com raiva e sim a forma que ele e Adriano agiram.
- O que você quer? – perguntou Jonas. Sua voz saiu com uma inflamação silenciosa, cheia de raiva. Seu rosto se contorceu na mesma hora e era nítido que estava irritado.
Jorge olhou para ele e seus olhos, olhos cor de café, sempre pulsantes, pareceram lampejar. Isso de certo modo desarmou Jonas, que em primeiro momento ficou confuso diante de Jorge.
Eles caminharam até uma praça bem próxima a estação. Logo sentaram-se em um banco escuro, abaixo de uma imensa árvore de copa frondosa. Carros passavam de um lado para o outro na rua. Uma pessoa caminhava aqui e acolá na praça.
- O que você quer Jorge? – perguntou Jonas.
O homem ficou calado durante um bom tempo. Estava sentado com o tronco curvado, os antebraços apoiados nas coxas, o olhar voltado para o chão, parecia pensativo, pesaroso.
- Eu queria te pedir desculpas por tudo – disse Jorge de forma pesarosa, a voz saiu firme, porém margeada de melancolia e até mesmo tristeza. – Não existe qualquer coisa que eu diga para justificar o que fiz. Me desculpe.
Aquilo foi como um baque em Jonas. Não esperava aquilo, achou que Jorge falaria sobre Adriano ou tentaria uma desculpa qualquer para o que ocorre. A forma que ele falou o pegou totalmente de surpresa.
- Por quê? – foi a única coisa que Jomas conseguiu dizer.
Ele olhou para cima e respirou fundo.
- Eu agi de uma forma imprudente Jonas – disse ele. – Quando te vi, não sei ao certo o que senti. Conversei com a Adriano, implorei a ele que me desse uma chance. E ele permitiu. E eu joguei tudo fora. Agi de uma forma grosseira com você, te feri, te coloquei em perigo, fiz você passar por provavelmente uma das piores experiências da sua vida.
- Não é isso que queria saber – disse Jonas confuso. – Quero saber por que está fazendo isso, se desculpando...
Ele ficou um bom tempo em silêncio antes de volta a falar.
- É a atitude que um homem deve ter quando erra – disse ele. – Sei que foi errado o que fiz com você...
- Você cometeu ao menos uns cinco crimes ali – disse Jonas.
- Eu sei
Ele respirou de forma exasperada. Logo esmoreceu, sem dizer nada.
- Olha Jorge...
- Eu te mandei embora porque receberia uma pessoa na minha casa, não queria que te visse lá – disse Jorge interrompendo Jonas. – Era uma pessoa que devia dinheiro e poderia te colocar em perigo ainda maior. O que fiz foi errado, devia ter ido com você, ao menos não teria sido assaltado...
Jonas inicialmente não soube o que responder.
- Conversei com o Adriano, tudo foi culpa minha, você pode voltar na casa dele – disse Jorge. – Eu não devo voltar mais na casa dele e vou ficar longe de você também. Não quero que isso tudo que aconteceu prejudique você e ele.
Jonas estava com muita raiva dele. Tudo que aconteceu, os últimos dias haviam sido uns dos mais intensos da sua vida. Tudo muito tempo adormecido veio a tona e a maior parte da causa era ele. Jorge sempre se colocou como um obstáculo quando o assunto era Adriano. Mas vê-lo ali agora, daquela forma trouxe um sentimento de pena.
Mesmo que não quisesse assumir para si mesmo, ainda sentia o coração arder por Adriano. Ele foi o dominador que de fato lhe fez acredita que seria possível uma vida como submisso. Jorge surgiu no horizonte e tudo deu errado. Mas a atitude dele ali tinha mais hombridade que a atitude de Adriano, que desde tudo não o procurou ou se desculpou. Adriano se escondia atrás do Dominador que nada deve ao submisso.
Sentia-se triste quando pensava que quase realizou um dos seus maiores desejos, que era ter um Dominador. De todo modo, mesmo com raiva e tristeza, sentia que Adriano era um ponto final em uma pagina virada na sua vida.
- Não existe eu e ele Jorge, acabou – disse Jonas. – Esperei dele a atitude que você acabou de ter comigo.
Ele não disse nada. Ficou em silêncio apenas.
Foram alguns minutos sem dizer nada. Jonas não sabia o que pensar ou que falar. Jorge havia dito o que queria dizer e não havia nenhum motivo para continuar ali. Ao menos a atitude dele mostrou que ele tinha mais caráter que Adriano.
A desenvoltura do homem lhe chamava muita atenção. A altura, o porte natural, o cheiro avassalador dele, as mãos grandes e cheias de veia. Seu pau deu sinal de vida entre as penas e logo Jonas acordou do transe.
- Então eu acho que devo ir...
- Foi uma espécie de paixão – disse Jorge no instante que Jonas levantou. – Não sei dizer o que aconteceu. Foi no momento em que coloquei os olhos em você. Ardeu tanto que doeu dentro de mim. No fundo sabia que alguém como você jamais ficaria com alguém como eu – disse respirando fundo. – Bonito, estudado, tem dinheiro... mora bem. eu... dá pra ver sou apenas com olhar. Um motorista de ônibus que mal concluiu o ensino médio, mora na favela... Não quero me vitimizar ou pagar de coitado, mas pela primeira vez na vida senti inseguro. As pessoas sempre me veem apenas como alguém para satisfazê-las. No fundo, é o que querem e eu sempre me aproveito disso. Ai vem a pergunta... quem de fato domina? Na maior parte das vezes não estamos fazendo exatamente o que a pessoa quer? Sempre fui autoritário, controlador, nunca tive medo de nada... sempre enfrentei tudo de peito aberto.
- Mas quando você desapareceu, quando todos estavam loucos atrás de você e ninguém te achava eu nunca senti tanto medo na minha vida – disse novamente respirando fundo. – Eu fiquei aliviado quando me disseram que estava bem. Percebi na mesma hora que eu faço mal a você como faço para qualquer pessoa próxima a mim. Sou alguém ruim Jonas. Por isso e bom que fique longe de mim. Eu e o Adriano não somos mais amigos, na verdade cortei as relações com ele e nem atendo ou falo com ele mais, nem com qualquer outro daquele grupo. Sei que é importante para você então volte, eu não estarei mais lá.
Jonas não disse nada. As vezes, não devemos perder a oportunidade de ficar calado. Haviam muitos sentimentos ali e talvez Jonas pudesse falar algo que iria se arrepender. De todo modo acabou indo embora sem dizer nada.
Mais tarde, deitado na cama, Jonas estava com os olhos voltados para o teto, o quarto escuro. Estava sem sono mesmo estando cansado. O que Jorge falou era algo inesperado. Não imaginava que ele se sentia assim. A ideia que tinha dele era a de um homem cruel e sádico, que toma aquilo para si sem se importar. O que viu ali foi um homem arrependido do que fez, se abrindo de forma sincera.
Pensava que mesmo quando alguém mentia era possível analisar o que foi dito para extrair a cerne do que foi dito e assim entender se a ideia principal era verdadeira. Ele pode ter exagerado ou não em alguns pontos, mas tudo que foi dito soou como verdadeiro. Um homem como ele, com essa personalidade, se desculpar era algo difícil de ocorrer.
Cansado ele pegou o celular e digitou: “desculpas aceitas, segue me paz”. Logo depois virou para o lado e dormiu.