Eu queria poder dizer para vocês quanto tempo eu esperei ali sentado, foram minutos, mas para mim foi uma vida inteira, eu não conseguia chorar de tanta dor no peito, algumas vezes eu perdia o ar só de lembrar o que eu tinha visto, uma eternidade em que eu mesclava entre a dor e o ódio.
Aquele tempo serviu para analisar a situação, sou um lutador e aprendi desde sempre a manter o auto controle, a minha vontade era de matar os dois, com isso eu acabaria com a minha vida, a vida do meu filho e a vida da mãe do meu filho, eu precisava pensar bem os próximos passos.
Expulsar ela de casa? Não era o momento, meu filho dormia no quarto ali ao nosso lado, qualquer briga poderia ser terrível para mim, mas também para o meu filho. Decidi confrontar Taís e sair daquela casa, refazer a minha vida e me vingar de todos os traidores.
Ouvi então passos descendo a escada, era Taís de banho tomado, vestia uma camisa minha e de calcinha. A princípio ela não me viu a fui até a cozinha beber alguma coisa, eu queria gritar com ela, mas parece que minhas forças tinham ido embora. Eu só consegui dizer
- Porque ? – Quase inaudível
Ela tomou um susto na hora quase deixando cair o copo de água que provavelmente era para o seu amante, alguém que eu conhecia bem por sinal.
- Amor você chegou cedo e não avisou – Disse ela claramente nervosa
- Porque Taís? – Repeti agora em um tom mais alto
- Como assim porque? – Respondeu ela se fazendo de desentendida
- Vou perguntar a última vez, e vou embora, não só dessa casa, mas da sua vida... porque ?
Houve um silêncio ensurdecedor, ela veio se aproximando de mim sem dizer nada e tentou mais uma vez desconversar.
- Eu não estou te entendendo, não sei o que está acontecendo, você poderia me dizer ? – ela disse agora com tom mais confiante.
Acho que ela imaginou que eu não tinha visto nada e estava jogando verde, ela agora estava confiante e quase me atacando.
- Já percebi que você não vai ser verdadeira comigo, então eu estou indo embora para não fazer uma besteira maior.
Eu tremia de raiva e temi por mim mesmo, será que eu seria capaz de agredir a Taís? Nunca levantei se quer a voz para uma mulher na minha vida, mas também nunca tinha sido traído tão covardemente.
Fui caminhando até a porta e ela percebeu que eu sabia de tudo, correu na minha frente e pegou a chave que estava na fechadura.
- Não! Você não sai daqui até conversar comigo – Disse ela gritando encostando na porta
- Me deixa sair Taís, eu não sei do que eu sou capaz, só me deixa sair daqui. – Eu ainda não havia levantado a voz.
Ela abraçou a minha cintura e começou a implorar para ficar e conversar com ela, só que ela esqueceu do amante no nosso quarto, ele pensando que poderia acontecer o pior desceu as escadas e ficou olhando o que acontecia.
Eu iria mata-lo, estava certo disso e a Taís percebeu que algo muito ruim iria acontecer e tentou me segurar enquanto gritava para ele sair dali, ele estava assustado porque nunca tinha me visto daquele jeito, nem eu tinha me visto assim.
Fui em direção a ele com o punho fechado arrastando a Taís que segurava minha cintura inutilmente, mas não seria tão fácil acerta-lo, ele também era lutador e eu o conhecia muito bem.
- Cara vamos conversar, não podemos resolver as coisas na pancada, a Taís pode se machucar e seu filho esta em casa – disse ele com as mãos mantendo distância para que eu não o acertasse.
Aquelas palavras me atingiram em cheio e o ódio, a tristeza se tornaram decepção.
- Meu filho esta casa, nosso filho Taís, você fez isso com ele aqui, vocês fizeram isso COM ELE AQUI – Gritei pela primeira vez.
- PORRAAAAAAAAAA – Gritei como se quisesse arrancar algo de mim.
- VOCÊ É MEU PADRINHO CARALHO, EU CONFIAVA MINHA VIDA A VOCÊ, MINHA VIDA YAGO, minha vida – falei abaixando o tom de voz e chorando.
Meu olhar agora era de decepção, meu filho salvou a minha vida, com o ódio que eu tava, se eu o matasse, iria preso e não sei quando voltaria a ver o Alceu.
- Taís me solta, me solta – Falei sério olhando pra ela.
Ela se contraiu de medo, foi a primeira vez que vi ela ter medo de mim, aquilo mexeu comigo.
- Não vou! Não! Não! – repetia ela desesperada
Tirei ela da minha cintura e joguei no sofá, fui até a porta e ela novamente entrou na minha frente, eu desferir um soco na porta que meu braço atravessou, meu punho sangrava e eu comecei a puxar a madeira da porta violentamente, Taís saiu de baixo de mim e foi buscar o telefone, soube depois que ela ligará para José pedindo ajuda.
Com ela saindo debaixo de mim consegui chutar a porta até quebrar a fechadura e pegar meu carro, antes de sair avisei que pediria meu irmão para legar minhas coisas.
Acelerei sem destino por horas com o celular desligado, eu precisava ir para algum lugar que ninguém me achasse, lembrei das montanhas e segui para lá, tinha uma reserva para a semana que vem, mas por sorte consegui adiantar a reserva, olhei para o celular e tinha chamadas da Taís, Lidiane, José e Rodrigo.
Vi algumas mensagens por cima, mas não dei bola para nada, meu sangue foi esfriando, tomei banho, meu punho agora estava inchado, certamente alguma fratura, deitei de bruços, coloquei o travesseiro no rosto e gritei o mais alto e forte que eu conseguia gritar.
Era uma dor alucinante que me transpassava, eu chorei tudo que não havia chorado antes, e não tinha ninguém que pudesse ajudar, era só eu e Deus, queria minha mãe, mas ela não estava mais aqui.
Ensaiei uma oração, fazia tempo que eu não tentava rezar.
“Ei cara! Me desculpa, sei que faz tempo que não falo contigo, a vida tem me sido agradável até agora, vai parecer que eu só estou te procurando porque estou na merda, e como não adianta mentir para vocês, é um pouco disso sim, mas se for possível, tira de mim essa dor, ou ao menos ameniza, eu não sei se vou suporta-la por muito tempo,” rezei um Pão Nosso e uma Ave Maria
Comecei a cantarolar “mãezinha do céu” que era música que minha mãe cantava para mim e meu irmão, então adormeci e não sei explicar ao certo, mas eu senti como se tivesse deitado no colo da minha mãe e ela acariciava minha cabeça, durante esse tempo a dor sumiu, era um lugar quente, carinhoso e cheio de amor que eu conhecia bem, o colo da minha velha mãe.
Acordei no outro dia com dores físicas, e não consegui levantar da cama, os três dias se passaram sem eu dar notícias, sem tomar banho e mal comia.
Até que lembrei do meu filho e tinha que resolver essa situação, no caminho para a minha cidade sofri um acidente, eu estava bem devagar, meu sentimento era de não voltar para aquela realidade, então não sei se dormi ou por impulso de perder a esperança na vida, choquei com uma árvore, nada grave, mas que renderia ao menos duas semanas no hospital, pedi para que não contassem a ninguém onde eu estava.
Mas aquele hospital me reservaria algumas surpresas, e um tempo para pensar nos meus próximos passos.
Continua ...
Os nomes e locais presentes neste conto são fictícios, mas os detalhes descritos são reais.
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