"Eu vou me entregar!" – dizia Erick, andando freneticamente de um lado para o outro na pequena sala dos internos no hospital. Sua voz trêmula, mas decidida, ecoava pelas paredes brancas e frias. O ambiente hospitalar, com o cheiro forte de antisséptico e o som distante de máquinas monitorando pacientes, só aumentava a sensação de desespero. – "Se a gente chamar a polícia, ele coloca uma bala na cabeça dela! Ou pior..."
Minhas lágrimas não paravam de cair. Tudo aquilo estava fora de controle. E era minha culpa... Eu sabia disso. Tinha que ser.
– "Desculpa..." – repeti, a voz embargada, quase inaudível. O peso da culpa apertava meu peito como se o ar tivesse sido sugado da sala. – "Eu nunca quis que isso acontecesse."
– "E se ele estiver só blefando?" – Erick continuava, alheio ao meu sofrimento, falando sozinho enquanto andava. – "Eu quero enfiar uma bala na cabeça daquele desgraçado."
– "Isso é culpa minha, é tudo culpa minha..." – sussurrei, a voz cada vez mais trêmula.
– "Vocês dois, já chega!" – a voz de Jonas explodiu pela sala como um trovão, trazendo um silêncio súbito e pesado. Ele era o equilíbrio que faltava naquele caos. – "Vocês precisam se recompor. Yuri, você sabe onde esse cara pode estar?"
Jonas, o melhor amigo de Erick, era uma presença imponente. Com quase dois metros de altura, pele negra brilhante e dreads presos para trás, ele parecia capaz de enfrentar qualquer situação. Seus olhos cor de mel, sempre atentos, agora transmitiam preocupação e urgência. Ele exalava autoridade, o tipo de pessoa que nunca hesitava. Se não fosse policial, poderia ser modelo com aquela presença magnética.
– "Eu... Eu não faço ideia." – respondi, saindo do meu torpor. Minha mente estava enevoada, confusa. – "Ele foi expulso da favela pelo irmão dele, depois que... depois de tudo que ele fez."
Jonas suspirou e, sem perder tempo, puxou Erick pelo braço.
– "Vamos comigo. Conheço um cara na T.I. que pode rastrear esse filho da mãe."
Eles saíram apressadamente, deixando-me sozinho com meus pensamentos e minha culpa. Eu me sentia inútil. Toda essa situação só existia porque eu tinha colocado Erick na minha vida bagunçada. Mas não podia continuar assim. Precisava fazer algo, tomar uma atitude. Corri para encontrar a única pessoa que ainda podia me ajudar: Robinho.
Do lado de fora do hospital, a cidade parecia indiferente ao meu desespero. Peguei o primeiro moto-táxi que vi e me lancei em direção à favela. O vento batia contra meu rosto, mas nada podia aliviar o pavor que crescia no meu peito. Eu precisava resolver isso, de uma vez por todas.
Quando cheguei à casa de Robinho, ele não estava. Imaginei que estivesse no "ponto", recebendo algum carregamento, então subi mais as ruas esburacadas e caóticas da favela. As paredes grafitadas, os becos estreitos e os olhares desconfiados dos moradores só aumentavam a tensão. No topo da ladeira, três homens armados bloqueavam a entrada da rua.
– "Preciso falar com o Robinho." – disse, empurrando um dos homens e tentando passar.
– "Tá maluca, princesa?" – provocou o outro, empurrando uma arma contra o meu rosto. – "Acha que isso aqui é a Disney?"
Antes que eu pudesse reagir, a voz de Robinho soou do rádio na cintura de um dos homens:
– "Abaixa essa porra agora. Se fizer um arranhão nele, eu acabo com tua vida."
O homem hesitou, mas acabou abaixando a arma com uma expressão amarga. Passei por eles sem olhar para trás, caminhando em direção ao galpão onde sabia que Robinho estaria. O som abafado de música, as risadas distantes e o clima pesado daquela rua só aumentavam meu senso de urgência.
Robinho me esperava à porta. Sua expressão era séria, mas havia um certo alívio em me ver. Ele fez um sinal para que todos saíssem, nos deixando sozinhos.
– "O que tá acontecendo?" – perguntou ele, a voz mais calma do que eu esperava. – "Tá tudo bem?"
Eu desabei. As lágrimas voltaram com força total enquanto minha voz saia entrecortada:
– "Teu irmão... ele sequestrou a filha do Erick. Ou melhor, minha filha. E dessa vez ele não vai sair vivo."
Robinho me olhou em choque. Ele sabia que, por mais problemáticos que fossem, ainda havia algum vínculo de sangue entre eles. Mostrei o vídeo do sequestro, e o rosto dele ficou pálido.
– "Me ajuda, Robinho. Por favor. Aquela menina é minha vida... Eu não posso perder ela."
Robinho não hesitou. Pegou o rádio novamente e deu ordens rápidas e precisas:
– "Eu quero saber onde meu irmão tá, e quero pra agora! Vigiem ele. Se estiver em outra favela, avisem o chefe de lá que ele tá sendo caçado."
Enquanto ele falava, meu celular vibrava. Era Erick. Não atendia. Não podia até resolver isso.
Sentado em um banco de madeira no galpão, eu me sentia impotente. Robinho, silencioso, sentou ao meu lado, passando um braço em volta dos meus ombros, acariciando meu cabelo. Era um gesto que não precisava de palavras.
Alguns minutos depois, o rádio crepitou.
– "Robinho? Achamos teu irmão. Ele tá com os alemão no outro morro. Não podemos subir lá, ou vai ter tiroteio."
– "Manda o rádio pro Físico. Diz que a gente precisa conversar."
O Físico era o chefe do morro rival, um homem perigoso, mas conhecido por sua astúcia. Era formado em física, o que lhe deu o apelido, e comandava um dos maiores morros do Rio de Janeiro com mão de ferro.
Depois de uma pausa tensa, a voz de Físico surgiu do rádio:
– "Robinho? Alguma merda deve tá rolando pra você querer falar comigo, né?"
– "Eu preciso subir teu morro. Meu irmão tá aí com a filha de um tenente da polícia. Eu quero ela viva."
Uma risada sombria veio do outro lado.
– "E o que me impede de matar os dois?"
– "Nada. Mas se tu me ajudar nessa, eu te devo um favor. E tu sabe que meus favores valem muito."
Houve uma longa pausa, até que Físico respondeu:
– "Teus homens podem subir. Vou mandar os meus vigiarem."
Levantei de um salto, pronto para ir com Robinho, mas ele me encarou com seriedade.
– "Você fica."
– "Eu vou pegar aquele filho da puta!" – respondi com a voz trêmula de raiva.
– "Yuri," – Robinho segurou meu rosto com firmeza, forçando-me a olhar em seus olhos. – "Eu não me perdoaria se algo te acontecesse. Eu vou trazer a menina em segurança."
– "Robinho, eu não tô pedindo sua permissão. Eu tô indo."
Ele me encarou por alguns segundos, avaliando minha determinação, e então puxou uma arma da cintura, estendendo-a para mim.
– "Então leva isso."
Subimos o morro rival, e a tensão estava no ar como uma corda prestes a se partir. As ruas eram estreitas, com casas amontoadas, paredes de tijolos sem reboco e pichações. A cada esquina, meninos armados nos encaravam, desconfiados, mas não intervinham. Robinho, sempre seguro, dispensou seus homens antes de entrarmos mais fundo no território inimigo. Era apenas eu e ele, movidos pelo desespero e a necessidade de salvar Isa.
Um dos moleques do Físico apareceu em uma viela escura, nos entregando as coordenadas de onde Samuel, o irmão de Robinho, estava escondido. Disse que nos ajudaria a manter a vigilância, mas a missão era nossa.
Caminhamos mais um pouco até chegarmos a uma casinha de madeira no final de uma rua mal iluminada. O local parecia abandonado, com janelas quebradas e a porta velha quase saindo das dobradiças. A aparência era de um cativeiro improvisado, sujo e precário.
Foi quando ouvi a voz fina e frágil de Isa vindo lá de dentro.
– "Meu papai já tá chegando?" – a inocência na voz dela quase me quebrou por dentro. Ela não tinha ideia do perigo ao redor.
– "Tá sim, o tio vai ali fora ligar pra ele. Fica aqui." – a voz de Samuel era áspera, e a raiva ferveu em meu sangue. Eu queria acabar com ele ali mesmo.
Nos escondemos atrás de uma pilha de entulho quando a porta rangeu e Samuel apareceu, puxando o celular do bolso enquanto caminhava despreocupado de um lado para o outro, olhando em volta, mas sem nos ver.
Enquanto ele discava, meu celular vibrou. Era ele, Samuel, me ligando. Robinho fez sinal para que eu atendesse e o distraísse.
– "Você já resolveu o que vão fazer?" – a voz de Samuel era fria, cínica, como se ele estivesse no controle. Mas mal sabia ele o que estava para acontecer.
Enquanto ele falava, observei Robinho se esgueirar silenciosamente pela lateral da casa, movendo-se como um predador à espreita. Mantive a conversa vaga, dando tempo suficiente para que ele entrasse e saísse com Isa. Meu coração batia tão forte que parecia que todos podiam ouvir. Finalmente, vi Robinho aparecer com Isa no colo, o rosto da menina enterrado no peito dele, protegida do caos ao redor.
– "Sabe de uma coisa?" – minha voz tremeu de raiva e frustração. – "O mais interessante seria eu enfiar uma bala na sua cabeça, seu merda!"
O rosto de Samuel congelou. Ele olhou para os lados, confuso. Nesse momento, vi Robinho já descendo pelas ruas do morro com Isa em segurança. Era o fim da linha. A ideia era simples: pegar Isa e ir embora. Mas eu não consegui.
A fúria dentro de mim explodiu. Corri em direção a Samuel, lançando-me sobre ele com uma força que não sabia que possuía. Empurrei-o ao chão e desferi um soco com toda a força que meu corpo desesperado podia reunir.
– "Seu desgraçado!" – gritei, sentindo minha garganta queimar de ódio. – "Eu vou acabar com você!"
O impacto do meu soco o fez cambalear, mas Samuel não era fraco. Em segundos, ele me empurrou para trás, me jogando com violência no chão, e, antes que eu pudesse reagir, estava sobre mim, suas mãos apertando meu pescoço com uma fúria assassina.
– "Você perdeu sua chance de sair vivo dessa." – a voz dele era fria, cada palavra cuspida com desprezo. Eu sentia o ar me faltando, o pânico crescendo.
– "Eu te odeio!" – consegui murmurar, lutando para respirar. – "Mas morro sabendo que amei de verdade... Erick... foi o homem que eu amei. Ele foi quem eu escolhi!"
Samuel apertou ainda mais. O ódio em seus olhos era quase palpável, uma mistura de ciúme, loucura e sede de poder.
– "Você não ama ninguém!" – ele rosnou, a saliva voando enquanto falava. – "Você ama o perigo. Você é apaixonado pelo perigo. Essa sua sede por quase morrer... isso que te excita."
Eu lutava para encontrar ar, minhas forças desaparecendo.
– "Na verdade..." – sussurrei, as últimas palavras escapando enquanto a escuridão começava a tomar conta. – "A morte me excita."
Com minhas últimas forças, minha mão trêmula deslizou para a parte de trás da minha calça, onde a arma que Robinho me deu estava guardada. Tudo estava ficando escuro, minha visão turva, minha mente se apagando. Então, houve um estalo. Dois disparos. O som foi abafado pela batida ensurdecedora do meu próprio coração.
O mundo ao meu redor tingiu-se de vermelho. Sangue. Eu não sabia se era o dele ou o meu, mas tudo parecia parado, como se o tempo tivesse congelado naquele momento.
Então, o peso do corpo de Samuel afrouxou sobre mim, caindo pesadamente de lado. Sua respiração gorgolejava, fraca, quase inexistente. Eu me arrastei para longe, sentindo o sangue escorrer pelos dedos que ainda seguravam a arma. Minha visão era um borrão, mas a sensação de liberdade, de sobrevivência, era estranhamente calmante.
Tudo tinha acabado, mas a que custo?
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