Acordei no outro dia e Carol já estava no quarto. Dei bom dia a ela e fui fazer minha higiene. Quando voltei perguntei a Carol se alguém tinha me procurado de manhã. Ela disse que não e perguntou quem eu estava esperando tão cedo. Eu ia dizer quem quando Carla entrou pela porta. Carol me olhou e deu um sorriso meio irônico. Ela em seguida disse que ia dar uma volta e logo voltava. Cumprimentou Carla e saiu me olhando com o mesmo sorriso irônico. Eu fiquei com vontade de rir, mas me segurei. Carla veio até mim, me deu um selinho e perguntou como eu estava. Eu disse que estava bem. Chamei ela para se sentar no sofá.
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Carla: Eu não tenho muito tempo, mas acho que posso te responder algumas dúvidas que você possa ter.
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Aline: Você se importa em me contar como foi o acidente? O que aconteceu depois que eu apaguei.
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Carla: Posso falar sim.
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Eu estava indo almoçar com uma amiga. Você surgiu do nada na minha frente. Eu tentei diminuir o máximo a velocidade, mas mesmo eu não estando em alta velocidade, não consegui muito sucesso na tentativa. Eu vi que você me olhou antes do impacto. Eu vi você cair no chão e a primeira coisa que fiz foi tentar me acalmar. Desci do carro e fui até você, enquanto eu consultava seu pulso eu já estava ligando para o meu irmão. Assim que ele atendeu eu pedi para ele enviar uma ambulância. Expliquei que eu tinha atropelado alguém e a pessoa estava mal. Ele falou que iria mandar o mais rápido possível. Nisso já chegaram vários curiosos. Eu expliquei que eu era médica e já tinha chamado a ambulância. Você não tinha nenhum ferimento muito grave, só algumas escoriações, mas pela posição da sua perna eu vi que ela estava quebrada. Fiquei com você até a ambulância chegar, não pude fazer muita coisa. Apenas não deixei ninguém te tocar e ficava monitorando seus batimentos. Quando a ambulância chegou a polícia chegou junto. Eu expliquei que eu era médica e que iria com você na ambulância até o hospital. Eles não queriam deixar eu ir, eu expliquei que eu podia ajudar, e que eles podiam pedir para um carro me seguir que eu iria dar meu depoimento. Falei que os meus documentos e os do carro estavam em uma bolsa dentro do carro. Um policial foi pegar minha bolsa e eu fui com os paramédicos dentro da ambulância. No caminho eu já liguei para o meu irmão e pedi para ele se preparar para sua chegada. Eu disse a ele que eu queria que ele cuidasse de você porque eu teria que falar com a polícia. Já fui adiantando para ele tudo que eu achei importante.
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Assim que chegamos no hospital deixei você nas mãos do meu irmão e fui falar com os policiais. Expliquei o que tinha acontecido e acabei voltando com eles até o local do acidente. Meu carro já tinha sido retirado do local e estava estacionado. Os outros policiais falaram que já tinham ouvido as testemunhas que viram o acidente e o vídeo da portaria do prédio. Me explicaram que eu só precisava ir na delegacia prestar meu depoimento e eu podia até ir no meu carro se eu quisesse. Eles falaram que ficou claro que foi um acidente e eu seria liberada. Liguei para a seguradora e expliquei a situação. Fui para delegacia no carro, dei meu depoimento e conversei com o pessoal da seguradora. Tudo ficou resolvido e pude voltar para casa. Troquei de carro porque aquele ficou amassado onde te atingiu. Quando cheguei no hospital já era início da noite. Meu irmão me passou suas informações e não eram nada boas. Você teve uma parada cardíaca que quase tirou sua vida e naquele momento estava no CTI em coma. Ele me contou que você passou por uma cirurgia na perna e estava com algumas partes do corpo engessadas. Seu estado era grave porque você teve algumas partes internas prejudicadas, mas não houve hemorragia. Que tinha feito vários exames e você estava com um problema na coluna, não era grave, porém por você estar acamada poderia demorar o tratamento e poderia ter sequelas.
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De início eu acompanhei você durante a noite, eu sempre ficava um tempo com você. Até aparecer um oficial de justiça com uma intimação e uma ordem de restrição. Sua mãe e seu irmão estavam me processando. E eu não podia mais nem chegar perto de você. Mas sobre isso a Marina te explica porque ela que cuidou de tudo. A gente já tinha conversado bastante nessa época, já que ela resolvia tudo que tinha a ver com você. Inclusive ela não deixou eu gastar um centavo com advogados. Ela fez questão de resolver tudo, acho que era pessoal para ela querer resolver as coisas com sua família. Como eu já sabia os motivos, eu deixei ela a frente de tudo e foquei em cuidar dos meus pacientes e especialmente de você.
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Como eu já tinha colocado Maria para cuidar de você a noite, foi fácil continuar com minhas visitas. A única diferença era que agora eram escondidas. Mas isso é só o básico do que aconteceu. Teve muitos momentos e problemas nesse tempo. Sua parada cardíaca depois de um mês em coma, idas ao fórum por causa do processo. Seu tratamento na coluna, minhas crises de choro porque você não acordava. Minha confusão quando percebi que tinha me apaixonado por você. A felicidade em saber que você tinha acordado. Depois a tristeza em saber que você estava com amnésia e eu teria que ficar sem te ver. A alegria de saber que você lembrava da minha voz e queria me encontrar. A ideia da Maria de te olhar pela janela do depósito. Tem muitas coisas e prometo que vou te contar tudo aos poucos. Tá bom.
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Aline: Tudo bem, acho que você já tirou quase todas minhas dúvidas, mas tem uma em específico que eu gostaria muito de saber. Porque você resolveu ler a história da inspetora para mim? Nem eu sabia que eu lia esses livros.
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Carla: Foi a Rafaela que pediu para eu ler para você. Ela disse que você gostava. Logo depois que você entrou em coma eu vim fazer alguma coisa no hospital durante o dia, sinceramente nem lembro mais o que era. Quando entrei na portaria vi uma menina chorando falando com o homem que imaginei ser o pai dela. A menina chorava muito e o homem tentava acalmá-la. Eu fiquei com muita dó da menina, o choro dela era de partir o coração. Eu fui até a recepção e perguntei às atendentes se elas sabiam o que tinha acontecido. Uma das atendentes disse que a menina queria ver a mãe dela, mas que na verdade a mulher em questão não era a mãe biológica dela e estava em coma no CTI. Infelizmente a criança não poderia ir ver ela. E isso deixou a criança desesperada e que o pai estava tentando acalmar ela. Eu imaginei que era você, eu sabia que você tinha uma namorada porque ela veio te visitar. Também só tinha você e outra paciente nessas condições no hospital e a outra paciente tinha mais de 60 anos. Então confirmei com as atendentes o nome da paciente e depois de ter certeza que era você eu fui falar com a menina.
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Eu tentei acalmar ela, dizendo que você estava sendo bem cuidada, porém você estava dormindo e não podia ver ela. O pai dela foi me ajudando e ela acabou se acalmando. Eu prometi a ela que quando você pudesse receber visitas, eu avisaria ela. Ela então tirou um livro da mochila e pediu para eu ler para você à noite. Ela disse que você gostava muito dele e lia para ela sempre antes de dormir. Eu falei que iria fazer isso sim. Ela me fez prometer e eu prometi. Eu conversei com o pai dela depois. Ele disse que teve que comprar a coleção de livros porque ela gostava muito. Ele disse que quando foram sair para tentar te visitar, ela pegou um deles para trazer para você. Bom eu não podia negar o pedido daquela menina e por isso cumpri o que prometi a ela.
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Aline: Eu achei que era um dos livros do meu apartamento. Então o pai dela comprou. Só não entendi porque ela não pediu a mãe dela para trazer.
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Carla: A mãe dela abandonou ela. Ficou quase quatro meses sem ver a menina. Agora ela a vê em visitas supervisionadas. Assim mesmo porque o pai dela permitiu por dó da Rafaela que não tem culpa de ter a mãe que tem.
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Aline: É sério isso? A Michele abandonou a Rafaela?
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Carla: Sim, e foi o melhor que ela fez pela filha. Pelo menos ela teve consciência disso. Ela é uma doente e precisa de tratamento. Ela não tem condições de cuidar de uma criança não. Olha, eu sei que você tem motivos para odiar ela pelo que Marina me contou. Mas deixa a Marina te contar tudo primeiro. Ela com certeza errou muito, mas foi vítima também. Seu irmão quase acabou com a vida dela.
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Aline: Sua cunhada já me falou algumas coisas. Mas está difícil não odiar ela. Ainda mais sabendo que ela abandonou a própria filha.
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Carla: Ela fez isso para o bem da Rafaela. Vai por mim.
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Aline: Está bem. Vou procurar saber da história toda. E obrigada por ler a história para mim e pelos sorrisos.
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Carla: Você lembra dos sorrisos?
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Aline: Sim, eu lembro deles. Só não entendo porque só lembro da sua voz.
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Carla: Nem eu e minha cunhada também disse que não sabe explicar o motivo. Se ela não sabe, eu nem vou me preocupar com isso. O importante é que você lembrou e que isso pelo que sei te ajudou de alguma forma.
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Aline: Ajudou sim, e muito!
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Carla: Eu preciso ir, tenho que ir dormir um pouco porque à noite eu tenho que voltar para trabalhar.
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Aline: Vai vir me ver a noite?
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Carla: Vou sim. Prometo.
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Aline: Eu adoro a Maria, mas bem que ela podia tirar uma noite de folga. 🤭
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Carla: Vou ver o que posso fazer para te ajudar. 🤭
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Ela se foi e eu fiquei ali pensando em tudo que ela me disse. A saudade de Rafaela aumentou e a curiosidade para saber o que Michele tinha aprontado também. Era muito estranho, para as outras pessoas tinham se passado vários meses, mas para mim só se tinha passado alguns dias. Em menos de um mês eu estava apaixonada por uma pessoa, pronta para pedir ela em casamento e agora em estava ali apaixonada por outra. Para mim era isso que parecia. Mas enquanto eu dormi, muita coisa aconteceu e eu queria saber exatamente o que. Era muita coisa para assimilar de uma vez. Eu precisava ir com calma antes que eu enlouquecesse de vez.
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Sai dos meus pensamentos com Carol entrando no quarto e ela não estava sozinha. Marina estava com ela e seu sorriso significava que ela estava feliz. Isso era um bom sinal, as coisas provavelmente estavam indo bem. Ela veio até mim e me deu um belo abraço. Nos sentamos e ela perguntou como eu tinha me saído com minha visita. Eu disse que muito bem, mas que a visita que recebi durante a madrugada foi melhor. Claro que tive que contar os detalhes do que eu tinha falado. As duas ficaram ali ouvindo atentamente e pelo jeito ficaram felizes do que ouviram. Marina disse que Carla se mostrou ser uma mulher incrível e estava feliz por mim. Carol também pareceu estar bem animada com aquela situação. Mas infelizmente eu tinha que tocar em um assunto ruim e estragar aqueles sorrisos que me cercavam.
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Perguntei à Marina se ela podia me contar como estava as coisas. Ela disse que sim, mas que já tinha recebido uma ligação da psicóloga pedindo para fazer isso em partes. Então ela iria me contar tudo desde o início, mas que iria dividir isso em partes. Eu disse que tudo bem, que eu já esperava por isso. Então ela começou a contar o que ela sabia sobre tudo que aconteceu enquanto eu dormia.
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Continua..
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Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper