Quando retornei ao hotel fui para o escritório. Mandei uma mensagem para Cibele avisando que tudo estava praticamente resolvido, só faltava um detalhe e eu iria resolver o mais rápido possível. Quando sentei na minha cadeira eu senti um vazio no meu peito. Era para eu estar feliz pelo meu sucesso até o momento, mas eu não me sentia nem um pouco feliz. Na verdade eu nem sabia o que sentia direito naquele momento. Eu queria estar com raiva da Kamila, mas eu não conseguia. Eu estava era preocupada com ela. Fiquei no hotel até as 22 horas e depois fui para casa. Quando cheguei percebi que Kamila estava no seu quarto porque a luz estava acesa. Quando fui entrar no meu quarto vi que a porta do seu quarto estava entreaberta. Provavelmente ela deixou assim para que eu pudesse ver que ela estava ali. Através da abertura da porta pude ver ela deitada de bruços na cama. Provavelmente estava dormindo. Vi também suas malas ao redor da cama. Pelo jeito ela resolveu voltar para casa. Fui para meu quarto e depois fui tomar meu banho.
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Após o banho eu fui até a cozinha procurar algo para comer. Assim que entrei vi que ela tinha feito um jantar. Vi também um bilhete sobre a mesa e peguei para ler.
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Bilhete:
Deixei esse bilhete porque sei que provavelmente você não quer me ver e nem falar comigo nunca mais. Algo totalmente compreensivo depois de tudo que eu fiz.
Me desculpe por ter vindo para cá, mas eu não tinha para onde ir e minhas coisas também estavam aqui. Só vou dormir aqui e estou de partida amanhã. Prometo que não vou te incomodar em nada.
Eu só não fui embora hoje porque não tenho dinheiro para isso. Eu sei que não mereço nada, mas se você puder me emprestar o dinheiro da passagem e depois descontar do dinheiro que provavelmente eu tenha direito dos dias que trabalhei eu ficaria muito agradecida.
Eu liguei para sua prima e contei tudo o que houve, tentei amenizar o máximo o estrago que causei a você. Pelo que Beatriz me disse, pelo menos não fiz você perder seu trabalho.
Se você pegar minha carteira de trabalho ou eu esquecer algo para trás, por favor entregue a Beatriz que ela vai me encaminhar. Já conversei com ela.
Para encerrar eu só queria dizer que não vou me desculpar e nem me justificar pelo que fiz porque sei que não tem perdão nem justificativa.
Fique bem.
Te amo.
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Acho que desde quando eu conheci Kamila eu não vi ela agir assim com tanta maturidade. Vi uma pequena ponta de esperança naquele bilhete. Quem sabe dessa vez ela não aprenda com seu erro. Bom, mas de algo eu tinha certeza, dessa vez eu não iria ajudar em nada. Eu só iria fazer o que dava para fazer naquele momento. Mandei um pix para ela no valor da passagem e mais um pouco. Era o suficiente para ela pagar um táxi até a rodoviária e comer alguma coisa se caso desse fome. O pagamento dela eu faria no outro dia. Esse dinheiro que mandei era um pouco superior ao que ela tinha pagado na metade das compras, mas não liguei. Não iria me fazer falta e eu poderia ajudar ela uma última vez. Depois de comer um prato de comida que Kamila tinha feito eu fui para meu quarto tentar descansar um pouco. Demorou mas consegui dormir.
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Acordei no outro dia cedo e fui preparar para ir para o trabalho. Quando fui à cozinha preparar um café rápido a mesa já estava arrumada com o café pronto. O bilhete estava lá e vi que Kamila tinha escrito algo nas costas do papel. Quando me aproximei vi que era um simples obrigado. Mas algo me chamou a atenção, tinha um pequeno borrão na escrita. Provavelmente ela estava chorando quando escreveu. Aquilo sinceramente me quebrou. Mas eu tinha que ser forte e não deixar aquilo me amolecer. Tomei meu café e fui escovar os dentes. Quando fui sair pela porta eu não consegui. Travei ali e fiquei pensando no que fazer, voltei para trás e abri a porta do quarto da Kamila. Ela estava sentada na cama já vestida para poder sair, acho que ela só estava esperando eu sair para ela sair também.
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Ela me olhou com um carinha triste. Eu fui até ela e me ajoelhei entre suas pernas e lhe dei um abraço que foi correspondido na hora. Ela chorava baixinho e eu senti algumas lágrimas escorrer pelo meu rosto. Ficamos naquele abraço por um bom tempo, depois a soltei e me levantei.
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Tamires: Se cuida por favor.
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Kamila: Pode deixar, vou fazer isso.
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Tamires: Amo muito você!
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Kamila: Eu também te amo muito!
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Dei um pequeno sorriso amarelo e saí daquele quarto com uma certeza. Kamila não fazia mais parte da minha vida, infelizmente não poderíamos continuar juntas. Dali em diante era cada uma no seu canto. Assim eu fui para meu trabalho seguir com minha vida. Mas com certeza deixei um pedaço do meu coração para trás com ela. Aquela despedida com certeza seria uma das piores coisas da minha vida. Mas a vida segue e eu iria seguir a minha e torcer para Kamila seguir a dela da melhor maneira possível.
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Naquela mesma manhã fui no RH para pedir para resolver tudo que tinha para resolver sobre a Kamila da melhor forma possível e garanti que podiam resolver sem medo pois ela não arrumaria qualquer tipo de problemas. Fui para o escritório e passei a cuidar do meu trabalho. À tarde mandei todos os dados da Kamila para Beatriz e pedi para ela efetuar o pagamento do dinheiro que ela tinha direito e enviar a carteira de trabalho dela para ela como kamila pediu. Falei para Beatriz que se ela precisasse contratar alguém para ficar no lugar da Kamila ou para ficar no lugar dela no caixa, era para ela fazer isso. Que agora ela iria resolver isso tudo. Que a lanchonete era responsabilidade dela e que qualquer coisa ela poderia me ligar.
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Minha vida foi seguindo. Durante uma ligação minha mãe falou que tinha visto Kamila na cidade apenas uma vez depois do seu retorno. Minha família estava bem e falei para minha mãe que no final do ano eu iria vê-los. Minha prima ficou meio mal por um tempo, dava para sentir só de olhar para ela. O divórcio já tinha saído e Henrique sumiu. Nem foi conhecer sua filha. Minha prima disse que a última notícia que teve dele foi que ele tinha se mudado para casa de uma irmã em Londrina. Minha prima conseguiu registrar a filha só no seu nome. Mas deu trabalho, mas com dinheiro se resolve várias coisas. No fim deu tudo certo e a pequena Maria Eduarda era a nova membro da família. Graças a ela minha prima conseguiu voltar a sorrir de novo com aquele brilho de felicidade no olhar.
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Osvaldo sempre aparecia no hotel, ele me tratava muito bem e gostava de conversar sobre negócios comigo. Na verdade eu mais ouvia ele, era bom beber da sabedoria direto da fonte. Beatriz se mostrou ser muito competente, não nos trouxe nenhum problema e ainda aumentou os lucros da lanchonete. Nossa amizade infelizmente não evoluiu mais, a gente quase não tinha tempo. Mas claro continuamos amigas e nem que seja uma vez a cada 15 dias nós nos encontrávamos. Ou eu ia na lanchonete ou ela vinha aqui. Sempre nos víamos em reuniões da mansão da Cibele também. Ela resolveu voltar para sua casa depois que sua filha completou um mês. Ela me convidou para morar com ela mas não aceitei, gosto de ter meu canto. Mas me mudei de apartamento. Ainda moro no mesmo prédio, porém no último andar e em um apartamento bem maior. Hoje não preciso mais de motorista para me locomover. Cibele me passou o carro que Henrique usava. Apanhei um pouco no início já que nunca tinha dirigido um carro automático. Mas logo me adaptei e minha vida ficou bem mais fácil e prática.
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No final de ano minha prima falou que eu podia escolher um dos feriados para passar com a família que ela me cobria. Eu claro escolhi o Natal. Passei 4 dias com minha família e foi incrível. Queria ver Kamila, mas infelizmente não vi. Com certeza ela sabia que eu estava em casa porque quando cheguei vi sua mãe na porta da casa delas. Inclusive parei o carro e fui dar um abraço nela. Perguntei como ela estava e conversei com ela um pouco. Perguntei sobre Kamila e ela me disse que a filha estava bem. Fiquei feliz por isso, mas pelo jeito Kamila não quis ir me ver e eu também não fui na casa dela. Nem sei direito o porquê. Orgulho talvez, eu não sei.
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Com o início do novo ano minha prima resolveu voltar ao trabalho. Ela disse que ficar nos duas no mesmo horário era sem necessidade e perguntou se eu não me importava de trabalhar a noite. Ela disse que assim o hotel não ficaria sem gerente em nenhum horário e evitaria sermos acordadas no meio da noite para resolver algum problema e isso realmente acontecia. Eu disse que para mim não era um problema e assim eu passei a trabalhar das dezoito às seis da manhã.
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Eu gostei de trabalhar a noite. Era mais tranquilo e eu até voltei a escrever meus poemas. Coisa que eu raramente tinha feito nos últimos meses. O único problema era alguns hóspedes bêbados que dava trabalho às vezes, mas nada que me desse muita dor de cabeça e a equipe do hotel era ótima. Eu já tinha uma certa amizade com quase todos. No final de fevereiro eu estava para entrar de férias. Faltavam 15 dias para isso acontecer. Lembro que em uma tarde quando fui entrar para o estacionamento do hotel, eu vi um monte de gente parado na entrada. Minha prima já tinha falado que uma empresa de marketing tinha alugado o último andar inteiro para eles. Parece que ficaria alguns artistas no andar. Pelas exigências que minha prima falou com certeza era cantores e dos chatos. Mas o preço que a empresa pagou compensava tudo.
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Entrei com o carro no estacionamento e peguei o elevador particular que dava nos fundos do escritório do Osvaldo. Ele ficava ao lado do nosso. Só eu, Cibele e o próprio Osvaldo tinha acesso a esse elevador. Do escritório do Osvaldo eu fui direto pro da Cibele. Mas quando saí do escritório dele, vi que o saguão estava bastante movimentado e o número de seguranças também tinha aumentado. Era uma sexta-feira e imaginei que a noite iria ser bem movimentada. Assim que entrei já vi que Cibele estava estressada.
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Cibele: Graças a Deus você chegou. Não aguento mais esse povo chato.
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Tamires; Que povo chato?
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Cibele: Esses MCs não sei o que, é tanto nome que não gravei nenhum. Mas acho que já está tudo resolvido. Só não deixa eles folgarem. Provavelmente vão causar trabalho na madrugada, mas já avisei a segurança que qualquer problema pode pôr para fora. Pode ser até o “Mc Donald's“ que aqui no meu hotel não vai folgar não.
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Tamires: kkkkkkkk Está bem prima. Pode ir para casa descansar a cabeça que eu assumo daqui.
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Cibele: Tudo bem, vou mesmo. Mas qualquer coisa me liga ou liga para polícia tá bom?
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Ela se foi e eu fiquei rindo dela. A noite foi um pouco mesmo movimentada mas sem nenhum problema grave. Já eram 5 da manhã e o movimento estava tranquilo. Fui sair do escritório para ir ver como estava as coisas na recepção. Eu ia lá de hora em hora. Assim que saí fui trancar a porta do escritório mas não consegui. Ouvi o barulho de alguém correndo no corredor que vinha da escadaria de serviço. Logo vi que era garota loira com um cabelo enorme e todo colorido nas pontas. Ela me olhou e veio na minha direção e se jogou nos meus braços.
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Garota: Por favor me ajuda!!!
Eles estão vindo aí, não deixa eles me pegarem pelo amor de Deus.
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Continua..
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Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper